9 de outubro de 2010

A poesia necessária - I, Dentro da noite veloz

 Ferreira Gullar, autor do poema escrito em 1967



Dentro da noite veloz 
(trecho)


“Na quebrada do Yuro
eram 13,30 horas
(em São Paulo
era mais tarde; em Paris anoitecera;
na Ásia o sono era seda)
Na quebrada do rio Yuro
a claridade da hora
mostrava seu fundo escuro:
as águas limpas batiam
sem passado e sem futuro.
Estalo de mato, pio
de ave, brisa nas folhas
era silêncio o barulho
a paisagem
(que se move)
está imóvel, se move
dentro de si
(igual que uma máquina de lavar
lavando sob o céu boliviano, a paisagem
com suas polias e correntes de ar)
Na quebrada do Yuro
não era hora nenhuma
só pedras e águas
II
Não era hora nenhuma
até que um tiro
explode em pássaros
e animais até que passos
vozes na água rosto nas folhas
peito ofegando a clorofila
penetra o sangue humano
e a história se move a paisagem
como um trem começa a andar
Na quebrada do Yuro eram 13,30 horas”
...
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Ferreira Gullar
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