19 de agosto de 2012

Quando estive lá

Rafaela e Arthur no "Labirinto do Fauno", fotografia LC Vaz



Quando estive lá
.
Ângelo Alfonsin

pelas tardes infindas
da infância
eu
corria pelo pátio
até flutuar num chão
de nuvens
levado por um vento
que só soprava dentro de mim
voo de liberdade e encantamento
sobre montanhas de sorvete cobertas
de chocolate
depois mergulhava em rios coloridos
nos cadernos de desenho
da escola
pisava em jardins de estrelas
onde se lia a placa "proibido não pisar"
quando
não era necessário nenhum dinheiro
do mundo
para sonhar
as pandorgas e balões partiam lotados
de futuro
a única saudade possível
vestia-se vida
da cabeça aos pés
aquela magia
era vida com sentido
e
a poesia
a ciência que me explicava
talvez porque
o céu
fosse ali
_______________________________
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7 comentários:

Anônimo disse...

Vaz, já estava sentido falta das visitas do "Velha Guarda", pensei que tivesses desistido do "irresistivelmente".
Eu já estou quase.

Abraço

Luiz Carlos Vaz disse...

É tudo uma questão de conseguir fazer o casamento perfeito, Ângelo, senão...
Um abraço de quem também já esteve lá.

Anônimo disse...

Pois, Vaz...

Que bela e terna aquarela o poeta tece das inocentes e espontâneas "loucuras" da infância... Ah, a Infância... um quadro (ou uma quadra?) da Existência feita de inocência, de Sonhos, de singelezas sem preço e sem par... Com certeza, o poema recheado de imagens, de metáforas, (re)mexe, de forma gostosa e delicada, no "baú-infantil" - aquele de anteontem... Lendo-o, voltei aos carinhos de minha querida avó materna (Mama) e à beleza inesquecível e acolhedora de seu jardim - enorme, colorido, perfumado, encantado...
Parabéns, ao Alfonsin! E parabéns, a ti, pela leitura fotográfica que fizeste do poema! Na imagem, Rafaela e Arthur são a "Metáfora-em-Carne-e-Osso" das delícias do ser criança e da rósea Liberdade da Alma-Infantil!

Com franciscano abraço!
JJ!

Luiz Carlos Vaz disse...

Obrigado, JJ. O detalhe é que o "labirinto" também é obra minha, feito com o cortador de grama, lá na granja, em Curral Alto... Hoje, um tanto vitimado pela seca, já não permite que o Arthur "se perca" nos seus caminhos, mas a imaginação infantil sempre faz com que ele clame por mim - ou pela mãe - quando sente-se perdido, à mercê do Fauno. E nós, JJ, entendemos bem disso, pois, como disse sabiamente o Ângelo, "já estivemos lá"...

Hamilton Caio Vaz disse...

Ligação perfeita entre texto e ilustração! Ângelo e Vaz, vocês conseguiram mexer comigo com essa postagem. Parece que estou repetindo o mesmo assunto quando falei sobre a poesia do JJ. Mas, torna-se necessário. A poesia do Ângelo é “irresistivelmente” profunda em suas metáforas. Depois que eu li, me fixei na fotografia tomada em movimento, então ela me pareceu um filme de décadas atrás, que subitamente congelou, mostrando o autor da poesia (e nós mesmos!), quando crianças, brincando e correndo livremente, como se estivéssemos no paraíso.
Essa fotografia, recente, com um toque mágico de sépia, era só a aliança que faltava, e o Luiz Carlos celebrou mais um “casório” perfeito.


Hamilton Caio Vaz disse...

Não, Ângelo, não desistas! Precisamos da tua poesia! Como disse o Luiz Carlos, respondendo para a Helena: “fora da poesia não há salvação...” Arte é alimento e tônico para o espírito, e dentre as artes, acho que poesia e música são as mais rapidamente assimiláveis, servindo para qualquer idade, e não tem contra-indicação. E ciência e arte fazem um conjunto harmônico. Não é por acaso que grandes vultos da ciência apresentavam também pendores artísticos. O artista tem olhos de lince, dote que pode faltar a um cientista na busca daquela solução quase impossível do problema que procura resolver. Bem, Albert Einstein tocava violino...

Anônimo disse...

Obrigado a todos pelos comentários.