9 de dezembro de 2012

Almas Secas!

Foto LC Vaz

Almas Secas!
J.J. Oliveira Gonçalves

"O homem é o mais cruel dos animais."
(Friedrich Nietzsche)

Cada vez mais, mais verdadeiro e mais doloroso constatar que Nietzsche continua com razão, quanto à epígrafe, acima. Não tenho nenhuma previsão otimista sobre o futuro do planeta nem sobre o destino do bicho-homem, quanto a seus últimos passos sobre a Terra, em direção ao Caos apocalíptico que ele - desalmada e irreversivelmente - instalou. Almas Secas são almas baças, opacas, sem brilho, sem Luz... São almas de Maldade. Almas que se pensam inteligentes, sábias, poderosas... Mas que, na verdade, são almas egoístas, gananciosas, materialistas... São covardes!

Cada vez mais, mais verdadeiro e mais latente o meu desejo de morar em meio à Natureza. Ter por vizinhos bem-amados os inocentes manos animais. Beber da Água da Fonte. Com o Vento cantar e dançar sua canção. Filosofar com sábios Elementais. Correr, brincar com sapecas Querubins. Deixar que a Chuva chore - cristalinamente! - minhas lágrimas. Dizer ao Sol - que é Fogo: me ilumina! Pedir à Noite - que se enfeita do pó das Estrelas e do ebúrneo da Lua - conta-me uma história... da carochinha... começa assim "era uma vez"... para que eu durma em Paz ao teu notívago e fraterno acalanto... Recitar para Fadas, Flores, Ninfas, Pedras, Pássaros, Árvores, Vegetais, Nuvens, Infinito - enfim - versos do coração desabrochados... rimas brotadas d'Alma... Entregar-me ao Sal da Terra para que ele me salgue as Feridas e os Machucados. Então, saudar - respeitosamente! - as Quatro Direções! As que caminho - fora e dentro de mim. As que hei de caminhar - com Ancestrais - quando me for daqui. Ah, em qualquer delas, haverá uma Estrela-Guia a iluminar-me os olhos e a guiar-me os passos... Porque minh'Alma, ao contrário das Almas malfazejas, não é seca: tem o Pai e o Filho, o Espírito e a Mãe!! Quem sabe, por isso, não compreenda por que esta Alma já gasta Sofra tanto...

Não vou chorar pelas almas secas. Eis que elas não choram por ninguém. Elas, porém, sei que vão chorar. Chorarão - em suas pungentes lágrimas - as lágrimas de suas vítimas. Sentirão as mesmas e alucinantes torturas que lhes impuseram. A mesma Dor. E o mesmo degredo psicológico. Eis que, assim, é a Lei. De doce e longínqua lembrança, minha mãe filosofava e me ensinava - com o suor da Vida: "João, ninguém faça o mal esperando o bem..." Verdade, mãe. Verdade. E, aqui, neste auto-exílio que adotei e de onde escrevo, sou o homem-comum e o poeta que, teu filho-único, ainda te escuta neste meu jeito - ilusoriamente distante - mas, ainda, de atento e atordilhado curumim.

Já o Natal de novo se aproxima... Ah, quantas almas secas - desalmadas - a apregoar o Espírito de Natal... Escondem suas Maldades, seus Venenos. E, como se fossem Almas Luminosas... como se fossem fraternas, gentis e venturosas... querem enganar - a nos mentir - que estão no clima. No clima de uma Estrela, de um Menino... De um Brilho que morreu dentro de si. De uma Noite de Natal fraterna e bela. (De quando Ele dos Céus desceu aqui!) Ah, se navegar é preciso, (com toda essa borrasca que me sacode a Existência!), eu navego, por Mares encapelados e bravios. Vai meu batel por entre ruidosos e escuros Temporais. Às vezes, à deriva, ouço da Alma estes ais que só se apartarão de mim quando eu for morar de novo em minha Estrela. É minha Crença, minha Religião, meu Rito! E, lá, nesse Cais de Verdade, de Luz e Perfeição, hei de descansar meu coração valente. E a própria Alma hei de ver envolta em Paz e Bem! Alforriado, enfim, de meus Pecados, quando dormir eu hei de ouvir a Música das Esferas... Será o Tempo-Atemporal. Não mais o angustiante - este em que vivo - de incompreensíveis Dores... e de Esperas! Tempo de ansiados (re)encontros... De corrigir velhos, doridos (des)encontros... De Saudade zero! De ser de novo Amado... e ser Feliz!!

JJ de Oliveira Soares

Porto Alegre, 15 de novembro e 04 de dezembro/2012. 12h - HS
jjotapoesia@gmail.com - www.cappaz.com.br
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3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Vaz...

Fugindo um pouquinho de meu "auto-exílio" para agradecer-te e dizer-te que fiquei feliz ao ver esta crônica que brotou - ao natural, espontaneamente - de uma "revolta do Espírito", digamos assim, contra tristes e infelizes fatos do cotidiano, patrocinados por esse bicho-homem que tão bem e tristemente o brilhante filósofo alemão definiu!
Um dia, te contarei sobre fatos e personagens (em carne e osso) que me levaram a escrevê-la.
Mais uma vez, grato, pela divulgação de meu trabalho no nosso sempre "Velha Guarda"!

Com franciscano abraço!
JJ!

Anônimo disse...

Oi, Vaz...

Desculpa-me... Quando cliquei, enviando o comentário, lembrei que esquecera de falar sobre a foto. Pois, gostei muito dessa porção de água, cercada do verde do campo e onde também porção do céu se debruça, se espelha de forma delicadamente poética... Então, lembrei-me de uma família com que fiz amizade, em Bento Gonçalves, através de filhote de lingüicinha chamado "Zezinho" - para quem escrevi uma crônica poética e franciscana (ganhei até prêmios com ela). Conto-te isso para dizer-te que essa família tem uma livraria no centro de Bento: "Livraria Água Viva" - pois diz-se que onde a água está viva, ali Deus está.
Parabéns, Vaz, pela feliz escolha da foto que ilustra - de forma contrastantemente bela - a temática do texto. Afinal, se almas estão "secas", a água está viva - pois Deus está nela!

Abraço franciscano!
JJ!

Luiz Carlos Vaz disse...

Eu sempre procuro esses "casamentos", JJ. E te digo que essa prosa demorou um pouco a sair por não achar uma boa imagem... mas de repente lembrei desa "vista" de um dos nossos açudes e não deu outra, casou direitinho. Que bom que agradou ao autor.
Um abraço
Vaz