18 de outubro de 2010

Um baú no Pampa – XII, Os primórdios da medicina do RS

O Tratado de Medicina Homepática de Ignácio Guasque


Comentários de um artigo muito interessante, escrito por um médico do nosso estado, no livro “Nós, os Gaúchos” – Franklin  Cunha, sobre os primeiros passos da medicina e seus médicos, no Estado.
Protásio Alves era o diretor de Higiene Pública, cargo que seria hoje o Secretário de Saúde, em junho de 1895, na época de Júlio de Castilhos, ao fazer o relatório anual sobre a situação médico-sanitária destacava o grande número de charlatões, curandeiros homeopatas e que agora por decreto do caudilho regularizavam a situação antes clandestina (Franco, Sergio da costa, UFRGS, 1993). Ver tabela.

Novas inscrições de médicos

Período de referência
Diplomados
Não Diplomados

Em faculdades nacionais
Em faculdades estrangeiras

1895/96
5
5
66
1898/99
4
5
38
1899/1900
6
7
39
1900/01
2
2
32
1901/02
4
8
32
1902/03
-
7
24
* Reproduzido de Getúlio Vargas e outros ensaios, de Sergio da Costa Franco, UFRGS, 1993.

Baixa densidade demográfica, isolamento geográfico, precárias condições sanitárias, ignorância e miséria caracterizavam a maior parte da população do estado. Os médicos por sua vez eram poucos, concentrados nas cidades, grande parte com baixa qualificação profissional e, por cobrarem honorários, inacessíveis à maioria dos pacientes.
No Uruguai, na região da Campanha qualquer pessoa importante – um líder político, um caudilho local, no final do século XIX, poderia outorgar título de doutor. (Barran, P. José. Medicina y sociedad en el Uruguay del novecientos. 1992).
Além de escassos, mesmo os médicos titulados tinham sofrível formação cientifica e freqüentemente suas terapêuticas se assemelhavam a dos curandeiros, a diferença se restringia aos custos.
Também os farmacêuticos exercitavam o poder de cura. Vale relembrar que o bisavô José Luiz Guasque teve farmácia durante anos na Bagé das primeiras décadas do século XX. Nunca ninguém me informou onde foi a formação de médico, o primeiro documento é a caderneta que está registrado o casamento, e o nascimento dos 6 primeiros filhos nascidos no Uruguai, e ali sua profissão é guardador de livros. Já em um  livro dele há uma confirmação que a farmácia era autorizada pelo departamento de Higiene Pública,  em Bagé.
Havia também os "práticos". Faziam sangrias, colocavam ventosas, lancetavam abscessos, extraíam dentes, eram cirurgiões-barbeiros, tal qual a Idade Média.
Os partos eram atendidos pelas “curiosas“, sendo reservados às parteiras “profissionais” os de difícil progressão.
Os mascates "turcos", entre outras coisas, comercializavam a literatura e a farmacopéia  da época. Eram populares e indispensáveis: a Emulsão de Scott, o Bromil, o Conhaque de São João da Barra, o Óleo de Fígado de Bacalhau, o Rhum Creosotado, o Vinho Reconstituente Silva Araújo, o Calcigenol, a Saúde da Mulher, o Emplastro Sabiá, etc. Esses remédios gozavam de prestígio, já que eram anunciados, as vezes com recomendações de médicos famosos, nos jornais, almanaques e nos meios de transporte.
Num outro plano existiam os curadores de doenças que participavam da técnica e do saber da ciência européia. Representantes de duas vertentes heterodoxas dela: as medicinas homeopática e hidropática, esta mais difundida entre os descendentes germânicos. Denunciavam os alopatas por receitar doses enormes de "venenos" (dizem que o bisavô assim se referia também) como os sais de mercúrio para a sífilis, o que estavam certos. Propunham a volta às curas naturais, as únicas hipocráticas no seu entender. Acusavam os membros da alopatia de cobiça e de cobrar demasiado. Diziam fazer o bem "sem derramar sangue nem causar qualquer transtorno", o que não era pouco diante de terapias exageradas, cruentas e dolorosas da medicina acadêmica de então. Tanta foi a aceitação popular que em 1912 foi fundada a Faculdade de Medicina Homeopática, em Porto Alegre, formava profissionais em 3 anos.
Segundo Sérgio da Costa Franco, a escassez de médicos diplomados e o assombroso crescimento numérico dos charlatões foram decisivos para a criação da Faculdade de Medicina em 1898.
Em carta dirigida a Protásio Alves em 22 de agosto de 1898, Júlio de Castilhos expõe as idéias positivistas relativas à separação do poder temporal e do espiritual. Escrevia não ser suficiente a supressão do culto oficial, mas também da ciência oficial e, portanto, do ensino superior custeado pelo erário. Os cursos superiores deveriam funcionar livremente, sem as vexatórias e perturbadoras tutelas estaduais.
Em suma, Julio de Castilhos continuava fiel aos princípios positivistas. O governo deixava à iniciativa privada a instituição do ensino superior, isto, é óbvio, não agradava à categoria médica que queria ver a autoridade colocando fim às práticas indevidas.
Em 1915, sob o governo de Flores da Cunha foi fundada a Escola Médico-Cirúrgica, situada na  General Vitorino, formava médicos em 3 anos, além de revalidar diplomas de estrangeiros, durou até 1933.
A partir do seu fechamento somente a Faculdade de Medicina, agora um estabelecimento oficial passou a legitimar o exercício da profissão médica.
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Enviado pelo colega
Gerson Luis Barreto de Oliveira
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Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns a todos os colegas no nosso dia, vamos continuar nossa jornada, nem sempre valorizada, mas muito corajosa.
Abraço a todos.
Gerson Luis Barreto de Oliveira
Médico Nefrologista