11 de outubro de 2024

Algumas muitas ideias sobre a Alfabetização Literária



Cristina Maria Rosa (*)

    Para cumprir o desejo de registrar rastros de minhas ideias desenvolvidas em trinta e dois anos de docência no ensino superior – tempo em que desenvolvi um conceito, a alfabetização literária – reuni um grupo de pessoas. Não só alunas e alunos. Em comum, este grupo tem um apreço profundo pela leitura literária, por livros e autores, por raridades e memórias. De algum modo, contribuem para formar novos apaixonados pela literatura e partilham respeito e admiração pela preservação da cultura escrtita. Estes "pontos em comum" merecem um livro.

    Bravas pessoas!

    Ouviram meu convite, aceitaram, se debruçaram sobre seus apontamentos, abriram seus notebooks e aqui estão.

    As autoras e autores reunidos em Algumas muitas ideias sobre a  Alfabetização Literária são: Anna Claudia Ramos, Alexandre Bauken, Bel Coimbra, Carina S. T. Peraça, Cátia Simone Becker Vighi, Cristina Maria Rosa, Daniela Castro, Dulcimarta Lemos Lino, Ellem Rudijane Moraes de Borba, Elisane Ortiz de Tunes, Ieda Kurtz, Isabela Dutra, João Eduardo de Magalhães Salvador, Joice Lima, Júlia Victoria Casalinho Pereira, Klécio Santos, Leonardo Capra, Luísa Hernandes Grassi, Luiz Carlos Vaz, Malu Krause, Márcia Duarte, Maria Cristina Noguerol Catalan, Maria Heloisa Canal, Mariana Motta Klein, Marina Antunes Rodrigues, Maria Marismene Gonzaga, Marlise Flóreo Real, Paloma Wiegand, Pâmela dos Santos Borba, Patricia Lessa, Ramile Leandro, Raquel Casanova dos Santos Wrege, Roselaine Lima, Simone Santos de Albuquerque e Telma Borges.

    Lembre:

    No dia 02 de novembro, estaremos todos na 50ª Feira do Livbro de Pelotas, para dar a conhecer nossas ideias...

    Mais sobre o livro tu acessas aqui:

https://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2024/10/algumas-muitas-ideias-sobre.htm

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(*) Quem é Cristina Rosa?
https://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2024/10/palavras-sobre-origem.html

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler.

12 de setembro de 2024

O mistério da cerveja ou... A volta do Bem Brasil

Foto Luiz Carlos Vaz

O mistério da cerveja

ou...

A volta do Bem Brasil

Luiz Caros Vaz (*) 


Por uns instantes achei que estava num looping de tempo, num capítulo de Lost... pois eu nem tinha bebido nada.

O cenário na volta, vamos combinar, era de uma comédia misturada com tragédia anunciada, o que ajudava muito o clima de loucura. Pisquei os olhos três vezes, bati na mesa mas complicou mais, pois o líquido sumiu do copo!

Foto Luiz Carlos Vaz


Pior, apareceu o outro lado do porta cerveja, e pude vislumbrar o Vitor Ramil e o Roberto Carlos me olhando... Expliquem, Alex, Renata, Bruno e Charles.

Isso foi agora, às 15 horas e 26 minutos! Será o efeito da fumaça?

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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e Editor deste Blog

11 de setembro de 2024

Noite americana

 

Foto Luiz Carlos Vaz  (*), às 10 h da manhã

Day for nigth /Noite americana

    "Noite americana" é -era?- um truque cinematográfico que permitia gravar à luz do dia como se fosse noite escura. Fiz essa foto agora, às 10h, sem usar truque, pois escureceu de verdade! 

    Truffaut fez um filme - sobre cinema, com esse título. Recomendo...

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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e Editor deste Blog

16 de julho de 2024

Desapega que faz bem

 

O autor, fotografado por Cláudia Rodrigues

Geraldo Hasse (*)

Durante mais de vinte anos, conservei no guarda-roupa um lote de blusões de lã raramente usados em algum inverno em cidades em que morei – casos de Ribeirão Preto, Vitória e São José do Rio Preto, situadas em torno do Paralelo 20, onde é raro a temperatura cair a 15ºC. Daí que estavam em estado de seminovos os tais pulôveres quando se deram as terríveis enchentes no RS, e aqueceu-me o coração colocá-los no pacote de doações entregue ao Correio em maio de 2024. 

Desde então, diante da aparente iminência do fim do mundo, cresceu o sentimento de desapego no meu pobre mundinho particular. Roupas, que muita gente aceita, já não sobram, mas aqui no meu tugúrio há uma mercadoria que nem todo brasileira valoriza: livros. Há mais de meio século carrego pilhas desses objetos de papel e tinta (e nunca me esqueço da minha primeira compra literária: com 14 anos apliquei todo meu dinheiro -- 5 cruzeiros novos – pra levar pra casa o volumoso “Contos e Novelas” de Voltaire, edição da velha Livraria do Globo).

Depois de tanto comprar e ganhar livros, a mim bastaria hoje manter umas 50 obras literárias, entre contos, ensaios e romances, mas até agora persisti em guardar um milhar de títulos (alguns em duplicata) que raramente são abertos – aliás, o Voltaire acima não mora mais comigo.

Seria prático, portanto, doar o que estiver sobrando. Foi assim que passei a ensacolar alguns volumes entregues em centros comunitários. É um descarte prazeroso, mas não isento de algum remorso (diante dos autores, talvez). Antes de cada doação, porém, me obrigo a um exercício de comiseração: pego cada volume, dou uma folheada, checo os créditos, confiro alguma frase sublinhada e tento recordar quando, onde, como e por que esse livro chegou e se tornou um amigo silencioso e servil, mas nunca inerte.

Dizer adeus a um livro é tão difícil que, não raro, após um manuseio de minutos, acabo por devolvê-lo à estante, para que permaneça mais um tempo à mercê de uma releitura ou de um simples afago na lombada. Há livros cujo descarte seria mesmo uma espécie de traição. Fazem parte dessa lista aqueles com dedicatória. Parece absurdo, mas no século passado ganhei um livro em que o autor, renomado repórter policial, escreveu, eufórico: “A você, xerife das quatro estações, o abraço do Pena Branca”. Mal o conhecia, mas compreendi o significado de um livro na vida de uma pessoa: são muitos anos de trabalho, mil perguntas em noites insones etc. 

Não pretendia alongar-me nesse assunto de livros e roupas, mas não posso deixar de falar do transtorno que me acompanha desde que me tornei um escriba profissional: a mania de guardar caixas contendo agendas, cadernos de anotações e documentos (muitos em formato de livro) acumulados ao longo do tempo. São papéis que registram entrevistas, viagens e frases sem valor para quem olha de fora (há até uma caixa de fitas K7, embora já não exista o respectivo gravador). No entanto, basta abrir qualquer um desses fragmentos da prática da reportagem ou de momentos de estudos para concluir que muitos episódios ou personagens ali anotados têm uma remota ligação com a realidade de hoje. Mal comparando, são como espoletas ainda aptas a fazer crepitar o fogo na lareira. Por exemplo, achei um caderno onde anotei aulas de sociologia do bravo professor Florestan Fernandes recém-chegado do exílio em 1976 – numa das folhas, consta até um desenho tipo caricatura da cara dele. Claro que esse caótico doc.edu do auge da ditadura não vai para o fogo nem para o lixo.

Enquanto dou uma última espiada nessa papelada descartável antes de entregá-la às chamas, concluo que não há forma mais original de desapego do que incinerar manuscritos guardados como salvaguarda da própria memória. Eis então que recebo (de graça) a visita de uma frase gravada nos anos 1970 na parede de uma espelunca em Paragominas: “Tudo enfada, só a variedade recreia”.

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Geraldo Hasse é jornalista e escritor; trabalhou como repórter e editor pelo Brasil afora em diversos veículos do jornalismo, publicou vários livros, e atualmente mora em Santa Catarina. Ah, e me regalou com o Venâncio Xavier, leia aqui:

https://velhaguardacarloskluwe.blogspot.com/2021/01/venancio-xavier-ou-o-poncho-voador.html

7 de julho de 2024

Pingos de Amor

 

Odibar Moreira da Silva, foto publicada no blog www.brazilakolekto.com



José Henrique Medeiros Pires (*)

Era inevitável mudar de ares.

Quando fez inscrição para aquele concurso federal – no qual foi aprovado – as vagas disponíveis eram pra Salvador, onde havia nascido, e Pelotas, da qual pouco ouvira falar.

Preferia o calor da Bahia, mas sua pontuação o dirigiu para Pelotas.

Nomeado, instalou-se no lugar onde não conhecia ninguém e, já nos primeiros dias, resolveu estudar a cidade, tão longe do seu Rio de Ja­neiro, do bairro Botafogo, do seu amado clube Flamengo.

Soube, então, que em Pelotas também havia um clube rubro-negro e, como gostava de ver futebol, comprou ingresso para um jogo qualquer, numa noite qualquer.

Para espantar a solidão, só isso. Assim me disse.

Ex-morador do Solar da Fossa, no Rio (onde moraram Caetano Veloso, Gal Costa, Paulinho da Viola, Paulo Coelho), autor de várias músicas de sucesso nos anos 70, longe dos amigos, dos amores, estava em terra desconhecida, onde faz frio e onde sopra um vento gelado pra caramba.

Chega a noite do jogo. Ele desce calmamente a Rua Princesa Isabel e entra distraidamente pelo portão do Bento Freitas. Ali mesmo tem um impacto inesperado, que o faz parar, respirar fundo e chorar. Exata­mente nessa ordem.

A torcida fazia uma imensa festa, pulando e cantando uma música feita por ele!

A Charanga da Garra Xavante marcando primorosamente a execução daquela melodia que não tocava mais em nenhum outro lugar do Brasil e a torcida cantando a letra como se dela fosse, como um hino, que pertence a todos.

“Vamos ser, outra vez nós dois. Vai chover, pingos de amor”

A torcida maravilhosa o fez lembrar seu parceiro Paulo Diniz, que gravou esse e tantos outros sucessos feitos por ambos.

Naquela noite, Odibar Moreira da Silva cantou junto, pulou junto, apaixonou-se pelo Xavante e por Pelotas, onde fez muitos amigos, casou-se, trabalhou e voltou a compor.

Lembrei dele ao ouvir o Guri de Uruguaiana reciclar sua música, salien­tando que “vai chover pingos de amor” em meio a paródia, bem-feita, que embala a campanha pela reconstrução do Rio Grande do Sul.

Odibar ainda merece que lhe escrevam uma biografia.

Quando Caetano Veloso e Gilberto Gil tiveram que se exilar em Londres, ele e Paulo Diniz compuseram um dos maiores sucessos do início dos anos 70: “Eu quero voltar pra Bahia”. Em seguida veio “Um chope pra distrair” e outros tantos sucessos.

Paulo Diniz, como também gravava, é mais lembrado.

Odibar bem que tentou. Levou com ele, aos estúdios da gravadora CBS, o violonista Sérgio Ricardo (que já havia destruído um violão no Festival da Record), gravou uma música, que não agradou o jovem produtor da gravadora. As coisas ficaram por isso mesmo.

O nome do jovem produtor? Raul Seixas.

Odibar, realmente, merece que lhe escrevam uma biografia, repito.

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(*) José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha; é jornalista e radialista.

21 de junho de 2024

O Menino Maluquinho



Luiz Carlos Vaz (*)

Meus filhos sempre souberam que os livros faziam parte da “cesta básica” lá de casa. E não eram apenas os livros didáticos, eram os dicionários, as enciclopédias (o Dr. Google da época) ou os títulos relacionados pela Escola.

Conviveram amplamente com livros dos adultos e, também, com a literatura infantojuvenil. Livros como Marcelo, Marmelo, Martelo, da Ruth Rocha encantavam a todos. E, claro, Ziraldo, com seu Menino Maluquinho era o mais disputado. Certa vez, aqui em Pelotas, nos anos noventa, acompanhei o Schlee (nessas horas sempre era o Schlee, né?) numa recepção ao Ziraldo, no Restaurante Bavária - pois eram amigos desde os tempos do Correio da Manhã, no Rio de Janeiro. Ziraldo estava por aqui para uma atividade acadêmica promovida pela UFPel.

Dei de mão em todos os livros dele que tínhamos em casa e pedi autógrafo para todas as crianças... e o Maluquinho, claro, foi autografado para o “menino mais velho”, o Bernardo, que me mandou há pouco essas imagens. Mas todos eles - Santhiago, Juliana, Carolina, Marcelo... já estão procurando os seus livros autografados pelo Ziraldo e depois eu posto as imagens.




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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e Editor deste Blog


9 de junho de 2024

Em agosto nos vemos / En agosto nos vemos

 Luiz Carlos Vaz (*)

Foto Arthur Felippe Vaz


Em agosto nos vemos

  Não precisei esperar, como Florentino, cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias... o pessoal do Jeff me entregou há pouco o livro póstumo do GGM, "Em agosto nos vemos". Peço licença para me dedicar à leitura do livro. Já conversei com o Itamar e o Jeferson, pois já havia avisado que quando o livro chegasse, ele seria a prioridade. E, quanto a vocês... não me cobrem nada por esses dias, mas eu prometo que antes de agosto nos vemos.

6 de março de 2024

 

 

Foto Arthur Felippe Vaz

En agosto nos vemos

  Dia 6 de março deste ano postei minha foto, que nem pinto no lixo, lendo a edição em português de “Em agosto nos vemos”, a tão falada, comentada e esperada obra póstuma de GGM. Havia garantido a compra na pré venda, ainda no mês de fevereiro. E, como diria Jorge Ben, “Ela vem chegando/ E feliz vou esperando/ A espera é difícil/ Mas eu espero sonhando...” Quando chegou eu li, sonhei, me encantei e publiquei minha aventura para vocês.

  Fiquei desejando muito ler o texto original, em espanhol, até porque tenho procurado completar minha coleção da obra de Gabriel García Márquez com edições na língua em que o autor as escreveu. Claro que as traduções de Eric Nepomuceno são irretocáveis, pero como soy de la frontera, hablo y escribo español razonablemente bien.


Parte da minha coleção ainda sem o "En agosto..."

  Pois um dia desses soube que a amiga Maria Fernanda, de Jaguarão, estava indo a Montevideo... bah! não deu outra, pedi que me comprasse o livro no Uruguai... Ela aceitou a missão e ainda del otro lado del río, me mandou uma mensagem dizendo “já comprei o teu livro!”.

  Mas aí veio a enchente e as complicações que esta trazia junto... e, como cantava o Tim, “Mas quem sofre sempre tem que procurar/ Pelo menos vir achar/ Razão para viver...”

  Só precisou as águas baixarem, o vento acalmar, e uma carona apareceu, solícita, para traer aquí la edición en español de En agosto nos vemos. Aí, foi só chamar o Arthur e refazer o retrato, com tons absolutamente outonais e com a (quase) mesma pose.

  Achem agora os sete erros enquanto vou a la isla en el transpordador de las tres da tarde para... (sem spoiler, né?)


 8 de junho de 2014
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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e Editor deste Blog

24 de maio de 2024

Águas de Maio

 



Jorge Santos (*)

 

A solidão é como as águas de maio

A gente sabe que vem

E bem devagarinho

Ela ocupa todos os espaços

Até nos deixar isolados

Refletindo sobre a nossa pequenez.

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(*) Escritor, poeta, piadista, esquerdista.

Foto: Luiz Carlos Vaz

19 de maio de 2024

De negacionismo em negacionismo vamos naufragando

 

Pelotas, Doquinhas; local conhecido hoje  como "Quadrado" - Foto LCVaz



Luiz Carlos Vaz (*)

            "O Jornalismo é uma Veuve Clicquot". Tá... é uma cachaça!

    Há vários dias meus colegas de profissão, professores, alunos e ex-alunos, me pedem opiniões, manifestações sobre essa nova catástrofe anunciada... enfim, querem saber até se estou com os pés secos. Estou "seco" (ufa!) e a minha 300 mm também. Então fui às ruas de Pelotas e bati uns retratos. Encontrei muitas pessoas amigas nessa caminhada...

    É ruim fazer esse tipo de imagens; mas é preciso registrar, mostrar, ajudar a denunciar o negacionismo climático. Não haverá mais mundo - pelo menos esse que conhecemos hoje, se todos nós - atingidos ou não diretamente pelas cheias, não mudarmos o nosso comportamento.

    Ninguém pode estar feliz somente por estar com os pés secos. É só olhar na volta. É muita tristeza... Chega de ufanismo, de falsos heróis e de façanhas que só causam vergonha.

    Basta de querer ser modelo para todo o planeta.

    Há muita gente que já acordou mundo afora.

    Nem os cavalos mais têm paz.

    Deu!

Clube Náutico Gaúcho e Rua Tamandaré, na região do Porto - Foto LCVaz

Rua João Pessoa, na região do Porto - Foto LCV


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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e Editor deste Blog

10 de maio de 2024

Cavalo Caramelo

 



Athos Ronaldo Miralha da Cunha (*)

A palavra distopia estava somente nas orelhas dos livros de ficção. Mas em maio deste ano vemos a realidade de um mundo distópico aqui nas plagas do Sul. E custamos acreditar que esteja acontecendo. O caos se instalou no Rio Grande e sobrou uma única opção: resistência.

Resistiremos de todas as maneiras e formas porque precisamos sobreviver. Nós somos sobreviventes da pandemia, sobrevivemos a tentativa de golpe e a falta de humanidade no auge da Covid19. O povo brasileiro e agora, especificamente, o gaúcho, traz esta garra de resistência e sobrevivência.

Os gaúchos estão resistindo, bravamente, as consequências do aquecimento global. Estamos resistindo porque temos que reconstruir o estado. Reconstruir nossas vidas e seguir “tocando em frente” dentro do possível. Renascer com a força dos Farroupilhas, dos Chimangos, Maragatos e dos caudilhos nas cavalarias e nas peleias nas revoluções. Hoje, somos todos centauros nas coxilhas.

Os nossos pais e avós resistiram às águas de 41. E são tantas as lembranças em P&B nos antigos álbuns de fotografias. Naqueles tempos não se falava em negacionismo climático, mas as águas de 41 voltaram em 24 e com mais ganas de ocupação, amparadas neste negacionismo.

E o símbolo da resistência das águas revoltosas de 2024 é justamente um cavalo. Carinhosamente batizado Caramelo.

Ele permaneceu no telhado de uma casa em Canoas, lutando para sobreviver diante das implacáveis águas que subiam sem dar um “Ó de casa”. A coragem do Caramelo rodou o mundo. E foi uma torcida muito grande para o seu resgate.

O Caramelo permaneceu no alto daquela estranha coxilha de duas águas de Brasilit. Estranha aquela Pampa totalmente encharcada de águas turvas.

E o Caramelo lá em cima do telhado, quatro dias de resistência silenciosa. Imóvel... Impávido... resistiria até o último suspiro.

Então, os heróis desta tragédia climática entram em ação. O Corpo de Bombeiros de São Paulo assumiu a missão de salvar o cavalinho e a expedição Caramelo foi um tremendo sucesso.

O resgate de Caramelo é um lembrete da resiliência da vida em meio à adversidade. Enquanto as águas subiam, ele permaneceu firme, aguardando a ajuda que finalmente chegou. Um cavalo no telhado nos faz lembrar da importância de solidariedade e compaixão em situações adversas. Caramelo sobreviveu e tocou nossos corações com sua força e determinação.

Caramelo, o cavalo símbolo da luta pela vida em meio ao caos de um mundo distópico. Símbolo da resistência para seguir na jornada por este Rio Grande de São Pedro.

Vai Caramelo.

“Rasgando a coxilha ao meio, mordendo o vento na cara”. [*]

[*] Versos de Potro sem dono – de Paulo Portela Fagundes.

 

(*) Athos Ronaldo, que é um santamariense por adoção, é um filho de ferroviário que nasceu em Santiago e estudou engenharia na UFSM. Foi funcionário da "Caixa", participou de algumas antologias, publicou vários livros de contos e já recebeu vários prêmios literários com eles. Esta crônica, o Zapzap das flores, está no recente Em prosa e verso, volume XIII, da Academia Santamariense de Letras. Athos, um colorado convicto, também está presente no livro de crônicas O gol iluminado, publicado em 2009.

26 de fevereiro de 2024

"No creo en brujas, pero que las hay, las hay!"

                                                                                          Miguel de Cervantes Saavedra

 

Fotos por Renata Lobato Schlee


Luiz carlos Vaz (**) 

¡Yo tampoco!

 

Pero... em certos momentos parece que elas estão por toda a parte; na nossa alma, dentro da nossa cabeça, diante dos nossos olhos... que temos que concordar com Alonso Quijano... Elas existem!

Mas, não há o que temer! As Bruxas, ao contrário do que nos contaram os homens, não são más, não matam velhinhas nem tampouco comem criancinhas, isso quem faz são os... (“para, Vaz!” sopra uma delas aqui ao meu ouvido! “Volta ao tema, ela sussurra...” Tá, concordo eu, mas... posso escrever só mais uma frase? “Uma só? Pode!”) ...Nos ensinaram que era preciso queimar as mulheres “más”, as bruxas, na fogueira... mas não nos disseram um “ai” que fosse, sobre as igrejas e as religiões que faziam ou mandavam fazer isso! Pronto, falei! (Ou escrevi?)

Voltando... Minha Mãe era uma Bruxa! Sabia de simpatias e rezas, de benzeduras, tapava os espelhos e fazia cruz de sal nos dias de mau tempo para cortar as tormentas... Mas, claro, não chegou a ser queimada na fogueira, pois já nasceu no século XX. Ufa! Graças a isso mamei até os quatro anos; depois sempre tive um bom café com leite pela manhã ainda na cama, roupa limpa e planchada com ferro de brasa; ela sempre dava ideias ótimas para o primeiro parágrafo das minhas redações do colégio, ministrava bons conselhos e era minha advogada de plantão, pronta para me defender na Escola sempre que eu tivesse razão. Claro, ela dizia que, além de ser o mais bonito do colégio, eu sempre tinha razão! (*)

Costureira de mão cheia, ela bordava, fazia tricô, crochê e construía, diante de meus olhos, as colchas de retalhos mais lindas que eu já vi. Nada programado, ensaiado, pré-desenhado... Ela ia cortando os retalhos, costurando aleatoriamente, e num passe de mágica (ou bruxaria?) surgiam colchas dignas de ser assinadas por Mondrian.

Pois outro dia a Renata me mandou uma foto onde aparecia, sobre uma cadeira, uma colcha de retalhos; não de retalhos de tecido, mas de quadros de crochê! Fiquei maravilhado e pedi a ela que fizesse, lá fora mesmo, lá naquele paraíso, uma foto dos meus livros sobre a colcha... e pedi, claro, o nome da autora da obra de arte...

Pois não é que recebi há pouco a foto? E mais, fiquei sabendo que a autora da colcha, a avó dela, dona Jacy Dias Lobato, era de Cacimbinhas... do mesmo chão da Minha Mãe! Imagino que vó Jacy, claro, devia ser também uma Bruxa!

 É muita bruxaria junta para um homem só! Por isso eu afirmo:

 ¡Yo creo en brujas, por que ellas hay!

 

(*) Comentários invejosos ou gracinhas serão encaminhados direto para a próxima Assembleia Geral das Bruxas de Cacimbinhas!

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(**) Luiz Carlos Vaz é Escritor, Jornalista, Fotógrafo e Editor deste Blog

17 de fevereiro de 2024

Três obras do Vaz

 

Iustração fotográfica por Athos Ronaldo


Athos Ronaldo Miralha da Cunha  (*)

Recebi três livros de Luiz Carlos Vaz. Três belas coletâneas de crônicas, que faço um breve comentário abaixo.

NOTÍCIAS DO SCHLEE

Esse foi o primeiro que li, pois o título pede a leitura imediata. E sei que o Vaz é muito próximo de seus familiares e foi um dileto amigo de Schlee de longa data.

São nestas crônicas que aprendemos um pouco mais sobre o escritor. As chamadas lembranças vivas e afetivas. Aqui identifiquei uma grata satisfação ao ser citado em uma das crônicas – na página 43 –, que me deixou com um olhar 43...

Não farei a réplica, não há necessidade sempre fui seduzido pela obra do Schlee que, infelizmente, não conheci pessoalmente. Mas cumpri a incumbência de trazer um jornal para ele de uma viagem que fiz. Aliás, solicitação que muito me honrou.

São estas as boas lembranças de um escritor e seu legado literário. Notícias do Schlee são sempre bem-vindas.

A TAÇA DO MUNDO É NOSSA! 

O livro é, literalmente, um passeio pelas copas do mundo de futebol.  Desde 1930, o início, passando pelo fantasma de 50, que ainda nos assombra.

O começo da camisa canarinho bolada pelo Schlee e o sumiço da taça Julies Rimet. Ainda temos a laranja mecania... la mano de Dios. Etc... etc...

São inúmeras as situações que vivenciamos nas copas e nos causaram de alguma forma emoções. Tristes ou alegres. Mas a citação do gol de Valdomiro Vaz Franco – será que é parente do autor? – contra o Zaire na copa de 1974, me deixou reflexivo: meu sonho de guri era ser ponta-direita do Internacional. E o Valdomiro foi um dos poucos ídolos que deixei lá na década de 70. 

E chegamos no 7 x 1 e tem muito mais, vale a pena entrar em campo.

MEMÓRIAS DE UM MAU TEMPO

Neste exemplar temos crônicas do período pandêmico, mas não necessariamente sobre a doença.

Já começo identificando mais uma citação, agora avancei uma casa estou na página 44, mas ainda permaneço com o olhar 43.

Vaz escreveu muito nesse período de mau tempo. Viu muitos filmes e leu em demasia.

A apresentação é do Pedro Hallal, aquele senhorzinho que enaltecia a ciência nas entrevistas e batia seguidamente nos “cloroquinófilos” para desespero da turma do capitão.

Aliás, foi um período de muita contestação sobre a ciência e inclusive sobre a forma da Terra. Vá entender. (sic)

Em alguma das crônicas nos identificaremos pela situação vivenciada no confinamento.

Claro, alguma coisa sobre Bagé sempre tem. E muito mais o leque de assuntos é abrangente.

Ah! O Vaz mente muito, mas sempre mostra as provas.

O livro já vem vacinado contra a ignorância. Leia sem moderação.

Esses são os três últimos filhos literários do Vaz.

A propósito: Filhos... Filhos? Melhor não tê-los.

Mas se não temos! Como sabê-los? [Vinícius de Moraes]
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(*) Athos Ronaldo Miralha da Cunha por ele mesmo: 

“Engenheiro Civil, aposentado da Caixa; cometo crônicas, contos e outras coisas sem importância.”

12 de fevereiro de 2024

Meu mundo caiu

 


Luiz Carlos Vaz  

  Herdei de minha Mãe a incapacidade de decorar as letras das músicas! Mas foi Ela também que me ensinou a improvisar; nada de ir fazendo o clássico “na na na”, mas ir colocando suas próprias palavras nas melodias, que também eram, imagino eu, seus próprios sentimentos, que estavam ali, sendo cantados pela Maysa, Dalva de Oliveira ou pelo Nelson Gonçalves.

  E quando eu não sabia, por exemplo, o que significava “Doidivana, quem me calunia, não sabe agonia que eu passo e passei” eu perguntava... Daí ela se esforçava para explicar para o seu caçula, de seis ou sete anos, a força de todo aquele sentimento contidos nos versos de Adelino Moreira.

  E assim eu fui conhecendo a música brasileira (*). Fui sendo apresentado a várias situações como: “é melhor brigar juntos do que chorar separados”;  “Meu mundo caiu E me fez ficar assim Você conseguiu E agora diz que tem pena de mim...”; “Sofri, mas mesmo assim eu fui feliz, chorei e bendisse a minha dor...”

  Muito antes de estudar anatomia ou conhecer o Superman, fiquei sabendo que havia dentro do nosso corpo uma coisa chamada “nervos”, que poderiam ser comparados ao aço (que eu também não sabia o que era...) “Há pessoas de nervos de aço Sem sangue nas veias e sem coração Mas não sei se passando o que eu passo Talvez não lhe venha qualquer reação...”

  Não faço ideia de quem seja “o Adelino Moreira dessa geração”, o Cartola, o Pixinguinha, o Nelson Cavaquinho, o Chico, o Milton... Mas, cá para nós, “bundinha” (recorrente em quase todas as letras atuais), qualquer criança quando começa a falar já sabe o que é, e não precisa perguntar prá ninguém...

  Já eu, que sou antigo, prefiro escutar mil vezes, bem baixinho, sem bate estaca, coisas como:

Prefiro então partir

A tempo de poder

A gente se desvencilhar da gente

Depois de te perder

Te encontro, com certeza

Talvez num tempo da delicadeza

Onde não diremos nada

Nada aconteceu

Apenas seguirei, como encantado

Ao lado teu

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E eu aqui, escrevendo isso em pleno Carnaval...
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(*) Porém, quando se tratava de tangos, aí era a vez de meu Pai - que gostava de corrida de cavalos – explicar uma vitória ou uma derrota “Por una cabeza” mas não de um petiço qualquer, como os la de casa..., mas “de un noble potrillo Que justo en la raya, afloja al llegar Y que al regresar, parece decir No olvides, hermano Vos sabes, no hay que jugar...”
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Luiz Carlos Vaz, é jornalista, fotógrafo e escritor. É também o editor deste Blog