23 de outubro de 2010

Eu vi Pelé jogar em Bagé


Essa deve ter sido a base do time que jogou em Bagé nos anos 60
.
Foi depois da Copa do Chile, a de 1962, que o Santos Futebol Clube, já campeão mundial de clubes, passou a excursionar muito pelo interior do Brasil. Jogos de apresentação, jogos show, jogos para exibir o rei Pelé, jogos para engordar os cofres do clube santista e ajudar a pagar as contas e os já altos salários dos seus jogadores e do seu principal craque.
 
Numa época em que os atletas eram também torcedores dos clubes, eram comprometidos com as torcidas, eram oriundos das categorias de base, das vilas circunvizinhas aos estádios e que jogavam por amor à camiseta. E, claro, também, por dinheiro. Eles precisavam pagar o aluguel, sustentar mulher e filhos, irmãos, comprar um cantinho para as mães... Foi nessa época em que se anunciou que o Pelé jogaria em nossa cidade. Enfrentaria o Guarany Futebol Clube, no Estrela D’Alva, numa quarta-feira à noite, num jogo amistoso. Era o jogo para ver não mais Edson Arantes do Nascimento.

Era jogo para ver o Rei Pelé.

Muita gente iria ao jogo. Viriam pessoas de Lavras, Dom Pedrito, Pinheiro Machado e até uruguaios, de Melo e de Aceguá. Todos queriam ver sua Majestade jogar, fazer um gol de placa, driblar toda a zaga e chutar a pelota para dentro da meta do Guarany. Todos gritariam gol, inclusive os torcedores alvi-rubros. E eu também. Afinal, iríamos vibrar com um gol de Pelé.

Quando a noite chegou, um leve ventinho lembrava aos paulistas que eles estavam no Sul. Uma turma de guris foi para a volta do estádio esperar a tradicional abertura dos portões, já na metade do segundo tempo. Do lado de fora acompanhávamos as jogadas pela nossa imaginação e pelo rádio do pipoqueiro que revirava a panela preta para que estourassem todos os grãozinhos do milho que fritavam na banha quente.

 Foram os 45 minutos mais longos da vida de todos aqueles guris.

Pelé estaria jogando para nós. E, como se soubesse que estávamos ali fora, não marcou no primeiro tempo. Ufa! Veremos jogar Pelé. E veremos também - pelo menos, um gol de Pelé no segundo tempo.

O juiz apita o final da primeira etapa.

Os comentaristas esportivos locais tecem as mais diversas teses sobre a atuação do Rei. Uns elogiam, e outros – só para chatear, falam da falta de empenho do astro principal e da possível permanência de sua lesão na copa de 62, e coisas do gênero. Afinal, dizer o quê da atuação de Pelé?

Recomeça o jogo. A gurizada se amontoa à beira do portão. Começa o empurra-empurra e... finalmente abrem-se os portões para a turma da espera. Corremos para a tela. Queremos ver Pelé de perto. Gritar. Vibrar. Cadê o Pelé? Onde está o Rei do Futebol? A iluminação do Estrela D’Alva não nos ajuda...

Não sabíamos nada do contrato. Pelé só jogava um tempo. O primeiro. O Rei estava nu. Nu, no banho. Nu, no banho do hotel. Pelé já tinha ido embora do estádio.

Decepção total. Não vimos Pelé jogar em Bagé. Não vimos Pelé fazer um gol em Bagé, no amistoso contra o Guarany. Por isso o verdadeiro título desta crônica deve ser: Eu quase vi Pelé jogar em Bagé.


Hoje, Pelé faz 70 anos. O maior jogador de futebol de todos os tempos, Pelé, jogou em Bagé. Contra o Guarany. Muitos o viram naquela noite. Eu não.
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5 comentários:

αṉģÿÿ disse...
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Manoel Ianzer disse...

1957 - UM PRÍNCIPE EM BAGÉ.
1958 - UM REI NA SUÉCIA.

O Rei Pelé jogou em Bagé em 1957, antes da copa do mundo da Suécia. Ele tinha 16 anos, nasceu em Três Corações, Minas Gerais. O Santos enfrentou a Seleção da dupla Ba-Gua (Grêmio Bagé e Guarany). Resultado Final: Pelé 1 x 1 Calvete.
Depois Calvete se consagrou no Santos para o Brasil e Pelé se consagrou no Santos para o mundo.
(Jornal Minuano / Blog Bagé)

Mais detalhes no Blog - http://bagealemfronteira.blogspot.
com/2007/12/bag_19.html

Luiz Carlos Vaz disse...

Registra também a história que em 1956, o Santos ofereceu “Edson” ao Grêmio Esportivo Brasil, quando jogou um amistoso com o Xavante em Pelotas. A base do negócio seria a troca pelo rubro-negro Joaquinzinho, que interessava ao clube santista. Mas o GE Brasil, que já estava em negociação adiantada com o SC Internacional, não quis fazer o negócio que envolvia três juniores do peixe, entre eles um tal de Edson Arantes do Nascimento. Os outros dois nunca mais se ouviu falar.

Gerson Mendes Corrêa disse...

Coisas do futebol. Onde o improvável sempre pode acontecer antes do juiz apitar o final, e ao mesmo tempo o impossível na grande maioria das vezes acaba acontecendo. Por isso, esse esporte bretão mexe com o nosso coração. Mas voltando ao assunto, o meu SC Internacional fez um ótimo negócio, o Santos não se arrependeu, já o Xavante...

Luiz Carlos Vaz disse...

É por isso que folclore do futebol é uma fonte inesgotável de histórias e discussões...