11 de novembro de 2010

Danúbio, o filme

 
Foto de gravações de Danúbio, o filme, feita por Maria Heloisa Pestana
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Danúbio, o filme, terá exibições públicas
em Pelotas e Bagé
,
O projeto da Cinematográfica Pampeana  será exibido
 No Instituto João Simões Lopes Neto
e no Museu Dom Diogo de Souza
 .
Parceria entre o mestre Danúbio Gonçalves e o diretor de cinema Henrique de Freitas Lima (Lua de Outubro - 1997, Concerto Campestre- 2004, Contos Gauchescos – em fase de finalização), o primeiro episódio da Série Grandes Mestres, Danúbio, está chegando às telas. O belíssimo projeto a quatro mãos tomou forma e o desejo do artista de ver sua trajetória documentada na linguagem do cinema está concretizado.

Danúbio, o filme, será exibido no dia 18 de novembro, às 19 horas, no Instituto João Simões Lopes Neto, em Pelotas, e no dia seguinte, 19 de novembro, também às 19 horas, no Museu Dom Diogo de Souza, em Bagé. As sessões tem entrada franca e serão acompanhadas pelo artista e o diretor do filme.

As primeiras tomadas ocorreram em Torres, espécie de segundo lar de Danúbio, acompanhando sua relação com a cidade e os festivais de balonismo que geraram duas grandes séries de pinturas . Logo foram seguidas por períodos alternados no atelier do artista no bairro de Petrópolis, em Porto Alegre, e Bagé.

A grande atração do filme, entretanto, é a realização de um sonho antigo: o encontro com uma das maiores influências de sua carreira, o México e seus artistas. Integrante da geração que chegou à idade adulta na quarta década do século XX, Danúbio, como seus contemporâneos Carlos Scliar, Vasco Prado, Glênio Bianchetti e Glauco Rodrigues, foi influenciado pelos artistas engajados mexicanos, gente da estirpe de Diego Rivera, José Clemente Orozco e David Siqueiros.  Mais do que estes, conhecidos por suas pinturas e murais, quem realmente tocou os gaúchos foi o grupo reunido no Taller de Arte Grafica Popular sob a liderança do gravador Leopoldo Mendez. A arte engajada de Mendez e seu grupo, com quem Carlos Scliar conviveu na Europa durante o Congresso dos Artistas e Intelectuais pela Paz de Varsóvia, em 1948, forneceu a matéria prima para iniciativas coletivas como o Clube de Gravura de Porto Alegre . No momento em que o grupo buscava uma arte figurativa que pudesse se contrapor ao modelo que se impunha a partir do abstrativismo e das Bienais de São Paulo, o exemplo dos mexicanos serviu como uma luva.

Para captar esse encontro tão especial, a equipe partiu para o México onde, em duas semanas, Danúbio, um visitante costumeiro dos museus europeus e viajante inveterado, pode visitar múltiplos espaços e conviver com seus pares mexicanos. Visitando as casas, estúdios e museus de Frida Kahlo e Diego Rivera, circulando entre as pirâmides de Teotihuacán,  feiras populares como o Jardin del Arte, modernos centros culturais como a Estação Indianilla e o Museo de la Estampa, o artista acabou por colocar a capital mexicana entre as suas preferidas, ao lado de Paris e Barcelona. O ápice da viagem foi a convivência e  troca de experiências com o gravador e mestre impressor Mario Reyes, 84 anos, em cujo atelier circulam os mais importantes artistas mexicanos nos últimos 45 anos. Espécie de santuário reconhecido pela qualidade de suas cópias impressas, tem entre suas relíquias uma prensa que pertenceu a Leopoldo Mendez e é conduzido pela própria esposa de Reyes e seus filhos. Num dia luminoso, Danúbio e Mário Reyes compartilharam técnicas, fizeram gravuras juntos e falaram de suas trajetórias e pontos comuns. Entre eles, a figura feminina, a que ambos dedicaram grande parte do seu tempo.

Participam do filme grandes nomes das artes do Sul, como Alfredo Nicolaievski, Anico Herscovitz, Miriam Tolpolar, Maria Tomaselli, Helena Kanaan, Wilson Cavalcanti e Paulo Chimendes.

Danúbio abre a série Grandes Mestres e será seguido por outros episódios, mostrando ao grande público a trajetória dos nossos artistas através da linguagem cinematográfica, diversa da que a televisão costuma apresentar. Ao ser exibido nas salas de cinema de arte, pretende recriar nestes ambientes de devoção o encantamento que o convívio com o artista e sua obra gera entre os que se deixam tocar por sua trajetória ímpar. Nos primeiros dias de 2010 o projeto recebeu o apoio do FUMPROARTE, da Prefeitura de Porto Alegre, garantindo um bom fim para um empreendimento.

A história do projeto

No fim dos anos 80, o diretor Henrique de Freitas Lima foi convocado pela crítica de arte e gestora cultural Evelyn Ioschpe para uma tarefa especial que recém iniciava.  O Arte na Escola , hoje o carro chefe entre os programas da Fundação de abrangência nacional e sede em São Paulo, buscava uma forma eficiente de arte educar, através do uso de vídeos sobre o fazer artístico que pudessem ser usados em sala de aula acompanhados por materiais pedagógicos produzidos por especialistas. No período que exerceu esta função, que aperfeiçoou seu olhar e o aproximou das artes visuais, o cineasta licenciou para a Fundação mais de 300 títulos, garimpados no Brasil e Exterior. Uma constatação, entretanto, ficou evidente: era insignificante a documentação dos artistas do Sul, em que pese sua importância no cenário nacional. A vontade de sanar esta lacuna ficou latente, já que a Fundação não tinha entre suas metas a produção de documentários.
Muitos filmes depois, Henrique veio a conhecer Danúbio Gonçalves através de José Antonio Mazza Leite, que o levou à pré-estréia de Concerto Campestre (2004), longa que reconstituiu a época áurea do charque para adaptar para as telas de cinema a novela de Luiz Antônio de Assis Brasil. Mazza Leite tinha Danúbio, o grande artista da série Xarqueadas,  gravuras produzidas na década de 50 que lhe garantiram os prêmios mais importantes de sua carreira, como o doador principal do pequeno Museu do Charque, empreendimento de um grupo de abnegados que tenta manter viva em Pelotas a herança da atividade que engendrou a própria cidade. Henrique acabou doando para o Museu farto material do filme, como a maquete da charqueada realizada a partir da gravura clássica de 1828 de Jean-Baptiste Débret , adereços e figurinos. O espaço expositivo do Museu do Charque está localizado atualmente nas dependências da Charqueada Santa Rita, bela pousada às margens do arroio Pelotas, e recebe muitos visitantes.
A partir de interesses comuns, a amizade entre o cineasta e o artista, hoje com 85 anos completos e em plena atividade, gerou a belíssima abertura da série de televisão Contos Gauchescos, que deve ter os sete episódios adaptados da obra de João Simões Lopes Neto concluídos em 2011. A partir de desenhos de Danúbio, as imagens foram animadas e musicadas por Sérgio Rojas, que compôs especialmente a Milonga para João Simões Lopes Neto, gravada com a participação da gaita de Renato Borghetti. Inscrito no Festival de Gramado entre os curtas metragens gaúchos de 2009, o episódio Jogo do Osso garantiu a Rojas o prêmio de Melhor Música.
A convivência fez Danúbio revelar o desejo de ter sua trajetória documentada e convidasse Henrique a fazê-lo. O convite foi aceito e o projeto saiu do papel.

Veja algumas opiniões sobre o filme:

“Para incidir deliberadamente no lugar-comum, este documentário é um retrato de corpo inteiro. Precisávamos disso, Danúbio precisava, o Rio Grande também.”
Luiz Antonio de Assis Brasil, escritor

“É um filme emocionante, pois amoroso da existência de um homem e um artista. Por sorte, trata-se do homem mais simples do mundo, que se apresenta desta maneira, como um tarefeiro. Chegou no planeta, preparou-se e toda a vida foi dedicada a este ofício. A inteireza do Danúbio é verdadeiramente tocante”.
Jacob Klintowitz, crítico de arte

“O conjunto, costurado por bela música, imagens e paisagens encantadoras, que se refletem muitas vezes, surge temperado com equilíbrio entre palavra e silêncios, emoldurando o homem e o artista na história da nossa cultura. Um belo resultado”.
Débora Mutter, doutora em literatura

“Está registrada importante memória de capítulo dos mais significativos das artes do Rio Grande do Sul”.
Evelyn Berg Ioschpe, critica de arte e gestora cultural

Ficha Técnica

Produzido e Dirigido por Henrique de Freitas Lima
Roteiro: Henrique de Freitas Lima e Pedro Zimmermann
Fotografia e Câmera: Eduardo Amorim
Direção de Produção: Gina O’Donnell
Montagem: Pedro Zimmermann e Eduardo Pua
Música: Felipe Azevedo
Edição de Som: Kiko Ferraz
Produção México: Aurelie Semichon e Francisco Montellano
Coordenação Administrativa: Carmem Curval
Secretaria de Produção: Raquel Matos
Produtores Associados: Start Vídeo Produções , APEMA, Drops Mídias Digitais, Animake e Filmoteca da UNAM - México

Realização da Cinematográfica Pampeana
Com apoio do FUMPROARTE, Prefeitura de Bagé , SESC RS e Programa de Intercâmbio do Ministério da Cultura

As exibições têm o apoio do IJSLN (Pelotas) e Prefeitura de Bagé, Associação Pró-Santa Thereza e URCAMP (Bagé).
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