3 de agosto de 2010

Um baú no pampa - A Gripe Espanhola

Da esquerda para direita, a criança Loila ( sobrinha ), Omerilda, Osvaldina, Orphelina,
Ernesta, numa elevação está Cecilia, sentados estão Cândido e Esmeraldina,
todos irmãos Guasque,
filhos do médico homeopata José Luiz Guasque e Aniceta Correa Guasque.

"Após a 1ª Guerra Mundial, por volta de 1922, chega a Bagé a Gripe Espanhola. Até o Presidente Rodrigues Alves vem a falecer na então Capital Federal, Rio de Janeiro, vítima dessa gripe. Toda a família do meu bisavô, José Luiz Barcellos Guasque, adoece. Ele, que era médico homeopata licenciado, manda que as filhas façam gargarejo com cachaça antes de dormir. Os quartos viram enfermarias. Uma das filhas, Amanda, não obedece, tem nojo, e é a única que não resiste e morre aos 18 anos. Era a mais bonita das irmãs. Minha avó, que passou a usar esse hábito inclusive depois de casada, fazia troça e dizia que nojo ela não tinha, mas numa noite em vez de bochechar, engoliu e gostou. Tomando sempre esse “cuidado antisséptico” viveu até os 80 anos. No episódio trágico da Gripe, foi uma das primeiras a se restabelecer e ajudar a cuidar das outras irmãs.

O quadro clínico da Gripe Espanhola era desesperador. Começava como uma forte gripe que deixava o indivíduo tão consumido que ao ficar com grandes feridas pela orofaringe, desidratava e poderia vir com um quadro de disfunção respiratória. Foi assim com o caso da filha Amanda. Este nome, Amanda, foi inclusive proscrito da família, pois uma tia que se chamava assim, já havia morrido tuberculosa, e agora era a mais linda das filhas adolescentes.

As precárias condições de higiene e saúde pública, com a falta de água encanada e esgoto, eram um transtorno para a Bagé das primeiras décadas do século XX. Havia uma carreta que fazia o transporte dos excrementos humanos uma vez na semana, ou duas vezes, para os mais abastados, ou para as casas com muita gente, como a casa do meu bisavô.

Neste período da Gripe Espanhola, o coletador adoeceu, e o que se viam mais eram as carretas carregando os corpos dos desafortunados.

Naquele tempo quando alguém morria, a casa ficava de luto, e as portas das casas eram fechadas. Uma semana depois se abria uma fresta, como um sinal para se receber as visitas de pêsames. Com a calamidade da gripe as portas todas acabaram ficando, sim, bem fechadas, pois não se sabia ao certo os perigos e de como era o contágio da nova gripe.

Quase todas as propriedades em Bagé eram munidas de poços para a coleta de água, e como a higiene era fundamental, o bisavô tomou algumas medidas preventivas: todos os materiais de cozinha passaram a ser fervidos e cada um tinha o seu conjunto de copos, talheres e pratos, e por eles era responsabilizado. Isso perdurou como hábito para as filhas até a velhice. Mais tarde, quando uma criança nascia, copo, prato e talheres eram ofertados como um grande presente, e isso há até bem pouco tempo, como lembrança das medidas de higiene estabelecidas pelo nosso bisavô no tempo da Gripe Espanhola."

Enviado por

Gerson Luis Barreto de Oliveira

.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vaz

Êta bauzinho que tem coisa para sair !!!!
Abraço
Gerson

Manoel Ianzer disse...

Gerson Luiz
memórias, histórias e lembranças, são arquivos que ficaram no espaço da nossa mente e guardaremos para sempre. Relembrar e registrá-los são carinhos que colocamos no caderno, no livro ou no blog. Fatos que fazem parte de uma comunidade, de uma cidade, de uma Bagé que transmite cultura por todos os lados. Obrigado por esta oportunidade e parabéns pela "Família".