Jonathan, realizando o sonho de cobrir uma Copa do Mundo... |
Há quem sonhe com Copa, sem sonhar em ser jogador
Jonathan Costa da Silva (*)
Quando recebi o
convite para escrever para o Blog, vindo do ilustre amigo - e inspirador
jornalista - Luiz Carlos Vaz, me deparei com uma sensação de grandeza, afinal
este espaço é recheado de boas histórias e de maravilhosos textos. O sentimento
lisonjeador me fez refletir o momento que vivi. Meu primeiro desafio como
jornalista, após conquistar o registro
profissional, é uma Copa do Mundo.
A pergunta que
todos os amantes do futebol recebem, nessa ocasião, é sobre qual a Copa mais
marcante de suas vidas. Que me permitam os leitores do Blog, mas eu não posso
descrever a sensação de cobrir uma Copa do Mundo sem fazer uma referência às
minhas Copas e a minha chegada ao jornalismo.
Nascido em 1990,
no mês de outubro, eu precisei esperar quatro anos para saborear o meu primeiro
mundial. Logo à frente, todos perceberão que a espera foi minha companheira. Em
94, aos quase quatro anos de idade, eu vibrei com a conquista do tetra. Mas o que
uma criança nesta fase da vida entenderia da importância de um título que não
vinha ao Brasil já há 24 anos? A mesma importância de uma brincadeira de pular
ou de esconde-esconde. A mesma importância de jogar bola com o pai no pátio de
casa. Todos riam, comemoravam, se emocionavam. Eu, criança, fui na onda. A
minha primeira Copa foi com título, mas sem muita participação.
Em 1998, eu já
estava um pouco mais adaptado a vida e ao futebol. Já era um amante do esporte
e já tinha, anos atrás, definido que queria estar ilustrando as páginas
esportivas do jornal. Contrariando a maioria dos sonhos dos garotos
brasileiros, eu não queria ser o jogador de futebol entrevistado. Eu queria ser
o entrevistador do jogador de futebol. E aquela Copa da França me marcou demais.
Eu vi um Ronaldo arrasador. Eu vi um Zagallo calando a boca de milhares de
críticos. Eu vi um Zidane mostrando ao mundo que era um mágico com a bola nos
pés. Eu vi, também, a minha primeira frustração em Copas.
Chegou 2002 e eu
já estava calejado do que ocorrera quatro anos antes. O mundial pela primeira
vez seria sediado em conjunto por dois países. Coréia e Japão, o povo do olho
puxado, mostrava toda sua doideira em criar coisas. Mas o que mais impressionou
não foram os magistrais estádios construídos pelos asiáticos. Foi a superação
de um campeão. Depois de erguer o caneco em 94, destruir a Copa de 98 e
sucumbir exatamente na final, Ronaldo deu a volta por cima e conduziu o Brasil
novamente ao título. Nesse ano, eu já vivia de forma mais intensa o futebol.
Álbum de figurinhas, guia de informações, tabela atualizada e conhecimento
sobre cada um dos jogadores que disputaram a Copa, me faziam estar sempre em
evidência nas discussões do mundial.
Em 2006 e 2010
não foi diferente, mas foi mais intenso. Aí, já crescido e com novas formas de
colher informações, eu montava a minha redação pessoal. Eu tinha fontes, dados,
estatísticas e milhares de curiosidades sobre o mundial. Eu escrevia textos
para serem publicados na minha mente. Eu recriava, em um mundo isolado, a minha
participação jornalística em um mundial. Em 2006 eu estava prestes a entrar na
faculdade, mas só havia jornalismo em uma instituição privada. Era preciso,
para um garoto jovem, sonhador e sem abastados recursos financeiros, esperar. E
eu esperei. No mundial de 2010, eu já estava na faculdade de jornalismo e isso
me proporcionou a primeira aventura na competição.
... que já se fazia presente na festa do 1º ano de vida. |
Ao saber que o
Brasil se prepararia para a Copa da África em Curitiba, não medi esforços e com
mais dois colegas fui até a capital paranaense cobrir a preparação brasileira
para o mundial. Obviamente que passamos trabalho. Dormimos no aeroporto,
almoçamos pão com mortadela no muro de um cemitério e caminhamos muito. Era o
primeiro passo para a realização de um sonho que viria quatro anos depois.
E ele chegou.
Quando o Brasil foi anunciado como sede do mundial, lá em 2007, eu coloquei uma
meta: estarei formado, registrado e cobrirei a Copa no meu país. Assim como os
outros 200 milhões de brasileiros, enfrentei horas de desafios para chegar ao
tão sonhado objetivo. E ele veio. Mas como a dificuldade é natural na vida,
restou-me cobrir apenas os jogos no Rio Grande do Sul. Oras, quem se importaria,
afinal é Copa do Mundo.
Foram cinco
maravilhosos jogos. Cinco emoções diferentes. Foram conversas com pessoas de
todos os países do mundo. Franceses, hondurenhos, australianos, holandeses,
argelinos, sul-coreanos, argentinos, nigerianos e alemães. Mistura étnica.
Tradições, culturas, línguas, gestos, jeitos, gostos, manias. Tudo muito
intenso, diferente e saboroso.
Me preparei para
cada partida. Cada confronto era uma decisão. Eu precisava estar atento,
focado, observando cada detalhe. Não foi uma tarefa fácil. Mas foi a mais
importante, divertida e feliz missão. Não faltarão histórias sobre como os
argentinos transformaram Porto Alegre na capital da Argentina. Sempre estará na
minha memória o sufoco argelino sobre a poderosa Alemanha. Sempre recordarei do
primeiro gol da história das Copas resolvido com o uso da tecnologia.
Mas o mais
marcante, felizmente, não foi o que presenciei dentro das quatro linhas. Pude,
finalmente, presenciar um povo organizado. Um estádio luxuoso e sem problemas.
Duas torcidas convivendo misturadas, juntas, sem que brigas acontecessem. Pude
presenciar craques do futebol mundial elogiando as condições do Rio Grande do
Sul. Pude presenciar uma Copa do Mundo.
Aquele moleque,
amigos leitores, que enfrentou cinco Copas do Mundo para realizar seu sonho,
pode, finalmente, cobrir uma Copa. Muitas histórias estão ainda fervilhando na
minha memória. Mas elas precisam ser recontadas depois que todo esse turbilhão
de emoções passar. Quando a Copa esfriar, reaquecerão as lembranças do mundial
na memória de cada um que participou deste magnífico evento. Depois de 23 anos
sonhando em cobrir uma Copa do Mundo, eis que eu consegui realizar o sonho. E
eu cobri a Copa das Copas.
Seja uma Copa do
Mundo, seja uma partida de bocha no interior do estado, se tu sonhas com algo,
busca e não desiste. Somos feitos de persistência, emoção e muito sofrimento.
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Jonathan é
jornalista, formado recentemente na primeira turma deste novo curso da Universidade Federal de Pelotas.
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