20 de março de 2010

À nossa direita...

Fã "número um" do Leopardo, ganhei uma foto do ídolo
numa genileza do Marinha Magazine


Os domingos à noite em Bagé nunca mais foram os mesmos depois que a televisão passou a transmitir as lutas do Ringuedoze Liquigás da TV Gaúcha, Canal 12. Várias lutas que, necessariamente acabavam no terceiro “assalto” movimentavam as famílias e dividiam na sala os espectadores nas preferências e nas torcidas. Haviam os bons moços, como Scaramouche, Marco Polo, Ted Boy Marino, Leão do Líbano..., os feios, sujos e malvados como El Duende, Barba Roxa, Stiner... e os misteriosos como Fantomas, Verdugo, Leopardo, todos estes mascarados. Marcos Martins, do Portal da Luta Livre, diz em artigo que Fantomas foi um personagem criado pelo empresário da TV Globo do Rio, Teti Alfonso, em 1966. Por ser um mascarado, vários lutadores podiam interpretá-lo. Diz ele que o primeiro Fantomas foi o argentino Ali Bunani, depois o também argentino El Toro, Luizão e vários outros. O colega Gerson, que foi da Base Aérea de Canoas, conta que um major que servia lá era o Fantomas. A verdade é que, na segunda feira de manhã, não se falava em outra coisa no recreio do Estadual. O “marronzinho mais elegante de Porto Alegre”  Éldio Macedo, era o apresentador oficial. Ele subia ao ringue e dizia: “À nossa direita, lutador com 98 quilos, a fera argentina... El Duendeeeee; à nossa esquerda, lutador com 105 quilos, o misterioso Veeeerdugoooooo; e para comandar esta fantástica luta.... Cigano”. E lá vinham as sequências de traps, tesouras, torções, voadoras.... Os “malvados” seguidamente proporcionavam cenas circenses como passar limão nos olhos do adversário, trazer chicotes escondidos no calção, tudo era uma festa. E sempre acabava no terceiro assalto. Um belo dia o Ringuedoze apresentou-se em Bagé, no campo do Guarany F.C. Quem foi o primeiro a entrar? Eu, claro. Foi uma decepção! Ao vivo tudo ficava mais claro. Era uma “marmelada”. Nós não tínhamos como entender que era apenas um espetáculo, o desempenho de uma profissão: lutadores de espetáculo. Ali, no ringue montado no Campo do Guarany, bem de perto, percebemos que os socos não eram assim tão fortes, as voadoras eram ensaiadas, vencer no terceiro assalto era uma questão de programação, de seguimento publicitário. Eles eram apenas artistas e trabalhadores. Precisavam apenas garantir o anabolizante das crianças. Brigavam, se desentendiam, eram inimigos de morte, queriam ver o sangue do adversário, queriam matar. Mas somente ali, no ringue. Fora dele, eram colegas de profissão, de viagem, de trabalho. Se existisse essa pizza de hoje na época, seria o que eles iriam comer depois das lutas. Nunca mais assisti ao Ringuedoze com o mesmo interesse. Eu não queria ver ninguém se ferir, mas bem que o Leopardo poderia ter dado uma boa sova no El Duende naquela noite lá no campo do Guarany, nem que fosse só para justificar a fotografia dele que o Marinha Magazine gentilmente enviara ao seu fã número um.
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21 comentários:

Manoel Ianzer disse...

Vaz o Estadual e o Guarany, "as minhas grandes paixões de Bagé que permanecem com emoção e vivas no meu coração".
Abraço

Luiz Carlos Vaz disse...

Ianzer, outro dia fui a Bagé e fiz fotos dos dois estádios. Matérias já estão a caminho.

Gerson Mendes Corrêa disse...

Na rua Caetano Gonçalves aproximadamente na altura do nº 1745, a duas casas da esquina com a rua marcilio dias, havia um terreno baldio e nos fundos desse terreno, morava o Getulio, que mais tarde foi gaitero e vocal do grupo california, e ele juntamente com seus irmaos e conosco gurizada que corria atras da bola juntos, nesse campinho, depois do "treino", tinha uma sessão de luta livre, digamos um "ringue quase doze".
Tudo era uma festa, todos bincávamos, nos divertíamos e ninguem se feria. Anos mais tarde na FAB fui judoca e numa disputa entre a Base Aérea de Canoas e a Escola de oficias da Brigada, ganhei uma luta com ipon de um aspirante. Velhos e bons tempos. Mas isso ja tem 31 anos passados e eu ainda tinha cabelo.

Luiz Carlos Vaz disse...

À nossa direita, o implacável Geeeeersonnnn!!! Era mais ou menos assim?
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E por coincidência Gerson, ontem faleceu o "Estrela de Prata". Paulo Roberto Ferreira, era tenente aposentado da Brigada, e depois do Ringuedoze participou da caravana Astros do Ringue. A última luta dele foi em 2002 em um evento beneficente no Pão dos Pobres em Porto Alegre. Está na ZH de hoje.

Gerson Mendes Corrêa disse...

Sim a apresentação, tinha um que fazia nesses moldes,imitando o Eldio Macedo, mas não como implacavel, ahahahahah.
Pois é tche estava lendo agora na zero hora virtual.

Luiz Carlos Vaz disse...

O Gerson vai ter que contar como era essa apresentação...

Gerson Mendes Corrêa disse...

bueno na época eu era conhecido por montanha, pois o meu porte físico sobrepunha-se ao de meus amigos, e eu tinha muita força, além de peso que era maior que de todos os outros e para me por no chao nao era muito fácil, então entrava o anunciante do combate, e anunciava como se estivesse segurando um microfone com um a das mãos e com a outra apontava para o lutador, e no meu caso ele falava assim: Neeeeeste caaaaanto o moooooontaha e nesteoutro...., e uma batida de palma ou até um assoviu anunciava o início e fim de cada combate ou round, divertíamo-nos muito, era um vida saudável.

Luiz Carlos Vaz disse...

Fico imaginando a cena: o terreno baldio, a gurizado deixando a bola de lado para se dedicar às "lutas" e um éldio macedo de calças curtas segurando um microfone imagiário e bradando: Moooontanhaaaa! Esses eram os anos dourados do Estadual...

Gerson Mendes Corrêa disse...

Cara era isso mesmo, e diga-se de passagem que os momentos que tínhamos eram magicos. e por favor quero corrigir o nome de uma rua, onde se lê marcilio dias, lê-se rodrigues lima.

Luiz Carlos Vaz disse...

Vou pedir para a Liliana procurar esse lugar e fotografar. Quem sabe o terreno ainda não está lá? Caetano Gonçalves esquina Rodrigues Lima, perto do número 1745. É contigo Liliana.

Gerson Mendes Corrêa disse...

é asxsimoh, vai pela rodrigues lima ate a esquina da caetano gonçalves be na curva do barranco dos trilhos ao lado da segunda casa estive lah a póucos dias, mas nao lembro se esta vasio.
http://maps.google.com.br/maps?f=d&source=s_d&saddr=R.+Caetano+Gon%C3%A7alves,+1752&daddr=Bag%C3%A9+-+RS&hl=pt-BR&geocode=Fc4MIv4d9HzG_CntJHRRcXUGlTGH8g0LbYjBeQ%3BFQr3If4demPG_CmxZ712ldgFlTG3ylC5pw_wRg&mra=ls&sll=-31.328502,-54.10727&sspn=0.716741,1.049194&g=Bag%C3%A9+-+RS+-+Brasil&ie=UTF8&ll=-31.319589,-54.101486&spn=0.0014,0.002049&t=h&z=19
esse aih é op linck que aparece a imagem do satelite

Hamilton Caio disse...

Pois é, está escrito mais um capítulo da TV em Bagé, através de um texto colorido em detalhes e facetas e de comentários minuciosos, apesar de falar sobre imagens em preto e branco. A nossa turma do Estadual agora utiliza todas as armas ao alcance, o Gerson chegou a mostrar com o google maps um insuspeito "ringue quase doze" que tivemos por aqui. A "marmelada" que havia já era a mesma das lutas no cinema, só funcionava na imagem da tela. Enfim, era o começo do fim da era da telona, do cinema de calçada, e o início do reinado da telinha. Essa nova soberana tinha dons hipnóticos, não deixava a gente sair de casa para ir ao cinema, afinal, agora era até mais interessante namorar em casa, e não precisava comprar entrada, balas de menta ...

Luiz Carlos Vaz disse...

É Hamilton, e em Porto Alegre, por exemplo, uma entrada está vinte reais! Mais as balas de menta, a pipoca e a namorada... a programação não sai por menos de cinquentinha, 10% do salário mínimo. Que saudade do Glória...

Anônimo disse...

Apenas uma correção, Estrela de Prata nunca fez parte do Ringue Doze. Aqui no RGS sempre ocorre esse desentendimento, pois todos os lutadores, mesmo aqueles que jamais fizeram parte do Ringue Doze, surgiram após aquele período, dizem terem pertencido ao mesmo, talvez por terem tido o privilégio de lutarem com alguns astros daquela época. Infelizmente a maioria que faziam parte daquele espetáculo já são falecidos. Atualmente aqui no RGS os únicos lutadores vivos que verdadeiramente fizeram parte do Ringue Doze são: Índio Kindar, Rando, Búfalo, Scaramouche, Marco Polo e Stiner e o juiz das lutas Bittencourt.

Luiz Carlos Vaz disse...

Esse "Anônimo" é bem informado e sabe das coisas... Obrigado por comentar aqui. Se quiser, para não ficar como anônimo, pode assinar o comentário no fim do "box" (bom esse trocadilho, hein?), como faz o pessoal que tem mail que não é da família do Google.
Grande(chave de)A-braço!

Marcos Martins disse...

Muito legal esse seu texto, amigo.
Sou o Marcos Martins (ex-Portal da Luta Livre) filho do Stiner, e quase um ano depois de escrito o próprio Stiner achou seu texto e me enviou.
Bem legal ver a visão do fã da modalidade vendo a diferença da TV para o ao vivo.
Parabéns pelo brilhante texto que resgata um tempo remoto, mas inesquecível.
Abraço

Luiz Carlos Vaz disse...

Que bom saber disso, Marcos. Obrigado por comentar no nosso blog. Manda um forte abraço para o Stiner!

Sérgio M. P. Fontana disse...

Pois lá no campo do Guarany, umas três ou quatro vezes, teve luta-livre que incluiu também lutadores de Bagé, por volta de 1967. Eram quatro combates, e os nativos faziam as lutas preliminares. A partir da terceira luta apareciam os caras do Ringuedoze "Marinha Magazine" que faziam, às vezes, a chamada "Australiana" (uma luta de dois contra dois). Dos lutadores locais lembro do Tinhoso e do Máscara-Negra, que era soldado da PM, e de quem eu era fã.
A promoção e cobertura jornalística era da Rédio Difusora, com narração do Edgar Muza e comentários de Octacílio Fontana.

Luiz Carlos Vaz disse...

Sérgio, vou dar uma olhada na coleção do Correio do Sul, no Arquivo Público, para ver se acho notícias a respeito disso.

Cid M. Marinho. disse...

Caro Vaz,
Eu também assistia as eletrizantes lutas-livres do "Ringue Doze", exibidas em 1967/68, pela saudosa T.V.Gaúcha. E o meu lutador preferido éra o "Fantomas" (que caminhava arrastando uma perna).Além de terem acontecido lutas livres em rinques montados nos campos do "Guarany F.C." e do "G.E. Bagé", lembro-me que naquela mesma época, existia uma Academia de Musculação na Rua Gomes Carneiro, na altura do nº860, que também promovia lutas entre os lutadores da região, num ringue montado no pátio. Foi alí, que eu pude conhecer bem de perto, quando chegavam de carro, em frente a Academia, os bajeenses: "Máscara-Negra" (um policial, e membro da família Lacerda), O "Centena" (da família com o mesmo nome, e que atualmente possui uma 'cancha para corridas de cavalos', no alto da Av. Santa Tecla), e os irmãos "Tinhoso I" e Tinhoso II". Depois disso, no final dos anos 70ainda aconteceram algumas lutas no ginásio coberto do "Militão", com a presença de 'Ted Boy Marino' e outros... Mas, os tempos também éram outros, e a ingênua "luta-livre", perdia espaço para outras modalidades, como as violentas e brutais "artes marciais" de origem asiática, vastamente praticadas até os dias de hoje.

Luiz Carlos Vaz disse...

Eu acredito, Cid, que já deveria ter sido publicado um livro contando a saga das lutas do Ringuedoze Liquigás - depois Marinha Magazine.