Conseguimos na internet uma dessas raras fotos, aqui uma ocorrência sobre um lago. |
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BOITATÁ – (VIRÃO)
Mas, coisas misteriosas e sextas- feiras de assombrações lembram um tipo de história fantástica que meus irmãos e eu gostávamos de ouvir dos nossos pais, tios e avós, à noite no "serão". Era sobre o tal "fogo" que algumas pessoas contavam que já tinham visto “andando” por lugares “sombrios” e à noite, e que se enrolava nas patas dos cavalos e aterrorizava cavaleiros e montarias. Alguns chamavam de "boitatá", e meu tio-avô Izidoro e os moradores da região de Cacimbinhas, onde minha mãe nasceu, (hoje município de Pinheiro Machado) chamavam de "Virão". Depois de ouvirmos uma história dessas, não saíamos mais para a rua, era direto para a cama, e com a cabeça bem tapada pelas cobertas!
Minha mãe sempre conta uma história do meu Tio-Avô Izidoro (ela me relembrou há pouco esse episódio), quando em um de seus passeios, ele voltava à noite para casa. O cavalo se assustou - e certamente o tio mais ainda - com "um bicho de fogo”, o tal de “Virão”, que, depois de segui-los, se enrolou nas patas do cavalo, impedindo ele de andar". Após a natural “empacada” da montaria, parece que o animal conseguiu se livrar da tal assombração e saiu em desabalado galope, e o tio acabou chegando em casa sem o chapéu! Depois de refeito o susto, e meu tio contar o ocorrido, jurou não passar mais por esse lugar à noite, pois segundo se dizia, o “Virão” costumava atacar sempre nos mesmos lugares. Contavam também que o tal bicho de fogo aparecia em cemitérios, o que completava o quadro da assombração para nós.
Logo que entrei para o ginásio no Estadual e os horizontes foram se alargando, descobri que o tal fenômeno se chamava "fogo-fátuo", ou também gás dos pântanos, e que é produzido pela combustão espontânea dos gases metano e fosfina, resultante da decomposição de matéria orgânica. Aparece, principalmente, próximo a brejos ou pântanos, e baixios. A nossa boa química e biologia do Estadual ensinavam que corpos de animais mortos e soterrados em lugares úmidos, associados ao calor, faziam a combinação perfeita para a decomposição e a produção desses gases. O fato da chama parecer que se enrola nas patas do cavalo se deve ao deslocamento do ar produzido pelo rápido movimento do animal, arrastando também o tal "fogo", parecendo ao cavaleiro que aquela "coisa" o está perseguindo.
Os anos passaram e eu sempre estive atento a esse assunto, até que, num calmo entardecer de um dia de primavera/verão, nos anos 70, quando passava um fim de semana no distrito de Palmas, tive a rara oportunidade de presenciar esse fenômeno. Observei esse fogo azulado a uma distância de menos de cem metros, já na hora do crepúsculo, por cima de um baixio, com a cor semelhante a chama de um fogão à gás. O fogo serpeava por entre moitas, de maneira bem fantástica e misteriosa, chegando a causar arrepios, mesmo a gente sabendo a origem do fenômeno. Imaginem, então, uma pessoa que não conheça o assunto, ver esse fogo macabro dançando, por exemplo, dentro de um cemitério!
Fiquei surpreso com a minha primeira observação do “Virão”. Embora sabendo a origem daquela chama, não tive o impulso imediato de verificar de perto o fenômeno. A minha primeira reação, por via de dúvidas, foi permanecer onde eu estava, observando a “cobra de fogo”. Sabe como é: "yo no creo en brujas, pero...". Quando me refiz da “assombração”, a chama misteriosa já havia sumido, talvez me livrando de ter que contar depois que não tivera coragem para verificar a cobra de fogo bem de perto.
A minha intenção, agora, é aumentar a freqüência de visitas ao campo em locais adequados a ocorrência do fenômeno e não só flagrar mais mais uma vez o “boitatá”, mas também obter uma rara fotografia.
Desse fato, porém, ficou a grata lembrança dos bons momentos inocentes da infância e dos agradáveis serões em família, e as incríveis, e muitas vezes fantásticas, histórias que os adultos contavam.
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Enviado pelo colega
Hamilton Caio Vaz
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6 comentários:
Tchê Vaz, eu presenciei o Seu Izidoro contando essa proeza para o meu pai, numa das vezes que, após a janta ele e a Dona Iracema iam lá em casa para uma proseada.
... e o velho meu Padrinho sabia como contar uma história, Gerson, ah! como sabia.
Tchê, Gerson, conheceste o Tio Izidoro! Grande contador de causos e histórias das revoluções! Visitamos, meus pais e irmãos, ele e a Tia Iracema, quando ainda moravam na Bolena, aquela bela região antes de Palmas e Pedra Grande. Eu tinha de 5 para 6 anos, foi uma aventura daquelas. Fomos de “aranha”, puxada pelo cavalo Picasso. A aranha era, digamos, uma “carruagem sedã”, e ao contrário da “charrete”, tem rodas enormes, maiores que as de carroça. Pareceu-me uma longa distância, desde a Hulha Negra até a Bolena. Foi o meu primeiro contato, e o encantamento imediato, com essa região dominada pelo Rio Camaquã e seus afluentes. Essa estrada, toda arenosa na zona da Bolena (numa passada por lá, medi 20Km só de areia), é um verdadeiro caminho turístico, ela vai serpeando pelo alto da Serra das Encantadas, cortando o município de Bagé na direção nordeste, até o Rio Camaquã. Uma vez acompanhei com um binóculo por mais de trinta minutos, do alto de um cerro, em Palmas, o percurso do ônibus da antiga Empresa Nunes, que fazia essa linha, desde que o localizei bem ao leste, para o lado do Passo do Cação (no Rio Camaquã), até desaparecer no horizonte, bem a oeste, já na Bolena.
Tchê Hamilton, eu me criei ao lado do Seu Izidoro e da Dona Ireacema, meu irmão inclusive chamava-os de vô e Vó, houvi muitas estórias das que ele contava, e como falei para o Vaz muito pão feito em casa pela Dona Iracema eu comi, muitas vezes meu irmão sumia, quando a mãe ía procura-lo ele estava sentado com eles naquele degrau que tinmha na porta da frente, depois mudamos para o lado. E a Dona Iracema pegou meu filho mais velho no colo.
Um abraço bem bagual pra ti tchê.
ATENÇÃO! O verbo "ouvir" tem nova grafia agora é com "h". Que barbaridade!!!!!!
Gerson, manda de novo. Eu apago o "velho", e o verbo continua com a velha grafia, hehehe
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