Pieter
Bruegel, o Velho |
“Vamos construir uma cidade com uma torre altíssima,
que chegue até aos céus;
dessa forma o nosso nome será honrado por todos
e jamais seremos dispersos pela face da Terra!”.
Gênesis 9:4
Luiz Carlos Vaz (* )
Impressionante como a falta de noção das mínimas coisas reais tem afetado a criatura, que se diz humana, atualmente...
Estamos vivendo no início deste
século XXI uma demonstração clara de falta de visão da realidade. Esse
repentino desejo de construir o maior edifício do mudo, a maior estátua do mundo,
é mostrado a todo momento pelos noticiários de tevê, jornais (ainda existem?) e
das “redes sociais”. Desde Dubai, onde há bilhões de petrodólares esperando para
entrar em ação, até uma praiazinha chinfrim aqui do Sul, onde a maior preocupação
dos “turistas e moradores” é o preço do milho verde! Bah! Me poupem desse
vexame!
Fico pensando que faltará gente “de bem”
para morar nessas torres todas, além de imaginar a humilhação que será para a
vizinha do “20º andar”, quando encontrar no elevador a moradora-proprietária do
“200º andar”... Pensem no olhar que a “madame do duzentos”, com um filhote de
dinossaurinho no ombro, lançará para a pobre milionária de um andar a 300
metros abaixo de sua cobertura, e que carregará consigo apenas um mísero
ursinho polar, que vai se mijar de medo, do tal filhote de dinossauro, que custou três milhões de dólares, que foi
clonado a partir de um DNA antigo, descoberto nas geleiras do Groenlândia,
agora o 55º estado americano (ou já será o 56º, ou 57º...?).
Escrevo isso enquanto lembro das pessoas
que vi, quando voltava da Casa Lotérica, mexendo e remexendo nas lixeiras aqui
das ruas da minha cidade, disputando com os cachorros os restos de pizza que
ficaram colados nas embalagens sextavadas de papelão. Sim, fui conferir meu
jogo, eu quero tirar na Mega, eu quero descer pra becê!
Dois pensamentos me atormentam nessas
situações: o primeiro é como seria fácil acabar com a miséria e dar dignidade a
todos os seres da terra. Dinheiro não falta, é suficiente para terminar com a
fome no mundo, umas cem vezes; o segundo é a tradicional e canalha sentença: “Oferece
um trabalho prá essa gente e vais ver que eles não querem trabalhar!”.
Enquanto isso os mega bilionários em
frente ao espelho ficam batendo boca e dizendo uns para os outros: “olha bem, o
meu é maior que o teu”, e sacodem (ops!) os projetos, as plantas, os croquis
com as fachadas das futuras Torres de Babel que, como se sabe, jamais alcançarão
o Céu.
Acho que vou descer prá becê.
Mas... quanto tá o milho verde lá, hein?
(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e
Editor deste Blog