20 de janeiro de 2010

Nas asas da Panair

Turma só de alunas da 4a série ginasial de 1963. No alto, da esquerda para a direita: Claudete Costa Freitas; Maria Vidal Coutinho; Nelsi Tojo Mota; Doralice X. de Oliveira; Vera Regina Lopes Collares (de cabelos longos); Marilene Bezerra (blusa escura e gola branca); parcialmente encoberta, uma colega difícil de identificar; Carmem Dora Azevedo (blusa escura e gola branca); Inspetor Budó; Gléa Silva Ferreira (gola branca); Inspetor João Olaves (Olavo), de casaco escuro e gola branca; o Zelador, Seu Ivo (de óculos); Regina Costa Moraes (foi oradora da turma); Maria de Lourdes Moriconi (blusa clara e gola branca); Maria Zely Quintana (japona escura e gola branca); Francisca Abero Ferraz (japona escura e touca branca). No segundo plano: Terezinha Henrickson Souza (blusa branca e óculos escuros); Marta R. Barreto (ao lado da Terezinha); Nara Conceição Jardim de Quadros (blusa branca com lista horizontal escura); Marioli de Araújo Grafée (a frente de Nara); Edelmira Mariza dos Santos (parcialmente encoberta, a frente de Marioli); Em cima do primeiro lance da escada: Alzenir Trindade Valério (casaco claro); Maria Celina Maracci (japona escura e gola branca); Lidia Regina Silveira Luiz; Gleny Inês Alves (casaco claro de gola escura); Vera Ieda Magalhães Luz (blusa cinza e gola branca); Na frente da escadaria: Clara Marineli Silveira Luiz e Ana Luiza Rocha de Abreu.

"Era o início da primavera em Bagé. Fazia bastante frio em mais um dia de aula no nosso Estadual. Todas nós ainda usávamos roupas apropriadas para o inverno que insistia em permanecer um pouco mais. Algumas colegas usavam saias plissé azul marinho e japona da mesma cor. As japonas eram aquelas com uma fila dupla de botões dourados, abotoadas de forma transpassada. Ficávamos parecidas com as aeromoças da Panair do Brasil ...
A nossa classe era muito unida, toda hora se reunindo para comer um assado, fazer um pic nic e sempre pronta para alguma coisa que nos juntasse em algum lugar, dentro ou fora do colégio. Nesse ano, nossa turma do diurno estava separada dos guris, uma exceção no Estadual que sempre foi um colégio de turmas mistas.
Em um dia de outubro de 1963, num intervalo das aulas, de repente tudo ficou mais divertido. Foi quando nosso professor de Latim, o Frei Plácido, convidou para tirar uma fotografia da nossa turma. Ele tinha uma máquina fotográfica importada da Alemanha, e usava filme colorido, o que era a grande novidade na época. Bem, isso foi também mais um motivo para sair da sala de aula e ficar andando de lá para cá procurando e sugerindo o melhor lugar para a fotografia. A escadaria do pátio de entrada foi escolhida como o local ideal. Já era tradição, desde os tempos memoráveis, as fotografias serem tomadas ali. Era uma forma de aparecerem todas, ninguém ficaria escondida atrás de ninguém e, fotografia colorida, não era todo dia que se tirava.
Assim, o Frei Plácido registrou, com sua câmera e filme colorido, a nossa turma naquele dia frio de primavera. Um dia que poderia ter sido igual a muitos outros dias. Mas não foi. Nossa imagem que fora refletida naquele pedaço de celulóide viajou por muitas semanas. Primeiro foi para Porto Alegre e depois para São Paulo. De lá atravessou os céus de vários países da América, possivelmente “pelas asas da Panair”. Foi levado até um laboratório numa cidade dos Estados Unidos, revelado, copiado e, remetido de volta ao Brasil, perfazendo o mesmo trajeto de ida, no sentido inverso, até chegar de volta em Bagé com a devida segurança. Quantas oportunidades de se extraviar por ai... Algumas semanas depois daquele dia, o Frei Plácido nos entregou as cópias coloridas daquela pose tirada na escada. Guardamos nos nossos álbuns de fotografias em lugar de destaque. Afinal, era uma fotografia à cores!
A foto ficou lá no álbum, guardada por todas essas décadas. Nossos filhos nasceram, trilharam esse mesmo percurso, e nossos netos já estão tomando o mesmo caminho. E eis que agora, a foto da escada surge novamente. Depois de ter voado pelos céus das Américas duas vezes, ficar guardada no álbum por décadas, ela traz de volta aos nossos olhos aquele dia frio da primavera de 1963. E lá estamos todas nós, as aeromoças da Panair, com as nossas saias plissé e com as nossas japonas de botões dourados. A fotografia feita pelo Frei Plácido, já um pouco desbotada, conta novamente a sua história e faz suas indagações. Por onde andarão todas essas colegas? Quantas ainda terão uma cópia da fotografia viajante? Fico imaginando se a emoção que sinto agora, ao rever a nossa pose da escada, será a mesma das outras colegas que poderão rever no Blog a nossa fotografia. A fotografia que viajou pelos céus das Américas há quase 50 anos, que foi enquadrada pelo Frei Plácido, que foi batida naquele dia frio de primavera nas escadarias geladas ali do pátio do Estadual... "
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Enviado pela colega
Clara Marineli
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Nota do Blog, 1: Aparece na fotografia (à direita, bem abaixo), totalmente por acaso, o Paulinho, o Paulo Dupont. Paulinho foi uma figura muito popular na cidade. Morava com seus familiares bem próximo do Estadual, e circulava livremente entre alunos e professores e era muito querido e respeitado por todos. O Paulinho, sem saber, também viajou na fotografia pelas asas da Panair. O Paulinho hein, quem diria?
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Nota do Blog, 2: A Panair do Brasil S.A. foi uma das companhias aéreas pioneiras do país. Nasceu como subsidiária de uma empresa norte-americana, a NYRBA (New York-Rio-Buenos Aires), em 1929. Incorporada pela Pan Am em 1930, teve seu nome modificado de Nyrba do Brasil para Panair do Brasil, em referência à empresa controladora (Pan American Airways). Por décadas dominou o setor de aviação no Brasil. Encerrou suas atividades abruptamente em 1965, por determinação do governo militar.
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Nota do Blog, 3: Milton Nascimento e Fernando Brant, imortalizaram a Panair do Brasil na música "Conversando no bar", interpretada brilhantemente pela nossa Elis Regina, no trecho: "Apenas em memória dos tempos da Panair/ A primeira Coca-cola foi/ Me lembro bem agora, nas asas da Panair/ A maior das maravilhas foi/ Voando sobre o mundo nas asas da Panair".
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2 comentários:

Unknown disse...

Sou sobrinha da Nelci Tojo Mota, tive como amigo e companheiro nos jogos de volei o Frei Plácido. É emocionante e gratificante recordar com carinho pessoas amadas. Também a escola que marcou muito minha vida. Estadual Carlos kluwe. O meu agradecimento a quem postou estas informações. Feliz 2011 pra todos.

Luiz Carlos Vaz disse...

Oi Ramayana... que bom que passou por aqui e deixou o seu comentário. Muito obrigado. Tens notícias da Nelci? Abs
Vaz