23 de novembro de 2010

Histórias de família - V, O imperador do Bianchetti

Nero, o "imperador do Bianchetti", dois colegas seus, e Sírio Bianchetti
que, além de proprietário, muitas vezes teve que atuar como "bombeiro" 
devido aos "incêndios" provocador pelo nosso garçon inesquecível
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O seu Nero era o mais antigo garçon do Restaurante do meu pai, o Esquina Bianchetti. As bravatas eram inúmeras, e ele, para pegar um cliente importante, era um astuto só.
A rotina de um restaurante até hoje me faz sentir em casa, o cheiro de comida, o barulho da louça sendo tirada, dos copos, das garrafas, tudo isso me lembra a infância, e se tem máquina de café, então é pura saudade...
Cada cidade tem o seu restaurante popular, com uma comida honesta e saborosa. Em Pelotas, o Cruz de Malta; em Santa Maria, o Augusto; em Porto Alegre, o Gambrinus, e por aí vai. Em Bagé, especialmente para mim, o Bianchetti da minha infância.
As peripécias do Nero foram muitas... Quando Nelson Marchezan fez uma estrondosa votação para deputado, lá pela década de 70, a alegria do nosso garçon foi tanta ao ver o seu deputado adentrar ao salão do Bianchetti, que ele pulou para cima do homem. Marchezan era um homem alto, e Nero era pequeno e com uma saliente barriga. Pois não é que o deputado o pega no colo, em pleno salão, e justo na hora do recreio do turno da noite do Estadual ! A casa veio abaixo...
Juca Chaves, com sua voz satírica de protesto, humor corrosivo nas suas modinhas, esculachava com a repressão aos costumes, principalmente na época da ditadura militar, e por tabela criticava com mordacidade o governo. Pois não é que ele entrou no salão do Bianchetti no momento do clímax noturno, o recreio do Estadual, e quem o serviu ? Sim, ele, o Nero. Juca exigia beijinhos de todas as meninas que iam pedir autógrafo, quando um rapaz foi pedir também, a galera veio abaixo gritando “beija...beija..."

Autógrafo de Dina Sfat e Paulo José
no verso de uma nota da Esquina Bianchetti
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Dina Sfat, grande atriz, e Paulo José, seu marido, apareceram lá algumas vezes e pediram mesa reservada, e os pais dele sempre davam uma passada à caminho da estância em Lavras. Mas para a Dina, fui eu que pedi o autógrafo.

O pai recebendo o primo, Glênio Bianchetti, que junto com o Grupo 
da Gravura de Bagé, fizerem um exposição na antiga Funba.
Tarcisio Taborda e esposa estão em primeiro plano. Ao fundo aparecem
fotografias que foram tiradas pelo Adail Madeira, o "Pêlego",
que também é o autor desta.
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Outro “grande momento” do Nero foi quando um general figurão, que vinha visitar o presidente Médici já retirado da vida pública em sua propriedade, após deixar o governo. Minha mãe foi para a cozinha comandar as cozinheiras. Lembro que o prato pedido foi massa. As toalhas haviam sido trocadas, o pão havia sido previamente aquecido para, junto com as cremeirinhas com margarina, irem à mesa. Claro que o Nero já tinha dado um chega para lá nos colegas e, atarantado, corria dum lado para o outro para servir o casal - o general e a esposa. Esta, não vendo os copos para a bebida, pede ao nosso herói que, para espanto dos meus pais que a tudo assistiam, tira os copos do bolso e os coloca à mesa. Minha mãe desapareceu! Restou ao meu pai passar a mão nos tais copos, e trocar por outros...
Esse era o seu Nero.
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Enviado pelo colega
Gerson Luis Barreto de Oliveira
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11 comentários:

Gerson Mendes Correa disse...

Tche Xará, para mim e o pessoal que frequentava a esquina Bianquetti na época de Estadual, o teu pai era a própria estampa Bianquetti, era o cara que abria e fechava a esquina sempre com um sorriso no rosto, e no corre corre do salão ele sempre passava e batia nas costas dos clientes e perguntava como estava.
Agora vou te fazer um pedido, se tiveres posta uma foto daquele quadro que tinha na parede, o campo de trigo com a colheitadeira. Um abraço indio véio.

Anônimo disse...

Gerson

Quando o restaurante fechou as portas, em 1988, eu já estava fazendo o meu quarto ano na medicina da PUC, fui rápido à Bagé, queria algumas lembranças, fotos, mas por puro descaso não tirei foto daquele mural.
Ficou comigo o grande retábulo de madeira que representa um peão ao pilão, do Glênio, e esse eu posso tirar uma foto e vincular, claro com a ajuda do nosso amigo Vaz.
Muito bom falar sobre a época do restaurante e falarei para o pai das tuas palavras.
Abraço
Gerson

Manoel Ianzer disse...

Gerson Luis Barreto de Oliveira - por que você não tem o sobrenome Bianchetti?
Você sempre nos agraciando com ótimas histórias de família, muito obrigado.
O seu primo Glênio Bianchetti está no blog - "Bagé além da fronteira",
item 9 - os bageenses e
item 13 - o despertar da Vila de Santa Thereza (com as telas da Via-Crúcis).

Gerson Mendes Corrêa disse...

Tche Xara, outra coisa que me fascinava era aquela máquina de suco de laranja, sempre ligada com o suco borbulanho dentro dela, que aliás ainda hoje são assi, e agora puxando pelas ideias me lembro também daquele garçon que falastes, o Nero, abração indio véio. E aproveita e manda um tremendo quebra costelas no teu pai por minha conta, pois como se fala na gíria, "gente finissima".

Anônimo disse...

Primeiro respondendo ao Manuel, meu pai ficou órfão de pai muito menino, minha avó " Pepa " Bianchetti voltou para sua família, e assim poderia trabalhar junto dos irmãos Bianchetti, que sempre foram comerciantes, e ter ajuda na criação dos filhos, por isso ele até hoje, do alto dos seus 83 anos, é conhecido sempre por " Seu Bianchetti ".
E tu xará lembras então da máquina de suco !!! Desafio alguém a resolver o enigma: como se faz um " Filé a Caneco " ? Carro chefe do cardápio do nosso restaurante.
Abraço aos amigos.
Gerson L. B. Oliveira

Luiz Carlos Vaz disse...

Olha, Gerson, como diz o teu xará Mendes Correa: "se é de comer, é comigo!" Estás intimado a contar o segredo dessa receita, não é mesmo, Gerson xará?

Anônimo disse...

Vaz

No cardápio o forte eram as massas, talharim, raviole..., mas haviam as carnes, e aí pontificava o " Filé a Caneco ".
Modo de fazer:
A manta de filé deve ser cortada em nacos, sem bater.
Pega-se uma lata de conservas, tipo pêssego em calda, já sem o produto original. Tira-se um dos lados, e no outro fura-se com o abridor de lata umas 6 vêzes.
Numa chapa quente coloca-se o filé tapado pela lata, os furos ficam na parte de cima por onde vai se pingando manteiga, o sal vai só no final, a carne cozinha uniformemente e acompanhado com aspargos torna-se uma refeição e tanto, direto da Esquina Bianchetti para o Blog do Vaz.
Abraço
Gerson " Bianchetti " de Oliveira

Gerson Mendes Correa disse...

Tche loko, isso é bom demais, é pra lamber os beiços, vou fazer em casa qualquer dia desses.

Unknown disse...

Gerson!!! Que saudades daqueles tempos de "Esquina Bianchetti", lembranças felizes de minha juventude...grandes momentos passados lá...e os biscoitinhos??? o filé de caneca maravilhosoooo (de dar água na boca)...as massas..a maionese de galinha...o local, os garçons, dona Pepa, dona Julieta, seu Pedrinho...sem maiores comentários, grande momentos de nossas vidas!!!

Rosa Maria disse...

Uma das lembranças mais belas de minha infância: O "Bianchetti", um local que muito frequentei ao lado de meu saudoso pai, lá na década de 1960. O melhor arroz de leite que já comi em toda minha vida, uma atmosfera fantástica, ótimo atendimento, decoração artística e muito mais! Adorei encontrar esse Blog! Um abraço.

Rosa Maria Araújo

Luiz Carlos Vaz disse...

Obrigado, Rosa Maria. Quem sabe tu nos conta alguma história do Bianchetti (ou de Bagé?)... Topas o desafio/convite?
Um abraço e obrigado por comentar aqui no VG.