17 de janeiro de 2010

O cinema em Bagé - IV. O Cine Capitólio

Ben Hur é o destaque na foto que mostra um Capitólio movimentadíssimo (1)

Se o Glória era o cinema popular, o Avenida o chic, o Capitólio pertencia à Classe Média das salas. O Capitólio foi inaugurado em 1934 pelo português Francisco Santos (2) que, além dessa sala, foi o responsável pela abertura de muitas outras em Pelotas, Rio Grande e outras tantas cidades do Rio Grande do Sul. O Capitólio possuía 1.200 cadeiras, em dois níveis, e apresentava uma bela projeção e um ótimo som.

Funcionava nos mesmos dias e horários dos outros cinemas e era ele o primeiro a reapresentar os filmes que estreavam no Avenida. Só depois desse circuito, Avenida/Capitólio, e que as fitas permaneceriam por mais algum tempo na programação simples ou dupla do Glória. Creio que o Capitólio abrigava também a sede da Socex e dos Cinemas Cupello, empresas que eram as responsáveis pela programação das salas de Bagé e do Cine Rádio Upacaray, de Dom Pedrito. Foi ali no Capitólio, por volta de 1970, que Aristides Kucera instalou os estúdios da Rádio Clube de Bagé, AM 1590 Khz.


O Capitólio tinha uma escadaria de mármore muito bonita que levava primeiro à sala de espera. Era na sala de espera do Capitólio, antes de abrirem as portas internas que davam para a sala de projeção, que nós ficávamos admirando os cartazes dos próximos filmes e flertando com as gurias do Espírito Santo, do Melanie Granier e do nosso Estadual, por que não? Depois, já acomodados nas poltronas, passava o baleiro, se contorcendo por entre as filas, e a gente comprava drops Dulcora, balas de goma ou Chicletes Ping Pong.

Ramon Novarro, como Judah Bem Hur, e May Mc Avoy, como Esther,
sem dizerem uma só palavra, também calaram de emoção
as platéias do Capitólio naquela Bagé de 1934...

No Google existe uma foto muito antiga do Capitólio onde aparecem cartazes do filme Ben Hur. Mas não é o Ben Hur de 1959, com Charlton Heston. Pela época da fotografia deve ser a segunda versão, a de 1925 (a primeira foi de 1907), ainda do cinema mudo, com Ramon Novarro no papel principal. Posteriormente, com abertura do Mini Cine Difusora, do Cine Ritz e do Cine Sete, todas as salas, com exceção do Glória, sempre popularíssimo, passaram a ser da classe “B”. Mas, não se podia imaginar, que cairiam para as letras seguintes até que, chegando ao fim do alfabeto, fechassem quase que ao mesmo tempo. Todos lavaram as mãos como Pôncio Pilatos, e Judah Ben Hur ficou definitivamente mudo, como em 1907.

Nesta casa, em Pelotas, foi rodado o filme Os óculos do vovô.
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(1) A fotografia do Google dá conta que é o Capitólio de Bagé, embora a fachada seja bem diferente. É possivel que ele tenha sido reformado. Depois da destinação para outras atividades comerciais até o nome na platibanda foi raspado. Lamentável.


(2) Francisco Santos, proprietário da Guarany Films, foi o produtor e diretor do filme “O crime dos banhados”, filmado em Rio Grande em 1914, e “Os óculos do vovô”, realizado em Pelotas no ano de 1913, este, o primeiro filme de ficção feito no Brasil do qual ainda se tem um fotograma. A casa em Pelotas, que serviu de cenário para o filme de Francisco Santos, ainda existe na esquina das ruas Marechal Deodoro e General Telles.
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4 comentários:

Anônimo disse...

O Cine Capitólio traz boas lembranças de filmes marcantes. Entre esses, que não esquecemos, assistidos ali, estão: "Vikings, os Conquistadores" (The Vikins - 1958), com outra musa de então, a Janet Leigh; "La Violetera" (1958), filme espanhol com a Sarita Montiel e "A Árvore dos Enforcados" (The Hanging Tree - 1959), com Gary Cooper, Maria Schell e Karl Malden, um "western", a meu ver, despretensioso, a não ser pela participação desse trio famoso de astros, mas que ficou marcado, incrivelmente, pela trilha sonora, o "leitmotiv" do filme, uma "balada" com o mesmo nome da película, composta para o filme, interpretada pelo Marty Robbins. Foi muito solicitada nas rádios, como música preferida. E, para não fugir da regra, procurei o disco desde que vi o filme ( pô, outra vez, mas o que vou fazer !) e só encontrei a música há poucos anos, porém, fazendo "download" da internet !

Hamilton Caio

Luiz Carlos Vaz disse...

É verdade Hamilton. Para esses casos o "download" e a internet são infalíveis... Um abraço.

Anônimo disse...

Caro Vaz, não consigo parar de pensar sobre os dois filmes citados: "O crime dos banhados" e "Os óculos do vovô"!!! Você sabe algo mais sobre eles?

Angela Luisa Santos Paraná

Luiz Carlos Vaz disse...

Oi Ângela, obrigado pelo comentário. És da "Velha Guarda" ou só nos acompanha? Me manda teu mail que eu te envio farto material sobre os dois filmes. O meu é jornalistavaz@hotmail.com
Um abraço