Cena clássica de um mercado oriental |
"Salim saiu..."
uma reflexão sobre os 7 x1
uma reflexão sobre os 7 x1
Eliana Valença (*)
Meu pai contava uma piada de que
muito tenho lembrado nestes últimos dias, mas que desde ontem, não sai de minha
cabeça. A piada é uma alusão bem humorada à conhecida aptidão para negócios e
ao apego financeiro do povo libanês, que meu pai conhecia bem, vez que
trabalhara para uma família cujos hábitos alimentares adquiriu, e de quem
guardava, além das boas lembranças, as piadas, contadas sempre com muita
riqueza de detalhes e alegria.
A piada conta que um rapaz entrou
na lojinha do seu Salim e foi dizendo:
- Gostaria de falar com o seu
Salim.
- Salim “saiu”, respondeu
rapidamente o Salim, certo de que o rapaz fosse um cobrador.
- Que pena, disse o rapaz, ele foi contemplado com um prêmio da nossa
empresa...
Salim deu um pulo de dentro do
balcão e gritou:
- Salim “soi eu”!!!! Salim “soi eu”!!!!
Parece que essa história está
acontecendo aqui com a Copa, só que às avessas...
Até ontem, havia uma avalanche
massiva de postagens nas redes sociais sobre as maravilhas da Copa das copas.
Era uma exaltação às pessoas de “bem” que sempre defenderam as inúmeras
vantagens da Copa em nosso país, e alfinetadas nas pessoas do “mal”, que ainda
tinham a coragem de argumentar contra a Copa
e enumerar as prioridades que
foram substituídas por estádios etc etc.
Mas era tanta e tanta questão que
faziam de achar pais e mães para a realização da Copa, quanto as distribuições
fartas de comentários ácidos contra quem apostava no fracasso do evento.
Então veio a tsunami... colocou no chão nossas
“torres gêmeas”, quebrou nosso orgulho de país do futebol, varreu com as
esperanças do Brasil ganhar, apagou o sorriso da cara do brasileiro, derrotou o
país naquela característica que é a mais comum a todos (na opinião da maioria):
o amor pelo futebol. E não foi apenas uma derrota, foi a Derrota das derrotas.
E aí começaram a buscar os
culpados... e aí, minha gente, começaram os absurdos: a culpa é do Felipão, do
Fred, da CBF, etc., inclusive um texto absurdo culpando a mídia golpista,
vingança da FIFA, coibição dos brasileiros de torcerem para o Brasil etc. etc etc.
E sem falar dos comentários
bem-humorados que mostram bem o espírito
dos brasileiros.
Quando tudo estava dando certo -
e se o Brasil fosse campeão era só “Salim soi eu” - agora, que deu errado, é
“Salim saiu”...
E agora é a hora de colocar a
culpa em alguém... Poucos fizeram o “mea culpa” e talvez esses sejam os menos
responsáveis pela derrota. Pouquíssimos admitiram a grandiosidade do time
alemão, a determinação, a garra, a frieza e o equilíbrio emocional para não se
abalar com toda a fama do time dono da casa, da torcida inflamada e em maioria
esmagadora. A Alemanha entrou no jogo na
hora do jogo, com um time superior ao nosso e não tomou conhecimento do resto a
não ser da sintonia de sua equipe. A impressão que tenho é que entraram
determinados a fazer um gol no início para desestabilizar, mas... o nosso time
desestabilizou, escorregou e perdeu o equilíbrio, como acontece em qualquer
jogo. É jogo!!! E vi o capitão da Alemanha pedindo desculpas ao Brasil, já que
nem eles esperavam por isso e não queriam humilhar o Brasil.
Não há o que fazer a não ser
tirar disso uma lição, repensar uma série de coisas: a força do pensamento
(positivo e negativo); a busca a qualquer custo da razão, de justificar
qualquer erro nosso, e sempre achar um culpado “fora”; de usar a mesma lente deformada
há anos para ver e analisar os fatos; de ler os acontecimentos sempre sob o
aspecto partidário, pesando as coisas com o dedo na balança; educando nossos
filhos para não serem responsáveis pelos possíveis erros, como se aí não
estivesse um aprendizado, antigo, é verdade, mas sempre eficiente; a arrogância
de sempre pensar que sempre vou fazer melhor do que o outro; o olhar distorcido
de somente criticar a ideia e os fatos realizados pelos outros mesmo que tenham
repetido uma atitude minha quando passando pela mesma situação; e por aí vai...
Pois o que poucas pessoas se dão
conta quando direcionam o sucesso da copa para este ou aquele, é que muitos
grupos de oração pediam e visualizavam em seus momentos de meditação, que tudo
transcorresse em paz, sem tumultos, e isso aconteceu: o povo brasileiro
mostrou-se hospitaleiro, alegre e com amor declarado a sua bandeira. E isso vai
ficar! Puro mérito da índole do povo!!!
Fica a vergonha em sofrer uma
derrota de tamanha dimensão para o futebol brasileiro. Mas a vergonha não é do
Brasil, nem só dos jogadores ou do técnico.
A caça às bruxas vai continuar...
os culpados vão ser amplamente buscados
e discutidos e os comentários arcaicos sob a lente de míopes, vão continuar...
Pois eu acho que aconteceu o que
tinha que acontecer, o melhor para o Brasil!!! Difícil de entender, mas a minha
intuição me diz que esse foi o melhor para o Brasil. O motivo, acho, vai ser claro para alguns, daqui a um tempo.
Para outros vai ser sempre inexplicável. E se fosse uma derrota comum, de 1x0,
por exemplo, talvez eu não fizesse essa triste reflexão. Apenas estaria
lamentando a derrota, lamentando como todo o brasileiro, ter perdido a Copa em
casa. Mas o que me fez refletir, foi justamente o placar. É 7 a 1 !!! Isso é um sinal gigante de PARE!!! PENSE!!!
E é isso que estou aqui
fazendo. Não entendo nada de futebol,
mas entendo de ser humano! Estou tentando achar o aprendizado de tudo isso e
não o possível culpado, sem me redimir de minha responsabilidade, sem responder
que “Salim saiu”, se assim me for conveniente, ou “Salim sou eu”!!!
O Brasil é o país do futebol, mas
também, o país da alegria, da arte popular, da música, da dança, da
diversidade. Um dia isso também vai nos aglutinar em um grito único, e aí vamos
ser invencíveis em realizações em todos os campos.
Para encerrar, uma Copa no Brasil
que começou com aquela abertura desbotada, pobre e vazia terminou também num
vazio imenso para nós, brasileiros.
E uma ideia surge agora, lá no
fim do túnel:
Às vezes quando a gente perde, a
gente ganha...
___________________
(*) Eliana é bageense, artista
plástica e atua no magistério em
Pelotas; edita um blog onde publicou este texto.
2 comentários:
Luizamigo
Belíssimo texto. Parabéns à Eliana. Acorda Brasil!
Abçs & qjs em especial para a Maribel.
Há Natália Correia na nossa Travessa. Resultado: o leão da Babilónia não é um leão, é uma leoa...
Venho informar-te que não virei mais aqui. pensei que me irias visitar e comentar - mas enganei-me. Assim só me resta dizer adeus e desejar boa sorte para Bagé.
Nossa, estou realmente emocionada com tua generosidade com meu texto, Vaz! Obrigado, sr. Henrique que graças ao Vazamigo e à internet leu meu texto de além mar... Um abraço!
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