31 de dezembro de 2011

Receita de Ano Novo

 Foto Alexandre S Gomes
Receita de Ano Novo
Carlos Drumond de Andrade
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Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
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26 de dezembro de 2011

Férias


Amigos
Estou em férias, perdido em alguma praia, sem acesso à internet (que maravilha)...
Na volta colocamos todos os assuntos em dia...
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Vaz
Blog da VG
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25 de dezembro de 2011

E por falar em Natal...


O Nascimento de Jesus, pintado por Giotto di Bondone,
(Colle Vespignano, 1266 /Florença, 1337)
encontra-se na Capilla de los Scrovegni, Pádua, Itália.

E por falar em Natal...
Ramacés Hartwig (*)

                Quando pergunto para as crianças: O QUE É NATAL ? a resposta é curta e imediata em uníssono coro infantil: PAPAI NOEL ! Aliás, desconfio que para alguns adultos a resposta também seria (ou é ?) a mesma. Entretanto, penso que a diferença de compreensão deste evento festivo é (ou deveria ser) bastante grande, ou seja, para as crianças penso que natal faz parte do imaginário mágico-lúdico-infantil (com acentuadas pitadas de alegria, magia e inocência), mas para os adultos penso que natal é o resultado de alguns fatores psico-sócio-culturais tais como: mídia, propaganda, mercado, consumismo, interesses, aculturação, etc.
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            Nesta reflexão não vou me deter a discorrer sobre detalhes das datas possíveis do nascimento de Jesus ou sobre a(s) estória(s) do presépio, do “santa Klaus”, da árvore natalina (inclusive as que circulam virtualmente onde cada um escolhe e coloca seus amigo\as), das renas voadoras, dos gnomos ou duendes (que trabalham na fábrica de brinquedos do Papai Noel), do banquete ou ceia de natal, etc. Por quê ? Porque tudo isso (e muito mais) está disponível e descrito com abundância de detalhes nas mais mirabolantes versões e incríveis versões divulgadas na mídia e\ou postadas na internet. 
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Neste texto proponho uma reflexão sobre os “dois extremos do natal”, ou seja: seu significado originário e as festas natalinas hoje, e concluo sugerindo alternativas para celebração do NATAL DE JESUS.
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            A NATIVIDADE DE JESUS (isto é, o nascimento do CRISTO DE DEUS): este é o evento central e exclusivo a ser celebrado no Natal. Nesta ocasião a religião cristã relembra um acontecimento único ocorrido há muito tempo, numa bela noite palestina, quando alguns pastores receberam a mensagem de um anjo (= mensageiro) anunciando-lhes uma BOA NOTÍCIA (= um evangelho) para a humanidade:

“hoje, na cidade de Davi (na vila de bethlehem = casa do pão) nasceu
para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor!   (Lc 2,8ss)

Este registro de São Lucas tem consonância evangélica em São Mateus que usa a conhecida expressão hebraica EMANUEL para ratificar a mensagem natalina: DEUS ESTÁ CONOSCO! ((Mt 1, 22-23), ou seja, Deus está no meio de nós, entre nós, con-vive conosco! Por sua vez o Evangelho de São João corrobora a mesma BOA NOTÍCIA, porém, apresentando-a em linguagem greco-filosófica: kai ó logos kapre egeneto, significando:

        “O VERBO SE FEZ CARNE E VEIO MORAR NO MEIO DE NÓS” (Jo 1,14)          

                A mensagem cristã-evangélica para todos os povos e nações é que no NATAL comemora-se o NASCIMENTO DE JESUS (= o Deus-Criança) que nasceu sob os cuidados amorosos de José e Maria). Este Menino, sendo Humano e Divino, torna-se o “supremo elo de ligação” (re-ligação = religião) entre a Divindade e a Humanidade. Em outras palavras: no natal os cristãos de todo o mundo celebram o nascimento de um DEUS que se torna “gente como a gente” a fim de que as pessoas O encontrem no cotidiano da sua vida (com simplicidade e humildade) e percebam Suas marcas na face de seus semelhantes (em fraternidade e solidariedade). 
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            O Natal é um fato tão marcante e extraordinário que divide a História (AC e DC) e se torna o evento referencial para marcar o (re)começo da contagem do tempo. Ou seja, o tempo Antes de Cristo tinha a história voltada para Sua espera em “alegre expectativa” (= advento), e o tempo Depois de Cristo (= redenção) tem a história contada a partir de Sua interferência divina.  Consequentemente, a Salvação da humanidade se dá a partir da implementação dos sinais (milagres e prodígios) que Jesus foi, fez e apontou a fim de demonstrar factualmente que o Reino de Deus chegou e já está produzindo muitos e bons frutos entre e através de nós. 
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                    Contudo, O NATAL HOJE, tornou-se o resultado de um sincretismo religioso-cultural, dominado por festas pseudo-cristãs que se apropriaram do evento natalino e o tornaram refém de um “mega evento”. Este, por sua vez, tem como objetivo celebrar uma grande festa, repleta de bens de consumo (bebida, comida, presentes, etc) que, para cumprir tal finalidade e impregnar as pessoas da necessidade de “dar e\ou receber” presentes utiliza-se da figura mágico-estética do PAPAI NOEL. 
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            Na verdade o Bom Velhinho também se tornou refém do consumismo exacerbado e da ideologia mercantilista da pós-modernidade onde tudo se resume naquilo que você tem ou deseja, pois, o que realmente interessa não é o gesto magnânimo e gratuito da candura de dar e receber presentes, e sim, a necessidade e o dever de CONSUMIR... mesmo que isso signifique “consumir-se” de tanto trabalhar para pagar as intermináveis prestações dos vários carnês mensais! 
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No contexto das atuais festas natalinas o PAPAI NOEL também é um mero instrumento de negócios e, se não fosse ele, certamente seriam utilizados outros meios (e\ou pessoas) a fim de cumprir o primeiro e grande mandamento do capitalismo: Não deixarás de adorar o deus-do-consumo nem de adquirir tudo o que o seu coração deseja, custe o que lhe custar!
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Entretanto, ao tomar conhecimento e consciência desta realidade e SE desejamos fazer algo diferente neste natal, proponho três alternativas (entre tantas) para celebrar o NATAL DE JESUS:
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1 – Reunir a família e\ou reunir-se com amigos\as para preparar uma Ceia (ou participar de alguma) que, entre tantos preparativos importantes, não esqueça de celebrar o mais importante: o nascimento de Jesus. Antes de cear proponha ou faça um momento devocional (com silêncio, leitura do Evangelho, orações, Pai Nosso, etc). Permita que Jesus se faça presente e se sinta convidado para a festa, aliás, prepare a (sua) festa como se ELE estivesse presente (e verás que Ele estará!); 
2 – Reconstruir relações e\ou reviver ideais porque o Natal de Jesus também é um “tempo oportuno” (= kairós) para a reconciliação, ou seja, é um momento adequado para novos e sempre oportunos gestos de amor, de perdão, de gratidão, de compreensão, de solidariedade, de justiça, enfim, gestos de PAZ... afinal, celebra-se o nascimento do Príncipe da PAZ;
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3 – Participar de alguma atividade humanitária, pois várias são as instituições que organizam, promovem e realizam atividades natalinas com “espírito cristão”, ou seja, dar presentes (especialmente para crianças mesmo que seja através do Papai Noel) simbolizando o maior e o melhor presente que o mundo já recebeu, que é o presente do próprio Deus: o Menino Jesus;
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4 – Envolver-se com instituições e\ou tomar iniciativas que promovam a dignidade do ser humano, resgatem a “fagulha divina” e protestem contra todo e qualquer tipo de escândalos, corrupção, mentiras, injustiça e morte de pessoas inocentes e\ou indefesas, porque o NATAL DE JESUS é um EVENTO DE VIDA PLENA E FELIZ para todas as pessoas!
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FELIZ E ABENÇOADO NATAL PARA TODOS !

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(*) Rev. Ramacés Hartwig, ost
Clérigo cristão anglicano
Colônia Santa Helena, Pelotas
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24 de dezembro de 2011

Natais da minha infância



Cheiros, sabores e sentimentos -
lembranças dos Natais da minha infância!

Neuza Janke (*)

         Apesar do cansaço que acompanha o meu corpo e mente nessa época do ano, recebi com alegria a visita noturna de “Dona Inspiração”. Na nossa longa caminhada pelos trilhos das lembranças encontramos as recordações dos natais da minha infância. Nessa visita à memória, dei-me conta de que não tenho lembranças de grandes presentes materiais. Lembro das roupas novas, às vezes feitas pela minha mãe, para cada uma de nós. Lembro de pequenos brinquedos. Lembrei de um natal em que a minha irmã (porque eu jamais faria isso) encontrou escondido no roupeiro da mãe, quatro bonequinhas. Que linda surpresa e ao mesmo tempo uma sensação de culpa por ter aceitado mexer nas coisas da mãe. Minha Irmã perguntava como isso está aqui se o Papai Noel não veio ainda? Penso que naquele momento minha irmã descobriu a verdade sobre o Papai Noel, mas eu continuava sem entender e acreditar na misteriosa figura do bom velhinho. Eu devia ter uns 10 anos e ela 9.
         Na caminhada pelas lembranças natalinas descobri que o que mais marca as minhas recordações são Cheiros... Sabores... Sentimentos: Vivências. O Natal, como também a Páscoa, eram momentos de encontro das famílias que se preparavam para celebrar. Minhas lembranças são tão vivas que chego a sentir o cheiro e o sabor das bolachinhas com confeitos coloridos que a mãe preparava alguns dias antes e guardava nas latas no fundo do balcão de madeira. Das cucas com muito açúcar e canela por cima. Nunca comi cucas mais saborosas que as da mãe. Das saladas preparadas no dia. Da espera no ponto do ônibus das visitas (avós, tios, primos) que vinham da cidade. Dos piqueniques. Meu pai adorava colocar as coisas todas em um carrinho de mão e sairmos procurar um lugar na beira do arroio, onde ele assava a carne enquanto a mãe preparava o restante do almoço e nós brincávamos seguras e felizes nas águas rasas do arroio. Eu imaginava que minha vida seria sempre assim e todos os natais seriam iguais.

         O tempo passou, vieram outros natais, outras vivências, mas o que aprendemos e vivemos com nossos pais ficou para sempre. Nesse Natal estaremos pela segunda  vez separados de corpos, nosso pai em outra esfera, mas tenho certeza que esteja onde estiver estará tranqüilo e em paz nos vendo reunidos em família, como ele sempre nos ensinou. Cansada voltei a dormir sentindo os cheiros, sabores e saudades dos natais da minha infância.

         Feliz Natal com muitos cheiros e sabores para todos!

(*) Profª Ms Neuza Regina das Neves Janke

22 de dezembro de 2011

Atelier Coletivo convida

Recebemos

O Museu Farroupilha vive! - ZH


O jornal Zero Hora de hoje destaca a inauguração do Museu Farroupilha.
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Uma República no Pampa - VII, O Museu Farroupilha vive!

Esta matéria foi publicada originalmente neste Blog no dia 14 de Setembro de 2010 dentro da série Uma República no Pampa. Hoje, dia da entrega da restauração completa do Museu, feita durante o ano de 2011 - e que esteve literalmente abandonado  por sucessivos governos estaduais, e fazendo justiça a dezenas de pessoas que se empenharam pessoalmente nesse tarefa, a republicamos com a satisfação de dever cumprido.
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Uma República no Pampa - III, Um museu em farrapos

  

Depois de proclamada a República, a capital foi instalada em Piratini. No entanto, no decorrer da guerra e por necessidades estratégicas, foi mudando de cidade. Piratini foi capital de 10 de novembro de 1836 a 14 de fevereiro de 1839. Depois foi mudada para Caçapava que sediou a nova república até 22 de março de 1840. Ao final dos combates, já nos tempos do tratado de Ponche Verde, estava sediada em Alegrete. Numa curta passagem de duas semanas por Bagé, nossa cidade pode servir como uma sede provisória do governo da República Farroupilha. Hoje, a casa onde funcionou o Ministério da Guerra em Piratini, sedia o Museu Farroupilha. O museu, que guarda boa parte da história real dos farrapos, está em péssimas condições. Com risco de desabar pela ação de cupins em seu madeiramento mais do que centenário, a casa sofre também com as infiltrações da chuva. Lá estão as condecorações do General Bento Gonçalves, documentos, lanças, espingardas, revólveres, pistolas, espadas, lenços, bandeiras... e muitas telas de pintores famosos que contam a epopeia farrapa. Com verba de aproximadamente um milhão e trezentos mil reais, aprovada junto ao BNDS para sua restauração, o projeto espera apenas a contrapartida de setecentos mil do Governo do Estado do Rio Grande do Sul há mais de dois anos. No entanto, só em desfiles alegóricos, são gastos anualmente mais de um milhão de reais, só na cidade de Porto Alegre, aquela que Bento tomou dos Imperiais logo no início da guerra. Este ano, para “democratizar” esse deboche, foi destinada “parte dessa verba também para alguns desfiles no interior”. Enquanto os gaúchos estiverem assistindo pela televisão o desfile dos “carros alegóricos” (como os do carnaval) transportando cavalos de isopor, espadas de plástico e lanças de cabo de vassoura, no desfile da capital, os objetos reais, ainda marcados pelo sangue dos farrapos, estarão apodrecendo ou sendo furtados do Museu Farroupilha. É... parece que não damos sorte com os impérios... Aos gaúchos resta esperar que apareça em algum momento um novo General Bento Gonçalves que olhe com atenção para nossa história verdadeira e valorize os dez anos de luta dos farrapos pela liberdade, pela república e pelo fim da exploração. Faço minhas as palavras de Netto no campo dos Meneses: Viva a República Rio-grandense!
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Nota: Conheça e entenda a situação do Museu
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1819 - a família de Bento Gonçalves da Silva constroi o prédio
1835 – sedia o Ministério da Guerra durante o período em que Piratini foi capital da República Rio-grandense
1837 - a parte térrea, passa a abrigar a primeira escola pública da República Rio-grandense, fundada por Domingos José de Almeida
1952 - o prédio é tombado pelo Governo Federal
1952 - o prédio é doado por Florisbelo Cândido de Farias ao Estado do Rio Grande do Sul, que promove a restauração do imóvel
1953 - é escolhido como sede oficial do Museu Histórico Farroupilha
2007 - Iniciam os “modernos” desfiles farroupilhas em Porto Alegre e é contratado o carnavalesco Joãozinho Trinta, do Rio de Janeiro, para ensinar os gaúchos a organizá-los.
2007 - duas empresas, “ATO Produção Cultural” e “Arquitetos e Projetos”, por sugestão do IPHAN e com a autorização da Secretária de Cultura Mônica Leal, fazem o projeto de restauração do prédio do Museu.
2008 - o projeto é aprovado pelo MinC / Lei Rouanet. Essa aprovação possibilita à empresas que patrocinarem o projeto 100% de isenção fiscal oferecida pelo governo federal.
2008 - o BNDES acena com 2/3 do valor do projeto, desde que o governo do RS assuma 1/3 do valor. O Banrisul e a CEEE já têm todos os recursos comprometidos com outros projetos
2008 - são furtadas várias espadas do museu Farroupilha, entre elas, uma de Bento Gonçalves.
2008 - novamente furtadas mais de 30 peças entre revólveres e pistolas do Museu Farroupilha.
2009 - o BNDES reafirma o seu compromisso de aportar um milhão e trezentos mil reais, enquanto o governo do RS se compromete com os 736 mil reais que completam o montante necessário
2010 - o patrocínio anunciado pelo governado do RS não é confirmado, enquanto o montante do BNDES está disponível, com contrato assinado.
2010 - como faz todos os anos o governo do RS divulga amplamente pela imprensa a mobilização de aproximadamente mais de um milhão de reais entre verbas públicas e patrocínio da iniciativa privada para custear o "Desfile Farroupilha", desta vez distribuindo parte do dinheiro para outras cidades do interior.
2010 - a situação do Museu se agrava a cada dia que passa, colocando em risco relíquias verdadeiras pertencentes à história da Guerra dos Farrapos.
2010, 20 de Setembro – milhares de gaúchos sairão às ruas, pilchados, para assistir o desfile farroupilha sem saber que o Museu que guarda a sua história está em farrapos...
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2011 - Governo do Estado finalmente garante a contrapartida, faz a restauração e os gaúchos têm seu Museu Farroupilha de volta!
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