18 de junho de 2011

Os marmeleiros da Aroeira

Dona Loracy, 80 anos depois, volta a colher marmelos
.
Fidêncio José dos Santos e seu filho Balbino marcavam o chão com seus passos naquela manhã dos idos de 1930. Na Aroeira, a atividade de moagem dos grãos era exercida somente no moinho de Fidêncio. De longe chegavam as carroças e carretas de bois com os sacos, identificados pelas plaquinhas com os nomes dos que logo viriam buscar o produto já moído.
.
Logo atrás do pai e do avô, vinham Loracy e Hélida que, na inocência de seus 6 e 4 anos, respectivamente, já sabiam que as marcas no chão significavam a presença do vulcão. O que era um vulcão e suas consequências ainda não eram do conhecimento das duas menininhas.
.
Sabiam elas naquela manhã que, certamente, fariam outro trajeto de regresso. Por entre galhos de marmeleiros com saborosas frutas, andavam elas com seus pezinhos dentro da água dos canais que iam até o moinho para fazê-lo funcionar.
.
Em certos trechos as árvores ficavam tão próximas, enredando a galharia por sobre a água. As guriazinhas até ficavam apreensivas pela sombra que se formava. No entanto, sabor e frescura eram atrativos irrecusáveis e a dupla seguia sua jornada divertida.
.
Não sabiam Loracy e Hélida, que, a partir daquele ano, ficariam privadas de saborear tão doces frutos. Os marmeleiros se ressentiram das cinzas, diminuindo quase totalmente a produção dos frutos.
.
Se era o Puyahue, só o Google poderá responder...
.
Enviado pela colega
Vera Luiza dos Santos Vaz
.
NOTAS DO BLOG
1. Aroeira, localidade do município de Cacimbinhas (na verdade Pinheiro Machado, que custou muito a adotar o nome imposto à tradicional cidade da campanha gaúcha, por força de decreto, em função do assassinato do então senador PM, no Rio de Janeiro, em 8/9/1915, por Francisco Mancio de Paiva Coimbra, que havia morado na cidade durante algum tempo)
2. Fidêncio - pai de Balbino - pai de Loracy - mãe de Vera luiza.
3. Não conseguimos descobrir o nome do vulcão que expeliu as cinzas que mataram os marmeleiros da Aroeira na década de 30.
.

3 comentários:

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Oi, Vaz...
Maravilha esse texto da amiga Vera que, com maestria e beleza, incursiona pelo mundo mágico e fértil das Letras e nos conduz - com sua hábil e reminiscente narrativa - a tempos pretéritos e "frutificados". Sim, porque, apesar das cinzas do tal vulcão, marmeleiros e marmelos ficaram nas retinas - além, ou apesar do tempo... Um tempo de suor e de colheita... Imagens suspirosas que, poeta, ouso transformá-las em metáforas - com gosto, textura e cor - indelevelmente dependuradas nos "varais" da memória da autora. Rica e espontânea narrativa que testemunha o quanto de nossa andança sobre a Linha (irreversível!) do Tempo, e o quanto aprendemos (ou não) nessa tão longa e, ao mesmo tempo, efêmera Caminhada... Restam as cálidas Lembranças, as Saudades... E a certeza de que viemos de um tempo em que, realmente, a vida era calma e o boi era manso. Enfim, prazer em conhecer Dona Loracy - que lembra minha boa mãe com seus cabelos branquinhos... E lembra, ainda, uma tia - amiga do peito, (que, infelizmente, não chegou a branquear os cabelos), e se chamava, igualmente, Loracy - e morava em Bagé. Parabéns, Vera! Teu texto me fez bem aos olhos e à Alma!
Bom domingo!
JJ!

Vera Luiza disse...

Obrigada ao amigo JJ pela prosa plena de poesia! Pelas palavras repletas de referências elogiosas! Coisas de amigo querido... Fico pensando que a vida e o tempo nos tiram algumas coisas, mas, se soubermos ver, nos dão outras... Ganhamos, por exemplo, em podermoa desfrutar das tecnologias da internet! Através do Blog, presente diário do Vaz,aprendemos, nos comunicamos, revivemos fatos, passagens e vivemos o privilégio de reencontrarmos antigos colegas e amigos, bem como fazermos novas amizades. Tudo graças ao nosso amado Estadual! Abraço!

Hamilton Caio Vaz disse...

Pois esse vulcão que entrou em atividade há 80 anos no Chile, traz agora, quem sabe compensando um pouco aqueles prejuízos na Aroeira, tão boas lembranças, através dos textos cheios de poesia, da Vera e do JJ! A leitura do post e suas notas, e dos comentários, foi uma bela viagem literária. Parabéns ao Vaz, à Vera e ao JJ, o Blog voou alto com esse post.

Muitos colegas vão lembrar, ainda no tempo em que a televisão não tinha escravizado a família em sua órbita, que havia os serões após o jantar e que eles eram muito agradáveis. Os comentários sobre os acontecimentos do dia acabavam sempre, para alegria da gurizada, se dirigindo para as histórias que nossos pais contavam sobre antigamente. E muito do que falavam tinha um toque misterioso, fantástico e até de assombração, bem ao nossos gosto. Lembro quando a D. Loracy contou, mais de uma vez, a história desse vulcão na época de sua infância, de como as cinzas cobriram os marmeleiros e todas as plantas da Aroeira. Depois o toque misterioso: o dia começou a escurecer mais cedo, sem saberem o verdadeiro motivo, seriam mais cinzas e poeira? Mas em seguida se descobriu que era um temporal se preparando, quando começou a chover muito e a noite entrou com o forte aguaceiro. E então, nos dias que se seguiram, conforme o tempo foi melhorando, tudo foi clareando e as cinzas desapareceram, como por encanto. Era uma história de mistério com final feliz, como gostávamos, exceto pelo estrago nos marmeleiros. E então chegou o tempo do Ginásio no Estadual, as primeiras aulas de geografia com o Prof Frederico Petrucci, com vulcões, terremotos e astronomia. A primeira lembrança foi tentar identificar o vulcão das cinzas e dos marmeleiros em Cacimbinhas, mas nunca tive certeza sobre a localização dele.

Bons e inesquecíveis aqueles tempos das histórias contadas em torno da mesa do jantar!

Bem que podíamos redescobrir os serões, começando por desligar a tv na hora do jantar. Eu já fiz isso.