25 de maio de 2011

Uma foto muda o mundo - Plaça del Quinze de Maig

 Plaça del Quinze de Maig - Foto de Jacobo Méndez Díez
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Uma foto muda o mundo
Plaça del Quinze de Maig
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Luiz Caminha
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O fotojornalismo já legou à história documentos insubstituíveis, imagens que viraram ícones de um modo de vida, que denunciaram guerras sangrentas, testemunharam extermínios étnicos, dramas de desigualdade racial, social ou de gênero, que falaram mais que mil palavras e, por isso, contaram histórias por inteiro, sem precisar mais nada.
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É verdade que o fotojornalismo também nos empurrou fraudes que se perpetuaram como verdade e consagraram seus autores, como a do soldado republicano morrendo na guerra civil espanhola, de Robert Capa; do menininho subnutrido africano ameaçado pelo abutre, que ganhou um Pulitzer; aquela da bandeira erguida em Iwo Jima, de Rosenthal, ou mesmo a do beijo no Hotel de Ville, de Doisneau, armadas, preparadas, todas elas pequenas ou grandes farsas, mas nem por isso menos simbólicas ou belas.
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De lá pra cá, a tecnologia evoluiu como nunca, há recursos sensacionais, novas mídias, redes sociais, meios incomparáveis de fazer imagens paradas ou em movimento, especiais para, entre outras coisas, dar suporte a novas fraudes.
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 Cenas famosas fotografadas por Doisneau, Robert Capa e Kevin Carter
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Mas mesmo com tudo isso, volta e meia, voilá!, aparece no velho e bom estilo, sem truque ou armação, uma fotografia espontânea, tomada por um anônimo no lugar certo na hora certa, que registra um instante único e irrepetível.
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É o caso desta singela tomada em Valência durante o que se tornou conhecido como a #spanishrevolution no Twitter, ou o 15M em toda a Espanha e além, sigla que se refere a 15 de maio, data que deflagrou a manifestação dos jovens espanhóis inconformados com as poucas oportunidades de ingressar na vida econômica - 45% de desemprego entre as suas faixas etárias -, com as alternativas políticas que os partidos tradicionais proporcionam a eles e suas quase inexistentes chances de ser alguém no país que nasceram. E que, por isso, tomaram as praças das maiores cidades da Espanha em um manifesto inédito desde a época de Franco.
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A foto que ilustra a capa de El País do último domingo é uma dessas que falamos acima, rara, precoce e já consagrada na história da fotografia e do jornalismo.
O movimento que rendeu o flagrante na até então Plaça de l'Ajuntament, da prefeitura de Valência e que se transformou com a improvisação dos jovens revolucionários em Plaça del Quinze de Maig, praça do 15 de Maio, é o maior símbolo do movimento que parece começar a transformar a Espanha, um país que enfrenta dificuldades econômicas crescentes mas que aprendeu a duras penas nas últimas décadas - e gostou - a viver em democracia.
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O movimento da gurizada espanhola liquidou o governo nas eleições de domingo, vai provocar mais mudanças e empurrar o país numa direção diferente da que as elites políticas imaginavam.
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E é, de certa forma, também, uma ofensiva preventiva a dizer para bons entendedores que se depender dela, a gurizada, a Espanha não seguirá a receita e jamais virará uma nova Grécia, uma nova Irlanda, um novo Portugal, de joelhos à lei do FMI, que exigirá um pouco mais que todo o sangue dos espanhóis para garantir deixá-los vivos, exigências que os brasileiros mais antigos conhecem bem.
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Uma arma eficiente e verdadeira pelo menos eles, a gurizada, já têm para começar o enfrentamento midiático - um símbolo potente e vencedor: a foto da Plaça del Quinze de Maig.
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Luiz Caminha
jornalista
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NOTA
A foto da Plaça del Quinze de Maig, que foi capa do Paper Papers (Piqué/Peltzer) em 20 de Maio, é de Jacobo Méndez Díez, que diz: "Nací, crecí, me reproduje y hasta que lo contrario sea demostrado, soy inmortal". 
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