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Manchetes
(dos 7 a 1 ao terremoto de Lisboa)
Luiz Fernando Verissimo (*)
Há noticias de primeira página
que nunca chegam à primeira página. Ou por falta de espaço — caso do Brasil no
ultimo mês, quando o futebol dominou as primeiras páginas de todos os jornais —
ou por decisão editorial.
Entre as notícias de primeira
página que não viraram manchete durante a Copa está a declaração formal das
Forças Armadas brasileiras que nada de anormal, como tortura e mortes,
aconteceu em qualquer dependência militar no Brasil no período da ditadura. E
pronto.
Notícia paralela que também ficou
nas páginas internas, ou só com chamada na capa, foi a da prescrição do caso da
bomba no Riocentro, que não será mais investigado. Também: assunto encerrado.
Quem insistir que houve tortura e
morte nos quartéis durante a ditadura, segundo o relato de sobreviventes e
averiguações criteriosas já feitas, estará chamando a instituição militar
brasileira de mentirosa. Sobre a ação criminosa abortada pela explosão
prematura daquela bomba no Puma jamais se saberá mais nada.
Outra noticia que merecia
manchetes, mas não passou do bloqueio da Copa, foi a de que, dos 32 países que
participaram do campeonato, o Brasil foi o que apresentou maior queda nos
índices de mortalidade de crianças de até 5 anos de idade nas últimas décadas.
Maior do que ocorreu na Alemanha,
na Holanda e na Argentina, para ficar só nos quatro finalistas da Copa. Os
dados são da Parceria Para a Saúde Materna e Recém-Nascidos e Crianças,
entidade coordenada pela Organização Mundial da Saúde.
A divulgação destes números com o
destaque merecido talvez diminuísse os insultos à presidente, que, estes sim,
sempre saem na primeira página. Ou talvez aumentassem, vá entender.
POR QUÊ?
O terremoto que arrasou Lisboa
também sacudiu a intelectualidade europeia da época, que se dividiu entre os
que consideravam a catástrofe um ato de Deus para punir a pecaminosa capital
portuguesa e os que diziam que a natureza, e não um Deus cruel, era responsável
pelo cataclismo.
Voltaire manteve que o terremoto
provava a inexistência de Deus e fez pouco dos que defendiam que era um castigo
divino, num famoso poema em que perguntava: se o objetivo era acabar com o
pecado, por que escolher logo Lisboa e não Paris, onde havia muito mais
pecadores, “mergulhados nas delicias”, do que em Lisboa?
“Lisboa está arruinada”, escreveu,
“e dança-se em Paris.” Exatamente o que sentimos depois dos 7 a 1, guardadas
todas as gigantescas proporções. Nosso futebol está arruinado, e dança-se em
países que não têm metade das nossas taças e glórias. E por que nós?!
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(*) Luis Fernando Veríssimo é
escritor/ publicado no Blog do Noblat
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