22 de novembro de 2010

A Revolta da Chibata faz 100 anos

O marinheiro gaúcho João Cândido é preso

Hoje faz exatos 100 anos da Revolta da Chibata que foi como ficou conhecido o movimento insurgente dos marinheiros brasileiros que exigia o fim do humilhante e doloroso castigo corporal das chibatadas. Esse tipo de castigo ainda fazia parte do código disciplinar da Marinha Brasileira na primeira década do século XX.

Nascido em Rio Pardo, em 24 de junho de 1880 (*), filho de ex-escravos, João Cândido entrou para a Marinha em 1894, aos 14 anos, época em que as Forças Armadas aceitavam menores em seus quadros. Recomendado por um almirante, que se tornara seu protetor, João Cândido logo despontou como líder e interlocutor junto aos oficiais.

Em 1910, em viagem de instrução à Inglaterra, os marinheiros brasileiros definem as bases para o levante conspiratório que poria fim ao uso da chibata. Durante a viagem inaugural do Minas Gerais, João Cândido toma ciência do movimento pela melhoria das condições de trabalho realizado pelos marinheiros britânicos entre 1903 e 1906. E, ainda, da insurreição dos colegas russos embarcados no encouraçado Potemkin, em 1905.

Em 22 de novembro de 1910, inconformados com as dezenas de chibatadas recebidas no dia anterior por um companheiro da corporação, é deflagrada a revolta. Durante quatro dias, os marinheiros liderados por João Cândido tomam conta dos navios São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Deodoro e ameaçam bombardear o Rio de Janeiro. Os marinheiros estavam dispostos a dar um fim à violência e humilhação que marcava as suas costas com o couro das chibatas. Como sentenciou João Cândido, chamado depois de Almirante Negro, "Naquela noite o clarim não pediria silêncio e sim combate”.

Embora o fim da revolta tenha se resolvido através de negociação, pouco tempo depois o gaúcho João Cândido é acusado de liderar um outro levante  - do qual era inclusive contrário, e a Marinha o prendeu junto com outros marinheiros. O ministro da Marinha determinou a expulsão dos líderes desse movimento. Os marinheiros tentaram reagir, mas o governo lançou violenta repressão que culminou com dezenas de mortes, centenas de deportações e a prisão de João Cândido.

"O Almirante Negro" foi colocado numa masmorra da Ilha das Cobras de onde foi o único a sair vivo, do total de 18 marinheiros presos ali naquela oportunidade. Solto anos depois, João Cândido passou a viver como vendedor de peixes na Praça Quinze,  no Rio de Janeiro e morreu em 6 de dezembro de 1969, em São João do Meriti, aos 89 anos, sem patente e na miséria.

(*) Segundo a Wikipédia, João Cândido Felisberto nasceu em 24 de Junho de 1880, na então Província do Rio Grande do Sul, no município de Encruzilhada (hoje Encruzilhada do Sul), na fazenda Coxilha Bonita que ficava no vilarejo Dom Feliciano - o quinto distrito do Município Encruzilhada, que havia sido distrito de Rio Pardo até 1849. Filho dos ex-escravos João Felisberto Cândido e Inácia Felisberto, apresentou-se em 1894 na Companhia de Artífices Militares e Menores Aprendizes no Arsenal de Guerra de Porto Alegre[1] com uma recomendação de atenção especial, escrita por um velho amigo e protetor de Rio Pardo, o então capitão-de-fragata Alexandrino de Alencar, que assim o encaminhava àquela escola. Em 1895 conseguiu transferência para a Escola de Aprendizes de Porto Alegre, e em dezembro do mesmo ano, para a Marinha do Brasil, na capital, a cidade do Rio de Janeiro.
Desse modo, numa época em que a maioria dos aprendizes era recrutada pela polícia, João Cândido alistou-se com o número 40 na Marinha do Brasil em Janeiro de 1895, aos 14 anos de idade, ingressando como grumete a 10 de dezembro de 1895.
Em depoimento para a Anamnese do Hospital dos Alienados em abril de 1911 e para a Gazeta de Notícias de 31/12/1912, João Cândido afirma ter sido soldado do General Pinheiro Machado, na Revolução Federalista, em 1893, portanto antes de entrar para a escola de aprendizes.
Teve uma carreira extensa de viagens pelo Brasil e por vários países do mundo nos 15 anos que esteve na Marinha de Guerra. Muitas delas foram viagens de instrução, no começo recebendo instrução, e depois dando instrução de procedimentos de um navio de guerra para marinheiros mais novos e oficiais recém-chegados à Marinha.
A partir de 1908, para acompanhar o final da construção de navios de guerra encomendados pelo governo brasileiro, muitos marinheiros foram enviados à Grã-Bretanha. Em 1909 João Cândido também para lá foi enviado, onde tomou conhecimento do movimento realizado pelos marinheiros russos em 1905, reivindicando melhores condições de trabalho (a revolta do Encouraçado Potemkin).
Tornou-se muito admirado pelos companheiros marinheiros, que o indicaram por duas vezes para representar o "Deus Netuno" na travessia sobre a linha do equador, e muito elogiado pelos oficiais, por seu bom comportamento, e pelas suas habilidades principalmente como timoneiro. Era o marinheiro mais experiente e de maior trânsito entre marinheiros e oficiais, a pessoa indicada para liderar a revolta.
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