7 de julho de 2020

Mirem-se nas Mulheres das Cavernas

Foto do G1


Mirem-se nas Mulheres das Cavernas

ou

Meu Terceiro Cometa

Luiz Carlos Vaz (*)

Fico imaginando como as Mulheres das Cavernas reagiam ao contemplarem, durante dias e dias, a passagem dos cometas. Elas estavam acostumadas, evidente, às fases da Lua, ao nascer e pôr do Sol, aos períodos de frio, calor, chuvas ou ventos. Mas aquele risco de fogo que surgia assim, do nada, e durava “um tempo” certamente despertava um interesse especial. Nunca era o mesmo, e certamente nenhuma delas viu duas vezes o mesmo, mas eles surgiam de tempos em tempos no céu, e não eram como os riscos de fogo, rápidos e brilhantes, que elas viam seguidamente, durante as noites escuras de então. Esses, os cometas, eram acompanhados de uma trilha de fogo, como pegadas, mostrando o caminho percorrido.

Eu estou ficando velho, já vou para o meu terceiro cometa. O primeiro foi o Kohoutek, que vimos ainda em Bagé, em março de 1973. Com um período orbital de 2.278 dias, nem Jesus Cristo tinha visto sua última passagem. Foi descoberto e estudado por um astrônomo checo chamado Luboš Kohoutek. Nessa época a parafernália midiática não era tão avassaladora, e não lembro, e nem conheci depois, alguma criança batizada com o nome Kohoutek. Fico imaginando a mãe gritando “Vem prá dentro, Cutequi de Deus, teu pai vai chegar” ect etc

Mais tarde, eu já era grande, e vi o famoso Cometa Halley, que, mais simpático, passa em intervalos de 75 anos. Uma voltinha pelo xópim e ele já está mostrando a cara outra vez. Esse sim, foi visto duas vezes por muitas pessoas. Teve sua órbita e sua frequência descobertas pelo inglês Edmond Halley, que era além de astrônomo, uma porção de outras coisas, como todo qualquer cientista da época. Nesse ano choveram produtos relacionados ao nome, bonecos, HQs, roupas, mas não chegaram a fazer sucesso. Foi um acontecimento, digamos, meteórico.

Agora é a vez do Cometa Neowise, que já foi fotografado no céu do Líbano e estará à disposição de todos, a olho nu, durante o mês de julho de 2020.

Normalmente, a essas passagens e aparições sempre são associadas coisas como o fim do mundo, o surgimento de pestes ou o nascimento de gêmeos. Não sei se as Mulheres das Cavernas já faziam essas associações. E, quanto aos homens das cavernas, enquanto as Mulheres admiravam os cometas, as estrelas e a Lua, eles lotavam os bares enchendo a cara e não viam porra nenhuma, só preocupados com o cancelamento do futebol naquele período em que estava passando o tal risco de luz no céu.
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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e Editor deste Blog


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