Fotografia Alexandre S Gomes |
Lembranças Paternas...
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J.J. Oliveira Gonçalves
Das mais tenras e belas lembranças de minha infância, guardo aquelas de
meu pai comigo em seu colo. Às vezes, em pé. Às vezes, sentado. No aconchego
íntimo da Família. Ou, na venda, onde, juntamente com minha mãe, batalhava a
batalha dura e desigual da Vida. Ali, os fregueses - vizinhas e vizinhos - me
paparicavam e tantas vezes, ouço uma voz que vem lá dos recônditos da Alma, (de
pessoas da Rua dos Sargentos), a me chamar pelo diminutivo afetivo de
"Joãozinho".
E assim fui me criando... Naquela Vila que por tê-la amado - sempre -
dela sinto sinceras e ternas Saudades... Ah, vontade de lá voltar... Voltar aos
meus muitos brinquedos. Aos meus livrinhos e almanaques. Voltar aos meus
inesquecíveis bichinhos-de-estimação - com suas sapequices, suas brincadeiras,
seus olhos marotos de mansidão e de incondicional Amizade... Todavia, não
posso! Ninguém pode voltar para o Passado. Então, preciso revisitá-lo, de vez
em quando, me embrenhando pelas ramagens das Lembranças... As Dores da
"impossibilidade" são muitas e fundas - não nego. E, têm vezes que
somente a lágrima deste coração-menino pode acalmar e trazer o consolo da
Calmaria do Passado...
Voltar àquela Rua onde jogava bola, bolinha de gude, largava pandorga -
sempre na frente da venda, pois parece que meus pais tinham que estar sempre
"me reparando", vendo, protegendo. Ah, mais tarde, comecei, (depois
de alguns tombos), a andar em minha belíssima bicicleta azul - que Papai-Noel
me trouxera num maravilhoso Natal... Com ela, "alarguei os horizontes",
pois já era "mais grandinho" e podia passear até o campo do
"Guarani" ou, mais distante, até alguma tia ou, mesmo, até o centro
da cidade, buscar a velha e indispensável revista" O Cruzeiro" - que
meu pai assinava, para a gente olhar e ler... Mas, sei - com certeza - como uma
ferramenta para que eu vivenciasse, então, os "Horizontes das
Letras", atualizasse o mundo em que já vivia e, assim, me arregimentasse
mais e melhor para os bancos escolares. Nunca meus pais me disseram isso. Assim
como nunca perguntaram se eu tinha "tarefa de casa", prova, sabatina,
ou exame... Meu pai e minha mãe sabiam que não precisavam. Viam meu gosto e meu
trato com os estudos. Creio que foi dos melhores presentes que pude dar para
meu pai e minha mãe. (Quem sabe, o melhor?)
Com certeza, na humildade eu fui criado, havia muita riqueza! Eu era um
príncipe proletário que nasceu em uma Vila, criou-se em outra e, adolescendo,
foi morar no centro da cidade - minha bucólica e inesquecível Bagé. Hoje -
entre Lembranças e Relembranças - eu "curto" as Riquezas do
Passado... Se não as posso mais ter, eu as mimo - com as mãos da Porfia e da
Gratidão... Guardadas que estão no Cofre Sagrado do coração!! Hoje - Dia dos
Pais - entre suspirosas Reminiscências, sinto larga Saudade de meu
"Querido Velho"... Que Deus o tenha e os Anjos cantem para ele. Quem
sabe, possam lhe recitar algum verso ou alguma rima que, para ele, já
escrevi... Lembranças paternas doem na Alma... Mas, bem diria minha mãe, em
ocasiões semelhantes: "É a Vida, João"...
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Porto Alegre, 12 de Agosto - Dia dos
Pais/2012. 11h55min
jjotapoesia@gmail.com -
www.cappaz.com
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4 comentários:
Parabéns, JJ, por mais esta bela reminiscência poética. Tem faltado tempo para comentar sobre as tuas excelentes colaborações para o blog, em poesia, textos e fotos, devido a muitos afazeres.
A exibição da foto invertida resultou num efeito muito interessante. O que era virtual ficou real, o que era sombra virou a imagem principal, sugerindo uma visão, uma imagem fantasma, talvez a aparição de um espírito, ou uma lembrança...
Parabéns ao Alexandre pela “inversão” da realidade, e ao Luiz Carlos que escolheu a foto perfeita para casar com o texto do JJ.
Caro Vaz...
Aqui, para agradecer pela edição desta crônica em nosso diuturno "VG". Com certeza, esse "mimo" que me ofereces é assim feito um abraço solidário na imensidão da Saudade que se adona do peito, em ocasiões como esta!
Agradeço, ainda, ao Alexandre Gomes pela singularidade da foto e pelas tantas leituras que a Arte das imagens nos convida a fazer... A foto nos "chama" para o seu "interior" e nos "convida" a filosofar... a "decifrá-la"... Eis uma imagem desafiadoramente emblemática!
Com franciscano abraço!
JJ!
Caro Hamilton Caio...
Grato, pelo elogio fraterno e pela beleza das palavras! Devo confessar - com a sinceridade e a franqueza que fazem parte de mim - que não me passa desapercebida tua ausência e que sinto falta de teus comentários seguros, diversificados, brilhantes. És dono de uma memória espetacular, Hamilton! E alias as lembranças que carregas - sempre presentes - contigo, com essa gostosa intimidade/familiaridade que tens com as palavras.
Quanto à fotografia do Alexandre Gomes, creio que ela causou o mesmo "impacto" às nossas sensações, à nossa sensibilidade... É incrível como li em tuas palavras o pensamento que tive ao ficar contemplando essa foto-arte! Sabes, Hamilton, essa figura humana parece, realmente, um fantasma, um Espírito, uma lembrança... Pessoalmente, me pareceu meu pai - José - sempre em seu papel assumido e preocupado de pai que vem me dar uma olhadinha e volta para sua "morada espiritual"... Poxa! A casa - na parte superior do foto - parece a venda, na Rua dos Sargentos, 101, na esquina, e até o poste da "usina" que lá ficou tantos anos... Realmente, há um casamento perfeito texto-imagem - principalmente quando escrevo sobre essas reminiscentes
"lembranças paternas"!
Obrigado, pela presença, Hamilton! Eu, também, às vezes, "tomo um chá de sumiço"... Todavia, não é pelos afazeres, mas sim pelos "Fios da Teia da Vida" que ficam demasiadamente difíceis de tecer...
Com franciscano abraço!
JJ!
Hamilton e JJ: seguido tento explicar, fico meio de cupido em certas situações. Enquanto não aparece o "par perfeito", prefiro guardar uma colaboração - seja texto ou imagem - para, enfim, fazer o "casório". A minha paciência acaba recompensando os leitores mais atentos do Blog.
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