17 de setembro de 2019

“As lanternas da cidade” – VIII, Fim de partida

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Fim de partida

Angelo Alfonsin

no dia que vim embora
minha mãe gritou muitos
ais
não para que eu ficasse
mas que me mandasse
dali
estava doendo aquela
saída
não era saudade
nem medo
um mangue de cobrir a cara
de caretas rindo do meu
primeiro embate
de santo guerreiro contra o dragão
da realidade
a gritaria da mãe era de corar
as paredes
resfolegando como o último trem
da estação
era o início de aprender
que a vida cobra uma fortuna
pelo ar respirado
mesmo dos afortunados
para usar a alcunha de vivos
com a compreensão eternamente torta
do que possa ser essa alucinação
em que se é expulso quando se pensa
ter chegado
e
deportado quando não se tem mais
para onde ir

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