Das Wunder von
Bern
Luiz Carlos Vaz
A história da
copa de 1954 não precisa ser contada. Basta que se assista o filme Das Wunder Von Bern (O milagre de
Berna), produção alemã de 2003, do diretor Sönke Wortmann. As duas histórias
narradas no filme têm por cenário a Copa do Mundo da Suíça. Uma acompanha um
casal de jornalistas que cobre a competição; a outra é sobre uma família que,
como a própria Alemanha, foi brutalmente partida em dois pedaços no fim da Segunda
Guerra Mundial.
A sede do evento
esportivo foi na neutra Suíça, endereço da então cinquentenária FIFA. O Brasil,
exorcizando os azares passados do uniforme branco, fazia a estreia em Copa do Mundo
da Camisa Canarinho, desenhada em 1953 por um guri de Jaguarão, o meu amigo
Aldyr Garcia Schlee. No entanto, nossa seleção chegou somente às quartas de
final, onde foi sumariamente derrotada por 4x2 pela fortíssima Hungria, do
craque de todos os tempos Ferenc Puskás.
Na semi-final
ela confirmou o seu favoritismo despachando o campeão do Mundo de 1950, o
Uruguai, pelo mesmo contundente placar. O fornecedor do material esportivo da
Alemanha, a Adidas, lançou na copa da Suíça a chuteira de agarradeiras
removíveis. Como na Fórmula 1 moderna, a seleção alemã dispunha de “pneus de
chuva” e “pneus para pista seca”. Isso deve ter ajudado muito, pois choveu
durante o dia fazendo um Fritz-Walter-Wetter
(clima de Fritz Walter), já que os torcedores alemães acreditavam que o capitão
da sua seleção, Fritz Walter, jogava melhor em campo molhado. As chuteiras
criadas por herr Adi Dassler, deveriam
então fazer a sua parte.
A Hungria,
aplicadíssima, ignorando as variações climáticas do dia e o desempenho das
novas chuteiras da adversária, tratou logo no início do jogo de marcar 2x0, com
gols aos seis e aos oito minutos. No entanto, os alemães conseguiram reagir e
empatar ainda no primeiro tempo, com gols de Morlock e Rahn. Numa segunda etapa,
muito tensa, as duas seleções jogavam a vida naquela partida.
Já quase ao
final do jogo, um popular narrador esportivo alemão, Herbert Zimmermann, ao ver
o jogador Rahn com a bola ainda no seu campo, teria gritado ao microfone em
meio a total emoção: “...aus dem
Hintergrund müsste Rahn schieβen”, (...chute aí do meio da rua, Rahn). Como
se ouvisse o apelo desesperado do narrador, ele chutou. A bola saiu do pé de
Rahn e foi inexoravelmente fazendo uma trajetória perfeita até vencer a meta
defendida pelo goleiro húngaro, Grosics. A torcida foi ao delírio quando ainda
faltavam seis minutos para o encerramento da partida no Wankdorf Stadium.
A Alemanha,
agora dividida em duas, conquistava seu primeiro título mundial, sem poder
contar com os atletas que haviam ficado do lado oriental do muro. Foi um
verdadeiro milagre! Um milagre em Berna. Já o nosso milagre só aconteceria quatro anos mais tarde, em Estocolmo.
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Texto de número
VI, que compõe a série A taça do mundo é
nossa!, no marcador Copa do Mundo, publicado aqui no Blog durante a Copa da África do Sul, em 2010.
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