6 de março de 2022

Minha terceira vez


 
Maria Clara Michels Pinho (*)

    Dizem que o terceiro é o melhor. Mais perfeito, mais feliz, mais duradouro...Neste meu caso eu não sei. Ah, peguei vocês! Não, eu não falo de companheiro, marido, amante, namorado ou ficante, destinos dessa assertiva feita. 

 

    Numa tentativa de manter o bom humor e a alegria- que decididamente estado de ânimo é importante- eu estou falando sobre estar mais uma vez, a terceira, com câncer. E estou conseguindo me manter tranquila, rindo muito como sempre, o que fez minha filha me abraçar chorando quando soubemos e dizer que sou a pessoa mais forte que ela conhece.

 

    Na realidade, tão forte como tantos por aí, tanta gente da família e amigos que tiveram ou tem esta doença que antigamente era chamada de " aquela doença ruim", mas que hoje pode ser plenamente curável. E que por ter possibilidade cada vez maior de tratamento e cura, deve ser prevenida, examinada, estudada por nós todos, cada vez mais atingidos devido a estarmos ficando longevos e comendo cada vez pior, alimentos cheios de produtos indesejados, água contaminada, vivendo em ambiente poluído, sempre estressados, sempre correndo...

 

    E é por isso que falo tão claramente sobre essa minha terceira vez. Porque a palavra câncer tem de ser exorcizada, a doença em si não pode ser mais escondida, não deve ser estigmatizada, temos de enfrentar como a qualquer uma outra, sem melancolia, sem lágrimas ( talvez algumas, no início do processo de aceitação), com força e coragem, porque realmente acredito que um ânimo elevado, uma boa disposição ajudam...

 

    E é isso. Cirurgia marcada para terça- feira próxima, com o Dr. Ricardo Haack, que além da competência traz mais alguma coisa para o pacote, pessoa que, com as irmãs, brincou com meus filhos na infância e de quem sempre fui muito amiga da família. E após, acompanhamento clínico com a Dra Silvia Saueressig, outra que tem me acompanhado com carinho e profissionalismo. E, como o Ricardo, é amiga e ainda é prima em segundo grau.

 

    A Ju, a Luna, o Nico, meus cunhados Paulo e Ala me acompanham todo tempo: levam e trazem dos exames, dos consultórios médicos, dos processos de internação e , em casa, não me deixam fazer nada. E as manas também já estiveram comigo oferecendo apoio e ajuda no que for preciso, mas acho que tiramos de letra. Só me restando agradecer.

 

    Como da última vez, há dois anos, o meu pedido: sem choro, sem vela, sem fita amarela. Carinho sim, lamentações não. Nada de mensagens tristes, que triste não quero eu ficar, reze quem for de orações, torça quem preferir , mentalizem os místicos todos e mandem beijos, abraços , o afeto de vocês e só.

 

    É isso que eu quero e é isso que eu espero de vocês. Aqui já estamos todos fortes, dispostos a enfrentar mais essa e a comemorar com muito ruído depois. 

 

    Como disse a Sílvia: pensa que é só mais um. No meu currículo, essa vai ser a 15a. cirurgia . Só mais uma, então. 

 

(Para a mãe, esteja onde estiver: "Estou arredondando, mãe!". Porque ela ia contando a cada vez que me operava e brincava quando se chegava a um número quebrado"  vamos arredondar, vamos arredondar!" E quando tive câncer pela primeira vez e a palavra ainda era um palavrão, há mais de 30 anos, ela me acompanhou a todas as sessões de quimioterapia, sempre preocupada, sempre de mãos dadas...)

 

(*) Maria Clara é Jornalista e mora em Pelotas

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