3 de outubro de 2011

Jogo de bolitas


Jogo de bolitas
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Gerson Mendes Correa
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Com a chegada da Primavera era normal tirarmos do baú do inverno, ou invernia, como diz nosso amigo Jota Jota Poeta, as bolas de gude, mais conhecidas por nós guris de Bagé como bolitas ou bulitas. De cor verde garrafa, coloridas, valiosas em nosso conceito, como os olhos de gato, as leitosas, os bolões. Jogava-se a qualquer hora, bastava disposição para isso e, diga-se só para salientar, que disposição não faltava nunca. O gostoso do jogo é que era em contato direto com a vida, com a natureza, com a Mãe Terra, pois enquanto jogávamos, ao mesmo tempo nos divertíamos em grande escala e descarregávamos nossa energia, nossa eletricidade estática acumulada. Nos misturávamos com os amigos num jogo empolgante e divertido, depois íamos para o Estadual para ter o curso técnico da vida, não tinha bulling, não tinha ataque físico à professores, não tinha adolescente se matando no corredor, não tinha drogas.  Tinha muita alegria de viver,  companheirismo e respeito pelos Mestres.
Hoje mudou tudo e para pior. O jogo, segundo o Almanaque Gaúcho do jornal Zero Hora, em artigo assinado pelo Ricardo Chaves, é em 3D. Acredito que não tenha graça nenhuma, porque falta o principal que é a comunhão com os amigos, o tocar a terra, brincar, se divertir, sorrir.
No nosso tempo jogava-se às brinca ou às verda e a regra era só uma: alegria! Essa era a única regra, mas era obrigatória para que o jogo acontecesse.
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Gerson Mendes Correa
Curitiba
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12 comentários:

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Tchê Vaz...
Que maravilha de texto este do nosso fraterno Gerson que, remexendo no baú das lembranças, dá uma Saudade que dói gostosamente e nos permite voltar àquele passado da efervescência e das ternuras da Vida!
Tchê Gerson...
Aplaudo este teu texto reminiscente que pinta - com cores alegremente coloridas - uma época à qual muito me refiro quando falo ou quando escrevo: "tempos da vida calma e do boi manso"... Uma narrativa que nos faz suspirar - a todos que vivemos e amamos aqueles tempos - e a nos perguntar, eu creio: por que tudo mudou tão rapidamente e para pior? Porque entendo que o homem evoluiu em sua inteligência para a chamada "era tecnológica", mas "involuiu" em seu Espírito, pois nos apresenta um mundo de devastações, aniquilamentos e violências de todos os matizes!!
Mas, Gerson e Vaz, vou parando por aqui... Porque acabo me empolgando e a compulsão não tem pena... rs... Antes, quero dizer que devo ter ainda algumas bolitas remanescentes. Não sei onde. Tenho que procurar. Agora, estou às voltas com minha "mala de garupa" para rumar à nossa Bagé, amanhã cedo. Na volta, vou procurar as bolinhas de gude.
E encerro este comentário com estas verdades - que emocionam - do nosso Gerson: "O gostoso do jogo é que era em contato direto com a vida, com a natureza, com a Mãe Terra(...)" Depois: "Tinha muita alegria de viver, companheirismo e respeito pelos nossos Mestres." Finalmente: "(...) porque falta o principal que é a comunhão com os amigos, o tocar a terra, brincar, se divertir, sorrir."
Obrigado, Gerson, por teres feito guri - de novo - meu coração... E emocionado minh'Alma - que se permitiu um leve e saudoso Vôo ao Passado!!
Franciscano abraço a ambos!
JJ!

Gerson disse...

Realmente era uma brincadeira gostosa, as vezes aparecia um gaiato e gritava, " rapeluz que não tem cruz" passava a mão nas bolitas espalhadas e disparava dando risada. Na época jogávamos o triângulo (riscava-se um figura geométrica de um triângo e colocava-se as bolitas dentro, iniciando-se poelos vértices, escolhiamos quem seria o primeiro batendo o ponto, que era da seguinte maneira, depois de casarmos as bolitas no triângulo ficávamos todos atrás do dito cujo e lançávamos a joga em direção a um risco no chão, quem ficasse mais próximo do risco era o primeiro a jogar). Tinha também o gude que era um buraco no chão. Como em qualquer outro jogo tinha-se manias ou superstições, como por exemplo a "joga", a joga era a bolita que usávamos para lançar contra as outras e era escolhida com muito esmero e ela nos acompanhava por longo tempo, então quando ficava cascuda, áspera, é quando ficava boa mesmo porque aí não tinha perigo de escorregar, ou escapar dos dedos.
Agora me digam, quem nunca jogou bolitas?

Luiz Carlos Vaz disse...

Verdade JJ, tempos memoráveis, vamos ver agora quem se habilita a escrever sobre o pião, pandorga, bodoque, arquinho...

Valença disse...

Hoje, quando pais e avós, temos essa difícil tarefa de resgatar o gosto das crianças por esse contato com as coisas mais simples e menos sofisticadas; mais ligadas à Mãe Terra e com todas suas "consequências"...
E por experiência própria, passado o "mico" inicial(para eles), depois tudo vira pura Alegria!

Luiz Carlos Vaz disse...

Bem, o Gerson está com toda a terminologia do jogo de bulitas em dia. Como também sou meio curioso, fui consultar minha amiga Paula Schild Mascarenhas, que está fazendo pós-doutorado na França, sobre o -rapeluz/rapenouz- e ela me respondeu dizendo: "...eu creio que o "Rapenuz" quer dizer "happez-nous", ou seja, "capture-nos, agarre-nos". Happer é isso, pegar com violência. Se diz que um pássaro pega um inseto no voo usando o verbo happer. Então, suponho que o ladrão das bulitas dizia algo provocativo, "agarre-me quem puder", embora usasse o plural."
Bem, agora já mobilizamos mais gente para descobrir o significado do "não tem cruz", aguardem...

J.L. disse...

Até onde me lembro, o "não tem cruz" significava que havíamos esquecido de desenhar no centro do do triângulo, ou "tria" duas linhas cruzadas,formando uma cruz ou um X. Nesse caso, o ladrão estaria no "direito" de levar as bolitas; caso contrário, os jogadores é que estariam no direito de correr atrás dele e aplicar-lhe uns cascudos para reaver as preciosas bolitas.
Havia também duas formas diferentes de segurar a "joga" para lançá-la: "inhaque", que significava segurar a bolita entre o junta do polegar e a ponta do indicador, e "c*-de-galinha", segurando a joga envolvida pelo indicador dobrado. A primeira era típica de jogadores experientes, e proporcionava mais força e precisão; a segunda, de iniciantes, e não tão eficiente.
Vale lembrar também os "acinhos", esferas de aço obtidas de rolamentos velhos e usadas no lugar da bolitas de vidro como "jogas": mais pesadas, podiam facilmente rachar uma bolita comum (e especialmente os "olhinhos") ao impacto...

Luiz Carlos Vaz disse...

Verdade, Valença, palavras de uma boa educadora que és.

Luiz Carlos Vaz disse...

Taí, o JL Salvadoretti acabou com o enigma!!!

Anônimo disse...

HOJE EU E O AMIGO JESUS AGUIAR FOMOS PARA O PARQUE MARINHA DO BRASIL, ARMADOS DE BOLITAS E CHIMARRÃO. SUBIMOS NUM PÉ DE GOIABEIRA, APANHAMOS GOIABA E FOMOS ENCONTRAR UM LUGAR FAVORÁVEL PARA CAVAR UM BOCO. FIZEMOS O BOCO, RISCAMOS A RAIA E INICIAMOS O JOGO. FOI IMPRESSIONANTE A MANIFESTAÇÃO DE CARINHO DAS PESSOAS QUE PASSAVAM. UMAS SE EMOCIONAVAM DE VER DOIS SESSENTÕES JOGANDO BOLITA. JÁ COMBINAMOS COM OUTRO AMIGOS DE CONTINUAR ESTE PASSATEMPO TÃO SAUDÁVEL E CHEIO DE RECORDAÇÕES PARA QUEM FOI GURI EM UMA ÉPOCA TÃO LINDA. JOANES. joanesrosa@terra.com.br

Luiz Carlos Vaz disse...

Obrigado pelo comentário, Joanes. Use, por favor, letras minúsculas, como se estivesse fazendo uma redação no colégio... Um abraço e um bom jogo de bulitas. Se quiser, mande uma foto de vocês jogando que a gente publica. L C Vaz

Manoel Ianzer disse...

O Gerson com suas lembranças, nos faz recordar não só das bolitas, pois começa aparecer muito mais, coisas que já estavam escondidas na nossa memória e até na ALMA.
Obrigado Gerson.
Grande abraço
Manoel Ianzer

Gerson disse...

Pois é Manoelito, como é bom recordarmos de nossa infância pura e divertida, bastante ativa que nos ajudou sermos os homens que somos hoje, enquanto isso vemos crianças hoje tristes, apáticas, obesas e com depressão, isso são os tempos modernos, tô fora. Baita abraço índio velho