Tempo e matéria.
Marcelo Soares
Um dia abri um buraco na grama do
jardim - quando ainda morava numa casa que o tinha – e protegidas em sacola
plástica embalei minhas memórias.
Da janela espio ansioso a passagem do
tempo, tento, sem atenção, decorar a matéria: os corpos são feito de átomos;
nêutrons e prótons circulam pelo quarto.
Se o dia for colorido correrei para a
rua, se nublado, deito para pensar na vida.
Se chover convido meu irmão para um banho no pátio.
Qual a hora para a primeira namorada?
Saberei criar meus filhos? Aprendi um instrumento.
Minhas canções são antigas para a
idade, despertam sentimentos que ainda não comovem.
O tempo passa na janela, outras
lições ficam dispersas. - Não tão
rápido, não tão rápido... já sou precoce!
Desde o dia que fechei o buraco com
as minhas memórias, elas surgem assim: soltas, indivisíveis como os átomos
perdidos no meu quarto.
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Marcelo Soares
publicado em diariodecanto
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