Aplicação de tom&corte sobre foto do jornal Minuano |
Está Começando o "MUZA"
.
Claudio Antunes Boucinha
Este
artigo é dedicado ao programa produzido e dirigido
por Edgar Muza e sua equipe,
denominado
“Visão Geral”,
veiculado
na programação de uma rádio local,
na
rádio Cultura de Bagé,
diariamente,
às 11h da matina.
Em nosso cotidiano, existem as
marcas, as balizas do dia. É como se fosse uma grande viagem, com seus pontos
de parada. Não sei como sei exatamente como se formaram tais redes em que os
indivíduos se inserem ou são inseridos. Não há como dizer que isso ou aquilo
influenciou de forma determinante a organização do dia a dia. Norbert Elias,
um alemão, um historiador, chamava a atenção para a racionalidade dessas redes
intermináveis e incalculáveis que a humanidade traçava ao seu redor. A única
coisa certa é que havia alguma racionalidade em tudo isso, em todo esse caos
aparente, embora continuasse, pela própria natureza das coisas, caos.
Serão as
minhas marcas as tuas marcas? Um húngaro, um austríaco, um russo, um
norte-americano, terão as mesmas marcas? Talvez, para um húngaro, sejam fortes
os gestos e os aromas que lembram flores e violinos. Para um norte-americano,
sejam importantes as figuras de Elvis Presley e os automóveis, os “carrões”.
Para um russo, o gosto da vodca. Em Viena, as casas antigas.
Mas o que importa,
senão o amor? Comer bergamota, uma laranja, no inverno, num dia ensolarado,
depois do meio-dia, a quem paga o preço, o valor de tal gesto tão simples?
Tomar um copo d'água, de um filtro de barro, para saciar a sede insaciável?
Tomar sol, no inverno, como se fosse um lagarto, exercitando o verbo
“lagartear”? Comer “rapadura” de amendoim, de leite, de abóbora? E o doce de
figo, de abóbora, de batata-doce, de laranja, de ambrosia, sem falar nos pudins
de leite? São inúmeros os sabores, os odores, os cheiros, que povoam o cérebro,
os sentidos, as consciências, as lembranças, o dia a dia.
Não vou lembrar dos
perfumes do campo, a não ser quando quero lembrar de onde estou e por que sou
assim. Como fazia um amigo meu, era melhor dormir nos “pelegos”, ao relento.
Melhor ainda era tomar um leite “fresquinho”, de manhã bem cedo. Dizer um
bom-dia, um boa-tarde, boa-noite, era muito mais que simples palavras. As
aranhas, nessas redes, teciam mais que teias, nos cantos das paredes, dos
tijolos de tantos quilos dessas estâncias que, de tão antigas, tornaram-se
sobrenaturais.
Lembrar dos arroios era lembrar do quanto somos um povo
ribeirinho. Das águas das enchentes, provocando sofrimentos, até as águas
malemolentes do verão, e os entorpecimentos que lembram Gabriel Garcia Marques
e cem anos de solidão.
Não sei como terminar o texto. Ainda faltam coisas,
nesse espaço supostamente vazio. Falar das charqueadas, das facas paternais que
riscavam as carnes como se fossem linhas de costura. Dos churrascos e dos mate amargos,
do chimarrão, destes nossos costumes tribais. Poderiam ainda falar dos
“bruxedos”, como se dizia em Portugal, do quanto somos africanos e não sabemos.
Poderia ainda falar de tantas coisas, quem sabe de nossas feiras matinais e
seus tantos alimentos tenros e saborosos. Da venda da esquina. Dos trabalhos de
renda. Do “saravá”. Do “sapinho” e das “benzedeiras”.
Vai começar o programa do
“Muza”. Não dá para “perder”. Vou terminar. O programa do “Muza” vai começar.
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Claudio Antunes Boucinha
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Nota: Apaixonado pelo turfe, Edgar Muza viaja para a cidade
do Rio de Janeiro,
todos os anos, em agosto, para acompanhar o Grande Prêmio
Brasil.
Claudio Antunes Boucinha, Mestre em História do Brasil.
Crítico.
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Um comentário:
O Muza, para mim, é o PELÉ dos radialistas bajeenses. Carisma, criatividade, iniciativa e coragem são as características marcantes da sua personalidade, responsáveis, por certo, pelo sucesso que ele tem alcançado em sua longa carreira no setor das comunicações.
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