29 de janeiro de 2010

Navegar é preciso...

O poeta nas ruas de Lisboa
Navegar é preciso
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase,

transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue

o propósito impessoal de engrandecer a pátria
e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Fernando Pessoa
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O Blog Velha Guarda do Colégio Estadual completou dois meses! Nesse período pudemos reeencontrar muitos colegas, conhecer outros tantos e fazer novas amizades virtuais. O start para isso, como sempre digo, foi o tópico: Alguém da velha guarda?, criado pela colega Claudete Macedo, na comunidade Passei pelo Carlos Kluwe, do Orkut. Foi a partir dai que reencontramos os velhos colegas e amigos, espalhados pelo Brasil afora, e pudemos fomentar a idéia do Encontro do dia 12 de dezembro de 2009. O Encontro foi um sucesso e nos mostrou a necessidade de se manter a turma do velho Estadual ligada em um instrumento virtual que pudesse relembrar as nossas histórias e aventuras vividas no tempo em que passamos por lá. Muios de nós, que fizeram Ginásio e Científico no Estadual, passamos sete anos lá dentro! Um ou outro ano rodado fazia com que esse tempo chegasse a oito, nove ou até uma década de Estadual!
Hoje temos mais de 1.300 computadores de 16 países acessando, já quase 5.000 vezes, o nosso Blog. Nossa história e nossa memória correm o mundo e despertam o interesse de milhares de internautas que navegam na web, e que, lembrando Fernando Pessoa, sabem que "navegar é preciso. Viver, não é preciso..." (1)
Vamos voltar depois do feriadão. Aos nossos amigos e colegas deixamos o agradecimento por acessarem e colaborarem com o "nosso" Blog e... continuem navegando, são 70 postagens nestes dois meses que contam um pouco da nossa passagem pelo querido Estadual e também sobre a memória de Bagé. Continuem enviando suas colaborações para o mail e aproveitem para responder o Quiz do Apollo!
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(1) "Navigare necesse; vivere non est necesse". Assim o general romano Pompeu, (106-48 aC.) se dirigiu aos seus marinheiros amedrontados que se recusavam a viajar durante a guerra. Citação feita por Plutarco, no livro A vida de Pompeu.
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28 de janeiro de 2010

Leitura de férias

Uma só edição de Grande Hotel vendia milhares de exemplares pelo Brasil afora.

Nas férias era tempo de colocar todas as leituras em dia. Principalmente aquelas que muitas vezes não eram "muito recomendadas" pelo professores do Estadual. As gurias procuravam as fotonovelas e a gurizada, os gibis que costumavam trocar no cinema. As revistas Capricho, Ilusão, Sétimo Céu e Grande Hotel, faziam a alegria das meninas que colecionavam fotos e artigos sobre os principais intérpretes, normalmente italianos, das histórias de amor que ocupavam páginas e páginas dessas revistas. Numa época em que as rádio novelas estavam perdendo público, as "revistas femininas", como eram chamadas, tomaram essa fatia e se constituiram num verdadeiro sucesso editorial no Brasil. Sandro Moretti, Mike Bongiorno, Franco Gasparri, Jean Mary Carletto e outros foto-atores, fizeram o coração das colegas do Estadual em pedaços por muitos anos... até que chegou a televisão e acabou com o mercado das fotonovelas. Ai, os responsáveis pelos corações dilacerados passaram a ser outras figuras.

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27 de janeiro de 2010

"Quiz" do Cine Apollo

O prédio onde funcionou o Apollo é esse. Mas onde fica?



É, parece que o pessoal está com dificuldade de identificar a localização do antigo Cine Apollo (1) e também lembrar o nome do outro cinema que funcionou lá. Vamos então mostrar mais um pedacinho do Apollo. Será que agora dá para saber onde é? Os alunos do Estadual passaram muito em frente a esse prédio...
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(1) Dia 21 de janeiro propusemos um Quiz sobre a localização do Cine Apollo mostrando a calçada com o nome do cinema.
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26 de janeiro de 2010

Recuerdos da 28

Numa época sem toilette à bordo,
uma parada técnica na volta, já perto de Bagé
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Com as rédeas, o Élvio Rangel Cásseres, atrás do cavalo, Luiz Carlos Vaz,
bem à frente, o Roberval Lannes de Carvalho
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No ano de 1968 os estudantes do Estadual foram a um congresso da UGES, União Gaúcha de Estudantes Secundários, em Santana do Livramento, que era uma preparatória para o famoso 30º Congresso Nacional da UNE, que reuniria no mês de outubro, em Ibiúna, SP, mais de 700 estudantes de todo o Brasil sob a liderança do presidente Luís Travassos (1). 

Fomos até Livramento em um ônibus da Empresa Lima. Era inverno, as estradas estavam “naquela base” tanto na ida como na volta. Entre teses, manifestos e discussões bem próprias para a época, achamos tempo também para nos divertir na terra dos hermanos. Havia um misto de cassino e boate, de nome Farolito, bem ali na divisa das duas cidades, que seduzia a todos com as luzes de neón que faziam o Farolito ficar piscando para nós. 

No lado brasileiro, descobrimos o restaurante Pedrinho, num subsolo levado por uma escadaria íngreme, que nos serviu diariamente um Carreteiro da Casa por 950,00 cruzeiros. Pagávamos mais 50 pila e tínhamos direito a uma porção extra de pão (pela primeira vez na vida senti saudade da comida da minha mãe...). 

Fomos também ao cinema na cidade de Rivera, onde flertamos em portunhol com moças que eram, na verdade, brasileiríssimas.... Dormimos duas noites dentro do ônibus da Empresa Lima. Tínhamos alugado um quartinho de solteiro num hotel, entre sete ou oito colegas, onde nos permitiam deixar as malas, tomar banho e também as outras providências. 

Na volta passamos em Dom Pedrito e fomos recebidos pelas colegas do colégio Nossa Senhora do Horto. Aliás, muito bem recebidos... Tiramos fotos pela cidade e fizemos uma certa bagunça que deve ter despertado muita gente naquele início de manhã geladíssimo da cidade da Caixa d’Água. Um carroceiro que distribuía leite de casa em casa nos emprestou (fazer o que?) sua carroça para uma foto. 

Livramento ficara para trás com o carreteiro do Pedrinho, o quartinho de solteiro para oito e as luzes do Farolito. Dizem, até hoje, que um colega mais impetuoso teve um affair com a Porca Rabona e teria enfrentado um índio curto e grosso, de nome Pescoço, num entrevero bem bagual, lá pelos lados da 28... mas são só recuerdos, recuerdos...
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(1) Alguns estudantes encarregados de providenciar alimentação para todos teriam chegado numa pequena padaria (Ibiúna tinha 6.000 habitantes) e encomendado dois mil pãezinhos... o dono ficou preocupado, ligou para a polícia e todos foram presos... O 30o Congresso da UNE não terminaria. O ano de 68, segundo Zuenir Ventura, também não terminou..

25 de janeiro de 2010

Meu Boletim

Este é o Boletim da Ana, com notinhas vermelhas e tudo mais,
mas que garantiu a ela férias tranquilas no verão de 1972...


...e esta é a Ana, que sorriu de felicidade ao ver o carimbo de "APROVADO"
e a assinatura do diretor Otto Carvalho Filho, atestando tudo isso, lá no finzinho de 1971

Os Boletins eram as "câmeras de vigilância" de nossas vidas escolares no Estadual. Ali, mensalmente, nossos pais podiam ver e rever todas as imagens relativas aquele período de 30 dias. Notas, ausências ou até mesmo algum deslize no comportamento que tivesse sido registrado no famoso Quadro dos alunos suspensos. Os boletins substituiram as famosas Cadernetas que eram entregues no início do período e retiradas na saída das aulas. Estas, forneciam o registro diário da presença e estabeleciam com os pais uma comunicação quase instantânea com a escola. Com o crecimento do Estadual tiveram que ser abolidas. Não era posivel receber, carimbar a presença diária, e devolver em mãos, ainda no final do turno, as cadernetas de centenas de alunos... Mas o terror mesmo eram as notas grafadas em vermelho, as reprovações! Quanta explicação para dar, quanta promessa a se fazer e quantas restrições para o mês seguinte até que a caneta azul novamente predominasse no nosso boletim. Depois de um certo tempo, até caneta vermelha saiu de moda. Só era usada mesmo para marcar as faltas e os tais "E" de exames. Mas, ao final do ano, mantendo tudo sob controle vinha a boa notícia: um carimbo de APROVADO, como o que se pode ver no boletim que a Ana Saturnina enviou para o Blog. Ufa, pelo menos as férias do verão 1972 da Ana estavam garantidas...
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21 de janeiro de 2010

O cinema em Bagé - V. Cine Apollo, o "Nuovo Cinema Paradiso"

(fotografia de Liliana Telles).
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O nome do Cine Apollo ainda está intacto. Vamos preservar esta calçada?

.O filme de Giuseppe Tornatore, Nuovo cinema Paradiso (1988), conta uma história que se passa na aldeia de Giancaldo, na Sicília, mas que ocorreu também em centenas de cidades pelo mundo afora: a magia hipnótica que uma sala de projeção exercia sobre as pessoas, o carinho que elas dispensavam a esse fenômeno empático e o destino, quase comum e fatal, de todos os antigos cinemas: pegar fogo, ou virar estacionamento, ou se transformar num shopping, ou sediar uma igreja (1) ... Em quase todas as cidades foi assim.

O Cinema produziu muitas platéias, muitos Totos e muitos Alfredos por onde passou. Mas hoje, fechados, diversas teses são apresentadas para explicar esses destinos: a popularização da TV, o surgimento do vídeo-cassete e das locadoras, a falta de segurança nas ruas ou até mesmo o confronto entre sair de casa e pagar dois, três ou quatro ingressos, ou ficar em casa, na sala, e assistir, de bermuda e chinelos tomando uma cerveja junto com os amigos, os seus filmes favoritos na TV paga ou em dvd. Sem falar que também já é possível fazer no seu computador um download grátis de quase todos os filmes.

Foi dessa forma que muitos puderam assistir Tropa de elite ou Dois filhos de Francisco, antes mesmo deles serem lançados no circuito comercial. Os cinemas de rua se foram, isso é real, mas a história deles deve permanecer. Desfigurar esses antigos prédios (2) é um verdadeiro crime contra a memória coletiva e o patrimônio arquitetônico, tombado ou não. Preservar os equipamentos, as fachadas, os detalhes, as características particulares dos prédios onde funcionaram os antigos cinemas é obrigação de um povo culto e civilizado. Não somos contra as igrejas, o comércio, ou seja lá o que for que estiver funcionando nas antigas instalações dos velhos cinemas. A preservação do patrimônio e da memória das cidades é o que nos interessa. Por esse motivo, propomos aos leitores do nosso Blog um Quiz (3) (moderninha essa palavra, hein?).

“Segundo nosso regulamento”, a fotógrafa Liliana Telles e o Hamilton Caio, por fazerem parte da produção, não podem participar...

QUIZ do Blog:
Funcionou em Bagé, nos anos 30 e 40 um cinema com o nome de APOLLO. O nome do cinema foi escrito na calçada, com ladrilhos hidráulicos vermelhos, há mais de 80 ou 90 anos. Essa calçada existe até hoje e o prédio também. Responda:

1. Em que rua está localizada essa calçada?
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2. Que outro cinema funcionou no mesmo endereço?.Vamos receber as respostas através dos “comentários” no post, e vamos publicá-los, todos de uma só vez, na semana que vem. Não oferecemos nenhum prêmio. Apenas a oportunidade de reavivar nos nossos leitores a idéia de preservar nossa memória e a preocupação em preservá-la. Afinal, não vivemos repetindo que “povo sem história é como árvore sem raiz...”? Então vamos lá pessoal, vocês devem ter pisado nessa calçada centenas de vezes quando iam em direção ao Estadual. Foi lá no Cine Apollo que nossos pais ou nossos avós assistiram A paixão de Joana D‘arc, Luzes da cidade, Casablanca, Cidadão Kane, M, o vampiro de Dusseldorf ou ...
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(1) Em Bagé, o Glória e em Pelotas, o Tabajara, sediam igrejas; Em Bagé, o Capitólio e em Pelotas, o Cine Rádio Pelotense, foram alugados para atividades comerciais; Em Bagé, o Avenida (que pegou fogo) e em Pelotas, o Capitólio (que não pegou fogo), foram transformados em estacionamentos.

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(2) Inaceitável a raspagem da sigla “VFRGS” no prédio onde funciona o Centro Administrativo, assim como a do nome “Cine Capitólio” no prédio onde ele funcionou. Elogiável a manutenção, por exemplo, dos nomes nas fachadas do Hotel do Commércio e na Cooperativa dos Ferroviários. No muro em reforma do Estrela D’Alva, ainda está a inscrição: “Guarany Foot Ball Club”... vamos preservá-la ou...

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(3) Segundo o Oxford Dictionary, essa palavra já era usada, dessa ou de outra forma, desde 1782...

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20 de janeiro de 2010

Nas asas da Panair

Turma só de alunas da 4a série ginasial de 1963. No alto, da esquerda para a direita: Claudete Costa Freitas; Maria Vidal Coutinho; Nelsi Tojo Mota; Doralice X. de Oliveira; Vera Regina Lopes Collares (de cabelos longos); Marilene Bezerra (blusa escura e gola branca); parcialmente encoberta, uma colega difícil de identificar; Carmem Dora Azevedo (blusa escura e gola branca); Inspetor Budó; Gléa Silva Ferreira (gola branca); Inspetor João Olaves (Olavo), de casaco escuro e gola branca; o Zelador, Seu Ivo (de óculos); Regina Costa Moraes (foi oradora da turma); Maria de Lourdes Moriconi (blusa clara e gola branca); Maria Zely Quintana (japona escura e gola branca); Francisca Abero Ferraz (japona escura e touca branca). No segundo plano: Terezinha Henrickson Souza (blusa branca e óculos escuros); Marta R. Barreto (ao lado da Terezinha); Nara Conceição Jardim de Quadros (blusa branca com lista horizontal escura); Marioli de Araújo Grafée (a frente de Nara); Edelmira Mariza dos Santos (parcialmente encoberta, a frente de Marioli); Em cima do primeiro lance da escada: Alzenir Trindade Valério (casaco claro); Maria Celina Maracci (japona escura e gola branca); Lidia Regina Silveira Luiz; Gleny Inês Alves (casaco claro de gola escura); Vera Ieda Magalhães Luz (blusa cinza e gola branca); Na frente da escadaria: Clara Marineli Silveira Luiz e Ana Luiza Rocha de Abreu.

"Era o início da primavera em Bagé. Fazia bastante frio em mais um dia de aula no nosso Estadual. Todas nós ainda usávamos roupas apropriadas para o inverno que insistia em permanecer um pouco mais. Algumas colegas usavam saias plissé azul marinho e japona da mesma cor. As japonas eram aquelas com uma fila dupla de botões dourados, abotoadas de forma transpassada. Ficávamos parecidas com as aeromoças da Panair do Brasil ...
A nossa classe era muito unida, toda hora se reunindo para comer um assado, fazer um pic nic e sempre pronta para alguma coisa que nos juntasse em algum lugar, dentro ou fora do colégio. Nesse ano, nossa turma do diurno estava separada dos guris, uma exceção no Estadual que sempre foi um colégio de turmas mistas.
Em um dia de outubro de 1963, num intervalo das aulas, de repente tudo ficou mais divertido. Foi quando nosso professor de Latim, o Frei Plácido, convidou para tirar uma fotografia da nossa turma. Ele tinha uma máquina fotográfica importada da Alemanha, e usava filme colorido, o que era a grande novidade na época. Bem, isso foi também mais um motivo para sair da sala de aula e ficar andando de lá para cá procurando e sugerindo o melhor lugar para a fotografia. A escadaria do pátio de entrada foi escolhida como o local ideal. Já era tradição, desde os tempos memoráveis, as fotografias serem tomadas ali. Era uma forma de aparecerem todas, ninguém ficaria escondida atrás de ninguém e, fotografia colorida, não era todo dia que se tirava.
Assim, o Frei Plácido registrou, com sua câmera e filme colorido, a nossa turma naquele dia frio de primavera. Um dia que poderia ter sido igual a muitos outros dias. Mas não foi. Nossa imagem que fora refletida naquele pedaço de celulóide viajou por muitas semanas. Primeiro foi para Porto Alegre e depois para São Paulo. De lá atravessou os céus de vários países da América, possivelmente “pelas asas da Panair”. Foi levado até um laboratório numa cidade dos Estados Unidos, revelado, copiado e, remetido de volta ao Brasil, perfazendo o mesmo trajeto de ida, no sentido inverso, até chegar de volta em Bagé com a devida segurança. Quantas oportunidades de se extraviar por ai... Algumas semanas depois daquele dia, o Frei Plácido nos entregou as cópias coloridas daquela pose tirada na escada. Guardamos nos nossos álbuns de fotografias em lugar de destaque. Afinal, era uma fotografia à cores!
A foto ficou lá no álbum, guardada por todas essas décadas. Nossos filhos nasceram, trilharam esse mesmo percurso, e nossos netos já estão tomando o mesmo caminho. E eis que agora, a foto da escada surge novamente. Depois de ter voado pelos céus das Américas duas vezes, ficar guardada no álbum por décadas, ela traz de volta aos nossos olhos aquele dia frio da primavera de 1963. E lá estamos todas nós, as aeromoças da Panair, com as nossas saias plissé e com as nossas japonas de botões dourados. A fotografia feita pelo Frei Plácido, já um pouco desbotada, conta novamente a sua história e faz suas indagações. Por onde andarão todas essas colegas? Quantas ainda terão uma cópia da fotografia viajante? Fico imaginando se a emoção que sinto agora, ao rever a nossa pose da escada, será a mesma das outras colegas que poderão rever no Blog a nossa fotografia. A fotografia que viajou pelos céus das Américas há quase 50 anos, que foi enquadrada pelo Frei Plácido, que foi batida naquele dia frio de primavera nas escadarias geladas ali do pátio do Estadual... "
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Enviado pela colega
Clara Marineli
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Nota do Blog, 1: Aparece na fotografia (à direita, bem abaixo), totalmente por acaso, o Paulinho, o Paulo Dupont. Paulinho foi uma figura muito popular na cidade. Morava com seus familiares bem próximo do Estadual, e circulava livremente entre alunos e professores e era muito querido e respeitado por todos. O Paulinho, sem saber, também viajou na fotografia pelas asas da Panair. O Paulinho hein, quem diria?
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Nota do Blog, 2: A Panair do Brasil S.A. foi uma das companhias aéreas pioneiras do país. Nasceu como subsidiária de uma empresa norte-americana, a NYRBA (New York-Rio-Buenos Aires), em 1929. Incorporada pela Pan Am em 1930, teve seu nome modificado de Nyrba do Brasil para Panair do Brasil, em referência à empresa controladora (Pan American Airways). Por décadas dominou o setor de aviação no Brasil. Encerrou suas atividades abruptamente em 1965, por determinação do governo militar.
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Nota do Blog, 3: Milton Nascimento e Fernando Brant, imortalizaram a Panair do Brasil na música "Conversando no bar", interpretada brilhantemente pela nossa Elis Regina, no trecho: "Apenas em memória dos tempos da Panair/ A primeira Coca-cola foi/ Me lembro bem agora, nas asas da Panair/ A maior das maravilhas foi/ Voando sobre o mundo nas asas da Panair".
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19 de janeiro de 2010

Antigos mestres - II

Professor Maieron, sempre brincalhão, com seu inseparável cigarro.
Ao fundo o professor Antonio Vaz Gomes, de física,
e o magérrimo Pedro Farias batucado numa garrafa.

Leopoldo Maieron

Num tempo em que ainda não havia o “medo da matemática”, tivemos um professor muito especial nessa disciplina no Estadual: o Leopoldo Maieron. Despojado, brincalhão, mas muito competente, o Professor Maieron, como era chamado, foi um desses mestres inesquecíveis. Normalmente usava camisas brancas de mangas curtas, e tinha sempre uma carteira de cigarros Continental, sem filtro, no bolso. Aliás, o cigarro e o giz dividiam suas mãos grandes e peludas durante todo o tempo de aula. Era um grande piadista. Gostava de fazer para a gurizada as famosas perguntas de duplo sentido, como a do "Mário", e não perdia uma! Era impossível apertá-lo em uma brincadeira nova. Sempre saia-se bem de qualquer pegadinha e se afastava, meio de lado, com um risinho característico bem particular. Tinha um topete, tipo "montinho", que aliviava um pouco a sua calvice. Ele foi também professor de outras escolas e, creio, foi diretor por muito tempo da Escola Melanie Granier. A foto que ilustra o post foi tirada por mim em um dos muitos pic nics que fizemos no tempo do Estadual. Nela ainda aparecem, ao fundo, o professor Antonio Gomes, e o Pedro (ou será o Mário?). Soube que há em Bagé uma escola estadual, CAIC, com o nome do professor Leopoldo Maieron, na rua Tupi Silveira, 3209, no núcleo residencial Ney Azambuja. Os colegas podem confirmar?
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18 de janeiro de 2010

Eu estudei na FUnBa

Envelope de correspondência usado pelo Centro Acadêmico Leonardo da Vinci,
das Artes Plásticas. Imagina se eu ia ficar de fora...
Maria de Lourdes Saraiva era a presidente do CA. Onde ela andará?

Dá para ver um "74", feito com Letraset, bem ali no meio, hummm...

Depois do Estadual, o caminho mais perto para a educação universitária era em Bagé mesmo, na FUnBa. A Fundação Universidade de Bagé, mantida pela FAT, Fundação Átila Taborda. Muitos colegas iam para Santa Maria, Pelotas, Rio Grande ou Porto Alegre, as cidades universitárias de então. Eu, logo que terminei o Científico, não consegui sair de Bagé para alçar outros vôos, e me candidatei a uma vaga no curso de Licenciataura em Artes Plásticas da FUnBa. Passei muito bem no vestibular em segundo ou terceiro lugar, por ai. Assistia aulas pela tarde no IMBA, Instituto Municipal de Belas Artes, e pela noite nas novas dependências da FUnBa, na avenida Tupi Silveira, 2099. O prédio ainda estava em construção, mas já havia aquela escultura baseada no Pensador, de Rodin, ali no meio das escadas. O ambiente universitário já era latente entre os alunos que se amontoavam no CBF, o Ciclo Básico Fundamental, e vários cursos já estavam se consolidando. As aulas no IMBA, das disciplinas do ciclo profissional, eram bem interessantes, mas havia um clima de "segundo grau" no ar. Lembro da fisionomia de várias colegas (eu era o único homem da turma!), mas só lembro o nome de uma, que era uma moça de Porto Alegre, de passagem por Bagé, que era casada com um engenheiro que trabalhava numa empresa que fiscalizava as estradas que estavam sendo asfaltadas na volta da cidade. É a Maria Cecília Zimermann Sperb, por muito tempo supercolunável do Gasparotto, na Zero Hora. Eu lia o nome dela no jornal e relembrava que havia sido nossa colega na FUnBa. Tenho boas recordações dessa época do IMBA/FUnBa e devo ter aprendido alguma coisa, mas no fim do ano reuni condições e parti para "alçar" os tais "outros vôos". Não me arrependi. Ficavam para trás, as Artes Plásticas, Bagé e o querido Estadual. Fazer o quê?
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17 de janeiro de 2010

O cinema em Bagé - IV. O Cine Capitólio

Ben Hur é o destaque na foto que mostra um Capitólio movimentadíssimo (1)

Se o Glória era o cinema popular, o Avenida o chic, o Capitólio pertencia à Classe Média das salas. O Capitólio foi inaugurado em 1934 pelo português Francisco Santos (2) que, além dessa sala, foi o responsável pela abertura de muitas outras em Pelotas, Rio Grande e outras tantas cidades do Rio Grande do Sul. O Capitólio possuía 1.200 cadeiras, em dois níveis, e apresentava uma bela projeção e um ótimo som.

Funcionava nos mesmos dias e horários dos outros cinemas e era ele o primeiro a reapresentar os filmes que estreavam no Avenida. Só depois desse circuito, Avenida/Capitólio, e que as fitas permaneceriam por mais algum tempo na programação simples ou dupla do Glória. Creio que o Capitólio abrigava também a sede da Socex e dos Cinemas Cupello, empresas que eram as responsáveis pela programação das salas de Bagé e do Cine Rádio Upacaray, de Dom Pedrito. Foi ali no Capitólio, por volta de 1970, que Aristides Kucera instalou os estúdios da Rádio Clube de Bagé, AM 1590 Khz.


O Capitólio tinha uma escadaria de mármore muito bonita que levava primeiro à sala de espera. Era na sala de espera do Capitólio, antes de abrirem as portas internas que davam para a sala de projeção, que nós ficávamos admirando os cartazes dos próximos filmes e flertando com as gurias do Espírito Santo, do Melanie Granier e do nosso Estadual, por que não? Depois, já acomodados nas poltronas, passava o baleiro, se contorcendo por entre as filas, e a gente comprava drops Dulcora, balas de goma ou Chicletes Ping Pong.

Ramon Novarro, como Judah Bem Hur, e May Mc Avoy, como Esther,
sem dizerem uma só palavra, também calaram de emoção
as platéias do Capitólio naquela Bagé de 1934...

No Google existe uma foto muito antiga do Capitólio onde aparecem cartazes do filme Ben Hur. Mas não é o Ben Hur de 1959, com Charlton Heston. Pela época da fotografia deve ser a segunda versão, a de 1925 (a primeira foi de 1907), ainda do cinema mudo, com Ramon Novarro no papel principal. Posteriormente, com abertura do Mini Cine Difusora, do Cine Ritz e do Cine Sete, todas as salas, com exceção do Glória, sempre popularíssimo, passaram a ser da classe “B”. Mas, não se podia imaginar, que cairiam para as letras seguintes até que, chegando ao fim do alfabeto, fechassem quase que ao mesmo tempo. Todos lavaram as mãos como Pôncio Pilatos, e Judah Ben Hur ficou definitivamente mudo, como em 1907.

Nesta casa, em Pelotas, foi rodado o filme Os óculos do vovô.
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(1) A fotografia do Google dá conta que é o Capitólio de Bagé, embora a fachada seja bem diferente. É possivel que ele tenha sido reformado. Depois da destinação para outras atividades comerciais até o nome na platibanda foi raspado. Lamentável.


(2) Francisco Santos, proprietário da Guarany Films, foi o produtor e diretor do filme “O crime dos banhados”, filmado em Rio Grande em 1914, e “Os óculos do vovô”, realizado em Pelotas no ano de 1913, este, o primeiro filme de ficção feito no Brasil do qual ainda se tem um fotograma. A casa em Pelotas, que serviu de cenário para o filme de Francisco Santos, ainda existe na esquina das ruas Marechal Deodoro e General Telles.
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16 de janeiro de 2010

Os "bons" companheiros

A carta de recomendação do Ianzer, assinada pelo Dr. Mario Aguiar de Moura,
é datada de 1º de dezembro de 1967.

A primeira compra em prestações feita por ele, com promissória e tudo,
foi em 19 de março de 1966, dia de São José.

O juiz Orlando de Assis Correa "colocou as mãos no fogo" por mim
em 11 de dezembro de 1972.

O meu "cartão de crédito" da Casa Eletro Máquinas
foi expedido em 9 de junho de 1971.

Depois de estudar no Estadual, o que era uma bom handicap, uma "carta de recomendação" de um primeiro emprego, normalmente como estagiário, era o passo seguinte para entrar finalmente na vida profissional. Numa época de empregos escassos isso se tornava uma tarefa difícil. A tal recomendação deveria ser assinada por alguém de renome na sociedade bageense para que o portador se sentisse já em condições de assumir algo como a presidência da ONU...
O próximo passo era fazer a primeira compra em prestações. Ai, o caminho do crédito em várias vezes, possibilitaria uma vida cheia das delícias do consumo. Um belo receptor Transglobe da Philco, uma pequena vitrola Phillips, um terno Renner (acompanhado de camisa branca e gravata) da Casa Kalil, ou, até, um conjunto de Ban Lon, no Bazar da Moda, para presentear a noiva? Pois esta semana o Manoel Ianzer me mandou esses dois passaportes seus. Sua carta de recomendação, assinada pelo advogado Mário Aguiar de Moura, e a promissórtia relativa a sua primeira compra na Casa Eletro Máquinas (...de Araceli dos Santos Menezes) que era o shopping center da cidade. Até ai tudo normal. Só que lembrei na mesma hora que possuia os mesmos salvo condutos! Não resisti. Procurei e achei. Minha carta de recomendação assinada pelo juiz de direito, Dr. Orlando de Assis Correa, e o meu Cartão de Crédito da Casa Eletro Máquinas...
Fomos, pelo que dá para ver, "bons moços" (mas, ao contrário daqueles do Scorsese). Não lembro de ter dado muita importância para isso na época, mas os nossos pais devem ter se orgulhado muito de ver os seus filhos, já quase saindo do Estadual, e, praticamente encaminhados na vida...
Pelo que se vê, para começar a vida adulta em Bagé, a porta de entrada era quase sempre a mesma.
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15 de janeiro de 2010

"Eu tenho pena de quem segue prá Bagé..."

Acidentes como este, registrado por volta de 1930,

...deixavam as linhas interrompidas por vários dias.

Como está explícito na música Maria Fumaça, de Kleiton e Kledir, sair de Pedro Osório com destino a Bagé, pelos trens da Rede Ferroviária Federal (1), poderia se tornar uma epopéia tendo em vista os grandes atrasos motivados pelos mais diversos contratempos que poderiam ocorrer durante o trajeto. Os trens também fizeram parte da história dos alunos do Estadual. Eram os trens que levavam a gurizada dos colégios para a Colônia de Férias do Estado, na praia do Cassino. Era de trem que os estudantes do Estadual, e de outras escolas de Bagé, iam a encontros estudantis, religiosos, esportivos e culturais pelo estado do Rio Grande do Sul. Muitas narinas foram impregnadas com a fuligem proveniente da queima do carvão de pedra que alimentava as fornalhas das Marias-Fumaça ou das locomotivas 1000. O carvão mineral, farto e a céu aberto nas minas de Candiota ou nas minas subterrâneas no distrito de Rio Negro (2), queimava sem parar movimentando as caldeiras das locomotivas. Os horários, ah! os horários... esses eram imprevisíveis. Na linha que ligava Cacequi a Rio Grande, tudo podia acontecer. Inclusive o trem chegar no horário marcado.

Estudantes e outros passageiros regulares utilizavam passes pré pagos

Muitos estudantes da campanha costumavam vir para Bagé no trem da segunda e voltar para casa no trem da sexta. Esses alunos usavam passes, chamados de Bilhetes de Assinatura, pois eram passageiros contínuos da linha. As composições dos trens eram, na maioria das vezes, mistas. Cargas e passageiros. Daí toda a demora na logística de carregar, descarregar, engatar, desengatar e procurar, com muito cuidado, nunca colocar dois trens na mesma linha senão era acidente na certa. Telegrafistas e controladores se revezavam na tarefa estressante de receber e liberar trens nas suas malhas de controle. Vários colegas do Estadual eram filhos de ferroviários. Eram, geralmente, bem aquinhoados, pois ser ferroviário significava trabalhar numa sólida empresa pública que pagava bons salários e oportunizava muitas vantagens sociais através do seu sindicato, o IAPFESP (3) .
As compras feitas na Cooperativa costumavam ser entregues em sacos que,
segundo observação desta nota, tinham dia certo para devolução
(vale a pena clicar sobre esta imagem para fazer a leitura completa e atenta)
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Na Cooperativa dos Ferroviários, sempre cheia de novidades, os sócios compravam com desconto e os que moravam ao longo da linha recebiam as mercadorias em casa que eram levadas, é claro, pelo trem. Eles possuíam acesso a bons médicos, hospitais, assistência social e freqüentavam os Clubes dos Ferroviários. Costumavam formar times de futebol, muitos deles batizados de Ferrocarril, o mesmo nome dos times desse gênero do Uruguai. Os ferroviários eram uma classe trabalhadora muito organizada e valorizada, desde os gerentes de estação até os tucos, como eram chamados os homens que consertavam os trilhos. Viajar de trem, ouvindo aquele tlaque-talaque constante, era participar de uma aventura inesquecível que envolvia situações como atravessar longos túneis escuros, contornar curvas perigosas, parar em estações no meio do nada e vislumbrar, da janelinha do vagão de passageiros, as paisagens únicas e deslumbrantes do nosso Pampa Gaúcho. Os atrasos... bem, os atrasos só preocupavam mesmo “quem seguia prá Bagé...”
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(1) A VFRGS, Viação Férrea do Rio Grande do Sul, criada em 1920, foi encampada pela RFFSA em 1959.
(2) Rio Negro mudou de nome em função das minas de hulha, e hoje é o município de Hulha Negra.
(3) Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Ferroviários e Empregados do Serviço Público.
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Os documentos e fotografias que ilustram este post me foram presenteados pela sra Anabela Medeiros Pires, que nasceu em Bagé, na Charqueada Santo Antonio, onde seu pai, Sergio Medeiros, era Agente da Estação.
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14 de janeiro de 2010

Carteiraço

Minha primeira Carteira de Estudante, com carimbo do GECEB,
Grêmio Estudantil do Colégio Estadual de Bagé,
foi assinada pelo Mário Égas Filho, presidente da UBES,
União Bageense de Estudantes Secundários
e pelo Rubens Redide, presidente da UGES,
União Gaúcha dos Estudantes Secundários e era
"válida em todo o território nacioanal", isso não era o máximo?

Uma dos ritos de passagem mais importantes ao se entrar no Ginásio era "poder tirar a Carteira de Estudante". Numa época em que documentos de identidade com fotografia eram só exigidos dos maiores de idade, portar uma Carteira Estudantil era ter um passaporte para a vida acadêmica, cultural e esportiva. Meia entrada nos cinemas, nos circos, teatros ou no futebol, eram garantidas pelo porte da Carteira de Estudante. Além, é claro, de servir como identificação de “não vagabundagem” quando éramos abordados por alguma ronda policial à noite durante alguma serenata nas altas horas da madrugada. Numa época em que a política estudantil ainda era só estudantil, os grêmios de estudantes desempenharam um papel muito importante nas vidas de muitos de nós. Portar a Carteira de Estudante era o máximo, mas fazer política estudantil era muito melhor. Esta sim, um verdadeiro carteiraço de experiências para a vida adulta que viria logo ali.
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13 de janeiro de 2010

O cinema em Bagé - III. Uma sessão inesquecível

Um programa duplo de tirar o fôlego dos frequentadores do Glória

O Cinema marcou de forma indelével a nossa vida no Estadual. Ele era o mais importante renovador de energias para se enfrentar a semana de aulas. As conversas de segunda-feira, invariavelmente, giravam em torno dos filmes que haviam passado no fim de semana. Cada detalhe era comentado e discutido pela turma, e, logicamente, a beleza e os dotes físicos das mocinhas também. Como sabemos, o cinema criou uma legião de fãs pelo mundo afora e aqui não foi diferente.

E, como era natural, nós, guris e gurias, éramos muito suscetíveis a esse tipo de admiração. Já tínhamos, mesmo antes de chegar ao ginásio, as nossas namoradas de "faz de conta". Então, a essa lista foram acrescentadas as namoradas platônicas das telas do cinema. E as gurias, também, não fugiam à regra. Mas, nem todos confessavam essa paixão por alguma deusa das telas. Muitos filmes se tornavam marcantes para nós, narravam histórias que nos causavam muita emoção, principalmente quando havia uma atriz que acabava mexendo com nossos sentimentos.

Uma sessão de cinema, no velho Glória, se tornou inesquecível para mim. Foi no ano de 1960. Uma gloriosa sessão dupla, à noite. O primeiro filme foi O Escorpião Negro, uma "fita de monstro", comum na época, com a Mara Corday (os nomes das mocinhas, claro, nós não esquecíamos). Era um bom filme de suspense. Mas, o outro, A intocável (Sea wife), com a Joan Collins e o Richard Burton, lembrei e relembrei sempre. Ela era lindíssima, tinha uma leve semelhança com a Liza Minnelli. Esse filme conta a história de um naufrágio. A mocinha, entre outras pessoas que conseguem se salvar em um bote, era uma noviça, fato que o mocinho, também sobrevivente, desconhecia, daí ...

A partir de então, a Joan Collins ficou sendo a minha musa do cinema, tomando o lugar da Deborah Kerr, a Lídia de Quo Vadis?, que assisti em 1958. Depois, a esta lista, se somaria a estonteante espanhola, Sarita Montiel, de La violetera. Dá para acreditar que por 27 anos estive à procura do filme A intocável ? Buscava diariamente na programação dos filmes em cartaz, tanto no cinema como da televisão, até que o encontrei num madrugadão da TV. Hoje, revendo esses filmes, nos damos conta que eles não têm tanto da força hipnótica que pareciam ter quando éramos meninos.

Mas, servem para nos transportar ao passado juvenil, para nos sentirmos guris outra vez, para nos lembrarmos das nossas namoradas dos filmes e até das namoradas de "faz de conta", aquelas colegas inatingíveis com as quais sempre sonhávamos, e, eventualmente, de uma namoradinha real e efêmera. Contudo, essa fantasia é a força da grande Arte do Cinema, a arte da telona, a arte das artes, a magia da sétima arte. Magia que era o bálsamo do nosso dia a dia de estudantes do Estadual.
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Enviado pelo colega

Hamilton Caio
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12 de janeiro de 2010

Les Chauffeurs - V

Será que a professora Teresinha nunca sentiu vontade
de pegar na direção dele?

Dentro da série “Les chauffeurs” será interessante lembrar uma pessoa que jamais dirigiu um automóvel. Sim, a professora Teresinha Severo é essa pessoa. Nossa professora de história ia até o Estadual em um belíssimo Chevrolet Bel Air mas... com motorista particular. Era um carrão novinho em folha sempre muito bem cuidado pelo seu fiel chauffeur. Ao estacionar, ocupava um enorme espaço junto à calçada, principalmente se compararmos com os fucas, gordinis e outros carros menores usados por nossos mestres. O Bel Air da professora Teresinha era uma verdadeira nave espacial que pousava ali em frente ao nosso colégio. Ficávamos em volta dele olhando os detalhes, o painel... enfim, tudo nele era inusitado. Quando ela saia das aulas e entrava no carro, ficávamos olhando ele seguir silencioso pela avenida Sete abaixo. E ela, a professora Teresinha, ali dentro, solene e tranqüila, com todo aquele charm, mas sem conhecer o prazer que deveria ser dirigir aquele carrão!

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11 de janeiro de 2010

Um mestre da fotografia internacional em Bagé

A obra reflete o artista. Leonardo Costa é um Mestre da fotografia
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O curso de fotografia que será ministrado pelo fotógrafo bageense Leonardo Costa, deve começar a pleno amanhã, terça-feira. Vários candidatos pediram para adiar a data de início por estarem viajando para Bagé justamente no dia de hoje. Leonardo Costa, que foi nosso colega no Estadual, já mora há 22 anos na França. Passou por várias cidades e, como disse, "agora está voltando para Bordeaux". Leonardo nos disse que os franceses admiram, respeitam e recompensam os trabalhos artísticos de qualidade. O humanismo francês, que ele diz estar impregnado no povo, faz com que os franceses entendam melhor a linguagem dos artistas. Desde nossa primeira conversa já haviam se passado quase quarenta anos. Isso foi lá pelo início dos anos 70. Hoje ela continuou. Leonardo fazia seus trabalhos num laboratório afastado da cidade, que ele chamava de Paco, e foi lá que eu o conheci. E, creio, que foi lá que ele desenvolveu suas grandes qualidades como fotógrafo: a sensiblidade para a composição de imagens e o olhar atento e acurado para perceber a luz ambiente. E é isso que ele nos disse que mais lhe chamou a atenção na Europa. A diferença do tipo de luz. Enquanto, segundo ele, a luz no Brasil é muito forte, muito dura, "lá as luzes são mais suaves. Nunca vi uma luz como a de outono em Paris", concluiu.
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10 de janeiro de 2010

Felizes? Sim...

Vejam só a raridade que o colega Hamilton Caio envia: uma foto de um churrasco da turma do 3o Científico, em dezembro de 1964, no Bosque, onde aparecem, além dos colegas da turma dele, quase todos identificados, o professor Avancini, (no churrasco, mas de terno e gravata...), Don José Gomes, primeiro Bispo de Bagé, que foi, segundo a tradição da época, o "paraninfo religioso" da turma, além do professor Guido Moraes, com seu violão. Num texto bem emotivo, Hamilton relembra fatos memoriais muito importantes, como as provas orais e o ensino de quatro línguas para a gurizada do velho Estadual...Que tempos, heim?
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Pela ordem, da direita p a esquerda, em pé: Rubem Martinez Cuña (orador de despedida), de óculos; Estênio Seoane, usando na cintura a faca do churrasco; Osmar D. Urdangarin, de óculos; Hamilton Caio Vaz; Favorino Gonçalves do Couto, de óculos; Nelson Grivicich Netto; um colega pouco visível, não identificado; D. José Gomes, primeiro Bispo de Bagé e Paraninfo religioso; Danilo Cunha Silveira; Claudio da Silva Ricalde; Prof Guido de Jesus Machado Morais, o paraninfo civil, com violão; Armando Corrêa Pacheco, parcialmente encoberto pelo violão; um colega de outra turma que não lembro o nome; Prof José Albino Avancini (diretor), de óculos; Nilva Barreto Moreira; outro não identificado, atrás da Nilva; José Carlos M. Marques, parcialmente encoberto; Lorival Octávio Ribeiro, de óculos; Dea Mariza Alves Branco; Luiz Carlos Nunes.
Agachados, na mesma ordem: Édison Uwe B. Zahler, Lulo José Pires Corrêa e Emilio Wagner Kourrouski.
E, como dá para ver, a cerveja esteve bem presente.


Estudar no Estadual, nos anos 50 e 60, era, na realidade, fazer um curso de sete anos. Depois de ter passado no Concurso de Admissão ao Ginário, o equivalente a um vestibular, com o mesmo nervosismo, expectativa e a aura que envolve este, mas com a agravante de quem só tinha onze ou doze anos, enfrentava-se quatro anos de ginásio e três anos de científico ou clássico, de modo contínuo, portanto, perfazendo os sete anos.

O impacto do rítmo do novo curso, para nós, saindo do curso primário, era muito grande. Eram várias disciplinas, cada uma com um professor; a novidade do estudo simultâneo de três linguas (incluindo o latim, uma lingua morta), além do português (o Espanhol, como a quarta lingua estrangeira, só entraria no Científico ou Clássico); muitas provas; prova final escrita e oral, esta com banca de examinadores, sendo mais de um examinador para cada matéria. O "ponto" (assunto) era sorteado na hora pelo próprio aluno.

Os churrascos, picnics, cock-tails, festas e bailes, além do cinema, eram a saída natural para desanuviar e relaxar. E, como é normal, os churrascos no Bosque eram uma grande diversão. Além do próprio churrasco, com tudo que envolve a sua organização, havia muita conversa, muitas histórias e até artistas, como o Prof Guido Morais, cantando e tocando violão. Um de seus hits era a música "Al di lá" , acompanhada com violão, grande sucesso dos famosos festivais de San Remo, dos anos 60, já no final da Era Romântica do Estadual. Depois o professor Guido tomaria uma vertente regionalista.

Esses churrascos, em fim de ano ou curso, eram muito frequentes. Os professores, também, gostavam de participar. Nem o nosso estimado Frei Plácido deixava de ceder a essa tentação "gastronômica-social-festiva". O Bosque, famoso e formoso, do Estadual, era um dos locais preferidos para isso. Os picnics, cock-tails, festas e bailes costumavam ser em locais externos ao colégio. Só as festinhas eram mais realizadas nas dependências do Estadual, até na própria sala de aula. As vezes, os professores paraninfos ofereciam cock-tails em suas casas e os colegas, quase sempre, levavam irmãs(ãos) ou namoradas(os). Aí, era uma festa! Muitas vezes "dava namoro"! E havia os bailes !

Os churrascos e outras festas de final de Científico eram os mais marcantes, pois culminavam com o fim de um longo ciclo de estudos, maior que de uma faculdade. A turma estava às vésperas de se dispersar radialmente. Os colegas, finalmente, iriam tomar as mais variadas direções, na busca da formação profissional.

Passados quarenta e cinco anos, vem a tentação de fazermos aquela conhecida pergunta ou exclamação nostálgica: Será que éramos felizes e não sabíamos?

Ah... se pudéssemos voltar no tempo!
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Enviado pelo colega
Hamilton Caio
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9 de janeiro de 2010

O cinema em Bagé - II. "É o Glória!"

Uma única matinèe no Glória valia mais que uma vídeo-locadora inteira


Cine Glória, com suas quase duas mil cadeiras, foi o mais popular cinema de Bagé. Era o mais popular pois cobrava o ingresso mais barato que os outros e passava os mesmos filmes que Avenida e o Capitólio pois pertencia a mesma rede dos Cinemas Cupello e da Socex. Ele não fazia apenas a alegria da gurizada do Estadual e dos outros colégios, mas também era o sonho dos récos do quartel.

Toda aquela rapaziada vinda, principalmente da região da campanha, para sentar praça, vivia nas sessões do Glória momentos de raro prazer e emoção com os beijos da Gina Lollobrígida, as cenas tórridas da Sofia Loren ou com o olhar devorador da Betty Davis. Nas quartas-feiras, após a costumeira tarde de folga dos soldados, era a noite de namorar no cinema. Era um verdadeiro pelotão fardado com o “uniforme de passeio” que marchava de diversos pontos da cidade em direção ao Glorioso.

As moças, cujo namoro já era firme, eram buscadas em casa e desfilavam de mãos dadas com os rapazes até lá. Outras, ficavam em frente ao cinema esperando que um daqueles jovens defensores da Pátria defendesse-as de uma possível solteirice e as convidasse para assistir a fita... O gênero do filme não importava muito. Podia ser uma comédia do Jerry Lewis, um filme "romano", de guerra ou de pirata. Podia ser Far West Romântico onde Brandon de Wild, vivendo o papel do menino Joey Starrett, gritaria Shane! Shane! várias vezes; O importante era estar no Glória.

Os uniformes militares da época eram confeccionados com tecidos grossos feitos para durarem "uma guerra inteira", de forma que o suor, nos dias de verão, escorria pela face dos milicos, e, nas cavas das túnicas engomadas, o verde-oliva ia adquirindo uma cor mais intensa conforme ia umedecendo, enquanto os ventiladores Cirrus tentavam inutilmente aplacar o calor na sala escura.


Muitas dessas moças foram pedidas em casamento durante as sessões de cinema, enquanto a gurizada dos colégios trocava gibis, antes, durante e depois das sessões duplas, das estreias, dos beijos ardentes da Brigite Bardot ou do grito do Tarzan que ecoava forte dentro daquela sala imensa do Cine Glória.
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8 de janeiro de 2010

Les Chauffeurs - IV

Um Gordinizinho como esse era fácil de ser levantado
por quatro alunos... ou menos


Falando dos chauffeurs, acredito que o primeiro carro Gordini que desfilou no Estadual foi o da estimada e competente professora de matemática Eva da Nova. Uma das características desse carro era o tamanho mini. Aproveitando esse detalhe, um grupo de alunos, em mais de uma oportunidade, levantavam "em peso" o carro estacionado na frente do colégio e o colocavam em cima da calçada. Isso acontecia no turno da noite, quando era menor o movimento da rua, e, pelo menos uma vez que eu lembre, essa malandragem foi preparada em um dia de prova. Também lembro que em um desses dias o "flamante" Gordini ficou em uma posiçao tão complicada em cima da calçada que ela resolveu ir a pé para casa, provavelmente para deixar desapontados os alunos malandros que estavam escondidos para observarem a reaçao da mestra e obrigá-los a desfazerem a brincadeira, para o assunto não ir longe demais. Como dá logo pra deduzir, a professora Eva da Nova, apesar de muito austera, deve ter aceitado isso com esportividade, pois não lembro de ninguém ter sido suspenso ou ir "parar na Inspetoria". Não ouvi dela, diretamente, comentários a respeito, porque eu já estava no Científico e ela lecionava até a 4a série do Ginásio. Essas brincadeiras, já distantes no tempo, aconteceram em torno do ano de 1963. Seria muito desejável que os autores dessas brincadeiras se revelassem agora e as contassem com detalhes, afinal isso já faz parte da memória e da história do nosso Estadual.
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Enviado por
Hamilton Caio
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7 de janeiro de 2010

Curso de fotografia

Ilustra o cartaz um dos trabalhos que Leonardo expôs
na Casa de Cultura Pedro Wayne

Nosso ex-colega do Estadual, Leonardo Costa, que é fotógrafo e mora atualmente na França, está de passagem por Bagé e estará ministrando curso de fotografia na semana que vem. Leonardo expôs seus trabalhos na Casa de Cultura Pedro Wayne recentemente. O programa do curso desenvolverá os seguintes aspectos:
Fotografia Amadora
A formação fotográfica proposta pretende dar aos fotógrafos amadores maior domínio e autonomia das ferramentas disponíveis na fotografia convencional e digital, privilegiando o caráter prático da realização de diferentes tipos de tomadas, tratamento e as bases do retoque digital.
Fotografia Teórica. Imagem, aquisição da imagem, luz, exposição. Composição, ponto de vista, linhas e rítmo, valor dos planos, critério estético, escolha dos elementos. Imagem documental, função e características. Imagem criativa, processo criativo da imagem, passar uma mensagem
Fotografia Digital. Aplicação Referência: Photoshop CS4 d'Adobe. Programa: Imagem digital, abertura e importação de imagens, tamanho e resolução, aquisição, histograma. Câmera RAW, imagem RAW, arquivos RAW, regulagem e modificação de tons e cores em câmera RAW, outros formatos de imagem. Cor, introdução às cores, modos colorimétricos, definição e gestão de parâmetros, cor tela e cor de impressão. Seleções e máscaras. Suprimir e extrair objetos, salvar seleções e utilizar máscaras. Layers, conceitos de base, gestão de layers, layers de regulagem.
Fotografia Prática. Material necessário: equipamento de aquisição digital ou convencional + as lentes de base (grande angular, normal e uma teleobjetiva pequena ) + conexão internet facultativa. Foto externa e interna, portrait, foto de objeto.
Como podemos ver é um curso bem completo. O custo é de 350 reais, pagos em duas vezes, e podem ser feitas inscrições pela internet. O curso será desenvolvido durante à tarde na Casa de Cultura em Bagé. O curso inicia dia 11, segunda-feira, às 15 horas e encerra na sexta, dia 15 de janeiro.
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6 de janeiro de 2010

O cinema em Bagé

Um volante do Cine Sete, impresso no Instituto de Menores, lá por 1971,
dá conta de várias estréias para aquele período do ano

Sem voltar muito ao passado podemos afirmar que o cinema em Bagé foi consolidado pela Socex, Sociedade Comercial Exibidora Ltda. O Cine Avenida, o Cine Capitólio e o Cine Glória, encantaram fiéis plateias cinéfilas durante anos. A Rádio Difusora entrou no ramo do cinema depois do desinteresse dos ouvintes pelos programas de auditório, e inaugurou o Mini Cine Difusora com o filme Esses homens maravilhosos e suas máquinas voadoras, já no finalzinho da década de 60. 

Mais tarde a Difusora abriu uma outra sala no auditório do Colégio Auxiliadora, com o nome de Cine Ritz, onde estreou o filme O planeta dos macacos. Chegamos ao apogeu do cinema na nossa cidade quando uma outra empresa distribuidora inaugurou o Cine Sete. Todas essas cinco salas, com exceção do Mini Cine, eram enormes e lotavam sempre. Eram três empresas concorrendo e disputando um público aficionado pela Sétima Arte, para usar um termo da época. Quando passavam filmes famosos, filas enormes se formavam nas calçadas e faziam a alegria dos pipoqueiros e dos voyeurs.

Lembro do lançamento de filmes como Quo Vadis?, ...E o vento levou, Psicose, Exodus, o primeiro filme de James Bond, 007 contra o satânico dr. No, ou ainda 2001, uma odisséia no espaço. Sem falar, claro, em Coração de luto, do Teixeirinha, que lotou as salas por semanas. Convidar uma colega de aula para a matinèe de domingo no Avenida era garantia de três horas no escurinho do cinema. A matinèe era sempre um programa duplo: o filme de sábado e um outro que tivesse estreado durante a semana. Quando o namoro já estava mais firme, o chic era ir na Sessão das quatro, ou Sessão Vermouth, quando um filme romântico facilitaria o clima para arriscar o primeiro beijo. Algo como: Dio, como te amo! ou Love Story criava um clima perfeito para dar esse importante passo no relacionamento ou fazer uma declaração de amor infalível...

Impossível imaginar que saindo hoje do Estadual não se dará uma pequena volta para passar na frente do Avenida, ou do Sete, ou do Mini Cine, só para olhar os cartazes dos filmes proibidos até 18. Europa à noite, Mundo cão ou E Deus criou a mulher... Impossível imaginar que os alunos do Carlos Kluwe terão de esperar que o novíssimo Avatar, do James Cameron, saia em DVD para assistí-lo numa tela de 20, 32 ou mesmo de 42 polegadas, mas de televisão.


Onde foram parar nossos cinemas? E o tão esperado Cine Consórcio que nunca saiu do impressionante piso de concreto inclinado? Que saudades do Aristides Kucera e da sua Socex, que mantinha inclusive, a programação do Cine Rádio Upacaray, em Dom Pedrito... Será muito saudosismo fazer essas perguntas?
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