18 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa! – VI, “Das Wunder von Bern”

No cartaz suiço, a bola que vence o goleiro
parece aquela chutada por Rahn na final

Os rascunhos de 1953 que Schlee guarda até hoje

A história da copa de 1954 não precisa ser contada. Basta que se assista o filme Das Wunder Von Bern (O milagre de Berna), produção alemã de 2003, do diretor Sönke Wortmann. As duas histórias narradas no filme têm por cenário a Copa da Suíça. Uma acompanha um casal de jornalistas que cobre a competição; a outra é sobre uma família que, como a Alemanha, foi brutalmente partida em dois pedaços no fim da segunda guerra. A sede do evento esportivo foi na neutra Suíça, endereço da então cinquentenária FIFA. Essa foi também a primeira copa do Estadual. O Brasil, exorcizando os azares passados do uniforme branco, fazia a estréia em copa do mundo da Camisa Canarinho, desenhada em 1953 por um guri de Jaguarão, o meu amigo Aldyr Garcia Schlee. No entanto, nossa seleção chegou somente às quartas de final, onde foi sumariamente derrotada por 4x2 pela fortíssima Hungria, do craque de todos os tempos, Ferenc Puskás. Na semi final ela confirmou o seu favoritismo despachando o campeão do Mundo de 1950, o Uruguai, pelo mesmo contundente placar. O fornecedor do material esportivo da Alemanha, a Adidas, lançou na copa da Suíça a chuteira de agarradeiras removíveis. Como na Fórmula 1 moderna, a seleção alemã dispunha de “pneus de chuva” e “pneus para pista seca”. Isso deve ter ajudado muito pois choveu durante o dia fazendo um “Fritz-Walter-Wetter” (tempo de Fritz Walter), já que os torcedores alemães acreditavam que o capitão da sua seleção, Fritz Walter, jogava melhor em campo molhado. As chuteiras criadas por herr Adi Dassler, deveriam então fazer a sua parte. A Hungria, aplicadíssima, ignorando as variações climáticas do dia e o desempenho das novas chuteiras da adversária, tratou logo no início do jogo de marcar 2x0, com gols aos seis e aos oito minutos. No entanto, os alemães conseguiram reagir e empatar ainda no primeiro tempo. Numa segunda etapa muito tensa, as duas seleções jogavam a vida naquela partida. Já quase ao final do jogo, um popular narrador esportivo alemão, Herbert Zimmermann, ao ver o jogador Rahn com a bola ainda no seu campo, teria gritado ao microfone em meio a total emoção: “...aus dem Hintergrund müsste Rahn schieβen”, (...chute ai do meio da rua, Rahn). Como se ouvisse o apelo desesperado do narrador, ele chutou. A bola saiu do pé de Rahn e foi inexoravelmente fazendo uma trajetória perfeita até vencer a meta defendida pelo goleiro húngaro, Grosics. A torcida foi ao delírio quando ainda faltavam seis minutos para o encerramento da partida no Wankdorf Stadium. A Alemanha, agora dividida em duas, conquistava seu primeiro título mundial, sem poder contar com os atletas que haviam ficado do lado oriental do muro. Foi um verdadeiro milagre! Um milagre em Berna. Já o nosso milagre só aconteceria quatro anos mais tarde, em Estocolmo. (continua)
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Fonte: FIFA e arquivo de jornais.
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5 comentários:

Hamilton Caio disse...

Vaz, precisamos de mais detalhes de como esse guri de Jaguarão conseguiu a façanha de ter o seu desenho da camiseta adotado pela seleção brasileira. Poucos colegas conhecem.

Luiz Carlos Vaz disse...

Bem, Hamilton, conheço o Schlee há quase quarenta anos e, além da amizade sólida, tive a feliz oportunidade de tê-lo como examinador em minha banca na pós graduação. Ele é uma pessoa de grande cultura e um apaixonado pelo futebol. Jornalista, ilustrador, doutor em direito internacional, atualmente dedica-se somente à sua literatura. Já ganhou duas vezes a Bienal Nestlé de Literatura e três prêmios Açorianos de Literatura. É autor de mais de vinte livros entre os quais: "Uma terra só", "Linha divisória", "Contos de sempre", "Contos de verdades", "El dia que el Papa fué a Melo" e "Cuentos de fútbol", estes dois últimos, publicados primeiramente no Uruguai pela editora Banda Oriental. Recentemente esteve em Portugal palestrando sobre sua obra para estudantes de pós-graduação da Europa. Lançou no ano passado na Feira do Livro de POA, "Os limites do impossível - os contos gardelianos", e este ano terá editado seu romance "Don Frutos". Tradutor da obra de Mário Benedetti, versou para o espanhol "A salamanca do Jarau" de Simões Lopes Neto. Traduziu a obra fundamental para a história da América, "Facundo, civilização e barbárie", de José Sarmiento. É personagem principal do episódio "Gaúchos Canarinhos", da série Curtas Gaúchos da RBS (disponível para assistir no site Clic RBS), onde a história da criação da camiseta é contada em detelhes. O jornalista inglês Alex Bellos, do The Guardian, deu notoriedade mundial a esse fato, quando entrevistou-o para o livro "Futebol: the Brazilian Way of Life". Schlee também acompanhou Bellos a Montevideu para entrevistar vários jogadores da Celeste de 50. O nome de "Aldyr Garcia Schlee" apresenta hoje, na busca do Google, mais de 11.700 ítens para pesquisa. Um pequeno vídeo da Band conta uma pequena parte dessa história no endereço:
http://bandnewstv.band.com.br/conteudo.asp?ID=310147

Luiz Carlos Vaz disse...

Em tempo: um site bom para ver esse assunto, e o livro do Bellos, é o
http://alexbellos.com/

olmiro muller disse...

O canal 38 (sportv) da NET tem apresentado repetidas vezes um documentário sobre as copas do mundo que foram filmadas e a de 1954 está lá, é claro.
O comentarista tenta colocar minhoca na cabeça do espectador afirmando que no 1º jogo entre Alemanha e Hungria, que ganhou por 8x3, os alemães colocaram o time reserva para despistar os húngaros e jogaram violentamente, pois estavam a fim de inutilizar Puskas para o restante da copa. Assim, na decisão, os alemães jogaram completos e Puskas entrou contundido, fora das condições ideais;
além disso, um dos tentos da Alemanha foi validado em visível condição de impedimento (é possível conferir vendo o documentário), colocando em dúvida a idoneidade do árbitro. Há também o fato de os alemães terem corrido muito mais do que o comum e naquele tempo não havia exame anti-doping.
Portanto, há quem diga que aquela copa foi armada para a Alemanha ganhar, pois havia o estímulo de reerguimento, devido à derrota na 2ª Grande Guerra. E agora?

Luiz Carlos Vaz disse...

Olmiro, não sei não se algum país queria ver a Alemanha se reerguer, assim, tão rápido. Eles até dividiram a Alemanha em duas. São coisas do futebol, num tempo em que não haviam os tira-teimas, e as imagens do cinema demoravam muito a serem exibidas. Hoje mesmo (27/6), o árbitro não deu uma bola dentro, como gol da Inglaterra contra a Alemanha. Com TV e tudo...