17 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa! – V, O maracanaço

O cartaz da Copa de 1950 parecia já mostrar
o Brasil "pisando na bola"

"Eu seguia pelo túnel, em direção ao campo.

A saída do túnel, um silêncio desolador havia tomado o lugar de todo aquele júbilo.

Não havia guarda de honra, nem hino nacional, nem entrega solene.

Achei-me sozinho, no meio da multidão, empurrado para todos os lados,

com a Copa debaixo do braço"


Jules Rimet, presidente da FIFA

L’ histoire merveilleuse de La Coupe Du Monde

Union européenne d’éditions, Paris,1954


As palavras de Jules Rimet, em seu livro de memórias, dão exatamente a dimensão da tragédia vivida pelos quase 200 mil brasileiros que assistiram, em pleno Maracanã, a derrota da nossa seleção para o Uruguai por 2x1 na final da Copa do Mundo do Brasil, em 1950. Não havíamos perdido apenas a copa. Perdíamos também a alegria, a esperança e a fé na nossa seleção. Após a década de 40, quando a FIFA interrompeu a realização dos mundiais, o retorno do campeonato, agora disputado em nossa casa, seria a oportunidade real de sairmos daquele modesto terceiro lugar conquistado na França para um título de campeão mundial de futebol. A taça já havia inclusive sido batizada de Jules Rimet, na convenção da FIFA de 1946, em homenagem ao homem que, ao final da história, presidiria a Federação Francesa de Futebol por 26 anos e a da FIFA por outros 33, monsieur Rimet. Foi construído o estádio do Maracanã, o maior do mundo, vieram até o Brasil, um total de 13 seleções das 32 inscritas para as eliminatórias. Vários estados sediariam os grupos. Em Porto Alegre, o Estádio dos Eucaliptos foi o palco para o México jogar e perder para a Iugoslávia e a Suíça em duas partidas que tiveram público de 11 mil e três mil e quinhentos espectadores respectivamente. Por muito tempo as goleadas do Brasil sobre a Suécia, 7x1, e sobre a Espanha, 6x1, foram as maiores em copas do mundo. Esse era mais um motivo para crer que nada nos tiraria a taça. Só esses 13 gols das duas partidas nos davam uma enorme vantagem sobre a seleção com que jogaríamos a final, o Uruguai. O Rio de Janeiro tinha à época, dois milhões de habitantes. É possível dizer que, de cada 10 pessoas, uma delas foi ao Maracanã naquela tarde. Após um primeiro tempo empatados – o que garantia o título ao Brasil, logo ao início da etapa complementar, aos dois minutos, Friaça fez 1x0 para o estádio inteiro explodir de emoção. O presidente da FIFA já sabia o protocolo da entrega da taça. Um guarda de honra, formada a partir da entrada lateral do gramado, até o centro do campo, veria passar o presidente da entidade maior do futebol mundial, Jules Rimet, com a taça que agora levava o seu nome. Ele deveria só esperar a execução do hino e entregar o troféu para o capitão do selecionado brasileiro. Aos 21 minutos, Schiaffino empata. Tudo bem, esse resultado não muda em nada o protocolo. Milhares de lenços brancos saúdam os novos campeões mundiais... porém, aos 34 minutos, numa bola saída pela direita, tal qual no jogo contra a Suécia, Ghiggia vence Barboza e faz o dos uno que transformou toda aquela alegria, toda aquela festa e toda aquela emoção, no dia mais triste do nosso futebol. O dia do Maracanazo, que foi como os uruguaios batizaram esse feito. Lá no Estadual sempre se comentou muito sobre essa copa que perdemos em casa, a copa que deixamos escapar. Encerrava-se ali, em 1950, uma etapa. Era preciso ressurgir das lágrimas do Estádio Jornalista Mario Filho para uma nova época de vitórias. A próxima copa seria em 1954, na Suíça, tínhamos quatro anos para esquecer o maracanaço. Esquecemos? Lembramos, certamente, de Barboza, de Juvenal, de Friaça... e de quem mais recordamos? No entando, jamais vamos esquecer de:


Máspoli,

Gambetta, Matias González e Rodriguez Andrade;

Tejera, Obdulio Varela, Julio Perez e Schiaffino;

Ghiggia, Miguez e Morán.

(continua)


Fonte: FIFA e arquivo de jornais.

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4 comentários:

olmiro muller disse...

Na copa de 1950 prevaleceu o individualismo dos jogadores nacionais; eles recusavam-se a jogar em conjunto e tinham pouco espírito de luta. Além disso, o treinador (Flávio Costa) era muito autoritário e só citicava os defeitos dos atletas, não enaltecendo suas virtudes. Assim, só tinham de sucumbir ao espírito competitivo e aguerrido dos uruguaios, que merecerem o título.

Luiz Carlos Vaz disse...

É Olmiro, ficamos no clima do "Já ganhou!", e os castelhanos descontaram a fatura em nós.

Gerson Mendes Corrêa disse...

Olha gente, como diz o nosso Lauro Quadros, realmente o desespero nessa época foi grande, tanto que até hoje ainda choramos. Mas a verdade é que, a seleção brasileira evoluiu e hoje estamos almejando o hexa, que a meu ver deverá ser realidade no dia 11/07/2010, enquanto os uruguaios...

Luiz Carlos Vaz disse...

Olha, Gerson, o Uruguai... não sei não, hein?!