11 de novembro de 2011

Onze de onze de onze, III - A lenda do M'Boitatá

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A LENDA DO BOITATÁ (Rio Grande do Sul)

(Publicada no livro Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul, de Antonio Augusto Fagundes - Martins Livreiro Editor - 1992)

"Em tempos mui antigos, que as gentes mal se lembram, houve um grande dilúvio, que afogou até os cerros mais altos.  Poucos bichos escaparam - quase tudo morreu.

Mas a cobra-grande, chamada pelos índios de Guaçu-boi, escapou.  Tinha se enroscado no galho mais alto da mais alta árvore e lá ficou até que a enchente deu de si e as águas começaram a baixar e tudo foi serenando, serenando...

Vendo aquele mundaréu de gente e de bichos mortos, a Guaçu-boi, louca de fome, achou o que comer.  Mas - coisa estranha! - só comia os olhos dos mortos.

Diz que os viventes, gente ou bicho, quando morrem guardam nos olhos a última luz que viram.  E foi essa luz que a Guaçu-boi foi comendo, foi comendo...  E aí, com tanta luz dentro, ela foi ficando brilhosa, mas não de um fogo bom, quente e sim de uma luz fria, meio azulada.

E tantos olhos comeu e tanta luz guardou, que um dia a Guaçu-boi arrebentou e morreu, espalhando esse clarão gelado por todos os rincões.  Os índios, quando viam aquilo, assustavam-se, não mais reconhecendo a Guaçu-boi.  Diziam, cheios de medo:  “Mboi-tatá!  Mboi-tatá! , que lá na língua deles queria dizer:  Cobra de fogo!  Cobra de fogo!

E até hoje o Boitatá anda errante pelas noites do Rio Grande do Sul.  Ronda os cemitérios e os banhados, de onde sai para perseguir os campeiros.  Os mais medrosos disparam, mas para os valentes é fácil:  basta desapresilhar o laço e atirar a armada em cima do Boitatá.  Atraído pela argola do laço, ele se enrosca todo, se quebra e se some." 
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NOTAS
1. Segundo o historiador e folclorista gaúcho, Antonio Augusto Fagundes, em seu livro "Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul" (Martins Livreiro Editor - 1992), o Boitatá é um mito universal.  Na Alemanha é chamado Irlicht  (luz louca);  na Inglaterra, Jack-with-a-lantern;  na França é Moine des marais (assombração dos pântanos);  nos países de fala espanhola é Luz mala ou Víbora de fuego.
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2. A referência mais antiga no Brasil é a do Padre José de Anchieta, em 1560, chamado de Bae-tatá (coisa de fogo).
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3. No Rio Grande do Sul, a versão mais antiga é a de José Bernardino dos Santos, o Boi-tatá (fogo-serpente), publicado na Revista do Parthenon Litterário (1869).
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4. João Simões Lopes Neto escreveu a sua versão em 1913, a M’boitatá (Lendas do Sul - Editora Globo - Porto Alegre - 1980).
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Enviado pelo colega
Hamilton Caio Vaz
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