12 de maio de 2013

Amor materno

Foto Marcelo Soares


Amor materno
Juremir Machado da Silva (*)

Aprendi, ao longo dos anos, que algumas pessoas temem citações. Acham que o texto fica erudito e incompreensível. Não percebem que citações podem ser simples e bem explicadas sem exigir que se vá estudar o autor citado. Curiosamente muitas dessas pessoas costumam ser implacáveis na crítica à falta de cultura e na exigência de métodos escolares baseados na disciplina quase militar. Para falar do Dia das Mães, além de aproveitar para dizer que amo a minha e que ela sempre acreditou que estudar era o melhor para seus filhos, citarei dois fantásticos estudiosos: Philippe Ariès, de “História Social da Criança e da Família”, e Elisabeth Badinter, autora do polêmico “O Mito do Amor Materno”. 

Esses dois pesquisadores sustentam que a criança, como a vemos, é uma “invenção” recente. Badinter ousa afirmar que o amor materno não é instintivo, mas “construído” culturalmente. Ou, ao menos, capaz de ser inibido por práticas culturais. Já li esses livros dezenas de vezes. Eles me inquietam, provocam e ensinam. Durante séculos, as crianças das classes abastadas eram entregues a amas, que as amamentavam, longe das mães, até pelos 7 anos. A partir daí, eram pequenos adultos, pau para toda obra. O trabalho infantil, que muitos ainda defendem, era a norma. Os pais escolhiam um filho, normalmente o mais velho, para investir e esqueciam-se dos outros, especialmente das meninas. Nos séculos XVIII e XIX, aconteceu a virada, a descoberta do valor da educação: as crianças foram enclausuradas em colégios. 

Ariès observa que existia um afrouxamento do laço afetivo entre pais e filhos e que “podemos imaginar a família moderna sem amor, mas a preocupação com a criança e a necessidade de sua presença estão enraizadas nela”. À família contemporânea, a nossa, fixou-se os mais nobres objetivos de todos os tempos: educar pelo amor, coibir o trabalho infantil, ensinar sem violência, inculcar valores pelo diálogo, não separar os filhos dos pais, não fazer distinções entre os filhos e tratar a infância como um período especial. Badinter foi mais longe: “Que vem a ser um instinto que se manifesta em certas mulheres e não em outras?”. Muito mais longe: “Em vez de instinto, não seria melhor falar de uma fabulosa pressão social para que a mulher só possa se realizar na maternidade?”

Ser mãe no nosso tempo tem um gosto especial. Significa querer ser sem que haja uma obrigação. O amor pelos filhos vai além do instinto e engloba dimensões morais, de prazer e de comprometimento. Com todas as contradições da nossa época, nunca a família teve tanto valor. Ela não se baseia mais na obediência, na autoridade e na disciplina, mas exclusivamente no amor. Badinter profetizou: “Registremos, simplesmente, o nascimento de uma irredutível vontade feminina de partilhar o universo e os filhos com os homens”. Ariès mostra que foi longa a educação dos pais para que não “adestrassem” seus filhos pelo chicote. A palmada, última expressão do castigo corporal, está na alça de mira. Parabéns às mães que vivem hoje todos esses desafios. 
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Juremir Machado da Silva publica diariamente no jornal Correio do Povo
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Um comentário:

Anônimo disse...

Vazamigo



Estou muito preocupado porque nuca mais vieste à nossa Travessa. E penso que não deves ter recebido o meu imeile em que contava a minha estranha doença. De repente, em minha casa a Raquel foi dar comigo sem falar, sem ouvir, sem me mexer. Naturalmente aflita chamou uma ambulância e levou-me ao Hospital de Santa Maria onde estive ou melhor estivemos pois a minha Raquel esteve sempre junto de mim durante onze horas! Bom, resumindo e concluindo, ali fizeram-me todas as análises ao sangue e à urina, uma TAC, um electroencefalograma e etc. No final das onze horas, o médico deu-me alta, mas finalmente eles não descobriram qual a causa da maldita doença. Tenho de dizer-te que foi um pesadelo, foi o pior dia da minha vida!!!!!!

Entretanto, e porque nunca mais voltaste à nossa Travessa não descobriste que eu iniciara uma nova secção: ORA AGORA, VIRA em que escrevo contos policiais, com muitos crimes e muito sexo. Creio que esta informação serve para te abrir o apetite e vás lá…

Por outro lado está lá colocado um novo PASSATEMPO/CONCURSO que tem como sempre os prémios das folhinhas indianas com figuras pintadas que talvez já tenhas recebido algumas por teres sido a vencedora de um outro. Se quiseres concorrer… concorre. Muito obrigado

Abração

Henrique