13 de maio de 2021

O Idoso Vitruviano

 

                                                                    Foto Maribel Felippe

O Idoso Vitruviano

Luiz Carlos Vaz (*)

Pois então... eu aguentei 43 dias! E não me entreguei pros homi. Mais tempo do que muita gente bagual, que amargou parcos 40 dias, ouvindo promessas, propostas, mas no final se safou!  Eu ouvi de tudo; promessas, propostas, aguentei tentações várias. Até de dizer nome feio, mandar todos longe, e sugerir lugares inapropriados onde poderiam “aplicar” a tal segunda dose. Consultei o Dr Google (que sabe tuuudo!), livros antigos e novos, teses, pesquisas, principalmente da universidade de cincinatti-massachusetts-ohio, e até o Guia de Medicina Homeopática do Dr Nilo Cairo... eu precisava vencer - e me convencer, que a demora não iria mandar tudo prás cucuia.

Então fui tomar a segunda dose da vacina no horário dos jovens velhos, que é depois de sestear... Para comprovar minha tese, soube que por volta das nove da manhã, no estacionamento do draivetru, não cabia mais nem um monociclo...  tomei um banho, me perfumei bem e, como fazem as mulheres, abri o guarda-roupas e bradei em alto e bom som: Eu não tenho mais roupa! Ora, era a minha segunda dose. Era a minha derradeira oportunidade de escrever bobagens e postar uma foto nas redes sociais, até por que, nunca vi alguém postar foto fazendo vacina contra a gripe. Que coisa mais brega!

Já tinha visto na tevê pessoas encasacadas fazendo um verdadeiro strip-tease para mostrar o braço (ora, logo o braço...) e decidi: vou “de camisa de manga curta”! O frio que se foda. Mas... conhecendo bem nosso clima aqui, e o efeito cebola, muito próprio aqui da cidade, imaginei que às duas da tarde todo mundo já ia andar “descascando” e com as roupas grossas no braço. Aí, passando o chilique de “não ter o que vestir para essa ocasião”, achei uma camiseta com a estampa do Homem Vitruviano, do Leonardo, que eu comprei uma vez ali “ao lado da Fontana”... na hora, lembrei do samba do Noel, e decidi: é com essa roupa que eu vou para esse samba.

Depois do batalhão de enfermeiras disputar no tapa a aplicação da minha dose, na hora da foto, uns dez ou quinze cinegrafistas e repórteres me cercaram, e não resisti. Fiz a pose do Homem, digo, do Idoso Vitruviano e lasquei: Este é o verdadeiro Renascimento para a Vida!

Mas... como sempre, a Maribel – que me acorda sempre nas horas mais impróprias dos meus devaneios, disse: Vaz, chega de sestear, te veste, a fila diminuiu, vamos lá!
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Esse desenho de Leonardo Da Vinci atualmente faz parte da coleção da Gallerie dell'Accademia (Galeria da Academia) em Veneza, Itália. É datado de 1490; a técnica é singela: lápis e tinta sobre papel, e mede, os “maiores”  34 × 24 cm do mundo...

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Eu tento me divertir para espairecer. Isso faz parte da minha condição humana. Só lamento que, neste momento quase meio milhão de brasileiros tenham morrido pela falta de vacina. Milhões de pessoas estejam morrendo pela falta de comida. Milhões estejam morrendo na rua, pela falta de moradia digna. E milhões ainda vão morrer pela falta de presente e de futuro. Um míssil Tomahawk, um único missilzinho desses, que é jogado todo dia na cabeça de crianças inocentes, custa a bagatela de 1,59 milhões de dólares. Mas...

(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, fotógrafo e Editor deste Blog

Um comentário:

J.L. disse...

Muito bom!...
É, quase três mil mortos por dia só por Covid, e ninguém parece ter responsabibilidade nenhuma por isso... pensando bem, em alguns lugares um Tomahawk até saía barato!