29 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa! - XII, As feras do Saldanha

O cartaz da Copa do México já traduzia o estipo Pop para os anos 70

Vários colegas do Estadual saíram às ruas para festejar o tri.
Na foto, Marília Lo Iácono, Heloisa Beckman e Bayard Gonzaga
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Foi um gaúcho do Alegrete, da mesma terra de Osvaldo Aranha, Gildo de Freitas e Mário Quintana, que formaria a seleção do tri: João Alves Jobim Saldanha, o João Saldanha, o “João Sem Medo”. Maior crítico e porta voz do fracasso de 1966, quando denunciava a falta de um time base, Saldanha foi escolhido para convocar a seleção, em 1968, pelo outro João, o Havelange, presidente da CBD. Era preciso recuperar a confiança dos jogadores, dos dirigentes e dos torcedores na nossa seleção. Saldanha utilizou os times do Santos e do Botafogo, os melhores da época, e foi logo dizendo: Só vou convocar “feras”. Pronto. Neste momento surgiram As Feras do Saldanha. E não era somente um codinome. A seleção do João Sem Medo obteve aproveitamento de 100% nas eliminatórias. Os jogadores acostumados a atuarem juntos em seus times de origem, na seleção jogavam por música. Pelé, Gerson, Jairzinho, Tostão, Carlos Alberto, Rivelino... todos eles, verdadeiras “feras” do futebol brasileiro, numa época em que os jogadores brasileiros jogavam no Brasil. Mas ai... Médici, o general presidente, queria o Dario na seleção, João era militante do Partido Comunista... o caldo começou a engrossar. Não seria possível imaginar um comunista desembarcando no Galeão com a Jules Rimet no colo, e sem o Dario. Médici mandou, pelo outro João, recado para o Saldanha convocar Dario. O João Sem Medo respondeu: Diga ao presidente que ele escala seus ministros e eu escalo a seleção! Pronto, era o que faltava para derrubarem o João. O João que devolvera a auto estima para a seleção brasileira, o João que obtivera 100% de aproveitamento nas eliminatórias, o João que era comunista. Segundo o jornalista Carlos Ferreira Vilarinho, em seu livro Quem derrubou João Saldanha, Brito, que liderava o grupo, iniciou uma resistência com o apoio de todos os atletas. Menos de Pelé. Dona Tereza Bulhões, mulher do João, tirou da cabeça do Brito tal idéia. Faltavam só três meses para começar a copa, seria uma loucura. Ainda segundo Vilarinho, num almoço no Palácio das Laranjeiras, Médici e Dona Scylla, recepcionaram a seleção com o novo técnico que aceitara convocar Dario, às vésperas do embarque para o México. Ele falou particularmente com os jogadores e disse o que ele e o país esperavam de cada um deles. Sobre Everaldo, ele disse à Dona Scylla: “este vai representar o nosso Grêmio lá no México”. As feras do Saldanha (que não assinou as súmulas da Copa do mundo de 1970), não deixaram por menos. Ganharam todas, sem deixar dúvidas! Ganharam o tão esperado tri. Ganharam a Copa do México. A copa onde lançaram os cartões amarelo e vermelho; onde passaram a permitir as substituições de jogadores durante as partidas; onde houve transmissão direta de TV para todo o mundo, inclusive para o Brasil. Duas seleções bi campeãs foram para a final: Brasil e Itália. Era a última copa da Jules Rimet. Ela ganharia um dono definitivo. Em função disso, a comissão técnica italiana chegou a mostrar aos jornalistas que cobriam o mundial o lugar no avião onde a taça iria viajar... Mas a taça não embarcou no voo da Alitalia. Ela tomou um avião da Varig e veio para o Brasil. Veio para ficar. Os jogadores, entre eles Dario que não jogou nenhuma partida, chegaram ao Brasil no dia 23 de julho de 1970. Médici, não deixou por menos: decretou Feriado Nacional! Maluf, não deixou por menos: deu de presente a cada jogador tri campeão um fuca zero quilômetro comprado com o dinheiro dos contribuintes! Enquanto isso, o milagre brasileiro acontecia, embalado pelo Ato Institucional Número Cinco, pelo tri e pela censura total à imprensa. Ninguém segurava mais o Brasil. Afinal de contas, eram noventa milhões em ação!

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Fonte FIFA e arquivo de jornais

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(continua)

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2 comentários:

Gerson Mendes Corrêa disse...

Tempos brabos aquele, que não se devia sequer pensar alguma coisa, época de medir muito bem as palavras.

Luiz Carlos Vaz disse...

É Gerson, e nessa "onda" de pensar diferente, perdemos vários grandes professores do Estadual...