5 de maio de 2011

Our man in space - Os 50 anos do voo de Shepard

 Shepard fez um voo suborbital para colocar os EUA na corrida espacial
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Os 50 Anos do primeiro homem americano no espaço
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Hamilton Caio Vaz

A polêmica sobre quem foi o primeiro homem a voar em um aparelho mais pesado que o ar, pelos meios próprios, vem desde a primeira década do século XX.   Quem deve ser considerado o pioneiro?   Os irmãos Wright, americanos, que voaram em 1903, com um aeroplano acionado por motor, mas lançado ao ar por uma catapulta, ou o brasileiro Santos Dumont, que se elevou no ar em 1906, com um aparelho que decolava por seus próprios meios, sem nenhum auxílio externo?   As opiniões se dividem até hoje, e a discussão continua.  Mas falaremos disso posteriormente.  Porém, 50 anos depois, navegando agora acima da atmosfera, no espaço junto com os astros, não havia discussão, o cosmonauta russo, Gagarin,  tinha sido o primeiro homem, agora só restava aos americanos recuperarem o tempo perdido.  A notícia do feito soviético tinha estourado como uma bomba no meio científico e astronáutico nos Estados Unidos, ou melhor, tinha explodido através do escape de um foguete subindo ao cosmos com um homem a bordo.   Mas, arregaçadas as mangas, os americanos aceleraram o projeto que já estava em curso, e em 23 dias, no dia 5 de maio de 1961, há exatamente 50 anos atrás, subia ao espaço o primeiro astronauta americano, Alan Barlett Shepard Jr.  Desse modo, Allan Shepard se tornou o segundo homem a viajar no cosmos, acirrando mais a corrida espacial e a busca pela hegemonia mundial entre as duas grandes potências do pós-guerra.
Mas o voo de Alan Shepard não foi igual ao de Gagarin, foi um voo suborbital, isto é, uma trajetória balística, como se fosse o percurso de um grande obus de artilharia, com uma curva ascendente e depois a queda em direção a Terra.  Essa trajetória também já tinha sido prevista teoricamente por Isaac Newton, a qual ocorre quando não é usado um impulso suficiente para vencer a gravidade da Terra.  Alan Shepard chegou com sua nave até uma altura de cerca de 180 Km, em um voo de aproximadamente 16 minutos, durante o qual experimentou a sensação da ausência de gravidade durante 5 minutos, depois descendo no meio do oceano.  Os técnicos americanos, mais previdentes, optaram por iniciarem as idas ao espaço com um voo suborbital, para ganharem experiência e segurança.  Dois meses depois seria efetuado um novo lançamento suborbital  com Virgil Grisson e então o próximo já seria um voo orbital, que com a experiência adquirida com Shepard e Grisson, pôde ser realizado com três orbitas completas, com John Glenn, em 20 de fevereiro de 1962, ao contrário do voo de Gagarin que foi com uma só volta na Terra.  Entretanto, antes desse primeiro voo orbital de Glenn de 3 órbitas em 5 horas, a União Soviética ganhava novo round, enviando ao espaço Gherman Titov para uma viagem de 17 voltas na Terra em 25 horas.  Titov também deu o primeiro “cochilo” no espaço e sentiu a primeira náusea em voo sideral.
Os russos, parecendo não ter muita confiança na sua técnica, só anunciavam os lançamentos ao espaço depois que eles já estavam em órbita, ao passo que americanos permitiam ampla cobertura da imprensa, com transmissão ao vivo, ficando sujeitos, dessa maneira, a mostrarem tanto uma grande conquista, como um dramático fracasso. Outro detalhe interessante foi a diferença entre as duas técnicas de aterrissagem na volta das naves.  Os Estados Unidos usavam a descida no mar, que devido a maior suavidade do

 Shepard é recolhido no mar por um  helicóptero
choque da nave com a água, usando paraquedas, possibilitava que os tripulantes permanecessem no seu interior durante essa descida.  Já a União Soviética não podia correr o risco de suas astronaves serem espionadas por navios ou submarinos caso descessem no oceano.  Então elas desciam em solo do seu país, também usando paraquedas, sofrendo um choque maior, mas os cosmonautas saltavam bem antes da queda, usando seus próprios paraquedas.  Também eram diferentes os modos de pilotagem das primeiras naves.  As americanas eram comandadas pelos astronautas quando precisavam alguma correção no voo, e as soviéticas eram automáticas, os astronautas só assumiriam o controle no caso de emergência.  Shepard, por exemplo, nesse primeiro voo americano, precisou fazer algumas correções, pilotando ele próprio a nave.
Alan Shepard foi também um astronauta sortudo.  Ele conseguiu ir uma segunda vez ao espaço, o que poucos conseguiram, e também, por estar se recuperando de um problema de saúde, a sua missão na Apollo 13 foi trocada, sendo designado para a  próxima etapa, a Apollo 14.   A missão Apollo 13 foi aquela malsucedida e que não desceu na Lua, apenas contornou o nosso satélite natural e retornou para a Terra, correndo ainda grande risco na reentrada da atmosfera terrestre.  Shepard, então, viajou até a Lua no comando dessa missão, que tinha uma sabor de grande vitória após o quase desastre da missão anterior.  Ele já era o astronauta mais velho do grupo, com 47 anos e também foi o primeiro (eles sempre procuravam a primazia em alguma coisa) a jogar golfe no espaço, improvisando um taco e fazendo um lançamento recorde, devido a gravidade da Lua ser muito inferior a da Terra.
John Glenn também fez uma segunda viagem ao espaço, em outubro de 1998, com a idade de 77 anos, como o primeiro “vovô” indo ao cosmos para estudar os efeitos dessas viagens em idosos.  O nosso vovô astronauta vai completar 90 anos um dia após os 200 anos de Bagé, em 18 de julho.
As missões tripuladas continuaram se aperfeiçoando, culminando com a descida do homem na Lua e depois com a construção de plataformas espaciais em órbita da Terra.  Para mim, contudo, depois do grande impacto do primeiro homem voando em órbita da Terra, o feito que mais me impressionou não foi a descida do homem na Lua em 1969, mas quando pela primeira vez ele conseguiu vencer e fugir da gravidade terrestre, atingindo a fantástica velocidade de cerca de 40.000 Km/h (velocidade de escape da Terra), em dezembro de 1968, com os três astronautas que voaram na direção da Lua, fazendo a circunavegação do satélite.  Certamente toda a técnica da entrada em órbita da Lua e depois a descida na superfície do primeiro homem, e depois a volta deles com a nova decolagem em direção a Terra foi um fato impressionante.  Mas aquela primeira fuga total da gravidade terrestre, me parecia, já prenunciando a necessidade de adquirir essa técnica para um futuro muito distante, mesmo medido em bilhões de anos, quando toda humanidade, se ainda continuasse existindo aqui, teria que se mudar, deixando para trás sua velha e boa Terra e aquele Sol de brilho que parecia interminável, uma estrela como outras, que por esgotamento do estoque de hidrogênio para gerar hélio, produzindo a energia que gerou e manteve a vida aqui, agora se transformaria numa Gigante Vermelha, engolindo a Terra e outros planetas e depois se tornaria uma Anã Branca, gélida e quase sem brilho, por outros tantos bilhões de anos.
Mas os astrônomos já estão procurando outros sóis e seus planetas, preparando o terreno para as próximas gerações.  Gagarin, Shepard e seus companheiros serão lembrados como os precursores na busca de novos mundos, quando isso acontecer.  Quem viver, verá.
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NOTAS

(1) Na realidade, o percurso inicial do voo de um foguete que se dirige ao espaço é rigorosamente perpendicular a superfície, até ele adquirir muita velocidade, e só depois a grande altura ele começa a fazer uma curva ascendente. 
(2) A curva de um foguete espacial é sempre no sentido de oeste para leste, que é o sentido de rotação da Terra, para aproveitar a velocidade de rotação do nosso planeta, de cerca de 1.600 Km/h no equador.  Quando o foguete parte, ele e sua base já estão de deslocando a essa velocidade.  Por essa razão, todas as bases de lançamentos espaciais se localizam o mais próximo possível do equador.
(3) Não foi com a intenção de procurar os novos mundos de que falamos, mas já temos três naves (ou sondas) espaciais voando para além das órbitas de Netuno e Plutão, em pleno espaço interestelar.  Essas naves incríveis eram a minha predileção, eu estava sempre acompanhando o progresso das suas missões. Estas sondas são a Pionner 10 lançada em 1972, e que passou pela órbita de Plutão em 1983.  As outras são as sondas Voyager 1 e 2, lançadas em 1977.  A Voyager 2 deixou o sistema solar em 1989 e começou então a se embrenhar numa viagem interestelar de milhares (ou milhões) de anos, enquanto o seu material resistir.  Todas passaram pelas órbitas de vários planetas, colhendo informações preciosas e fazendo grandes descobertas, como novos satélites, e transmitindo por rádio para a Terra.  Baterias atômicas produzem a energia para o funcionamento dos instrumentos e do rádio.  A bateria da Pionner 10 parece ter durado 31 anos, porque a nave deixou de transmitir em 2003.  As sondas Voyager continuam transmitindo informações, há 34 anos, e espera-se que suas baterias e instrumentos aguentem até o ano de 2025.
(4) A Voyager 2 já está hoje a uma distância aproximada, equivalente ao dobro da distância de Plutão até ao Sol.  O sinal de rádio transmitido pela sonda, que daria sete voltas e meia na Terra, em um segundo, leva quase dez horas para chegar até as antenas aqui no planeta.
(5)  A lei da gravitação ensina que quanto maior a distância entre os astros, menor é a força da atração entre eles.  Portanto, quanto mais alto estiver uma nave ou satélite em órbita, menor será essa atração e, logo, menor será a velocidade necessária para se manter em órbita.  Baseado nisso, os satélites de comunicação que ficam em órbita estacionária sobre a Terra, sempre sobre a vertical de um determinado ponto, estão a uma altura tal, que a velocidade necessária (velocidade angular) para se manter em órbita é a mesma da Terra.  Essa altura é de aproximadamente 35.000 Km, o equivalente a três vezes o diâmetro da Terra.
(6) É interessante lembrar que a enorme quantidade de combustível dos foguetes é queimada em poucos  minutos.  Depois, o último estágio que sobra, ou a nave que ele transporta, continua navegando por inércia, conforme já havia descrito Galileu, bem antes de Newton.  Se não tem gravidade para atrair e nem atmosfera para frear, ela seguirá sempre em frente.  As espaçonaves, entretanto, podem ter pequenos foguetes ou jatos de gás para corrigirem órbitas, conforme o tipo de missão, aumentando ou diminuindo a velocidade.
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