...frequentando a Casa Rodrigues, de propriedade do Cônsul do Uruguai em Bagé.
Anúncio publicado num rodapé do jornal Correio do Sul de 18 de fevereiro de 1948.
(Coleção do Arquivo Público Municipal. Clique na imagem para obter maior resolução)
Anúncio publicado num rodapé do jornal Correio do Sul de 18 de fevereiro de 1948.
(Coleção do Arquivo Público Municipal. Clique na imagem para obter maior resolução)
Foi frequentando a loja onde meu pai trabalhava, a Casa Rodrigues, do uruguaio Martimiano Rodrigues Baisón, que conheci as primeiras bolas de couro. Indo ou vindo para o Estadual, sempre achava um motivo para passar por ali e me maravilhar com tudo o mais que era vendido na tradicional loja, além das "pelotas de cuero". Lembro perfeitamente que eram feitas de couro de boi e oferecidas em tamanhos que variavam do Um ao Cinco. A número Cinco era a profissional, a que era usada pelo Guarany Futebol Clube e pelo Grêmio Esportivo Bagé. No início eram bolas "de tentos" (tiras de couro), com doze gomos, e, em um deles havia uma abertura, para ser fechada com um cadarço, por onde se enchia a bola. O pneumático de borracha vermelha era provido de um canudo por onde se injetava o ar. Depois de dar a pressão adequada, ele funcionava como um cordão umbelical. Era dobrado e atado com uma piola de algodão trançado. Fechado o gomo do cadarço, a bola estava pronta para entar em campo. Por vezes, esse gomo, ficava com uma bochecha de dente inchado e deixava a bola em condições ideais para tentar o famoso chute da "folha seca", imortalizado por Didi, um dos campeões de 58. A Casa Rodrigues também vendia esporas e facas de pura prata, ponchos de lã, lenços e palas de seda. Malas de garupa, guaiacas e sapatos. Fabricava botas estilo uruguaio, além de vender selas, serigotes, sinchas, correias, laços de 30 braças e todo e qualquer tipo de argola para os artesãos do pampa gaúcho fabricarem toda sorte de apetrechos para a lida do campo. Martimiano também era o Cônsul do Uruguai em Bagé, e ali, na Casa Rodrigues, era possível para um chiquelin como eu, desfrutar, desde cedo, do convívio de uma cultura irmã, de uma língua diferente. Ali eu aprendi que as fronteiras não faziam sentido para os homens de paz, os homens verdadeiramente grandes e verdadeiramente homens. Era tudo uma terra só, a linha divisória era uma invenção dos colonizadores e, definitivamente, me senti um guri do pampa. Aqueles niños uruguaios, que eu seguidamente encontrava ali, e platicava con ellos, eram como eu, do Pampa Gaúcho. E, como todos gaúchos fronteiriços, aprendemos desde cedo que Em la Pampa no hay frontera... Depois das bolas de tento, de cordão umbelical e cadarço, vieram as bolas com válvulas de nylon, que não ficavam ovais, e dificilmente perdiam a pressão. Elas se juntaram àquelelas outras, do enorme cercado de madeira, lá da Casa Rodrigues, onde além das bolas para futebol, também conheci as bolas de rugby, tênis, basquete, salão, e aquelas usadas pelos boxers para treinarem seus diretos de esquerda e direita. Ai veio a transmissão do futebol pela televisão, e não se enxergava a bola... então, a bola que era marrom, da cor de uma bota ou sapato, ficou branca, depois branca e preta, como a dos os famosos gomos pentagonais da Copa do México. A bola do nosso tri foi a primeira a recebar nome oficial: Telstar. Depois veio a Tango, em 78, a Azteca, em 86, a Etrusco, em 90, a Questra, do tetra, em 94. Sempre em preto e branco. Na França, em 98, ela deixou o contraste de lado, e iniciou a sua fase em cores. A Tricolore, que lembrava Liberté, Égalité, Fraternité, deu o título aos donos da casa. Em 2002 ganhamos o penta com a Fevenova, e em 2006 tivemos o espírito de equipe alemão com a Teamgeist. Hoje temos a multicolorida Jabulani, com 11 cores, que lembram os 11 jogadores, os 11 idiomas oficiais da África do Sul e as 11 tribos que formaram o País. A bola foi feita como o mundo: redondo, com gomos sem divisões. São "gomos" que, unidos, formam uma esfera, e não a separam, ao contrário, formam uma bola sem fronteiras. Quem separou o mundo em "gomos que desunem" foram os homens menores, com agá minúsculo. Foi assim com a África. A divisão artificial foi a forma que os colonizadores brancos inventaram para dominar, para explorar e para escravizar as nações africanas. Criaram fronteiras e pátrias inexistentes no coração dos povos de nossa mãe primeira, de nossa Mama África. Por isso, essa é a copa do Continente Negro, da África, não só do país África do Sul. Por aqui foi mais ou menos a mesma coisa. Criaram fronteiras no nosso Pampa Gaúcho. Mas, como diz nosso poeta maior, Jayme Caetano Braun, "... eu já estava tomando mate quando a pátria amanheceu..." A seleção da África do Sul "já foi para casa" mesmo estando em sua casa. Não foi adiante. Mas muitas outras nações irmãs continuam na Copa de 2010. Na copa da Jabulani. Cada vez que ela é chutada em direção ao gol, as vuvuzelas fabricadas na China tocam alto para tormento dos ouvidos mais sensíveis. Vamos lá. A copa de todas as nações está indo para a fase seguinte. Seja o leitor um descendente de Don Guasque, como o Gerson Oliveira, ou seja o português Ferreira, fã de Cristiano Ronaldo, ou uruguaio como Damián Gonzales ou José Del Rey, torcedores de Diego Forlán, chinês, russo, norte-americano ou qualquer outro descendente de Lucy, como um dos 7.000 internautas dos 24 países que nos seguem: esta é a copa de todos nós. É a copa da alegria e da confraternização mundial através do futebol. Não há lugar para tristeza. Só quando o goleiro "engole um frango." Mas, cá para nós, quem é que quer ver um goleiro se dar bem?
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Clique aqui e assista neste vídeo, as complicadíssimas etapas de fabricação da já famosa Jabulani. Fácil, mesmo, deve ser fabricar uma vuvuzela...
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Fonte: Fifa e arquivo de jornais
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(continua)
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Clique aqui e assista neste vídeo, as complicadíssimas etapas de fabricação da já famosa Jabulani. Fácil, mesmo, deve ser fabricar uma vuvuzela...
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Fonte: Fifa e arquivo de jornais
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5 comentários:
É um video bem completo e demonstrativo. Que bela tecnologia chinesa. É uma nova maneira de fabricação bolística. A Adidas está no topo.
Pois é Vaz, lembras do Maguil... filho do seu Martimiano. Que figura hein... acabou com a Casa Rodrigues, era uma bela loja de artigos gauchescos. E a vida continua!
Conheci o Martimiano Jr, ou Filho, como Mundico... Primeiro a Casa Rodrigues virou loja de 1,99, hoje é uma farmácia.
O apelido do Martimiano era "Mandico" ou "Maguil", tomava um trago federal, por isso detonou a Casa Rodrigues e também seus bens pessoais, fazenda e todo o resto. É uma lastima, mas enfim que podemos fazer?
É, Miro, esses detalhes eu não conheço, só passei lá outro dia e vi a farmácia naquela esquina. O Cavalo Preto ainda está na diagonal...
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