28 de setembro de 2013

Saudade de Portugal

José Gomes, repr fotográfica por Alexandre Costa Santos

Saudade de Portugal
José Rodrigues Gomes Neto

Estive poucas vezes lá e não é desses dias que sinto falta.

Meu avô – José Rodrigues Gomes - veio de lá, com quatorze anos de idade, em 1877, a bordo de um navio, prestando serviços em troca da passagem.

Aqui, como era comum naquela época, ele foi recebido por uma família que já viera de lá, antes.

Não fez nenhuma escala, o que muitos faziam. Veio direto à Pelotas.

Logo começou a trabalhar em atividades modestas e morava em um quarto que lhe fora destinado pelos seus anfitriões.

Trabalhava, trabalhava intensamente, com o objetivo de capitalizar-se, guardando cada moeda que ganhasse, pensando em abrir seu próprio negócio.

Casou jovem, muito jovem, com Anna Bandeira da Nova.

Nesses dias, ele começara a trabalhar em uma fábrica  de beneficiamento de fumo Não demorou muito, assumiu o cargo de gerente  e, pouco tempo depois,com o falecimento do dono, comprou o estabelecimento. Para isso, teve de recorrer a empréstimos, o que obteve com alguns compatriotas, a quem já se ligara por laços de amizade e que confiavam em sua honestidade e competência.

Isso deveria ser lá por 1900, quando já lhe nascera o primeiro dos onze filhos que teve.
Deu à sua prole, e à sua mulher, uma vida confortável, chegando mesmo a amealhar um patrimônio considerável.

Viveu até aos 82 anos de idade, apenas seis meses após ter perdido sua companheira de toda a vida. Não me move, aqui, a intenção de traçar a bio grafia do meu avô, que, praticamente um menino, deixou a Povoa do Varzin, seus pais, e tudo o mais que lhe cercava, e veio para a América, fazer a América.

Hoje pensei nele porque vi uma foto sua feita em louça e ali ele aparece com “plastron” e com uma fisionomia forte,  que demonstra ser um homem decidido.

Fiquei comovido, primeiro porque eu tinha apenas dez anos quando ele faleceu e não tive a oportunidade de trocar idéias com um homem, que depois, pela voz dos amigos dele e pelos testemunhos da família, pareceu-me farto em qualidades.

Dei-me conta, então, que, ele e tantos outros portugueses que vieram para cá, fizeram de Pelotas uma grande cidade e que hoje desfrutamos deste legado graças ao espírito empreendedor desses desbravadores corajosos.

Por que dei a esta crônica o título Saudades de Portugal?

Porque, olhando para sua foto, sinceramente emocionado, fiquei pensando quantas saudades lhe acompanharam pela vida, pois ele nunca mais voltou lá.

Então, pela minha condição, a de neto, que tem o seu nome, senti as saudades que eram dele.

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4 comentários:

Gerson disse...

Tchê Vaz, por meio desta cronica vejo no José Rodrigues Neto, um novo Guasque, e pelo jeito se ele abrir esse baú teremos boas estórias de família para ler e apreciar aqui no blog. Um baita abraço José e te estimulo a fazer mais crônicas para lermos aqui no blog. Tchê Vaz um baita e macanudo abraço.

Luiz Carlos Vaz disse...

Gracias, Gerson.
Ele é um ótimo cronista... vamos ver se "compramos" mais direitos autorais dele..
Abraço
Vaz

Anônimo disse...

Vazamigo

Primeiro que tudo, apresento a Vossa Insolência toneladas e quilolitros de desculpas, pois não venho aqui desde o Triássico, ou seja no período em que os dinossauros enchiam a Terra, antes do meteorito fatal.

Muitas e variadas razões tinha para aqui mencionar - e Vossa Insolência merece-as - mas de ingratos estão os cemitérios cheios... :-) Adiante.

Assim, aqui estou, de baraço ao pescoço, qual Egas Moniz perante o Rei Afonso Henriques. Mas, vamos ao que interessa.

Esta Saudade de Portugal é linda; ainda pensei que o texto fosse assassinado, ops, assinado por um tal Luiz Tchê Vaz (de acordo com o Gerson), mas é da autoria do José Rodrigues Gomes Neto.

Coisa bonita e misteriosa a saudade, palavra que só a língua portuguesa possui; ter saudades de alguém é uma mistura indissolúvel de nostalgia, tristeza, dor e sentimento. Só a língua romena tem algo semelhante: dor. Assim mesmo.

Pronto, aqui fica a minha intervenção talvez um tanto longa, mas enfim...

Qjs & abçs convenientemente distribuídos por toda a família, a começar pela Maribel, e um abção para tu.

Henrique
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PS - Espero visita e comentário lá na Travessa e aproveito o ensejo para um pedido, que não são €€€€€€€...

Quero ter a tua colaboração no nosso blogue. Texto à tua escolha. Tamanho 30/40 linhas em corpo 14. Periodicidade: mensal. Aguardo resposta POSITIVA que podes postar lá... Obrigado

Luiz Carlos Vaz disse...

Com certeza, Ferreiramigo, vamos acertar os Euros, rsrs
Abraços a toda Lisbótima!