28 de setembro de 2013

Saudade de Portugal

José Gomes, repr fotográfica por Alexandre Costa Santos

Saudade de Portugal
José Rodrigues Gomes Neto

Estive poucas vezes lá e não é desses dias que sinto falta.

Meu avô – José Rodrigues Gomes - veio de lá, com quatorze anos de idade, em 1877, a bordo de um navio, prestando serviços em troca da passagem.

Aqui, como era comum naquela época, ele foi recebido por uma família que já viera de lá, antes.

Não fez nenhuma escala, o que muitos faziam. Veio direto à Pelotas.

Logo começou a trabalhar em atividades modestas e morava em um quarto que lhe fora destinado pelos seus anfitriões.

Trabalhava, trabalhava intensamente, com o objetivo de capitalizar-se, guardando cada moeda que ganhasse, pensando em abrir seu próprio negócio.

Casou jovem, muito jovem, com Anna Bandeira da Nova.

Nesses dias, ele começara a trabalhar em uma fábrica  de beneficiamento de fumo Não demorou muito, assumiu o cargo de gerente  e, pouco tempo depois,com o falecimento do dono, comprou o estabelecimento. Para isso, teve de recorrer a empréstimos, o que obteve com alguns compatriotas, a quem já se ligara por laços de amizade e que confiavam em sua honestidade e competência.

Isso deveria ser lá por 1900, quando já lhe nascera o primeiro dos onze filhos que teve.
Deu à sua prole, e à sua mulher, uma vida confortável, chegando mesmo a amealhar um patrimônio considerável.

Viveu até aos 82 anos de idade, apenas seis meses após ter perdido sua companheira de toda a vida. Não me move, aqui, a intenção de traçar a bio grafia do meu avô, que, praticamente um menino, deixou a Povoa do Varzin, seus pais, e tudo o mais que lhe cercava, e veio para a América, fazer a América.

Hoje pensei nele porque vi uma foto sua feita em louça e ali ele aparece com “plastron” e com uma fisionomia forte,  que demonstra ser um homem decidido.

Fiquei comovido, primeiro porque eu tinha apenas dez anos quando ele faleceu e não tive a oportunidade de trocar idéias com um homem, que depois, pela voz dos amigos dele e pelos testemunhos da família, pareceu-me farto em qualidades.

Dei-me conta, então, que, ele e tantos outros portugueses que vieram para cá, fizeram de Pelotas uma grande cidade e que hoje desfrutamos deste legado graças ao espírito empreendedor desses desbravadores corajosos.

Por que dei a esta crônica o título Saudades de Portugal?

Porque, olhando para sua foto, sinceramente emocionado, fiquei pensando quantas saudades lhe acompanharam pela vida, pois ele nunca mais voltou lá.

Então, pela minha condição, a de neto, que tem o seu nome, senti as saudades que eram dele.

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25 de setembro de 2013

Quarta-feira, dia nacional do sofá - LVIII - Promessa feita, promessa cumprida!

Foto da autora

Quarta-feira, dia nacional do sofá - LVIII

Promessa feita, promessa cumprida!

Giséle Maria Costa da Silveira

Compartilhamos muitos solavancos nesta vida.  Carrocerias de caminhão, de camionete e até de carroça. Foram muitas mudanças.  Primeiro (faz tempo!), da loja, na Avenida Sete, em Bagé, até a casa de nossos primeiros donos, no bairro Getúlio Vargas. Naquele trajeto, me contaste da tua curiosidade em conhecer a Praia do Laranjal, quando ouviste dois clientes da loja discutirem a compra de móveis para levarem até Pelotas. Depois nos mudaram para o interior do município e continuavas com a mesma ladainha: “Como queria conhecer a Praia do Laranjal! Deve ser muito linda!”

 Fomos adquiridos na mesma empreitada, mas não ficamos juntos. Naquela época eu pertencia ao chamado “terno estofado”- sofá de três lugares acompanhado de duas poltronas. Foste para o quarto do casal; eu e minhas companheiras, para a sala. Um belo, jovem e garboso sofá, recém-saído da loja, revestido de tecido reluzente, ladeado por poltronas dotadas de fofas saliências e reentrâncias recobertas de tecido acetinado ao toque... Um paxá sempre me senti e se me passou pela cabeça alguma preocupação, logo tratei de tirar, dada a naturalidade com que sempre foi vista essa bigamia. Vejam só como são as coisas...

Ganhei lugar de destaque na chácara sobre o tapete de couro de boi, com vista para o açude. Já tu, poltrona amiga, respeitada só nos primeiros tempos (mais tarde me confidenciaste), colocada num canto do quarto, logo começaram a te atirar roupas por cima ou esqueciam a janela aberta e te deixavam torrando ao sol, no verão. Prova disso é tua coloração ocre muito longe da beleza original.

O tempo, acompanhado da TV, da pipoca, do refrigerante, do tênis sujo, das pontas do espiral dos cadernos das crianças, das agulhas de tricô esquecidas, dos caldos de sopa ou café derramados e tudo mais se encarregaram de me detonar e eu acabei neste estado deplorável. Minhas poltronas companheiras há muito me abandonaram. Foram revestidas de tecido novo e levadas para o consultório da filha do casal. Daí te trouxeram pra perto de mim. E também teu choramingo: ”Não posso morrer sem conhecer a Praia do Laranjal!”

Querendo ou não, passei a tomar esse compromisso como meu. Passei a conversa no cara que ia nos deixar no lixo reciclado, contei a nossa história, coisa e tal. E aqui estamos os dois, juntinhos, no caminho para o Pontal da Barra, apreciando a calmaria das águas da Lagoa dos Patos. Promessa feita, promessa cumprida!


Setembro/2013
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24 de setembro de 2013

Caminho suave


Caminho suave

Sergio Vaz

Fazer os saraus nas escolas tem me trazido boas lembranças sobre um tempo que não volta mais. Mas também tem ressuscitado velhos fantasmas adormecidos na memória.

Lembro de um tempo em que estudava na 2ª série primária, e quando o professor entrava na sala de aula todos os alunos levantavam em sinal de respeito. Aliás, éramos obrigados a fazer este tipo de reverência a todos que entrassem na nossa classe. Nos anos setenta, em plena ditadura brava,todo mundo era autoridade, menos as crianças.

Na segunda e sexta-feira, antes da aula, todos íamos para o pátio hastear a bandeira e cantar o hino nacional. Não entendíamos muito o porque de cantar aquela música tão difícil e indecifrável, mas seguíamos entoando a canção sob a batuta dos nossos mestres: “... fulguras ó Brasil florão da América...”. Caminhávamos, mas sem seguir a canção.

A Sala dos professores, era uma espécie de quartel-general inimigo. Quase ninguém a conhecia por dentro. Só uma coisa era certa, é ali que decidiam se íamos passar ou não de ano. Repetir o ano não era bem visto pelos nossos pais. Ai!

Aquela sala povoava nossas pequenas mentes com assombrosas imaginações... Mas nada se comparava ao medo que tínhamos da sala do diretor. Para nós, pequenos subversivos, a sala impunha o mesmo pavor que a sala do DOPS aplicava aos que lutavam pela democracia. Dali ninguém saía impune, todos eram fichados, no mínimo uma advertência.

Por vezes achei a escola parecida com um campo de concentração, e por conta do medo, muitas vezes vi alunos sendo atingidos pelas costas por pularem o muro para matarem a aula. Os Inspetores me pareciam autênticos soldados da Gestappo.

Por incrível que pareça aprendi a ler e escrever numa cartilha chamada “Caminho Suave”.

Uma vez fiquei de castigo, atrás da porta, porque estava desenhando um relógio, à caneta, no meu pulso. Na opinião da professora eu estava fazendo hora no tempo dela. Que horas eram? Não lembro, mas em represália também não lembro o nome dela, e não uso relógio até hoje.

Um coleguinha descobriu que sua mão tinha 12 cm por conta das reguadas que levava toda vez que olhava para o lado. Um puxão de cabelo ali, um chacoalhão acolá, e o que é pior, tudo com a autorização dos nossos pais.

Lógico que hoje não é mais assim, e o professor é o grande farol na busca de um país melhor, mas como eu disse no começo, são apenas fantasmas que espreitam a memória, como tenho medo de escuro queria dividir com vocês, esse tempo, em que a escola doía em mim, como um dia sem merenda.
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Sergio Vaz é poeta e fundador da Cooperifa
Publicado em:

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23 de setembro de 2013

Um Poema (Concreto!) na Calçada

Foto JJota Poeta´21 de setembro, 2013. Flores da "Pata-de-Vaca",
ou "Árvore-Orquídea". Início da tarde.

Um Poema (Concreto!) na Calçada
J.J. Oliveira Gonçalves

Um Poema que Deus escreveu
com as lágrimas da Chuva
e o sopro do Vento...

Um Poema que se debruça
nas janelas d'Alma
e fala ao coração...

Um Poema singelo - delicado
com textura das Sedas Orientais
e sorriso furta-cor
sorriso largo, úmido e inocente
esparramado no chão...

Ah, Poema ou Prosa?
Tanto faz...

O que importa é que me traz
uma gostosa sensação de Calmaria
uma introspectiva e silenciosa Solidão...

Me apascenta o Espírito
e me pastoreia os passos...

Um Poema (concreto!) na calçada
Pétalas da Pias Vestes de Maria...
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22 de setembro de 2013

Barradinhas, um craque do Bagé com Roberto Madureira Burns

Foto: arquivo de Jóice Sousa Portacio

Barradinhas, um craque do Bagé com Roberto Madureira Burns


Continuando a série Barradinhas, publicamos hoje mais uma foto do arquivo pessoal da Jóice Sousa Portacio. Desta vez seu avô, o craque Barradinhas, aparece sendo entrevistado pelo Roberto Madureira Burns, no início da carreira. Ah! o tempo em que um repórter do rádio entrava no estádio de terno e gravata...

Mais sobre Barradinhas AQUI.
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20 de setembro de 2013

Velho Pala Colorado

Capa do LP Destino Missioneiro, de Noel Guarani

Velho Pala Colorado
JJ Oliveira Gonçalves

Velho pala colorado
Que eu trouxe, lá, de Bagé
Sobre meu peito, um legado
Da Aldeia de um Ibajé!

Rubro abrigo, velho pala
Companheiro de invernia
A Alma bageense se embala
Quando o Minuano assobia!

Íntimo abraço - e estreito
Que emocionado se cala
Ressaltas este meu jeito
De índio xiru, velho pala!

Nas domingueiras, na lida
És vestimenta de gala
És a Alvorada parida
Da Tradição que nos fala:

De tuas franjas, velho pala
No galopar... ou a pé
Cá, no galpão... lá, na sala
Mudos gritos do Sepé!

Velho pala, companheiro
Neste andejar da Existência
Sob o Sol, sob o aguaceiro
Guapa imagem da Querência!
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Porto Alegre, 14 de setembro/2013. 10h55min

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19 de setembro de 2013

Se Eu Morresse Amanhã

Foto LC Vaz

O dia 19 de setembro de 2013 marca o 1º ano da morte do poeta Mário Osório Magalhães. O Pelotas 13 Horas homenageia o poeta, professor e historiador e os leitores do site com a publicação da até então inédita poesia “Se eu Morresse Amanhã”. A poesia foi localizada pela sua esposa, Lia Gazzalle Magalhães.

Se Eu Morresse Amanhã
Mário Osório Magalhães

Se Eu Morresse Amanhã
Teria a Lia
Quase a certeza de que o mundo terminou.
A minha mãe não se convenceria...
E sofreria o Dei, o Inácio...
Uma família
Enlutaria
Se eu morresse amanhã
- ou qualquer dia...
Mas sempre existe uma alegria
Que nos abafa a dor
(Alguém que nos compensaria
de alguém que nos deixou
- De quem saiu de cena)
Por isso a você
Que simplesmente me lê
Eu lhe diria:
Não vale a pena...
Se eu fosse você
Não morreria amanhã.
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Poesia escrita entre 1989/1990
Publicado no site Pelotas 13horas
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18 de setembro de 2013

Quarta-feira, dia nacional do sofá - LVII, O bêbado e a equilibrista



Foto LC Vaz


E voltaram os sofás...
Quarta-feira, dia nacional do sofá - LVII, O bêbado e a equilibrista

Foram tantos sofás abandonados que eu já estava pensando que o pessoal colocava fora só para sair no blog... Pensei: Deu de sofás! Mas este, agora, me chama à atenção. Em posição de equilíbrio... tentando não cair... mas não se equilibrou em casa, foi para a rua fazer malabarismo na calçada. Lembrei até da Elis, cantando O bêbado e a equilibrista...
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17 de setembro de 2013

Barradinhas, um craque do Bagé com Pelé

Foto: arquivo pessoal de Jóice Sousa Portacio

Promessa é dívida! Graças a gentileza da Jóice Sousa Portacio, publico hoje a foto do nosso craque Barradinhas com o “jovem promissor Edson Arantes do Nascimento”, quando o selecionado Ba-Gua enfrentou, em 1957, o Santos FC. Jóice, nos conta também, que a família toda era de Bagé, mas que sua avó, Arlete Goulart Sousa, era de Dom Pedrito, cidade onde casou com Barradinhas. Ele deixou o futebol, depois de jogar no SC Internacional, em Porto Alegre, para ficar com a vida mansa de casado em Bagé mesmo tendo, segundo sua neta Jóice, recebido proposta para ir para o Corinthians. O que faz o amor...

Mais sobre o craque Barradinhas no Blog AQUI.
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15 de setembro de 2013

E chegamos aos 300.000 acessos!

Em 15 de dezembro de 2008 já havíamos chegado a Mil acessos...

Dia 14 de setembro de 2013, ontem, chegamos aos 300 mil às 22h43min

E chegamos aos 300.000 acessos!

Este blog, que iniciou despretensiosamente em 28 de novembro de 2009, com o objetivo de organizar virtualmente os colegas que tratavam de um primeiro encontro dos antigos alunos do Colégio Estadual de Bagé, foi gostando da ideia de existir, buscou novos caminhos, fez novos amigos pelo mundo cibernético e foi explorando novos temas. Hoje, quase quatro anos depois do seu primeiro post, o Blog da Velha Guarda do Estadual alcança esta marca interessante: trezentos mil clics. Eles nos dizem que é preciso seguir em frente. Cativamos muitos amigos... vamos mantê-los.

Vida longa ao nosso VG!
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14 de setembro de 2013

Uma incursão pelos cabarés

O livro de Schlee, publicado pela ardotempo. Foto de Gilberto Perin

Uma incursão pelos cabarés

Klécio Santos (*)

O cenário é Jaguarão, à época em que a fronteiriça cidade vivia a epopeia da construção da ponte internacional Mauá, inaugurada em 1930. O agito durante o dia, de marinheiros e operários, contrasta com a noite, quando a cena é dominada pelas prostitutas e a cidade submerge até o amanhecer em um silêncio cúmplice dos segredos de alcova. É nesse passado boêmio que o escritor, tradutor e professor Aldyr Garcia Schlee mergulhou para escrever Contos da Vida Difícil (Editora ARdoTEmpo, 184 páginas, R$ 35), seu mais recente livro, lançado na centenária Bibliotheca Pública Pelotense.

A cidade era rota do tráfico de mulheres provenientes de Montevidéu e Buenos Aires. Uma escala enquanto aguardavam o embarque para o Rio de Janeiro por meio do porto de Rio Grande. É pelos cabarés de luxo que fizeram a fama das cidades siamesas que os personagens de Schlee transitam. Ou mesmo pelos pardieiros – chamados de “peixe” – na orla da praia, junto à curva do rio Jaguarão. As histórias estão interligadas por certa dose de melancolia, impedindo a separação entre um conto e outro. Schlee muitas vezes recorre,com um exagero proposital, à repetição de trechos como forma de prender o leitor aos detalhes e à nostalgia daqueles tempos em que a prostituição era assunto proibido. Histórias que o perseguiam desde a infância e o começo da adolescência, como a do tio que largou tudo e se enfiou no chinaredo de uma cafetina uruguaia para viver com a louca Ignez. Sobre a cama, palco do tórrido romance, a faixa carnavalesca com os dizeres: “Viva eu, viva ela, viva o rabo da cadela”. Em outros momentos, Schlee recorre a personagens de antigos contos como Artigas Guinchón, que aparece em Linha Divisória, também ambientado na fronteira.

Em Contos da Vida Difícil, famosos proxenetas, mafiosos e cafetinas ganham nome e sobrenome graças à tese da historiadora Yvette Trochon: Las Rutas de Eros – La Trata de Blancas en el Atlántico Sur. Argentina, Brasil y Uruguay (1880 – 1932). A obra, impressa em Montevidéu (Taurus, 2006), serviu para Schlee enriquecer o imaginário em torno daquelas mulheres polacas com rosto de bonecas de louça, frequentadoras do cabaré do Tomazinho. O lugar é o palacete com sacadas para a rua, porta em relevo e platibanda ornada que hoje é sede do Clube Instrução e Recreio, no centro de Jaguarão.

Mas não há glamourização do tema. Pelo contrário. As misérias da chamada vida fácil estão latentes em contos como R.S., em que a decadente Sara vive sozinha, velha e embriagada, agarrada em uma garrafa de licor de anis Carabanchel, cultivando apenas a lembrança do seu grande amor, Ruby, adolescente americana que, como ela, trabalhava como corista pelos cabarés do Brooklyn. Um tempo, como diz o autor, em que a “clandestinidade do gim libertava a paixão de mulheres por mulheres”. Ruby se tornou uma estrela de Hollywood, uma imagem que Sara só podia ver na tela quando cruzava a ponte Barão de Mauá para ir ao Cine Rio Branco. Schlee não diz de forma explícita, mas, ao listar filmes como Noites da Broadway e Mulher Sem Algemas, revela que a atriz é Barbara Stanwyck, nascida Ruby Stevens.

O livro é um convite para penetrar no universo dessas mulheres. Há desde a traída pelo marido que resolve se prostituir no famoso Mangacha, em Rio Grande, até a atriz decadente, uma misteriosa ruiva que se apresentou no Teatro Esperança, interpretando um tango sofrível e que, nas horas vagas, era oferecida para uma sessão de sexo privê. Enfim, um retrato fiel de um tempo que o autor testemunhou, mesmo que com a inocência do guri que comia cascudo e um dia tropeçara nas pernas de uma diva. Ao final, Schlee engata em sequência três contos em homenagem à musica, ao teatro e ao cinema, com personagens como Violeta, que soam como pastiche de alguma marafona gorda da Broadway citada em Longa Jornada Noite Adentro, de Eugene O’Neill, ou como remissões de um filme de Pietro Germi, Seducida y Abandonada, que o autor aproveita para discutir o tabu da virgindade. Prestes a completar 79 anos, em novembro, Schlee vem produzindo em um ritmo frenético desde o romance épico Dom Frutos (2010), história do caudilho uruguaio José Fructuoso Rivera (1784 – 1854) narrada em mais de 500 páginas. Lançou, em 2009, Os Limites do Impossível, a partir da ideia estarrecedora de que o nascimento de Carlos Gardel ocorreu em Tacuarembó, no Uruguai, fruto de incesto e estupro. Neste ano, teve reeditada a coletânea de contos O Dia em que o Papa foi a Melo.


Atualmente, Schlee divide seu tempo ora com palestras sobre a obra de Simões Lopes Neto, ora se divertindo ao comparar várias versões – até o original latino – de A Arte de Amar, do poeta romano Ovídio. Já estão a caminho dois outros livros, um deles, Contos com Espelhos, um ambicioso diálogo com a ficção de Jorge Luis Borges, a partir de uma referência da passagem do famoso escritor por Jaguarão. Desde a publicação de Dom Frutos, contudo, se diz mais seguro,  com os personagens sob sua rédea, ou melhor, controle, uma luta que encara com prazer em seu sítio no Capão do Leão, nos arredores de Pelotas, diante de uma imensa maquete de zinco da ponte Mauá, presente que ganhou aos 10 anos.
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Publicado no Clic RBS
Klécio Santos é jornalista e diretor da sucursal da RBS em Brasília
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13 de setembro de 2013

Ultimo tango a Parigi


O Ciclo "A Filosofia e o Cinema Existencial" exibirá, nesta sexta-feira (dia 13 de Setembro), o filme "O último tango em Paris", de Bernardo Bertolucci. Cineasta italiano (1941), Bertolucci é autor de obras cinematográficas como "O céu que nos protege" e "O último imperador". O IV Ciclo de Cinema, promovido pelo Departamento de Filosofia da UFPel, sob a coordenação do professor dr. Luís Rubira, ocorre todas as sextas às 20h, no Centro de Integração do Mercosul, em Pelotas. A entrada é FRANCA (retire sua senha no local, no dia da sessão, em horário comercial).

A programação completa do CICLO está disponível na página da UFPel:


O Último Tango em Paris, (Ultimo tango a Parigi), 1972, França/Itália. Direção: Bernardo Bertolucci. Com: Marlon Brando, Maria Schneider e Maria Michi.
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11 de setembro de 2013

Pelos Campos de Bagé...

Foto LC Vaz

Pelos Campos de Bagé...
J.J. Oliveira Gonçalves

Há pouquinho, fui à cozinha tomar um café preto. Embora não me deva "amasiar" demasiadamente com o pretinho.  Gostoso ele é. Mas, nem minha úlcera nem minha gastrite gostam dele. E nos fazem cara feia enquanto o sorvo - saborosamente. Mas, sorvendo-o - e olhando o semblante da tarde, pela porta - nos olhos claros da tarde, vi, de repente, os olhos de tardes como esta em que eu era um guri, um adolescente, um jovem naquele cenário, (tão querido e tão saudoso!), de Bagé. Bagé - terra em que nasci e não esqueço, (nunca esqueci!), pois que a trago, amorosamente, guardada nos escaninhos empoeirados e cheios de histórias, dentro do peito...

Senti uma Nostalgia imensa! Uma Saudade "sentimental demais" que não sei descrever. Uma vontade quase incontida de, - se eu tivesse asas -, voar e ir pousar na árvore mais alta da cidade. Quem sabe, lá pras bandas do "Cerro de Ibajé". Ah, carradas de razão, (e sensibilidade!), nos deixou o Mestre Lupicínio quando escreveu e musicou aquele poema que, em meu sentir, traz uma verdade universal quando afirma, nestes versos: "E o pensamento parece uma coisa à toa/ mas como é que a gente voa/ quando começa a pensar."

Na diária e inocente companhia de minha bicharada, (cães e gatos), ouvi a algazarra eloquente e otimista dos pardais. E o cicio delicado e misterioso das carochinhas. Um (ou uma?) sabiá deu um choramingo sentido e longo... Creio que nesse choramingo desnudou a Alma... Abriu o cofre do coração...

Todos me encantam. E a todos agradeço. E sei que o choramingo do(a) sabiá foi exatamente o choramingo de minha Saudade, de meus recuerdos - rolando dentro de mim! Saudade de meus Pedaços. De minhas coisas. De um cenário onde fui o que não sou mais... Saudade do meu "XV"... Do meu "Estadual"... Mesmo do tradicional "Colégio das Freiras", ("Espírito Santo"), aonde eu ia - cheio de Sonhos e de Ilusões - esperar uns graúdos e amorosos olhos castanhos e um sorriso feito de Ternura e de Infinito... Ter sua cabeça em meu ombro e, nas mãos, "Cantiga do Só" - do apaixonado J. G. de Araújo Jorge...

Bagé - do Verão em que nasci. Do Outono que me moldou a Alma - com tons de Ouro e acordes de Cello. Do Inverno que me revigora o Corpo e a Alma. Da Primavera que há me me fazer, (sempre!) adolescente.

Ah, que vontade de correr pelos campos de Bagé... Ter a camisa aberta ao peito - como cantou Casemiro. Ser de novo o que, lá, fui - embora absolutamente impossível! Acarinhar as flores do jardim da avó materna. Ganhar e dar tantos, tantos beijos... tantos, tantos abraços... Ah, correr pelos campos esmeraldinos de minha terra, e, lá, deixar minh'Alma avizinhar-se ao Infinito... O Infinito onde a Vésper veste a tarde. E a D'Alva dependura-se na Alvorada...
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Porto Alegre, 09 de setembro/2013. 16h44min
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9 de setembro de 2013

Barradinhas, um craque do Bagé na Capital

Foto: arquivo pessoal de Jóice Sousa Portacio

Barradinhas, um craque do Bagé na Capital
Pesquisa: Valacir Marques Gonçalves
Foto: arquivo pessoal de Jóice Sousa Portacio (*)

Dirceu Brasil Sousa, o Barradinhas, nasceu em Bagé, em 14 de fevereiro de 1933, e faleceu no ano de 2007. Iniciou sua carreira no Grêmio Esportivo Bagé, nos juvenis. Integrando a equipe principal foi pentacampeão da cidade, de 1951 a 55 e, depois, novamente campeão em 1957.

Em 1958, foi levado para porto Alegre, pelo treinador Oswaldo Rolla, para jogar no Grêmio, mas acabou contratado pelo Internacional. Na capital do Estado não conseguiu repetir as grandes atuações que tinha em sua cidade natal. Em 1961, Barradinhas retornou a Bagé, atuando pelo Guarany. Acabou voltando ao Bagé, onde encerrou sua carreira, em 1963.


Em 24 de março de 1957, Barradinhas integrou a seleção da dupla Ba-Gua que empatou em um gol com o Santos Futebol Clube. Guardou com carinho, até o final de sua vida, a foto em que aparecia ao lado de Pelé, então um jovem promissor, de apenas16 anos de idade, que estava iniciando sua carreira no time da Vila Belmiro.
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(*) Achei no Facebook esta excelente foto do Barradinhas e sua esposa, Arlete Goulart Sousa, batida no final dos anos 50, em Bagé. A foto foi publicada por sua neta, Jóice Sousa Portacio.  Pedi ao Valacir que pesquisasse sobre o craque. A Jóice informa que a rua talvez seja a General Osório. Algum leitor pode localizar essa quadra? Eu acho, no entanto, que é a Avenida Sete de Setembro...

No Jornal Minuano, de 23 de janeiro de 2007, foi publicada a notícia da morte do jogador, mas a tal fotografia com Pelé está indisponível para visualização.
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7 de setembro de 2013

Strike up the band ! - 2013

Alec Guinness, como Coronel Nicholson,
comandava o "assovio" no filme A ponte do rio Kwai
Strike up the band ! - 2013 (*)
Hamilton Caio Vaz

Porque quando ameaça a revolta 
E o peito se aperta por fim,
 
Não há o que renove a coragem
 
Como o som marcial do clarim.
 

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Willian S. Gilbert (**) 
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As bandas tradicionais ou as bandas marciais encantam não só pelo seu visual, seus uniformes, seu garbo, sua coreografia, seus instrumentos, mas também pela sua música, a música de banda, as marchas tradicionais e as marchas militares que executam. Nos tempos modernos, elas começaram também a executar arranjos de músicas populares e clássicas, adaptadas por seus maestros (ou mestres). 

É interessante salientar, entre outras, a distinção principal entre uma banda e uma orquestra sinfônica. Essa grande diferença é a falta, na banda, do naipe (ou família) das cordas (violino, violoncelo, contrabaixo ...). É por uma questão de praticidade, pois ficaria difícil um deslocamento (ou marcha) com esses instrumentos. O som grave do contrabaixo é conseguido com as tubas e o agudo dos violinos, pelas flautas.

Um dos maiores compositores de banda de todos os tempos, para mim o maior, é o americano de origem portuguesa, John Philip Sousa (1854 - 1932). Olha aí nosso sangue lusitano na origem das músicas de bandas! É dele a marcha "Stars and Stripes Forever", é a sua obra-prima, não há quem não se lembre da melodia quando ouve, pelo menos do cinema. Era muito tocada por bandas marciais devido ao seu estilo floreado, que se prestava para coreografias nas apresentações. São também dele as marchas "El Capitán", "Semper Fidelis", "Washington Post March", e "King Cotton", todas igualmente bem lembradas quando ouvidas e sempre fazendo parte dos repertórios de todas as bandas que temos ouvido, em todos os tempos. 

Uma marcha que ficou muito conhecida através do cinema, foi a que apareceu no premiado filme "A Ponte do Rio Kwai", de 1957, que era assoviada pela tropas, a "Coronel Bogey". A música não foi escrita especialmente para o filme, como pode parecer, é uma canção tradicional que as tropas inglesas, estacionadas na Índia, cantavam e que foi revivida durante a 2a guerra mundial. Portanto, ela é história real na "Ponte do Rio Kwai". Na época do lançamento do filme em Bagé, no final dos anos 50, os guris do Estadual também assoviavam essa marcha pelos corredores do colégio e nos intervalos de aula, e o filme, como era natural, foi motivo de muitas conversas entre nós. Esta película foi vencedora de sete Oscars, incluindo o de melhor filme, dirigida pelo inglês David Lean, que também conduziu "Laurence da Arábia" (1962), "Doutor Jivago" (1965), "A Filha de Ryan" (1970) e "Passagem para a Ïndia" (1984), este, o último filme do diretor. 

O cinema foi pródigo em divulgar música de banda. Outros exemplos foram o tema do filme "O Mais Longo dos Dias" (1962), do mesmo nível, com grande marcialidade e que ficou muito popular, e a trilha do filme "Fugindo do Inferno" (The Great Escape - 1963), com uma melodia muito marcante e que ficou muito conhecida. Embora essa música tenha sido apresentada por orquestra sinfônica (incluindo as cordas!), o grande maestro Elmer Bernstein nos pareceu, de propósito, querendo imitar uma banda. A composição tem um trecho em que o som grave, que seria apresentado pelos contrabaixos, é executado virtuosamente pelas tubas, como se fosse uma banda. E o som das cordas (violinos) é bastante dissimulado pelo som igualmente agudo das flautas. O resultado sonoro nos parece de uma grande e garbosa banda marcial, apropriada para o tema de guerra do filme. Mas, para mim, a melhor marcha do mundo, a mais empolgante, a mais marcial, aquela que levanta o ânimo de qualquer indiferente, é a "Lufwaffe Marsch" ou "Luffwaffe March", em inglês, (Marcha da Força Aérea Alemã), que apareceu na trilha sonora do filme "A Batalha da Inglaterra", (Battle of Britain - UK), de 1969, com a história dessa batalha aérea na Segunda Guerra Mundial. 

E eu me surpreendi há pouco tempo quando descobri que George Gershwin (1878 - 1937), o grande compositor americano de música clássica (Rhapsody in Blue, Um Americano em Paris, Concerto em Fá) e também com extensa obra jazzística, que ouço há muitas décadas, tinha uma composição para banda, uma marcha, a "Strike Up the Band ". Mas a grande surpresa foi quando o Vaz me presenteou com um CD com composições de Gershwin, contendo uma amostra excepcional do autor: as três maiores obras clássicas, três músicas de jazz e essa música de banda que eu desconhecia. E o detalhe incrível: eu conhecia essa música tocada por banda desde guri, por volta de 1950, sem saber o nome dela, quando meu pai ouvia os famosos "jornais falados" da Rádio Tupy de São Paulo, de manhã cedo. Essa marcha era a característica musical do jornal (todas as características dos programas de noticiário da época eram marchas, novamente uma influência do pós-guerra). Desde então, fiquei com essa melodia na cabeça, e, incrivelmente, nunca mais a ouvi, em nenhum lugar. Mas aí, não sei por que força misteriosa, ela me cai às mãos pelo CD do Vaz. Agora, quando a ouço, me transporto para o meu quarto de criança na casa da Hulha Negra, ouvindo de manhã cedo, ainda na cama, o som do rádio Zenith, alimentado por bateria carregada com o aerodínamo Wincharger. O som vinha da sala. Entre os intervalos de anúncios das Casas Pernambucanas, Astringosol, Phimatosam, Biotônico Fontoura, Sadol, Creolina Pearson, Fenotiasina..., eu também ouvia as últimas notícias pelo Jornal Falado da Tupy ou do Repórter Esso, que vinha logo após. Meu pai acompanhava essa programação diariamente...

Completando este resumo das grandes marchas para banda, lembramos que um dos hinos nacionais mais bonitos do mundo, o da França, é uma marcha que ficou famosa, "La Marseillaise". Ele Inflama o orgulho na nação francesa sempre que é tocado nos grandes acontecimentos, como o 14 de julho. 

Sobre as marchas para bandas, encontrei no meu arquivo um texto dos anos 60, escrito por Richard Kleiner, musicólogo, e que escrevia uma coluna sobre discografia para a Newspaper Enterprise Association (Nova Yorque).
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"Em sua forma rítmica, a marcha é a música mais simples possível, pois seu compasso se adapta ao andar do homem -- um-dois, um-dois -- e o tempo é o da batida do coração. Talvez seja por sua primitiva simplicidade que a marcha empolga de um modo primitivo. As crianças reagem mais rapidamente à marcha do que a qualquer outra forma musical. Não exige raciocínio intelectual, nem interpretação, nada mais que uma reação emocional ou física. As marchas têm levado os homens à guerra através dos séculos. A dança de guerra dos índios é uma forma de marcha. O mesmo se dá com o tantã dos guerreiros africanos. É possível que os nossos primitivos e belicosos antepassados exaltassem o seu ânimo para combater com o auxílio de um simples bater marcial em um tambor. As marchas também servem a fins ideológicos. "A Marselhesa", por exemplo, veio a simbolizar o espírito democrático da França."
Agora perguntamos aos colegas: Será que lendo este texto não dá uma imensa vontade de ir até a praça para ver se tem alguma banda tocando para nos encher de alegria e entusiasmo ? Ou quem sabe acompanhar uma banda marcial em seu deslocamento e sair também marchando ? Vamos, pois, Vaz, fazer as bandas voltarem aos bons tempos! Como diz no título da marcha de Gershwin:
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Strike up the band ! 
Que a banda comece a tocar!"
 
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(*) Enviado pelo colega Hamilton Caio e publicado aqui em 8 de junho de 2010.

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(**) William S. Gilbert (1836 - 1911), compositor inglês, escreveu em colaboração com Arthur Sullivan, entre outras obras, as óperas cômicas (ou óperas bufas) "H. M. S. Pinafore" e "The Pirates of Penzance". 
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Nota: Para ouvir as "marchas", é só clicar nos nomes que estão
 linkados para vídeos no Youtube. 
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