27 de março de 2011

Mancadas do Velho Souza

Esta tira das Mancadas foi publicada em 9 de abril de 1957
(Clique na tira para aumentar)
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Numa das postagens de segunda-feira, 21 de março, falei sobre o fascínio que sempre exerceram em mim as Charges. Depois, nos comentários, lembrei de uma outra forma de humor gráfico, muito comum nos jornais - as tiras, e, em especial, das Mancadas do Velho Souza, publicadas durante anos a fio no nosso saudoso Correio do Sul. Prometi aos colegas publicar uma tira que tenho guardada das mancadas, que eram de autoria de Gildo, e distribuídas aos jornais brasileiros por uma agência denominada APLA.  Com patrocínio da Farmácia São João, as situações anedóticas vividas pelo Velho Souza, lembravam aos leitores do nosso velho jornal:
“Não dê Mancadas! Compre na Farmácia São João, sempre é mais barato”.
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4 comentários:

Hamilton Caio disse...

Que grandes lembranças trazem as "Mancadas do Velho Souza" no Correio do Sul! Foram praticamente as primeiras Histórias em Quadrinhos que eu li. Naturalmente, era o que eu procurava de início, logo que conseguia pegar o jornal, desde que comecei nas "primeiras letras". Lembro que até adultos faziam isso, principalmente meu tio João. O jornal muito serviu para despertar o gosto pela leitura desde cedo. Além do Velho Souza, chamava a atenção das crianças um desenho muito atraente do Papai Noel, que aparecia no período das festas de natal na propaganda da Casa Lira, da família Figueiró, que vendia brinquedos. Havia também um outro papai noel, de desenho menos artístico, que, parece-me, era na propaganda da Casa dos Penteados do Arlindo Dill, que também vendia brinquedos, e ficava onde hoje está o Edifício Teorema, ao lado do antigo Banco Mauá. O tio João ia diariamente na Estação buscar o jornal que chegava pelo trem que saía de Bagé às 06h30 e parava na estação da Hulha Negra por volta de 07h30, segundo me lembrou a D. Loracy, trazendo o Correio do Sul e correspondências.
Falando com o jornalista e pesquisador Mário Nogueira Lopes, ele me informou que as tirinhas vinham do Rio de Janeiro, dessa agência, e que a farmácia São João se localizava na avenida Sete, esquina com a rua Dr. Penna, que depois se mudou para o Edifício do Cine Avenida quando ficou pronta a nova construção.
Dessa última localização eu lembro, ainda dos anos 50, pois o novo Cine Avenida foi inaugurado em 1957. Depois apareceu uma nova farmácia no lugar da São João (provavelmente foi vendida), a Drogaria Velgos. Anos depois, esta viria a se associar com a farmácia (ou drogaria) Panitz para formarem a nova Panvel.

Clara Marineli disse...

Eu recortava as tirinhas do Velho Souza e as colecionava, e o mesmo faziam primos meus que moravam na zona rural de Pinheiro Machado e recebiam o Correio do Sul. As crianças eram incentivadas a ler o jornal. Meu avô Dílio Furtado da Silveira assinava o jornal desde a sua fundação em 1914. Ainda tenho alguns exemplares da época da 2ª guerra mundial, com o nome dele impresso no endereçamento, na própria página. O jornal era enviado pelo trem de passageiros e ficava na estação de Seival. Relembrei com a minha irmã Lídia a viagem que o jornal fazia desde Seival até nossa casa. Um morador da região, chamado João Correia, partia a cavalo, nas 6ª feiras, de sua casa no "Corredor do Velhaco", que é uma estrada de interior que liga os municípios de Bagé e Pinheiro Machado através do passo João Propício Luiz, no arroio Velhaco que separa os dois municípios. O arroio Velhaco é um dos afluentes do Rio Camaquã. Depois de cavalgar por esse corredor, ele chegava até as estradas da Pedra Grande e da Bolena (estradas que ligam o distrito de Palmas até Bagé, passando pela Hulha Negra). Antes de chegar a Hulha Negra ele seguia por outro corredor que ia direto até Seival. Nessa viagem ele fazia uns 60Km, ou um pouco mais, sempre a cavalo. Depois de ter pousado em Seival, fazia o percurso de volta, partindo no sábado, e já ia deixando a correspondência e os jornais em vários locais ao longo da estrada. Os pontos finais do percurso de volta eram as Vendas (armazéns) de Raimundo Coelho, na Pedra Grande, e a de Marciolino da Cruz Barboza, no Cerro da Cruz. A partir daí era feita nova distribuição, ou os destinatário procurando nesses locais, ou pessoas das vendas fazendo a entrega nas propriedades ao redor, muitas vezes também deixando em casa de amigos mais próximos. Do ponto final da entrega das correspondências até a nossa casa ainda distavam 12Km. Essa jornada semanal de 120Km ele cumpria inverno e verão. Por esse trabalho, ele passou a ser chamado de João "Correio". Esse tipo de transporte se estendeu até o início dos anos 50, quando as correspondências e os jornais começaram a ser enviados pelo ônibus da empresa de Fidelcino Rodrigues, que foi a primeira a fazer transporte de passageiros para aquela zona (Palmas e Pedra Grande, via Hulha Negra e Bolena). Nessa época o ônibus ainda passava através de campos, e havia três porteiras para abrir.

Luiz Carlos Vaz disse...

Hamilton, num tempo de poucas imagens, os jornais - que naquela época eram impressos pelo sistema tipográfico, e muitos deles compostos manualmente, sem o uso das 'modernas' Linotipos, materiais como o "Velho Souza" eram um oásis no meio de tanto texto, sem qualquer ilustração. A produção dos clichês era cara e nem todo jornal podia manter uma clicheria. Normnalmente os clichês - com a "carinha" dos políticos de sempre - eram produzidos aos montes, e distribuidos aos "jornaes", pelos partidos políticos, propiciando que os seus próceres sempre estivessem ilustrando as matérias publicadas. Muito boas as informações obtidas com o sr Mário Lopes.

Luiz Carlos Vaz disse...

A Clara, além de recordar também das Mancadas do Velho Souza, nos dá uma aula de História e Geografia... Parabéns pelo resgate de toda essa epopeia da distribuição do Correio do Sul, e da correspondência, na região da Campanha. As pessoas, numa época de poucos aparelhos de rádio, davam muita importância para as novidades trazidas não só pelos jornais, mas também para as cartas, com narrativas de parentes que moravam em lugares mais centrais. Era comum que a noite, alguém lesse atentamente as cartas e os jornais para um grupo reunido em torno do fogão à lenha, quando depois - os adultos, teciam comentários e faziam especulações sobre as façanhas de Borges, Assis ou Vargas. E a criançada ouvia tudo de bico calado...