Bem, depois de ganhar o bi, sem Pelé, e com o Rei recuperadíssimo, ir à copa de 1966 na Inglaterra era só uma formalidade. Seríamos tri na casa da Rainha Elizabeth II. Era coisa de Rei para Rainha. Seria? Sim, na primeira partida já despachamos a Bulgária por 2x0, com gols de Pelé e Garrincha. Que barbada! O único problema que impediria o Brasil de ficar definitivamente com a Jules Rimet, é que ela tinha sido roubada da vitrine do Center Hall Westminster, onde estava à mostra junto com uma exposição filatélica. Mas ora vejam só !? Até hoje a Scotland Yard não sabe quem roubou a taça. Só sabe quem a achou. Um cãozinho, chamado Pickles, farejou-a enrolada em jornais, enterrada num jardim de um bairro londrino. Bem, se já temos de volta o nosso caneco, pensava a torcida brasileira, era só entrar em campo mais umas vezes. Mas a copa foi se complicando. O presidente da FIFA, o inglês sir Stanley Rous, parecia disposto a não permitir que os três favoritos ao título, Brasil, Uruguai e Argentina, fossem campeões em solo nobre. Os árbitros não marcavam faltas graves e a violência começou a tomar conta da primeira grande copa transmitida diretamente para 20 países pela Eurovision, ainda que empobrecida pelo boicote das seleções africanas, garfeadas depois de classificadas pela sua confederação, pela FIFA de Rous. O primeiro mascote de uma competição esportiva, o leão Willie, queria mesmo abocanhar o título para a seleção inglesa. A cada partida, mais violência por parte dos jogadores, e mais benevolência por parte dos árbitros, principalmente os ingleses. Em algumas partidas, jogadores eram expulsos em demasia, como no jogo Alemanha e Uruguai, onde o árbitro inglês, Jim Finney, expulsou Horácio Troche e Hector Silva para que a Alemanha pudesse, ai sim com facilidade, vencer de 4x0. Foi assim na segunda partida em que perdemos para a Hungria por 3x1. Bateram muito num Pelé escaldado de lesões. Na última partida da primeira fase, com um excessivo número de faltas contra os jogadores brasileiros, Portugal ganhou por 3x1, quando Euzébio, depois de um gol de Simões, ainda nos fez mais dois. O Brasil estava fora. O Brasil não passara da primeira fase. O Brasil, bicampeão mundial de futebol, não seria mais tri. E Pelé, de novo, só faria UM gol numa copa, na copa da Inglaterra, organizada pelo inglês, presidente ditador da FIFA, sir Stanley Rous. A partida final entre Inglaterra e Alemanha também foi muito conturbada. Após um empate em 2x2 no tempo regulamentar, uma bola chutada na trave por Goff Hurst, rebateu sobre a linha e o árbitro suiço validou o gol inglês. Um gol de uma bola que não entrou e que desequilibrou a partida. Os ingleses até fizeram mais um, ganharam por 4x2. O título era inglês, não tinha como não ser. As imagens do cinema, que os guris do Estadual viram depois, mostravam que a bola realmente não entrou. Mostravam também Alcindo Martha de Freitas, o Alcindo do Grêmio, chorando sentado no gramado, a cada vez que perdia um lance, um chute a gol... Era muita imaturidade para uma seleção que tinha ido apenas cumprir o carnê. Nem o boato de que os coreanos trocavam de time no intervalo das partidas, nem a história do cãozinho Pickles, foram suficientes para tirar das nossas cabeças a dura realidade de termos sido eliminados ainda na primeira fase. Era o fim! Era o fim para os bicampeões de 58 e 62, era o fim da democracia, era o fim da liberdade, era o fim das eleições diretas. Dizem que Castelo Branco, o general que assumira o governo em 1964 com o golpe militar, até queria convocar eleições (?) em 1966 e para isso transformou o Congresso em Assembléia Constituinte, em 13 de dezembro, para que decidissem isso. Mas seus colegas militares não deixaram. Como no futebol, eles queriam o mesmo que sir Stanley Rous: ficar com o “título”, ficar mandando, e com muita, muita, prorrogação.
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Fonte FIFA e arquivo de jornais.
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(continua)
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Um comentário:
"Sir" Stanley Ford Rous foi árbitro de futebol até entrar para a "cartolagem" da Football Association, em 1934. Nunca mais saiu. Presidiu a Fifa de 61 a 74. Sempre boicotando a participação das seleções da Federação Africana nas Copas, perdeu o comando do futebol mundial para João Hevelange, em 74, que sempre sonhou com uma copa na África. Mesmo aposentado do futebol, aos 94 anos, Havelange deve estar realizado.
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