11 de agosto de 2011

Paris continua linda.

Já Meia-Noite em Paris...                
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Por Luiz Antonio Caminha
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Máquina do tempo de Woody Allen que viaja ao passado para celebrar a história cultural da capital francesa engripa na saída

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         Você se abanca entusiasmado em uma poltrona dessas salas de projeção impecáveis que ainda não existem em Pelotas, pronto para mergulhar na Paris dos grandes escritores, pintores e cineastas da aurora do século 20, que por licença poética do diretor irão materializar-se em glória e substância logo a seguir e arrebatá-lo ao coração daquele passado mágico, na cidade mais linda do mundo, no período mais maluco do planeta, na centúria mais bizarra da história, os velhos e bons Anos Loucos.
            Duas horas depois, você sai da sala com a convicção que não é em Meia-Noite em Paris (de Woody Allen, 2011, em cartaz na cidade) que será transportado ao coração dos Années Folles. Não como havia imaginado, não de forma verossímil. Há algo errado na máquina do tempo de Woody Allen.
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Na chuva: Gil e a namoradinha de Monmartre cruzam a ponte Alexandre III
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Sem engrenar
            O filme começa com tomadas de alguns cartões postais da cidade, típicos, óbvios, lindos, e uma bela trilha de acordeon francês.  Mas não decola.
            O protagonista, alter-ego de Allen; os ex-futuros sogro e sogra, a noiva, o amigo da noiva, a noiva do amigo (e as namoradas de reserva - a de hoje, da lojinha na Place du Terte, em Montmartre, e a de ontem, que resolve ficar na época de Lautrec, Gauguin e Degas), os coadjuvantes - todos têm algo em comum: são monótonos, previsíveis e caricatos.
            Bem, mas ao menos os demais personagens do passado, os lendários Hemingway, Picasso, Stein, Fitzgerald, Elliot, Buñuel, Dali fazem a diferença e salvam o filme. Não, eles são igualmente previsíveis, monótonos e caricatos. Para dizer a verdade, canastrões.
            Hemingway é o pior deles, um fanfarrão a recitar bordões (em certo momento ele diz, acredite, "Paris é uma festa móvel") e, bêbado, procurar alguém para trocar sopapos. 
Guia de primeira: La Bruni faz uma ponta como guia turística nos jardins de Rodin

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Pulso fraco
            E quando o protagonista e sua namorada do passado abrem a porta de uma Belle Époque clichê, você confirma: aquelas tomadas de Paris do início da película eram o máximo que o filme iria render.
            Quem vai ao cinema, porém, quer mais que imagens de Paris ou uma ponta da Carla Bruni; quer usufruir a pleno da licença poética que o diretor se concedeu e o que moveu você a sair de casa.
            Mas Allen perdeu a mão em meio a um roteiro ruim em que as situações são pouco naturais e as piadas, sem graça. A fórmula de velhas recorrências já não faz rir nem refletir, se esgotou.
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 Mão trocada: Allen, à direita, escreveu e dirigiu mal seu último filme
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Talento escasso
            Mesmo que as cenas de Paris compensem um pouco o que o longa-metragem promete e não cumpre, elas são insuficientes para preencher o vazio que invade você. E, assim, os minutos se arrastam e a frustração acaba por superar a esperança de que as coisas possam melhorar.
            Meia-Noite em Paris poderia consagrar a bela sacada da viagem no tempo até uma época idealizada, se explorasse bem a oportunidade. Mas a incapacidade de chegar lá e, assim, desperdiçar um argumento excelente, talvez seja o pior defeito do longa de Allen.
            Do ponto de vista do espectador, Meia-Noite... frustra a expectativa que se criou em torno dele e entra para a história do cinema não como uma idéia bem resolvida e sim como mais um a compor a lista de filmes cujo ingresso transformou-se apenas em desperdício de dinheiro.
            Em Midnight in Paris, a máquina do tempo de Woody Allen fundiu o motor.
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Luiz Antônio Caminha é jornalista

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Imagens Sony Pictures Classics
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4 comentários:

olmiro muller disse...

Acho que está na hora de Woody Allen aposentar-se. Mas, para isso, é necessária uma autocrítica honesta.

Luiz Carlos Vaz disse...

Olmiro, eu ainda não assisti o filme, mas - tão logo assista, comento. Um abraço.

Luiz Antonio Caminha disse...

Prezados Olmiro e Vaz

Primeiro preciso me desculpar pela informação imprecisa sobre o local onde Meia-Noite em Paris estava em cartaz, fruto de uma leitura apressada da programação cinematográfica divulgada no jornal e da confusão que fiz dos cinemas da Zona Sul (passava, de fato, em Rio Grande, no Cassino, e não em Pelotas).
Depois, torcer para que os distribuidores e a companhia proprietária das salas de projeção pelotenses reservem uma data, mesmo que exígua, para a exibição do filme, ocasião em que vocês poderão discordar (ou não) do que penso do último Woody Allen.
Por fim, ponderar, Olmiro, que apesar do que escrevi sobre Midnight in Paris e de não morrer de amores pelo conjunto da obra, gosto do Woody Allen - embora também considere boa parte de suas realizações datada, sujeita à oxidação, como os vinhos.
Acho que Annie Hall e Manhattan, por exemplo, sobrevivem bem ao passar do tempo, são filmes "de guarda" por assim dizer, insistindo na má-comparação etílica.
O fato de em Meia-Noite... Allen não corresponder ao que eu esperava dele não lhe tira o mérito como diretor, nem seu lugar na história do cinema.
Seu penúltimo, Vicky Cristina Barcelona, é uma boa história, um belo exemplar de arte cinematográfica. O roteiro menos complexo do ponto de vista da ambientação de época fortalece a direção dos personagens, torna-os críveis, humanos, menos estereotipados, ao contrário do que acontece em Midnight....
Mas não acho, Olmiro, que Allen deva se aposentar, acho que seu talento ainda dá um caldo; Meia-Noite... foi uma escorregada.

Um abraço

Caminha

Luiz Carlos Vaz disse...

Pois é, Caminha, esta semana só pude assistir Os Smurfs, com o Arthur, hehehe