20 de março de 2012

Tinha que ser em Bagé - VIII, O Barão morou aqui

Aparício Torelly, o Barão de Itararé

O Barão de Itararé - I
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Henrique Pires
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O Barão de Itararé morou na Rainha da Fronteira, antes de se auto-conceder o título nobiliárquicofake. Quem faz a afirmação, e está pesquisando sobre a vida de Aparício Torelly, é Henrique Pires, atualmente desempenhando a função de Assessor Institucional da RBS em Brasília. Aparício Torely, que nasceu no Rio Grande do Sul, em 1895, e faleceu no Rio de Janeiro em 1971, é considerado por muitos como o maior humorista brasileiro de todos os tempos. Depois de estudar em Porto Alegre, Torely muda-se para São Gabriel onde havia conseguido emprego no jornalmaragato A Reação. Lá conhece uma moça bageense, Alzira Alves, com quem casou e teve três filhos - é possível que algum seja conterrâneo - Ary, Arly e Aby, que faleceu com um ano de vida. Em decorrência do casamento e dos filhos, muda-se para Bagé, onde consegue emprego no jornalDiário do Commércio. Era uma época de revoluções no Estado e as dificuldades do dia a dia, somados à morte da filha, terminaram seu casamento. Depois da assinatura do Pacto de Pedras Altas, em 1923, o correspondente do Correio do Povo em Rio Grande, João Valério, vai a Bagé e encontra Aparício Torelly fazendo compras na Rua Sete de Setembro. Amigo de infância, pergunta a ele: 
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- Aparício, estás morando em Bagé?
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 - Não só morando, como demorando,
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respondeu o futuro Barão que, pouco tempo depois, retorna a São Gabriel onde assume a direção de “A Razão”.  
Em 1925 decide mudar para o Rio de Janeiro, onde começa a trabalhar n’O Globo e a ganhar projeção nacional editando vários jornais. 
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José Henrique Medeiros Pires
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NOTA DO BLOG: Gênio do humor refinado, Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, editou vários jornais, entre eles, A Manha, para rivalizar com o famoso jornal A Manhã, de onde fora despedido. Auto-concedeu-se o título "nobiliárquico" de Barão de Itararé ironizando o high society da época glamurosa da então capital da república. Ele sabia como poucos elaborar trocadilhos e frases que irritavam, principalmente, os políticos de sua época. As frases e tiradas do Barão foram, na maioria, publicadas nos jornais que editou e nos Almanhaques, outras foram anotadas por amigos. A mais famosa é a que colocou na porta de seu escritório, alguns dias após ser preso e agredido pela polícia durante a ditadura de Vargas: “Entre sem bater”. Algumas frases famosas do Barão:

- De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
- Quem empresta, adeus...
- Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
- Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
- Quando pobre come frango, um dos dois está doente.
- Voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
- Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.
- A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
- A promissória é uma questão "de...vida". O pagamento é de morte.
- Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem.
- A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados.
- Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você.
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4 comentários:

Anônimo disse...

Caro Vaz...
Pois, nesta manhã ainda quente - e primeira deste Outono - venho retornando com ele, aos poucos, depois de uma primavera dorida e de um verão infernal... Outono é um de meus Mestres que, juntamente com o Inverno, fazem parte de meu jeito de ser e de meus sentires - tanto pessoais quanto poéticos... Entre as muitas lições que continuam a me ensinar, o primeiro me mostra a beleza que existe na Nostalgia que o coração pode transformar em arte... e o segundo me demonstra o quanto o frio me retempera as Energias, com sua lição de calor no aconchego cúmplice e gostoso das Almas...
Vaz: não sei se serei assíduo nos comentários, como antes, mas tentarei...
Quanto ao famoso "Barão", não nasce outro - creio que nem parecido. Extremamente espirituoso, irônico e corajoso - entre outras tantas de suas qualidades! Não há como não rir, lendo-o. Nosso "Barão" dizia verdades com um humor fino, ferino, picante - até demais para seus adversários!
Ao deixar um grande abraço para ti e para os(as) amigos(as) que encontrei, aqui, no VG, fica - a título de colaboração - o registro de mais uma pérola do nosso célebre "Barão de Itararé":

CAPIM
No Curso de Medicina, o professor se dirige ao aluno e pergunta:
Quantos rins nós temos?
- Quatro! Responde o aluno.
- Quatro? Replica o professor, arrogante, daqueles que se comprazem de tripudiar sobre os erros dos alunos.
- Traga um feixe de capim, pois temos um asno na sala - ordena o professor para seu auxiliar.
- E para mim um cafezinho! Replicou o aluno ao auxiliar do mestre.
O professor ficou irado e expulsou o aluno da sala.
O aluno era, entretanto, o humorista Aparício Torelly Aporelly
(1895-1971), mais conhecido como o "Barão de Itararé". Ao sair da sala, o aluno ainda teve a audácia de corrigir o furioso mestre:
- O senhor me perguntou quantos rins "nós temos". "Nós temos quatro": dois meus e dois seus.
Tenha um bom apetite e delicie-se com o capim.

JJotaPoet@!

Luiz Carlos Vaz disse...

Essa também é muito boa, JJ. Esse "Barão" era demais... Bom retorno aos nossos comentários e "um bom Outono" para ti.

Luiz Carlos Vaz disse...

Essa também é muito boa, JJ. Esse "Barão" era demais... Bom retorno aos nossos comentários e "um bom Outono" para ti.

olmiro muller disse...

Aparício Torelly concedeu-se o título de barão ironizando a "batalha de Itararé", conhecida historicamente como "a batalha que não houve".
Aconteceu, resumidamente, o seguinte: em outubro de 1930 as tropas de Getúlio Vargas deslocavam-se para o Rio de Janeiro, a fim de tomar o poder.Já tinham ultrapassado a fronteira do Paraná com São Paulo e eram esperados por tropas federais, na cidade paulista de Itararé. Certamente aconteceria um combate, mas o presidente Washington Luis foi deposto por uma junta militar solidária com Getúlio, fato que levou as tropas federais a renderem-se aos revolucionários gaúchos resultando na inexistência da batalha.
Na época, Aparício Torelly já tinha antagonismo com Getúlio e, tornando-se "nobre" aludindo a um fato que não houve, talvez quisesse minimizar a campanha militar dos getulistas.