22 de novembro de 2010

Dallas, Texas, urgente !

Numa época já com muitas filmadoras e máquinas fotográficas amadoras
os tiros que mataram o presidente foram registrados em centenas de fotos

"Naquela tarde de 22 de novembro de 1963, eu estava em casa estudando para as provas finais do 2º ano científico do Colégio Estadual.  O quartel já havia me convocado para o serviço militar obrigatório, mas eu tinha conseguido dispensa de uns dias para estudar.  Como já era comum naquela época, o rádio ligado ao lado dava ritmo aos estudos.  Com a "era do rock" no auge, eu procurara no "dial" do aparelho um fundo musical mais suave para acompanhar minha revisão para as provas, e então escutava a antiga rádio Guaíba, onde tocava música mais apropriada para essa tarefa.  Era uma miscelânea de Ray Conniff, Lawrence Welk, Sarita Montiel, The Platters..., temperada com o chamado rock balada de Paul Anka, Pat Boone..., muitas trilhas de cinema e algumas músicas brasileiras. 
De repente, a música foi interrompida e entrou o "Correspondente Renner" em edição extraordinária, um noticiário bem conhecido da Guaíba, bradando:  "Dallas, Texas, urgente !", falando sobre um atentado contra o presidente americano John Kennedy, durante um desfile em carro aberto naquela cidade.  E seguiram várias outras chamadas urgentes, cada vez noticiando um quadro mais grave, até a notícia da morte do presidente, pouco tempo depois.  Naturalmente, esse dia de estudos terminou ali mesmo. Toda a minha família começou a acompanhar esse noticiário.  Foram momentos dramáticos, nunca mais esqueci.  Sempre ligado em datas e fatos, tenho relembrado anualmente também essa efeméride.
John Kennedy sucedera outro grande presidente, forjado na 2a guerra mundial, o General Dwight Eisenhower, vindo de dois mandatos seguidos, que continuara enfrentando os duelos da guerra fria que começara logo após o fim da grande guerra, e que conseguira o final da guerra da Coreia em 1953, primeiro ano do seu governo.  Esse nome é o primeiro que lembro de ver nas manchetes dos jornais que meu pai assinava, e que eu lia literalmente em português, "eisenhover".  Eisenhower foi o General comandante supremo dos aliados, com a 2ª guerra já tomando um rumo final.  Kennedy também tinha participado dessa guerra, mas como um jovem Tenente da marinha, era uma nova geração que chegava, cheia de esperanças.
Nós, os jovens daquela época, queríamos um mundo novo, e o Kennedy parecia que representava, como líder da grande nação americana e do chamado mundo livre, um farol que indicava uma nova era de progresso.  O assassinato dele nesse dia, significava para nós o fim dessa ânsia por mudanças.
Também lembro que Juscelino Kubitschek e John Kennedy tiveram doze dias de mandatos coincidentes.  Kennedy assumiu o cargo, conforme a tradição americana, em 20 de janeiro, e Juscelino transmitiu o cargo para Jânio Quadros em 31 de janeiro de 1961, de acordo com a legislação daquela época. Portanto, quando os anos JK encerraram aqui, Kennedy estava há doze dias no poder.
A partir daquela tragédia, o mundo realmente começou a mudar, mas não da maneira como esperávamos com o novo presidente americano.  A Guerra Fria já tinha passado por um grande embate no primeiro ano Kennedy, quando em 1961 começou a construção do muro de Berlim, isolando o lado ocidental da cidade, do lado oriental controlado pelos soviéticos, para impedir a fuga de alemães orientais para Berlim Ocidental.  No ano seguinte estivemos à beira de um conflito nuclear, com a crise dos mísseis em Cuba.  Durante os treze dias que duraram o impasse, de 16 a 28 de outubro, esse era o assunto dominante em nossas aulas no Estadual, com a possibilidade de uma guerra atômica total estourar a qualquer momento.  Ao findar o ano seguinte, a esperança Kennedy sai de cena.   O vice Lyndon Johnson, que assumiu no seu lugar, alargou o horizonte da guerra do Vietnã, que já vinha de alguns anos com alguns confrontos, com o envio de grandes efetivos militares para a área conflagrada, a partir de 1965.  Essa guerra marcou os anos 60 e 70.  Naquela época, parecia para nós estudantes que a morte de Kennedy foi fator determinante para a grande extensão e duração desse conflito.  Com ele no governo, achávamos que a guerra não teria seguido esses rumos.
O final desses tumultuados anos 60 foi pelo menos amenizado, na nossa visão de estudante, com a corrida espacial entre os dois grandes, Estados Unidos e União Soviética, tendo como coroamento a descida do homem na Lua, em julho de 1969, e também porque essa meta da chegada de astronautas ao nosso satélite natural tinha sido planejada e prevista pelo governo Kennedy para o final daquela década.  E, claro, teve também, exatamente no mês seguinte ao da descida do homem na Lua, Woodstock...
Bem, os homens que mandam, mudam; as ideias mudam. Cabo Canaveral, na Flórida, onde estava situado o Centro Espacial, de onde partiam os grandes lançamentos de satélites e naves espaciais, mudou desse nome para Cabo Kennedy, assim como o local passou a se chamar Centro Espacial Kennedy, em homenagem ao ex-presidente.  Dez anos depois, voltou a ser novamente denominado de Cabo Canaveral, e a homenagem foi virtualmente para o espaço, embora o Centro Espacial continue com o nome Kennedy.
Assim como nos dias de hoje, os grandes acontecimentos de repercussão nacional e mundial daqueles anos, que não foram poucos, ajudaram a moldar a nossa têmpera e nosso caráter, para tomarmos o lugar de nossos pais nas décadas posteriores e seguirmos o ciclo da vida.  Hoje estamos investidos dessa responsabilidade de ajudar a mostrar o caminho para nossos filhos, e até para os netos, sempre procurando aperfeiçoar esse mundo, e sobretudo na procura da abolição da violência e na eterna busca da paz mundial."
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Enviado pelo colega
Hamilton Caio
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O Blog pergunta: 
Onde você estava quando soube do atentado ao presidente Kennedy?
Responda em "Comentários".
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5 comentários:

Manoel Ianzer disse...

Em 1963, eu estava em S.Paulo. Fiquei um ano na casa da tia Malvina(gaúcha de Bagé), que morava na Av. Paulista. Nesse dia saindo da escola, estava andando pela R. Domingos de Morais - Vila Mariana, para pegar o ônibus, ví as pessoas em pânico, algo muito estranho tinha acontecido, mulheres chorando. Resolvi perguntar.
-Mataram o presidente dos Estados Unidos.
Aos 15 anos não ligava para a política, mas sabia bastante a respeito do Presidente Kennedy pelo jornal que meu tio Pantoja (paraense de Belém), recebia todos os dias e pelas notícias da televisão. Fiquei chocado.

Luiz Carlos Vaz disse...

Eu tinha ido na venda do seu Wayne buscar fermento para minha mãe. Fiz uma "parada técnica" no sobrado do seu Robaina para conversar com o Jorginho. Quando o rádio deu a primeira edição extraordinária falando nos tiros. Corri logo para casa e todos já estavam falando só nisso e aguardando mais notícias, que vieram logo a seguir, informando que o Kennedy havia morrido em consequência desses tiros.

Hamilton Caio disse...

Esse fotograma de um filme 8mm acabou registrando um dos momentos mais dramáticos da história. Mostra um dos tiros, o tiro fatal, que atingiu o presidente na cabeça, e a reação da primeira dama Jacqueline àquela cena de horror. Uma simples câmera de 8mm, registrando 18 quadros (fotos) por segundo, fez esse documento histórico contundente. E o cidadão Abraham Zapruder, admirador de Kennedy, que fazia essa filmagem, também passou para a história.

Gerson Mendes Correa disse...

Tche, eu tinha só seis anos, e não me lembro de nada e devia estar no campo do meu avô, lah no passo do Batalha correndo com os primos da mesma idade.

Camafunga disse...

Minha mãe conta que naquele momento, ao saber da noticia, o leite dela secou. Eu tinha exatos um mês de vida, depois disso, nunca mais mamei.