14 de agosto de 2013

Aniceta, La Piorrita Petiça

Foto de José Greco, acervo do autor

Aniceta, La Piorrita Petiça

Gerson Luis Barreto de Oliveira

Aniceta Correa nasceu em 6 de fevereiro de 1870, em Cerro Chato, no Uruguai. Quando jovem não era de grande beleza, mas sabia dançar muito bem e, segundo sei, o futuro esposo se encantou com ela em um baile. Minha avó contava que ele sempre dizia que a esposa "dançava como uma piorrinha". 

Vinte anos depois, um dia antes de seu aniversário, ela casaria com um jovem bageense, José Luiz Guasque, filho do médico homeopata Ignácio Guasque e Anna Barcellos Guasque.
Ao se casar com José Luiz ele ainda não era médico homeopata, como o pai, tinha como profissão Guardador de Livros, no Departamento de Cerro Chato. Provavelmente por causas políticas ele havia cruzado a fronteira e por lá morava, e seria lá que o casal teria os cinco primeiros filhos.

Uma das filhas era minha avó Orphelina, esta tinha tal admiração pelo pai, e vi isso também em outras filhas, que certa vez me confessou que não sabia ao certo como ele havia se interessado pela futura esposa, e vinha sempre a história de como ela dançava bem. José Luiz, apesar do imponente bigode, não era um homem alto. Muito culto, tinha uma personalidade reservada e exercia grande autoridade sobre todos.

Já a bisavó era baixinha, não media mais do que um metro e 45 centímetros, mas mesmo assim teve fôlego para ter 17 gestações (11 mulheres e seis homens), sendo que só na última teve um parto mais complicado. Tinha um temperamento forte que se perpetuou nas filhas, todas decididas e determinadas.
Os irmãos da bisavó tinham campos em Cerro Chato, e na matança de porcos a chamavam, pois era reconhecida como hábil em fazer a manufatura de linguiças, patês, murcilhas, queijo de porco, butifarras, que aliás só se vê hoje no Uruguai. O bageense que quiser comer tal iguaria terá que atravessar a fronteira em Aceguá, e ir até Melo.

Depois do casal Guasque vir morar em Bagé, na General Netto, nas primeiras décadas do século XX, periodicamente ela chamava uma das filhas e tomava a diligência. Sim, Bagé tinha como meio de transporte até o Uruguai não ônibus ou trem, e sim as diligências, tal qual o Velho Oeste americano. Na volta o produto da matança era trazido imerso em banha, em barricas, tudo acondicionado na parte de cima das tais diligências.

Uma tragédia foi a perda de José Luiz, em 1937, fator que fragmentou a família. A casa foi vendida e Aniceta começou um périplo pela casa dos filhos. Depois acabou indo para o Rio de Janeiro com as filhas que tinham permanecido solteiras. 

Mas até a partida para a Capital Federal ela não perdia uma partida do Guarany F.C, e se era um clássico Baguá, aí que ninguém a impedia de ir. E isso numa época que não era comum mulheres frequentarem estádios para ver futebol. Pois a bisavó Guasque levava uma “arma”, a sua sombrinha. E ai do engraçadinho que a fizesse alvo de brincadeiras, pois a bisabuela desferia um golpe certeiro com a sua “arma” para o mal educado se desculpar da afronta a La Piorrita Petiça.
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15 comentários:

Anônimo disse...

Olá! Sou a Vitória Guasque e achei muito boa esta crônica, foi uma das minhas favoritas! Abraços

Anônimo disse...

Olá! Sou a Vitória Guasque e achei muito boa esta crônica, foi uma das minhas favoritas! Abraços

Luiz Carlos Vaz disse...

Que bom que leu, gostou e comentou, Vitória. Um abraço! Vaz

Anônimo disse...

Oie me chamo Malu Guasque e adorei a crônica tb!!! muito boa!!!

Anônimo disse...

Oi meu chamo Malu Guasque e tb adorei a crônica!!! muito boas!!!!

Luiz Carlos Vaz disse...

Oi Malu, que bom que gostou, divulga para seus contatos.
Um abraço e obrigado
Vaz

Gerson disse...

Tchêêê Vaz, acho que o xará tem um baú cheio de estórias e não as conta mais frequentemente porque cada uma deve estar dentro de um baú menor, e como são muitas chaves sem identificação, até ele encontrar a char a certa demora meses, muito boas essa estórias, muito boas mesmo. Um baita abraço índio velho

Luiz Carlos Vaz disse...

E tomara que o teu xará continue abrindo esse baú, Gerson!!!
Um abraço
Vaz

Anônimo disse...

Xará

Que bom saber do teu comentário. O texto está sendo lido por Guasques até no Qatar.
Por esta nosso amigo Vaz não esperava.
Abraço
Gerson

Luiz Carlos Vaz disse...

Pois Gerson Guasque, tenho registrada uma visita do Qatar em 17 de maio, será deste nosso "parente"?
Um abraço
Vaz

Anônimo disse...

Sim, temos Guasque-representações em todas as " embaixadas " importantes, mundo afora.
Grande abraço
Gerson Oliveira

Anônimo disse...

Estou muito contente, li os comentários sobre a "PIORRITA" e postei um, mas não sei se soube faze-lo. Tenho poucas, ou melhor duas historinhas vividas por mim na "Estância de papá" como era chamada a do meu avô.
O Vaz me entusiasmou em contar algo.

1ª)A agua para beber na casa, ficava dentro de uma tina de barro, com uma impecável e engomada toalha branca, ao lado, ficava um grande "cucharron" (concha) com o qual se tirava a água da tina para encher o copo, com a ordem expressa e enérgica do avô LIDIO, que não se podia beber direto no "cucharón".
E meus primos maiores e mais sabidos , depois de muito brincar pelo campo, me colocavam de OLHEIRA cuidando que nenhum adulto os visse bebiam água no cucharón.
Esse segredo martelava a noite ,na minha cabeça de menina. Por sorte nunca fomos descobertos.

2ª) Eu ja com meus 10 anos , passando as férias de verão na estancia de CARAGUATÁ (perto de VICHADERO no URUGUAY), falei que gostaria de sair da estância, passear, então meu tio Nicolás Guasque, me falou:
"Hija, arreglese, pongase bonita y perfumada que vamos a ala carniceria hoy de tarde".
Claro que cedo da tarde la estava eu, como ele havia recomendado, arrumada e perfumada para o passeio.
Ele pegou minha mão e fomos para o pátio dos fundos da casa, onde havia uma enorme caixa com tela , pendurada num galho, e dentro as carnes protegidas dos insetos ,que eles chamavam de 'FIAMBRERA"
Decepção total minha...

Paulina Mirta (Guasque) Prates Macedo ( tataraneta de José Guasque ).

Luiz Carlos Vaz disse...

Puxa, mas que "belo passeio", Paulina, rsrs
Esses nossos avós, hein? O Gerson vai gostar dessa...
Um abraço
Vaz

Luiz Carlos Vaz disse...

Bem, isso já parece uma Nação Guasque, Gerson...

Anônimo disse...

Vaz

A " nação " a cada dois anos se reúne em convenção.
Foz do Iguaçu em 2008, Bagé em 2010, Rio de janeiro em 2012. Está previsto para 2014 a próxima " Guasqueada ", a ser decidida ainda.
Abraço
Gerson