3 de agosto de 2020

Filhos... Filhos? Melhor não tê-los!

Arthur em Curral Alto - Foto Luiz Carlos Vaz


Filhos... Filhos? Melhor não tê-los!
Mas se não os temos/ Como sabê-los?
                                                               Vinícius de Moraes
Luiz Carlos Vaz (*)

Há 15 anos minha vida mudou de rumo. Uma freada brusca mudou a direção natural que eu vinha seguindo. Diminuí as idas ao cardiologista e passei, novamente, a frequentar o pediatra. Parei de comprar os remédios para a pressão e comecei a me importar com o preço do Tylenol bebê e seus genéricos!

Voltei a frequentar as sessões infantis dos magazines de “roupas para toda a família”, o setor de brinquedos da América Latina, e as prateleiras de livros juvenis da Mundial. Comecei a buscar matrícula numa escolinha e a levar e buscar um filho no colégio.

De repente fui impedido de continuar o caminho da “terceira idade” e fui obrigado a me comportar outra vez como um jovem. Ensinar o filho a caminhar, a andar de bicicleta; comprar talco Jhonson e cantar as velhas canções de ninar voltou à minha rotina. Comecei a ver os netos também como filhos e todos acabaram crescendo juntos.

Hoje, quando o Arthur completa 15 anos, e vi pela porta do banheiro que ele estava fazendo a barba, só pude repetir a velha frase: Parece que foi ontem! O três de agosto de 2005 foi um dia quente, fez um calor que se estendeu até tarde. O Arthur nasceu às 19 horas, e naquela sua primeira noite entre nós, lembro que dormi de janela aberta no Hospital São Francisco, enquanto, no quarto ao lado, “Mãe e Filho passavam bem!”

Na família os papeis de pai, filho, tio, sobrinho e neto acabaram sendo uma coisa só, e há pouco tempo, nos encontros de Natal e aniversários, a criançada anda não sabia bem quem era primo de quem, quem era sobrinho de quem, e como era possível ter um irmão muito grande e um muito pequeno.

Sou um homem feliz. Tenho onze filhos. Seis com pimenta e cinco com açúcar! Descobri há pouco que o nosso sobrenome “Santos” está relacionado à família de Alberto Santos Dumont... por isso posso receber, já sem espanto, num mesmo dia, uma foto da gelada Antártica, uma do verão da Califórnia e outra do Canadá; pelo whats pode chegar uma imagem das muralhas da China, de um metrô de Tóquio ou Hong Kong; pelo Instagram fotos do museu Hermitage, em São Petersburgo, do Vaticano, da Finlândia, de Havana ou Varadero; cenas gravadas no Chile, no Peru, em Montevideo ou Buenos Aires... aventuras de um safári na África do Sul, passeios pela Áustria, em Berlim, na Tailândia ou nos Emirados; selfies tendo ao fundo Londres, Amsterdã, Paris e, claro, mostrando também as praias do Cassino ou do Hermena... “lives” feitas de Porto Alegre, das Minas Gerais, de Brasília, do Rio ou de Natal; mas também do Bolaxa, da Hulha ou de Rio Branco e Jaguarão.

E eu... continuo sempre correndo atrás deles, mas agora, claro, com a certeza de não poder mais alcançá-los e abraçá-los todos juntos, pois criaram asas e já não cabem todos na mesma fotografia.
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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e editor deste Blog


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