13 de agosto de 2010

"As lanternas da cidade..." - II, Vocês lembram da minha voz?

O "antes e depois" que mudou a vida do Gerson

No dia sete de janeiro de 1976 dava-se o inicio da semana mais longa e com maior expectativa até então para mim. Também era a última no seio da minha família, porque numa quarta feira de sol e calor intenso estava marcada minha partida para Porto Alegre, às 13h em um ônibus da Viação Ouro e Prata. O destino final era a Base Aérea de Canoas. Aquela semana foi de despedidas com os avós, tios, tias, primos e amigos, e deixei para terça- feira de tarde a parte mais dolorosa, sentar na cadeira do barbeiro que, com um ar cínico e sarcástico, me perguntou:- “O que vai ser, tchê?” Corte de milico e barba, respondi entre os dentes e baixinho. Então ele falou: “O quê? Não entendi!” Olhei para ele com uma cara mais feia que o normal, e repeti: corte de milico e barba! Ele respondeu, rindo: “Ahahaha... menos um cabeludo na terra.” Como todo guri daquela época, juntei numa pequena bolsa um kit de banho e barba, uma muda de roupa, pouca coisa, até porque na caserna, onde moraria, deveria ter tudo. Finalmente chegou o tão esperado dia da partida, o dia do começo do resto dos meus dias. Na rodoviária encontrei o amigo Moises Aguirres Veloso, que faria comigo a dupla bageense na Base Aérea de Canoas, eu com o apelido de "Bagesão", e ele com o de “Bagesinho”. Éramos na verdade os irmãos gêmeos do filme estrelado por Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito. Já estávamos na plataforma de embarque, todos com um sorriso nervoso estampado, lágrimas no rosto da mãe, quando o motorista deu aquele toque sutil ligando o motor. Abracei meus velhos e meu irmão, os três ao mesmo tempo, e ficamos ali apertados naquele curto espaço de tempo, que seria sempre lembrado a partir daquele momento. Já acomodado em meu banco, veio a partida, o último aceno, o casario multicolorido passando pela janela, e enfim a estrada serpenteando pelas coxilhas e sumindo no horizonte. Nesse momento duas coisas estão em nosso pensamento. Um futuro que começa e o passado que traz junto uma saudade incrível, que se aloja no peito da gente e que não é saciável.
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Enviado pelo colega
Gerson Mendes Corrêa
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3 comentários:

Miriam Volpiceli disse...

Gerson a viagem ao passado começou qdo vi tua foto... bom demais viver por segundos a lembrança dos tempos de Estadual.

Gerson Mendes Corrêa disse...

É isso aih Mirian, é bom demais de revivermos os tempos de Estadual, obrigado pelo carinho.

Hamilton Caio disse...

Um belo e comovente relato, Gerson. E os teus retratos são como a imagem, antes, e depois de passar pelo portal do futuro incerto, embora cheio de esperança. Essa experiência que sempre dói, todos já passamos, e é inevitável. Como o Salvadoretti já falou no primeiro post "As lanternas da cidade", é um rito de passagem. E agora todos nós já devemos ter lembrado disso, quando foi a vez dos nossos filhos passarem pela mesma experiência, só que então mudamos de lado, nós ficamos e eles partiram, mas a dor é a mesma, talvez maior, porque lembramos o que realmente nossos pais sentiram quando partimos para descobrir o mundo.