8 de junho de 2010

Colegas: Strike Up The Band!

Alec Guinness, como Coronel Nicholson,
comandava o "assovio" no filme A ponte do rio Kwai
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Porque quando ameaça a revolta
E o peito se aperta por fim,
Não há o que renove a coragem

Como o som marcial do clarim.

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Willian S. Gilbert (*)
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"As bandas tradicionais ou as bandas marciais encantam não só pelo seu visual, seus uniformes, seu garbo, sua coreografia, seus instrumentos, mas também pela sua música, a música de banda, as marchas tradicionais e as marchas militares que executam. Nos tempos modernos, elas começaram também a executar arranjos de músicas populares e clássicas, adaptadas por seus maestros (ou mestres).
É interessante salientar, entre outras, a distinção principal entre uma banda e uma orquestra sinfônica. Essa grande diferença é a falta, na banda, do naipe (ou família) das cordas (violino, violoncelo, contrabaixo ...). É por uma questão de praticidade, pois ficaria difícil um deslocamento (ou marcha) com esses instrumentos. O som grave do contrabaixo é conseguido com as tubas e o agudo dos violinos, pelas flautas.
Um dos maiores compositores de banda de todos os tempos, para mim o maior, é o americano de origem portuguesa, John Philip Sousa (1854 - 1932). Olha aí nosso sangue lusitano na origem das músicas de bandas! É dele a marcha "Stars and Stripes Forever", é a sua obra-prima, não há quem não se lembre da melodia quando ouve, pelo menos do cinema. Era muito tocada por bandas marciais devido ao seu estilo floreado, que se prestava para coreografias nas apresentações. São também dele as marchas "El Capitán", "Semper Fidelis", "Washington Post March", e "King Cotton", todas igualmente bem lembradas quando ouvidas e sempre fazendo parte dos repertórios de todas as bandas que temos ouvido, em todos os tempos.
Uma marcha que ficou muito conhecida através do cinema, foi a que apareceu no premiado filme "A Ponte do Rio Kwai", de 1957, que era assoviada pela tropas, a "Coronel Bogey". A música não foi escrita especialmente para o filme, como pode parecer, é uma canção tradicional que as tropas inglesas, estacionadas na Índia, cantavam e que foi revivida durante a 2a guerra mundial. Portanto, ela é história real na "Ponte do Rio Kwai". Na época do lançamento do filme em Bagé, no final dos anos 50, os guris do Estadual também assoviavam essa marcha pelos corredores do colégio e nos intervalos de aula, e o filme, como era natural, foi motivo de muitas conversas entre nós. Esta película foi vencedora de sete Oscars, incluindo o de melhor filme, dirigida pelo inglês David Lean, que também conduziu "Laurence da Arábia" (1962), "Doutor Jivago" (1965), "A Filha de Ryan" (1970) e "Passagem para a Ïndia" (1984), este, o último filme do diretor.
O cinema foi pródigo em divulgar música de banda. Outros exemplos foram o tema do filme "O Mais Longo dos Dias" (1962), do mesmo nível, com grande marcialidade e que ficou muito popular, e a trilha do filme "Fugindo do Inferno" (The Great Escape - 1963), com uma melodia muito marcante e que ficou muito conhecida. Embora essa música tenha sido apresentada por orquestra sinfônica (incluindo as cordas!), o grande maestro Elmer Bernstein nos pareceu, de propósito, querendo imitar uma banda. A composição tem um trecho em que o som grave, que seria apresentado pelos contrabaixos, é executado virtuosamente pelas tubas, como se fosse uma banda. E o som das cordas (violinos) é bastante dissimulado pelo som igualmente agudo das flautas. O resultado sonoro nos parece de uma grande e garbosa banda marcial, apropriada para o tema de guerra do filme. Mas, para mim, a melhor marcha do mundo, a mais empolgante, a mais marcial, aquela que levanta o ânimo de qualquer indiferente,
é a "Lufwaffe Marsch" ou "Luffwaffe March", em inglês, (Marcha da Força Aérea Alemã), que apareceu na trilha sonora do filme "A Batalha da Inglaterra", (Battle of Britain - UK), de 1969, com a história dessa batalha aérea na Segunda Guerra Mundial.
E eu me surpreendi há pouco tempo quando descobri que George Gershwin (1878 - 1937), o grande compositor americano de música clássica (Rhapsody in Blue, Um Americano em Paris, Concerto em Fá) e também com extensa obra jazzística, que ouço há muitas décadas, tinha uma composição para banda, uma marcha, a "Strike Up the Band ". Mas a grande surpresa foi quando o Vaz me presenteou com um CD com composições de Gershwin, contendo uma amostra excepcional do autor: as três maiores obras clássicas, três músicas de jazz e essa música de banda que eu desconhecia. E o detalhe incrível: eu conhecia essa música tocada por banda desde guri, por volta de 1950, sem saber o nome dela, quando meu pai ouvia os famosos "jornais falados" da Rádio Tupy de São Paulo, de manhã cedo. Essa marcha era a característica musical do jornal (todas as características dos programas de noticiário da época eram marchas, novamente uma influência do pós-guerra). Desde então, fiquei com essa melodia na cabeça, e, incrivelmente, nunca mais a ouvi, em nenhum lugar. Mas aí, não sei por que força misteriosa, ela me cai às mãos pelo CD do Vaz. Agora, quando a ouço, me transporto para o meu quarto de criança na casa da Hulha Negra, ouvindo de manhã cedo, ainda na cama, o som do rádio Zenith, alimentado por bateria carregada com o aerodínamo Wincharger. O som vinha da sala. Entre os intervalos de anúncios das Casas Pernambucanas, Astringosol, Phimatosam, Biotônico Fontoura, Sadol, Creolina Pearson, Fenotiasina...,
eu também ouvia as últimas notícias pelo Jornal Falado da Tupy ou do Repórter Esso, que vinha logo após. Meu pai acompanhava essa programação diariamente...

Completando este resumo das grandes marchas para banda, lembramos que um dos hinos nacionais mais bonitos do mundo, o da França, é uma marcha que ficou famosa, "La Marseillaise". Ele Inflama o orgulho na nação francesa sempre que é tocado nos grandes acontecimentos, como o 14 de julho.
Sobre as marchas para bandas, encontrei no meu arquivo um texto dos anos 60, escrito por Richard Kleiner, musicólogo, e que escrevia uma coluna sobre discografia para a Newspaper Enterprise Association (Nova Yorque).

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"Em sua forma rítmica, a marcha é a música mais simples possível, pois seu compasso se adapta ao andar do homem -- um-dois, um-dois -- e o tempo é o da batida do coração. Talvez seja por sua primitiva simplicidade que a marcha empolga de um modo primitivo. As crianças reagem mais rapidamente à marcha do que a qualquer outra forma musical. Não exige raciocínio intelectual, nem interpretação, nada mais que uma reação emocional ou física. As marchas têm levado os homens à guerra através dos séculos. A dança de guerra dos índios é uma forma de marcha. O mesmo se dá com o tantã dos guerreiros africanos. É possível que os nossos primitivos e belicosos antepassados exaltassem o seu ânimo para combater com o auxílio de um simples bater marcial em um tambor. As marchas também servem a fins ideológicos. "A Marselhesa", por exemplo, veio a simbolizar o espírito democrático da França."

Agora perguntamos aos colegas: Será que lendo este texto não dá uma imensa vontade de ir até a praça para ver se tem alguma banda tocando para nos encher de alegria e entusiasmo ? Ou quem sabe acompanhar uma banda marcial em seu deslocamento e sair também marchando ? Vamos, pois, Vaz, Maria Amélia, Paulo Edison, Sardá, fazer as bandas voltarem aos bons tempos! Como diz no título da marcha de Gershwin:

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Strike up the band !
Que a banda comece a tocar!"

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Enviado pelo colega
Hamilton Caio

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(*) William S. Gilbert (1836 - 1911), compositor inglês, escreveu em colaboração com Arthur Sullivan, entre outras obras, as óperas cômicas (ou óperas bufas) "H. M. S. Pinafore" e "The Pirates of Penzance".
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Nota: Para ouvir as "marchas", é só clicar nos nomes que estão linkados para vídeos no Youtube.
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12 comentários:

Hamilton Caio disse...

Pode parecer desnecessário mostrar a diferença entre banda e orquestra. Afinal, poderia alguém dizer: "É claro que banda não tem violino!" Mas quanto ao visual não há dúvida na diferença, a menos para os bem desligados. A questão é quanto ao som, quando ouvida a gravação de uma música. Fiquei ligado nesse assunto desde que, há uns tempos atrás, mostrei uma gravação que fiz de uma banda militar no Paraná para um colega de boa cultura e ele afirmou que era de uma orquestra sinfônica. Ele não conseguia notar a presença marcante das tubas e nem a ausência notória dos violinos e das outras cordas na música gravada. E não é preciso ter ouvido musical para ver essa diferença. Elogio para a banda que tocava muito bem. Daí o motivo da abordagem desse assunto no texto.

Hamilton Caio disse...

A letra do tema musical do filme "O Mais Longo dos Dias" (The Longest Day) foi escrita pelo roqueiro Paul Anka, que atingiu o estrelato com o rock-balada "Diana". A música e a direção da orquestra foi do maestro francês Maurice Jarre, que já havia composto a melodia do "Doctor Zhivago" e outras trilhas para o cinema. Um detalhe curioso, que relaciona os acordes iniciais da música do filme, o início da 5a sinfonia de Beethoven e o Código Morse: o início da música tema é executada pelos tímpanos, aquele conjunto de cinco tambores da orquestra, com tons diferentes. Ela começa com três batidas equivalentes à nota Sol e uma batida equivalente à nota Mi, sequência essa que é repetida várias vezes, ficando, então, uma série de "ta-ta-ta--tã". Esse é também o início da 5a sinfonia, a sequência de notas Sol-Sol-Sol-Mi, executada por toda a orquestra, a conhecida onomatopeia "tcha-tcha-tcha-tchããã". E a representação da letra "V" no código morse são três pontos e uma barra que pode ser sinalizada com três piscadas curtas e uma longa de uma fonte luminosa. No desenrolar do filme, no momento que uma esquadrilha voa na direção da Normandia para soltar os paraquedistas e sobrevoa a frota naval que tem o mesmo destino e leva as tropas para a invasão, um dos aviões sinaliza para a esquadra, com um facho de luz, a letra "V" de "vitória", com três piscadas curtas e uma longa, ao mesmo tempo que a trilha sonora do filme executa, na mesma cadência, o ta-ta-ta-tããã, e logo após entram os acordes iniciais da 5a sinfonia, com as mesmas notas musicais. Foi uma brincadeira sutil do maestro Jarre, que motivou muitos comentários pelos guris do Estadual, na época do filme. Os colegas que não viram, podem conferir isso no filme, é muito interessante.

Maribel disse...

Que cultura, Hamilton! É muito bom contar com seus textos nesse blog! Eles só tem a enriquecer um espaço já tão importante. E quanto as bandas, quem já não se emocionou ao ouví-las? Nessa postagem foi fantástico conhecer as músicas que o cinema já nos fizera amar e reconhecer através dos tempos. Show, Hamilton! Tua cultura musical nos encanta.

Hamilton Caio disse...

Maribel, obrigado pela tua bondade. É muito prazeroso compartilhar os conhecimentos acumulados. E esperamos continuar recebendo a contribuição de todos os colegas, leitores, amigos e seguidores do blog. Tragam seus conhecimentos, suas fotos e documentos que mostram a história que não está nos livros. E façam seus comentários, também !

Hamilton Caio disse...

O Vaz teve a ideia e o trabalho de pesquisar as marchas que constam no texto e linkar para podermos ourvir, além da escolha do título para o post. A marcha do Gershwin, que já tem um nome bem sugestivo, agora ficou genial dando nome ao texto, que já começa fazendo a evocação às marcha e às bandas. Até eu que já estou acostumado a elas, me senti animado a ouvir novamente as bandas. Tenho a certeza que os amigos, principalmente os da velha guarda do Estadual, vão lembrar e relembrar as marchas que todos nós já conhecíamos, mas que não sabíamos o nome da maioria delas. E certamente não as cultuávamos muito nos tempos do Estadual, porque elas estavam por todos os lados nas características de programas de rádio, que, como já falamos, era uma tradição do pós-guerra. Quem sabe agora tiramos elas do esquecimento e fazemos as bandas tocarem novamente ! Como bem falou a Maribel, vamos nos emocionar de novo !

Hamilton Caio disse...

E aí, Vaz, Maribel, Heloísa Beckmann, Maria Amélia, Paulo Edison, Sardá, depois dessas relembranças de Bandas & Marchas, não dá vontade de fazer uma reprise da apresentação da Banda do Colégio Lemos Jr, novamente em Bagé, agora para o bicentenário da cidade ?
E vocês, colegas do Rio Grande, quem sabe agora é a hora de seus filhos, talvez até netos, voltarem aqui como integrantes da banda, rememorando o desfile que os pais fizeram em 1959 !

Hamilton Caio disse...

A letra do tema musical do filme "O Mais Longo dos Dias" (The Longest Day) foi escrita pelo roqueiro Paul Anka, que atingiu o estrelato com o rock-balada "Diana" no final dos anos 50. A música e a direção da orquestra foi do maestro francês Maurice Jarre, que já havia composto a melodia do "Doctor Zhivago" e outras trilhas para o cinema. Um detalhe curioso, que relaciona os acordes iniciais da música do filme, o início da 5a sinfonia de Beethoven e o Código Morse: o início da música tema é executada pelos tímpanos, aquele conjunto de cinco tambores da orquestra, com tons diferentes. Ela começa com três batidas equivalentes a nota Sol e uma batida equivalente a nota Mi, sequência essa que é repetida várias vezes, ficando, então, uma série de "ta-ta-ta--tã". Esse é também o início da 5a sinfonia, a sequência de notas Sol-Sol-Sol-Mi, executada por toda a orquestra, a conhecida onomatopeia "tcha-tcha-tcha-tchããã". E a representação da letra "V" no código morse são três pontos e uma barra que pode ser sinalizada com três piscadas curtas e uma longa de uma fonte luminosa. No desenrolar do filme, no momento que uma esquadrilha voa na direção da Normandia para soltar os paraquedistas e sobrevoa a frota naval que tem o mesmo destino e leva as tropas para a invasão, um dos aviões sinaliza para a esquadra, com um facho de luz, a letra "V" de "vitória", com três piscadas curtas e uma longa, ao mesmo tempo que a trilha sonora do filme executa, na mesma cadência, o ta-ta-ta-tããã, e logo após entram os acordes iniciais da 5a sinfonia, com as mesmas notas musicais. Foi uma brincadeira sutil do maestro Jarre, que motivou muitos comentários pelos guris do Estadual, na época do filme. Os colegas que não viram, podem conferir isso no filme, é muito interessante.

Luiz Carlos Vaz disse...

Bem, Hamilton, quando vi os nomes das "marchas" pensei logo em lincar no youtube para que todos, de forma prática, pudessem ouvir para associar uma marcha conhecida com seu nome. Interessante é que elas todas estão lá.

Luiz Carlos Vaz disse...

O Paul Anka, vejam só, também é o autor da clássica "My Way", que todos já ouviram pelo Sinatra. Interessante é que há uma versão para o espanhol que já foi gravada pelo grupo Gipsy Kings, Arturo Sandoval, Julio Iglesias e... pela nossa colega do Estadual, Maria Luiza Benitez, que há tempos optou, como o saudoso Guido Moraes, pelo Nativismo. Procurei no youtube e não achei. Mas, para lembrar a Maria Luiza, assistam esse clip:
http://www.youtube.com/watch?v=ERJC_PD4LUI

Hamilton Caio disse...

Vaz, muito bem lembrado, e ele escreveu essa música especialmente para o Frank Sinatra, sendo depois gravada também por Elvis Presley e pelo próprio Paul Anka. Contudo, não é totalmente original dele, foi adaptada de uma música francesa daquela época. O Paul Anka começou com um rock "mais brando", o chamado rock-balada, que foram seus sucessos no início da carreira. Para as gurias que gostavam das suas musicas, como a Vera Luiza e a Maria Gleide, olhem este vídeo com um medley gravado em 1966, com Diana, Put Your Head On My Shoulder, Puppy Love, Lonely Boy, e encerra cantando a sua composição para o filme, The Longest Day.

http://www.youtube.com/watch?v=SmbMuauXcdY&feature=related

Luiz Carlos Vaz disse...

Mas Hamilton, isso é que é um verdadeiro "achado" tirado lá do túnel do tempo...

Hamilton Caio disse...

Desculpem, na hora de escrever faltou a 5a música, You Are My Destiny. Então, na ordem em que é cantada, ficam:
Diana
Put Your Head On My Shoulder
Puppy Love
Lonely Boy
You Are My Destiny
The Longest Day