25 de setembro de 2013

Quarta-feira, dia nacional do sofá - LVIII - Promessa feita, promessa cumprida!

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Quarta-feira, dia nacional do sofá - LVIII

Promessa feita, promessa cumprida!

Giséle Maria Costa da Silveira

Compartilhamos muitos solavancos nesta vida.  Carrocerias de caminhão, de camionete e até de carroça. Foram muitas mudanças.  Primeiro (faz tempo!), da loja, na Avenida Sete, em Bagé, até a casa de nossos primeiros donos, no bairro Getúlio Vargas. Naquele trajeto, me contaste da tua curiosidade em conhecer a Praia do Laranjal, quando ouviste dois clientes da loja discutirem a compra de móveis para levarem até Pelotas. Depois nos mudaram para o interior do município e continuavas com a mesma ladainha: “Como queria conhecer a Praia do Laranjal! Deve ser muito linda!”

 Fomos adquiridos na mesma empreitada, mas não ficamos juntos. Naquela época eu pertencia ao chamado “terno estofado”- sofá de três lugares acompanhado de duas poltronas. Foste para o quarto do casal; eu e minhas companheiras, para a sala. Um belo, jovem e garboso sofá, recém-saído da loja, revestido de tecido reluzente, ladeado por poltronas dotadas de fofas saliências e reentrâncias recobertas de tecido acetinado ao toque... Um paxá sempre me senti e se me passou pela cabeça alguma preocupação, logo tratei de tirar, dada a naturalidade com que sempre foi vista essa bigamia. Vejam só como são as coisas...

Ganhei lugar de destaque na chácara sobre o tapete de couro de boi, com vista para o açude. Já tu, poltrona amiga, respeitada só nos primeiros tempos (mais tarde me confidenciaste), colocada num canto do quarto, logo começaram a te atirar roupas por cima ou esqueciam a janela aberta e te deixavam torrando ao sol, no verão. Prova disso é tua coloração ocre muito longe da beleza original.

O tempo, acompanhado da TV, da pipoca, do refrigerante, do tênis sujo, das pontas do espiral dos cadernos das crianças, das agulhas de tricô esquecidas, dos caldos de sopa ou café derramados e tudo mais se encarregaram de me detonar e eu acabei neste estado deplorável. Minhas poltronas companheiras há muito me abandonaram. Foram revestidas de tecido novo e levadas para o consultório da filha do casal. Daí te trouxeram pra perto de mim. E também teu choramingo: ”Não posso morrer sem conhecer a Praia do Laranjal!”

Querendo ou não, passei a tomar esse compromisso como meu. Passei a conversa no cara que ia nos deixar no lixo reciclado, contei a nossa história, coisa e tal. E aqui estamos os dois, juntinhos, no caminho para o Pontal da Barra, apreciando a calmaria das águas da Lagoa dos Patos. Promessa feita, promessa cumprida!


Setembro/2013
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4 comentários:

Gerson disse...

Tchêêê Vaz, muito interessante essa estória, como diz na música dos Feevers "Promessa é uma dívida e você tem que, pagar"....

Claudete disse...

Mas, bah! Essa minha irmã sabe escrever bonito!!! Parabéns, Giséle!Que beleza a trajetória desse sofá e dessa poltrona. E que continuem os "causos" dos sofás abandonados.
Abraços

Claudete

Luiz Carlos Vaz disse...

Verdade, Gerson. A Gisele é outra cronista bageense que vamos contratar aqui para o Blog.

Luiz Carlos Vaz disse...

Isso vai virar minissérie, Claudete, A saga dos sofás abandonados, rsrsrs