27 de setembro de 2025

QUANDO TERMINA O INVERNO...

 

Imagens do arquivo do autor


Pedro Bittencourt Jr. (*)

 

O inverno acabou. Que pena.

Não mais a sopa de capeletti, a lenha estalando na lareira, as noites de vinho tinto;

Quando termina o inverno, vão-se os bolinhos de chuva, as tortas fritas roda de carreta, vai-se o chimarrão na janela.

O inverno acabou. Que pena.

Não mais a gabardine nos dias de garoa, o casaco pesado do Uruguay, a jaqueta corta vento, de vinte e nove e noventa, comprada nos camelôs;

Quando termina o inverno, somem as meias furadas, o pijama bege calcinha, desaparecem as pantufas felpudas e as botinas de couro marrom.

O inverno acabou. Que pena.

Não mais a preguiça nas manhãs de domingo, as tardes de descascar bergamota ao sol, as noites com os pés procurando outros pés por debaixo das cobertas;

Quando termina o inverno, vai-se o por do sol do inverno, vão-se os suspiros de inverno, vão-se as promessas de inverno...

O inverno acabou. Que pena.

Viva a primavera!!!

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 (*) Pedro Bittencourt Jr. é de Arroio Grande, advogado de profissão, escritor e poeta.

23 de setembro de 2025

Claudia Cardinale

 

Poster com a cena do filme Os Profissionais


Luiz Carlos Vaz (*)

    Ainda estávamos nos anos sessenta quando uma revista publicou um poster dela;  era uma foto de uma cena do filme Os profissionais. Mesmo que impressa em preto e branco, aquela imagem, além de ganhar cor, mostrava movimentos, sons... e era um mistério. Ajeitei um pedaço de papelão reforçado, colei a folha da publicação e pendurei na parede do meu quarto, de modo que quando eu estivesse deitado, ela ficasse sempre ao alcance dos meus olhos, me olhando, falando comigo, sorrindo.

       Fui crescendo, e meu amor por ela também crescia. Até em maior grandeza do que de meus músculos e ossos, eu creio.

       E vieram outros tantos filmes; Era uma vez no Oeste, Rocco e seus irmãos, Oito e meio, O Leopardo, Fitzcarraldo... e, mesmo não morando mais naquela casa da minha infância e adolescência, a imagem daquela mulher da fotografia, que supostamente teria sido sequestrada por Jesus Raza, sempre habitou meus sonhos e delírios. Eu sei, claro, que aquele sorriso também era por Raza. Só que ela sempre esteve ali, presa na parede do meu quarto. E era só minha. Só minha! E eu a amava...

         E agora me dizem que ela morreu...

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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e Editor deste Blog

30 de agosto de 2025

"As pessoas não morrem, ficam encantadas" (*)

 

L.F. Veríssimo e livros. Uma coisa só...

            Quem atura minhas conversas no Mercado sabe que sou um baita puxa-saco do Hobsbawn. Conheci esse cara graças à Professora Letícia, quando era aluno do PPGMP. Foi amor à primeira vista. Ele já havia traduzido em palavras tudo aquilo que eu pensava sobre Tradição, Memória... e outros temas dessa área toda que me encantam.

            Há tempos encontrei na Livraria Desterrados, do Tasso, um livro dele. E, de bônus o prefácio era do LFV, um cara que eu acompanhava desde que ele publicava a tirinha As Cobras, na maravilhosa Folha da Manhã, da “séria” Companhia Caldas Jr. (Agora viajei aos distantes anos 70...) Tão logo o LFV publicou seu primeiro livro, O Popular, tratei de ir até a Livraria do Globo e adquiri meu exemplar. Lia ardorosamente suas crônicas, e cheguei a escrever ao cronista, reclamando que numa charge sobre uma “festa de fim de ano em POA”, estava ausente a personagem “Eumir”, rsrsrs. Que desaforo! De nós dois, claro. Dele pela supressão do Eumir na festa; meu, por reclamar. Falei isso para ele, em julho de 2011, no aniversários de 200 anos de Bagé, ele achou graça, claro, mas não quis comentar...



https://velhaguardacarloskluwe.blogspot.com/2011/07/bage-bicentenaria-una-noite-de_15.html


             Ler o Veríssimo era uma alegria.

              Era? Desculpem. É, e será sempre!

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Tenho a mania de guardar as notas fiscais dentro dos livros. Mania? TOC? Olha... pode ser uma fonte de pesquisa num futuro distante...


(*) frase de Guimarães Rosa

9 de agosto de 2025

Meu Quixote no Pequeno Inventário de Plateias


 

Luiz carlos Vaz (*)

Conheci através do Instagram um grupo chamado “Pequeno Inventário de Plateias - Cinemas de Pelotas”. Como o cinema é um tema que me interessa, comecei a seguir, fui fazendo alguns comentários nas publicações, até que um dia o pessoal entrou em contato comigo e me pediu um depoimento. Puxa, eu não podia negar... O tema era o de uma crônica que publiquei num dos meus últimos livros, sobre um filme que tentei assistir no antigo Cine América, lá em 1976... Sim, tentei, pois logo na primeira parte faltou “luz”!

Séculos depois, num domingo de manhã, a minha amiga Mirian Iost me mandou uma mensagem com uma foto do Cine América; conversamos sobre o que ela queria saber, e lembrei que nunca mais havia me encontrado com o filme de Arthur Hiller, O Homem de La Mancha.

Era domingo, acessei uma dessas coisas que chamam de “streamings” e achei o filme! Fiz meu mate, e num obsequioso silêncio de 8 horas da manhã, me reencontrei com o valente Cavaleiro Quixote, a belíssima Aldonza e o Sancho. Ah! E com os temíveis Moinhos Gigantes...

Fernanda Machado, L.C. Vaz e a ilustração da Artista

Esta semana recebi o convite para a abertura da Exposição, pois minha narrativa foi uma das escolhidas, e mais, foi ilustrada com uma criatividade digna da grandeza dessas figuras todas, pela artista Fernanda Machado. Ontem, na exposição, tive o prazer de conhecê-la e conversar bastante sobre essas coisas todas. E hoje, literalmente, “trocamos figurinhas”: autografei a ela meu livro MEMÓRIAS DE UM MAU TEMPO (edições Ardotempo, Porto Alegre 2023) - onde está publicada a crônica, e ela me presenteou com uma Gravura feita na técnica de monotipia em vidro. De inhapa fiz amizade com a María Isabel Anita Carmen de Jesús Vargas Lizano, ou... para os íntimos, Chavela Vargas, que aparece numa das fotos junto à Roberta.

"Trocando figurinhas", e a Chavela posando para a foto!

Mas... a canção entoada pelo Cavaleiro da Triste Figura e seu fiel escudeiro, Sancho, até hoje não sai da minha memória... “Ouçam bem a história que vou lhes contar/ De um mundo injusto e cruel/ Um senhor cavaleiro de nobre ideal/ Empunha sua lança no ar/ Eu sou eu, Dom Quixote/ Senhor de La Mancha/ E o meu destino é lutar/ Pois quem não se aventura/ Com fé e ternura/ O mundo não pode mudar/ Não pode o mundo mudar/ Quem não se aventurar/ Sou Sancho! Sim, sou Sancho!/ E hei de servi-lo sempre assim/ Eu juro que me orgulho/ Escudeiro até o fim/ Infiéis, imorais e serpentes do mal/ É chegada a hora da lei/ Pois o dia raiou com esperança afinal/ No mundo que eu sempre sonhei/ Não pode o mundo mudar/ Quem não se aventurar...”

Em tempo, a exposição que inaugurou ontem, 8 de agosto, pode ser visitada até o dia 8 de setembro, no Espaço de Arte Daniel Bellora, na rua Três de Maio, 1005 – Pelotas, (53) 4001-2225. 

Dica: Tem pipoca no local !

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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e Editor deste Blog


2 de agosto de 2025

Honrando a Pátria

 

Ilustração de Samuel Walters, pintor inglês (1811-1882)


Henrique Pires (*)

 

Era agosto. Mais precisamente, dia 24 do ano de 1848. O Brasil havia encomendado da Inglaterra um barco de guerra – uma fragata – e como a encomenda estava pronta, foi enviado o então Capitão de Mar e Guerra Joaquim Marques Lisboa para fazer os testes de praxe e depois conduzir a nave ao Brasil.

Lisboa tinha 41 anos e havia sentado praça na Marinha aos 14, como voluntário, e já era, naqueles tempos, um dos mais destacados oficiais navais brasileiros. Dom Afonso foi o nome dado ao moderníssimo barco que seria entregue aos brasileiros, movido a vapor. Num autêntico “test-drive” zarpou do Porto de Liverpool para o passeio e entrou oceano adentro naquela brumosa manhã britânica.

Mas era agosto, sempre é bom lembrar.

O Capitão Lisboa, gaúcho da cidade de Rio Grande, ia conduzindo a nova fragata, que zingrava repleta de convidados ilustres do governo brasileiro, como Dona Francisca, irmã do Imperador; seu esposo, o Príncipe de Joinville; a Princesa das duas Sicílias e seu esposo Duque de Aumalle; dentre outros tantos que desfrutavam da excursão experimental. Eis que um marinheiro avisou que – ao longe – dava para ver um enorme barco incendiando. Lisboa ordenou que corrigissem o rumo e foi até o local da fatalidade, onde ardia em chamas o Ocean Monarch, um moderníssimo navio de carga construído em Boston e navegando há apenas um ano com a bandeira norte-americana, levando 396 pessoas – àquela altura, em pânico – a maioria imigrantes que deixavam o Velho Continente com destino aos Estados Unidos da América.

Com o navio incendiando, 60 pessoas já haviam se jogado ao mar, outras tantas permaneciam em meio ao fogo e às espessas colunas de fumaça negra que em pouco tempo tomaram conta de toda a enorme embarcação que zarpara naquela mesma manhã. A ação do futuro Almirante Tamandaré, o capitão Lisboa, resultou no salvamento de 160 pessoas embarcadas, mais os que estavam no mar.

Outras embarcações deslocaram-se para ajudar, sendo os brasileiros responsáveis por conseguir salvar em torno de 200 pessoas. A fatalidade vitimou mais de 100, que sucumbiram em meio ao desastre.

Dom Pedro II, quando soube de tudo, ficou tão impressionado com a bravura dos marinheiros brasileiros que imediatamente determinou que um prêmio de 100 libras (uma pequena fortuna na época) fosse rateado entre os tripulantes do Dom Afonso.

Aí o mundo teve a oportunidade de conhecer mais um ato que honrou o Brasil: os tripulantes, por conta deles, decidiram que o dinheiro seria repassado para aquelas pobres famílias sobreviventes, que perderam seus bens materiais todos no naufrágio do Ocean Monarch. Assim foi feito.

Eram outros tempos. Naquela época, honrarias não eram vendidas por militares em lojas de penhores e os nossos líderes em viagem orgulhavam nosso país. Outros tempos, mesmo.

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(*) Henrique Pires é jornalista e historiador.


19 de julho de 2025

A Água Milagrosa De Cacimbinhas

 

Fotos do autor


Juarez Machado De Farias (*)

 

Fui a Pinheiro Machado

- que chamavam Cacimbinhas -

e no centro urbanizado

pessoas são formiguinhas

que levam bolsas, pacotes,

sobre os ombros apressados,

e nem me olham seus olhos,

olhos de mim desviados

porque sou alguém estranho,

porque ali não fui guri,

eu sou de outro rebanho,

venho de Piratini.

 

Mas a Igreja está aberta.

E a senhora da faxina

me diz boa tarde e sorri,

e sua boca se ilumina,

conversa naturalmente

e responde ao que pergunto,

é só com ela - afinal -

que eu encordoo um assunto.

Nossa Senhora da Luz

é a santa milagrosa

que curou o estancieiro

da cegueira perniciosa

somente com aquela água

que jorrava de uma fonte,

lavou os olhos e já

vislumbrou o horizonte.

 

Então, Seu Dutra de Andrade,

não  por acaso José,

o estancieiro curado

passou a ter grande fé.

E fez nascer a igreja

que não é só mais um prédio

pois nela ainda jorra a água

que pro homem foi remédio.

 

A cacimba é bem tampada

e é construção mui bela.

Não carece de fineza,

sua beleza é singela.

A senhora da faxina

diz que muitos bebem dela,

basta apenas pressionar

em uma  tecla amarela.

 

Me despeço sem beber

por falta de recipiente

mas contemplo a transparência

daquela água corrente

que ensopa o piso da área

onde viceja um jardim,

queria que aquela água

corresse dentro de mim.

 

Em outra vez que eu voltar,

faça calor, faça frio,

chegarei na velha igreja

com um vasilhame vazio.

Vou beber solenemente

pra depois sair dali

rezando - dentro da mente -

pelo saudoso Delci.

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(*) Advogado, Locutor e Operador de Som na Rádio Nativa FM de Piratini

24 de junho de 2025

aos olhos de Ernesto

 




Luiz Carlos Vaz (*)

Aos amigos 70 +


[ou 40, 50, 60 +... nunca se sabe exatamente a idade de ninguém!]


Assisti, comovido, o filme “Aos olhos de Ernesto”...

Por vezes imaginamos que já vimos de tudo, ouvimos de tudo e nada mais pode nos surpreender. Engano!

 

Feito como “cinema”- mesmo - o filme nos coloca diante de vários dramas comuns e as diversas formas de viver e enfrentar as características do passar dos anos. Não se poderia esperar menos de uma produção que tem o logo da Casa de Cinema de Porto Alegre logo no início dos créditos onde ficamos sabendo que “é dirigido por Ana Luiza Azevedo e co-escrito por ela e Jorge Furtado, com produção executiva de Nora Goulart. O longa-metragem, com duração de 123 minutos, foi filmado em Porto Alegre e Montevidéu.”

 

Passeando por várias citações literárias, numa das tomadas pude rever a amiga Atena Beauvoir Roveda numa cena de rua, declamando um poema. Mais uma surpresa, que está num filme feito em 2019, mas que só assisti ontem... acho que foi coisa daqueles anos tristes, das “duas pestes” nos ameaçando...

 

Na sinopse ainda podemos ler: “Aos olhos de Ernesto” acompanha um fotógrafo uruguaio que está perdendo a visão por conta da velhice, mas tenta disfarçar achando que consegue enganar a todos. Porém, surpreendentemente, o senhorzinho descobre que ser velho não é de todo negativo e que ele ainda pode se divertir e rejuvenescer, fazer amizades e se apaixonar aos 70 anos.”

 

Assistam, mesmo que vocês sejam só do 20 ou 30 +... pois um dia (espero) vocês chegarão lá. Tomara!




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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e Editor deste Blog

19 de junho de 2025

A Vida é efêmera como um guarda-chuva

 

Foto pelo autor


Juarez Machado De Farias (*)

Eram oito horas da manhã quando eu cruzei pela rua central de Piratini e fotografei o guarda-chuva jogado na calçada, todo desconjuntado, imprestável para cumprir seu mister.

A pessoa que o abandonou sequer pensou em dar-lhe um destino digno: colocar em uma das lixeiras verdes postas pela Prefeitura Municipal. O guarda-chuva teve um fim melancólico.

Mario Quintana escreveu:

"Onde vão parar os guarda-chuvas perdidos?"

Neste caso, a coisa é mais grave. Esse que vi hoje foi abandonado devido às avarias de suas varetas por conta dos ventos que assolaram nosso Estado.

Objeto inventado para proteger as pessoas da chuva, tradicionalmente, preto, portanto, de cor sóbria, foi descartado indevidamente para atrapalhar pedestres e ficar ainda mais desconjuntado após ser atropelado pelas rodas dos carros.

Guarda-chuvas são, mesmo, elementos precários do mundo inanimado. Em certa ocasião, recusei comprar um - que me ofereceram -, todo colorido porque pensei mais adiante e antevi sua ruína. Ainda que a propaganda seja convincente do vendedor, todos sabemos que guarda-chuvas duram pouco.

Nós, humanos, arrogantemente autodefinidos como Homo sapiens, somos como guarda-chuvas. Por mais que nos cuidemos, nossas matérias também vão sofrendo avarias até alcançarmos o fim de nossa trajetória. Triste é acabarmos como esse, jogado ao léu.

A vida é efêmera como um guarda-chuva

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(*) Advogado, Locutor e Operador de Som na Rádio Nativa FM de Piratini

31 de maio de 2025

A (minha) Vida (também) é Bela

 

Foto @jornalistavaz


Márcia Duarte


Se eu olhar para minha vida, diria que no passado era difícil pensar em um futuro melhor.

Muito do que sou hoje foi conquistado a duras penas.

Eu me libertei. E isso, por si só, é algo digno de celebração, pois quantas pessoas desejariam ser livres? Quantas não conseguem enxergar uma vida melhor por não terem condições de se manter? Quantas ainda estão aprisionadas no medo, na insegurança e na desesperança?

São sentimentos que conheço muito bem.

Acho que estou bem apesar da árdua batalha pela qual tenho passado.

É difícil abrir mão de sonhos que não se concretizaram.

É difícil pensar que tanto potencial está aprisionado num lugar onde não existe a menor identificação profissional.

E é difícil entender que eu não escuto. Mais difícil ainda é explicar para as pessoas que não sou obrigada, automaticamente, a saber a língua de sinais porque minha língua é o português.

Eu não entendia até dizer para alguém: "esse foi o maior absurdo que já OUVI".

A ficha caiu e eu percebi que meu cérebro funciona como o de um ouvinte, mas meus ouvidos não.

Vejam: eu não estou reclamando da vida. Ela é bela, há pessoas incríveis no meu mundo, pessoas com as quais me identifico e respeito.

Estou apenas dizendo que um lado meu está infeliz e quer, desesperadamente, encontrar um caminho para seguir adiante e ter todo o potencial expresso e utilizado em algo satisfatório.

Quero me sentir realizada. Plenamente capaz de estar neste vasto mundo.

Tenho me questionado incessantemente, tenho procurado as respostas e ainda não as encontrei.

E isso, meus caros, é uma jornada silenciosa e barulhenta ao mesmo tempo.

Se tenho silêncio do mundo externo, por outro lado, meus barulhos são tão intensos quanto as ondas do mar nas pedras dos molhes da barra* em um dia de tempestade.

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(*) Molhes da barra da Praia do Cassino.

Foto tirada por @jornalistavaz no Mercado Público de Pelotas.

Márcia Duarte, 52 anos, pedagoga, leitora voraz e escritora nas horas vagas.
Pós-Graduada em Leitura e Produção textual pela UFPel, publicou o texto Uma Menina querendo ser jornalista no livro Algumas muitas ideias sobre alfabetização literária, organizado pela professora Cristina Maria Rosa, em 2024.

17 de maio de 2025

¡No, no puede ser!

AG Schlee, em Montevideo, frente a La Popoñita,
lugar de encontros com Benedetti. Foto L.C.Vaz


Tradutor de Mario Benedetti (14-12-1920/15-07-2009), o escritor Aldyr Garcia Schlee se despede emocionado do seu velho e querido amigo uruguaio. (*)


 Morreu domingo, enquanto dormia, um dos últimos viúvos de Margaret Sullavan. A notícia de sua morte esperada, ainda assim, despedaça-nos, rasga-nos por dentro como a própria morte de Margareth Sullavan terá feito com ele.

 Era um pequenino homem de bigode branco, ronronando sua asma brônquica entre um pigarro e outro, sempre discreto, austero e calado em seu canto, com os olhinhos úmidos e muito sugestivamente brilhantes. Quando eu nasci, ele tinha já 14 anos e estava deixando os estudos para trabalhar; só fui conhecê-lo pessoalmente quando principiava a ser admirado, reconhecido e venerado em seu país, onde fora vítima da intolerância, da injustiça, da censura e da perseguição política impostas pela ditadura militar que infelicitara o Uruguai a partir de 1973.

 Mario Benedetti contava que em janeiro de 1960, estando com a esposa em Nova York e pretendendo ver num teatro do Village a peça Nossa Cidade, de Thornton Wilder, soube do porteiro que os ingressos estavam esgotados. “A esta hora o senhor pretende ingressos? Em que mundo vive?”, ¬ perguntou-lhe o porteiro. Mario, com seu bigode e sua modéstia, sentiu-se como o provinciano que era realmente, incapaz de enfrentar então ao menos uma escada rolante... Foi quando tilintou o telefone, ali no saguão do teatro. O porteiro atendeu em silêncio, logo se transfigurou; e disse quase soluçando: não! não pode ser, não pode ser!

 Mario Benedetti, solidário sempre e em todas as circunstâncias, aproximou-se, tocou-lhe brevemente o braço, perguntou-lhe o que acontecia, se havia recebido alguma má notícia, se podia ajudar... Então o rapaz se voltou para ele e disse como se despertasse de um pesadelo:

 - Morreu Margaret Sullavan!

 - No, no puede ser - disse Benedetti para si mesmo e para ninguém mais, com o assombro e a tristeza de quem tomava consciência de que naquele instante desaparecia o último vestígio de sua já distante adolescência. E ele percebia que pela primeira vez em sua vida havia perdido um ente querido.

Ao justificar sua paixão por Margaret Sullavan, Benedetti reconhecia com a simplicidade de quem está trilhando o óbvio, que uma atriz de cinema não é exatamente uma mulher, é antes uma imagem. Como muitos de nós, reconhecia ele que havia se apaixonado pela imagem de Margaret Sullavan na adolescência, quando uma paixão dessas se torna definitiva. Fora a imagem daquela atriz que pela primeira vez habitara a sua e a nossa insônia e nos cortara a respiração, significando nosso primeiro ensaio de emoção, nosso primeiro arremedo de amor.

 Quando procurei Mario Benedetti pela primeira vez, e precisava encontrá-lo para que me permitisse traduzir seu conto Sábado de Glória, ele estava na Espanha. Depois, quando finalmente nos encontramos, fiquei tão perturbado diante daquele homenzinho e de sua descomunal estatura moral, cívica e literária, que esqueci o nome do conto, o título do livro correspondente, tudo, e só me lembrei de Margaret Sullavan - a inesquecível atriz de cinema que me encantara, que encantara o escritor e que encantava ainda e também o infeliz narrador da tragédia familiar contada por Benedetti - que minha mulher lera chorando e que eu, chorando, traduzira para o português.

Em torno de Margareth Sullavan estivemos uma vez sentados numa mesa de La Popponita, onde se falava de cinema e quando não me animei a confessar-lhe que 20 anos antes costumava ler e tentara colecionar suas crônicas publicadas em La Mañana. Benedetti não dizia nada, não precisava dizer nada, admitindo e aprovando divertidamente com seu sorriso ladeado nosso entusiasmo com o cinema e nossas lembranças de filmes, atores e atrizes. A partir de Margareth Sullavan, nós nos perguntávamos sobre Gene Tierney, Ava Gardner e Rita Hayworth, sobre os melhores anos de nossas vidas, sobre tempos modernos, sobre a bela e a besta... De repente, eu me dei conta de que - posta a câmara em Mario Benedetti, como numa tomada cinematográfica - tudo o mais era acessório, era dispersão. E me calei. Não havia mais o que dizer.

Benedetti havia dosado com a emoção e o amor despertados pela imagem de Margaret Sullavan todo o conteúdo poético de sua prosa ficcional, feita da retomada e da recuperação dos grandes dramas e das pequenas tragédias do cotidiano urbano uruguaio. Embora fosse, por isso mesmo, um poeta, seus versos duros, reiterativos e panfletários, pouco deixavam transparecer a poesia, submetidos geralmente à clara proposição política e ideológica que os fazia inseparáveis das lutas sociais em que ele esteve envolvido.

 Uma vez estivemos juntos numa mesa de debates, na Biblioteca Nacional; outra, na Intendência Municipal de Montevidéu. Em ambas as ocasiões, senti-me oprimido e deprimido, vendo que Mario Benedetti não estava à vontade: ele como que já não tinha o que dizer, já estava cansado; estava cansado de repetir o que esperavam que dissesse, já estava cansado de ouvir o que sempre diziam dele.

 Fora um combatente das letras. Fora o primeiro e era o último sobrevivente da geração crítica de 1945 - que tivera a coragem de denunciar o pedantismo, a frivolidade, a hipocrisia e o conformismo dos cultores da “belas letras” no Uruguai desde o propalado reconhecimento do país como “a Suíça americana”. Ele voltara para Montevidéu os olhos do leitor uruguaio - habituado até então à nostalgia campeira de uma literatura “criolla” - e reconstruíra a partir da capital a sua urbanidade, ajudando a recompor e reafirmar a identidade uruguaia como a de um país montevideano.

 Fora mais do que um combatente das letras. Fora um militante da justiça social e da dignidade humana, um defensor da vida e da alegria. Enfrentara a ditadura como um dos fundadores do Movimento 26 de Março, braço legal do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros. Precisara exilar-se na Argentina para não sucumbir à fúria militar em seu próprio país; precisara fugir para o Peru a fim de escapar com vida da AAA, a Ação Anticomunista Argentina...

Fora o intérprete dos anseios, das contradições e das perplexidades dos escritores latino-americanos; fora galardoado com prêmios, títulos, insígnias internacionais, antes que lhe reconhecessem os méritos no próprio Uruguai - onde só em 2005 lhe deram o título de Doutor Honoris Causa da Universidade da República.

Certamente estava cansado de tudo isso.

 Sempre fora um homem pequeno e modesto, com seu eterno bigode (e até cultivara um certo topete na testa cada vez mais ampla e alta). Sempre vivera dos sonhos e das emoções que alimentaram sua escritura da mesma forma como a confiança e a esperança que tinha em um mundo melhor, mais justo e mais feliz.

 Era casado com uma extraordinária mulher chamada Luz Alegre, cujo nome bastava para justificar o quanto dela ele dependia como companheira e orientadora. E tinha ele mesmo um paradoxal e estranho nome quilométrico, só comparável à variedade e à quantidade de sua imorredoura obra literária: Mario Orlando Hamlet Hardy Brenno Benedetti Forugia.

 A morte é definitivamente o fim. Mas, como se fora o começo de tudo, Mario Benedetti terminou velado na Sala dos Passos Perdidos do Palácio Legislativo Uruguaio; e enterrado no Panteão Nacional do Cemitério Central de Montevidéu.

 Agora, o que adianta?

 Fica o eco de nosso desconsolo e de nossa incredulidade ante a notícia de sua morte.

¡No, no puede ser!

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© Aldyr Garcia Schlee - Escritor e tradutor (22-11-1934/15-11-2018)

          Publicado no jornal Zero Hora, em 23 de maio de 2009


7 de maio de 2025

Aldir, Aldyr


 


André Costantin (*)

Quando eu passo por um terreno de terra crua, grama ou simples capim (desde que seja um interstício mais ou menos plano no grave relevo da cidade), dois extremos atravessam o meu sentimento: a infância livre jogada nas várzeas da Vila Kaiser e o adulto cansado que venho arrastando desde a trágica epifania do 7x1, de Alemanha e Brasil, na copa de 2014.

Em campo, o desastre prenunciatório deu-se justo quando as multidões passaram a vestir a camisa dita “canarinho” como símbolo de um sonhado país sem corrupção e talvez mais justo. Num lance muito rápido, a camisa amarela foi sequestrada por entes políticos e outros vírus que habitavam os intestinos da nação e que enxergaram, naquele estremecimento do grande corpo, a chance de vir à luz – pelas bocas e telas dos smartphones.

Hoje, presos no labirinto das nossas entranhas sociais, vemos com os olhos tontos daquele 7x1 sem fim os pequenos exércitos de zumbis marchando em camisas amarelas da seleção brasileira, em nome de nem sabem o que, de quem ou porquê. Bradam por um Brasil livre, pela ditadura militar. Será demência? Tempo atrás pedi uma cerveja e me ofereceram uma artesanal, de nome “7x1”, com rótulo e tudo. Sim, somos loucos e sádicos.

Nossa arte do futebol suspirou até lá pela copa de 1982. Tudo virou empresa, negócio. Os capins da cidade estão vagos. No condomínio da minha filha há um campinho com goleiras e tela de proteção, vazio – um sonho daqueles guris do Kaiser que jogavam num terreno inclinado a 25% ou mais. Os garotos, homens feitos, foram lobotomizados pelos games em quartos escuros, entre armas e tiros. E segue o jogo. Demos nisso.

Muitos já leram e definiram traços da nossa complexa (ou extinta) brasilidade pela cultura do futebol. Entre eles, dois mestres escritores e artistas cujos nomes agora se casam em transparência de luz: Aldyr Schlee (1934-2018) – o revelador do Pampa, ao sul da nossa identidade; e o recém-encantado Aldir Blanc (1946-2020) – intérprete do Rio de Janeiro, coração do Brasil.

Criador da mística camisa amarela, Aldyr Schlee sentia profunda tristeza pelo destino de sua obra mais popular. Agora, vai-se Aldir Blanc. No seu vasto testamento, nos deixa o “Tá lá o corpo estendido no chão; em vez de rosto a foto de um gol” – De frente pro crime.

Aldyr, Aldir. Dois lutos que flecham os corações de “nós-outros” brasileiros – melancólicos são-sebastiões de osso e carne que somos, crivados pelos espíritos do futebol e do samba. E algo além. O mais da nação são gritos de ordem.

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(*) publicado no jornal O Pioneiro em maio de 2020

4 de abril de 2025

O Barão e a diligência

 



Henrique Pires (*)

    Considerado um gênio do jornalismo, Aparício Torelly foi pioneiro no humorismo político brasileiro.

    Frequentava seguidamente Rio Grande, onde muitos afirmam que nasceu. Durante alguns anos foi presença frequente em Pelotas, para onde seu pai mudou após viuvar.

    Já usando o pseudônimo "Barão de Itararé", aproveitava as visitas familiares para também fazer suas conferências humorísticas, as quais lotavam teatros.

    Nos velhos livros de registro de apresentações do Theatro Sete de Abril, foi possível identificar algumas daquelas ocasiões pelotenses.

    Sobre o local exato de seu nascimento, ele próprio disseminou a confusão: em algumas oportunidades afirmava ter nascido na cidade de Rio Grande. Em outras, apresentava novas versões, mas geralmente com o objetivo de arrancar gargalhadas da plateia que o idolatrava por seu raciocínio rápido, sua memória ligeira e sua verve irreverente.

    Nasceu no Rio Grande do Sul. Disso não há dúvidas.

    Já mais velho, narrava a versão que conto a seguir.

    Naqueles tempos, 1895, havia um movimentado serviço de diligências que partiam e chegavam em frente ao atual prédio da Prefeitura de Pedro Osório, na época estação férrea Piratini. Muito tempo depois, virou Estação Engenheiro Ivo Ribeiro.

    Pois bem, a jovem senhora Maria Amélia Brinkerhoff Torelly, com mais de oito meses de gravidez, embarcou no trem em Rio Grande, onde morava, e rumou para a Estação Piratini. Desembarcando, comprou passagem na diligência que ia até Jaguarão.

    Pretendia ganhar sua primeira criança sob os cuidados de sua mãe e suas tias, que residiam no Uruguai, "do outro lado da ponte". Era seu primeiro filho e ela, com 17 anos, achou melhor enfrentar os trabalhos de parto no abrigo de pessoas queridas e em ambiente de paz. Afinal, o Rio Grande do Sul ainda estava em plena revolução de 1895, os hospitais cheios de feridos e os campos repletos de pessoas degoladas.

    Maria Amélia já desembarcou do trem torcendo que desse tempo de chegar ainda grávida ao seu destino. Não deu.

    Em meio aos solavancos da diligência, ela percebeu que a criança não iria esperar para nascer na fronteira.

    Assim, em algum lugar na estrada entre Arroio Grande e Jaguarão, naquele dia 29 de janeiro de 1895, veio ao mundo Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, futuro "Barão de Itararé", jornalista brilhante que cunhava frases cortantes. Como aquela, onde afirma "senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você".

    Eleito e cassado no Rio de Janeiro, era celebridade nacional. Detestava Getúlio Vargas, conhecido dos tempos de estudante em Porto Alegre. Uma figuraça!




Nota do Editor: Na Biografia do Barão, escrita por Cláudio Figueiredo, o H.Pires identificou, na página 9, o homem à direita na foto como sendo Batista Luzardo, e anotou a lápis no exemplar que me deu de presente, há tempos...
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(*) Henrique Pires nasceu em Pedro Osório. volta e meia reside em Brasília, onde já trabalho no Grupo RBS, foi chefe de gabinete de dois Ministros de Estado e foi Secretário Federal da Cultura. Atualmente é o Secretário Executivo da Representação do Estado do RS na capital da República. Tem licenciatura em Estudos Sociais pela UFPel e Especialização cursada na Espanha, na Universidade de Salamanca.

17 de fevereiro de 2025

NDH/UFPel recebe dissertação e coleção da Gazeta Pelotense

 

Entrega da Dissertação e dos exemplares do Jornal ao NDH

Sissa Moreira - CCS UFPel

Nesta sexta-feira (14), o Núcleo de Documentação Histórica (NDH) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) recebeu a doação da dissertação de Amílcar Alexandre Oliveira da Rosa sobre a Gazeta Pelotense e uma coleção de exemplares do periódico. A dissertação, intitulada Gazeta Pelotense, ensaio para uma imprensa de transição, foi defendida em 2021 no Programa de Pós-Graduação em História da UFPel. O material será digitalizado, seguindo a perspectiva adotada pelo NDH, de democratização do conhecimento e estará disponível para consulta.

A cerimônia contou com a presença da coordenadora do NDH, Lorena Gill, do diretor do Instituto de Ciências Humanas, Sebastião Peres, do jornalista e historiador Amílcar Alexandre Oliveira da Rosa, do juiz de direito aposentado, Aldyr Rosenthal Schlee, filho de Aldyr Garcia Schlee, um dos fundadores do periódico, e do jornalista Luiz Carlos Vaz, que auxiliou na busca e organização do material.

Lorena Gill destacou a importância do material para a preservação da memória jornalística regional. Segundo ela, o grupo de pessoas que atuou no periódico mostra a qualidade dos escritos e das imagens, já que se tinham nomes como Aldyr Garcia Schlee, Mario Osorio Magalhães, João Manuel Cunha, Valter Sobreiro Júnior, Salomão Scliar, Maria do Carmo Lessa, Luiz Carlos Vaz, dentre outros. “A equipe do NDH ficou muito feliz com a doação de uma coleção quase completa do jornal Gazeta Pelotense, o qual durou poucos meses, mas foi um projeto bastante inovador para a cidade”, afirmou.

O autor da dissertação ressaltou a relevância do jornal como objeto de estudo. De acordo com Amílcar, o surgimento da Gazeta Pelotense em 1976 foi uma iniciativa cercada de simbolismos, em uma época em que apareciam os primeiros sinais de esgotamento da ditadura civil-militar que tomou o poder 12 anos antes no Brasil. “A crise econômica e a reorganização da resistência política desembocaram na anistia negociada de 1979. Por isso, analisar o jornal, veículo integrante de uma categoria que em meu estudo chamo ‘imprensa de transição’, é importante para termos ciência de que em todos os momentos sempre há resistência”, explicou Amílcar.

Aldyr Rosenthal Schlee, filho de Aldyr Garcia Schlee, relatou sua experiência ao revisitar os exemplares do jornal. Ele contou que, ao ser procurado por Amílcar para colaborar com a pesquisa, revisitou a coleção da Gazeta Pelotense guardada na biblioteca do sítio onde seus pais viveram os últimos anos. Segundo ele, o jornal foi idealizado por seu pai a pedido do empresário Manoel Marques da Fonseca Júnior, que tinha aspirações políticas e via no periódico um instrumento estratégico. “Meu pai mergulhou completamente no projeto, desde o conceito gráfico até a escolha dos equipamentos e da equipe. Ele até projetou o prédio que abrigaria a redação. Infelizmente, o jornal durou pouco, pois o empresário decidiu encerrar a publicação. Foi um golpe para os profissionais envolvidos, que investiram talento e dedicação em um projeto inovador para a cidade”, relatou Aldyr.

Já Luiz Carlos Vaz, que participou da organização da coleção doada, enfatizou o esforço para recuperar os exemplares. “Motivado pela dissertação do Amílcar e pela recente recuperação das imagens de uma fita VHS, onde registramos o jantar em comemoração aos 25 anos de lançamento da Gazeta, em 2001, decidimos entregar ao NDH-ICH/UFPel a coleção quase completa das edições do ‘Novo Jornal’, como era chamado o projeto editorial do Schlee antes de ser rebatizado”, comentou. O jornalista está trabalhando em uma atividade preparatória para os 50 anos da Gazeta Pelotense, a ser comemorado em 25 de setembro de 2025.

A doação reforça o compromisso do NDH com a preservação documental e histórica, permitindo que as futuras gerações tenham acesso a registros fundamentais sobre a imprensa e a sociedade brasileira nos anos 1970.

Exemplares da Gazeta Pelotense

Gazeta Pelotense

Nos anos 1970, período de ebulição política e social no Brasil, a Gazeta Pelotense surgiu em Pelotas (RS) como um veículo inovador de jornalismo. Financiado pelo empresário do ramo de transportes, Manuel Marques da Fonseca Júnior, e criado com um projeto gráfico ousado por Aldyr Garcia Schlee, o jornal combinava expressão artística e compromisso político, sendo um espaço para jornalistas, fotógrafos e intelectuais da região. Sua circulação, entre setembro de 1976 e janeiro de 1977, trouxe inovação e resistência ao cenário da imprensa local.

A Gazeta Pelotense era um jornal tabloide diário com 24 páginas e um caderno dominical com 16 páginas. Surgiu vespertino, mas, após apenas a primeira edição, passou a ser matutino. Na Bibliotheca Pública Pelotense existem apenas 42 exemplares do jornal, dos 91 publicados. Além desses, foi possível reunir exemplares que estavam de posse de antigos integrantes da redação do jornal ou de seus familiares, que foram cedidos para esta pesquisa. No total, foram obtidos 88 números.

A história da Gazeta Pelotense e sua preservação pelo NDH reforçam a importância de manter viva a memória da imprensa alternativa no Brasil. Quase meio século depois de sua publicação, a relevância do jornal ainda é sentida, servindo como referência para as futuras gerações de comunicadores e pesquisadores.